MILTON MACIEL
Fim da 5a. parte:
Era evidente que
aquelas moças queriam que ele tirasse a roupa e, como apontavam para a água,
entendeu que elas queriam que ele tomasse banho. Tentou se esquivar, mas a
moças eram muitas e, embora não entendo muito bem de roupas, coisa de brancos,
acabaram por arrancar-lhe peça por peça, a começar pelas botas ainda
encharcadas de água do mar.
Quando a última
peça, a mais íntima, foi arrancada, João tentou esconder o que ele aprendera em
Portugal a chamar de “suas vergonhas”. Mas as indiazinhas foram implacáveis.
Puxaram-lhe as mãos e os braços e o português foi obrigado a exibir-se em
estado de fogosa excitação sexual.
6a. parte:
As meninas
caíram na gargalhada, achando muito engraçado que um homem tivesse vergonha de
aparecer como a natureza manda. Esses brancos eram mesmo muito estranhos, além
de muito sujos e mal-cheirosos!
A moça líder fez
um novo sinal e todas as outras cercaram João e o empurraram para dentro do
riacho, jogando-o do barranco na parte mais funda. Ele sentiu com agrado a água
um pouco fria no corpo e começou a nadar, para exibir-se para as garotas. Mas
quando olhou para elas na margem, viu que todas tinham pulado n’água também. E
descobriu que o nado delas era muito melhor do que o dele!
Nadaram todas em
sua direção, cercaram-no e começaram a passar a mão por todo o seu corpo, não
se limitavam mais somente à barba e aos cabelos crespos e desgrenhados. Sentiu
que várias delas o pegavam “lá” e riam, falavam algo umas para as outras,
morriam de rir.
Ao mesmo tempo,
elas o esfregavam com força, umas duas ou três tinham umas espécies de pedras lisas
na mão e passavam as pedras pelo corpo dele, com se aquilo fosse um sabão. Não
faziam cerimônia, mãos e pedras passavam por todo e qualquer ponto do seu
corpo.
Então o estado
de excitação do rapaz chegou ao máximo que ele podia aguentar e o inevitável
aconteceu. Ainda bem que ele estava dentro d’água! Uma das índias que o
manipulavam lá, percebeu o fato e relatou isso às outras, rindo à solta
gargalhada. E fazendo um sinal, aproximando as mãos uma da outra, como a
mostrar que algo maior de repente ficara pequeno. Todas riram muito e João
Ramalho não sabia o que fazer, morto de vergonha.
Mas isso durou
pouco, por que a mocinha líder nadou para fora d’água, e, pegando as roupas do
rapaz, jogou-as todas dentro do rio. E correu para lavar bem as mãos. Era
evidente o nojo que sentia daquelas peças mal-cheirosas.
João Ramalho
entrou em pânico, aquelas eram as únicas roupas que ele tinha, se as perdesse,
como iria cobrir suas vergonhas? E como iria se proteger do frio? Não era como
aqueles bugres, não estava acostumado a andar pelado. Nadou espavorido em
direção a elas, conseguindo pegá-las antes que afundassem. Mas um dos pés da
bota encheu-se logo e afundou. Com a noite já caía, era-lhe impossível
encontrá-lo. Se fosse mergulhar e tatear o fundo em busca da bota, perderia o
resto de suas peças de roupa.
As indiazinhas
continuavam a rir e caçoar dele. Que maçada! Agora aquilo não tinha mais graça,
como é que iria caminhar com os pés desprotegidos sobre aqueles chãos de mato,
certamente cheios de espinhos? Agarrou com força suas roupas e a bota que
sobrou, apertando-as contra o peito, enquanto olhava com tristeza em direção ao
fundo do riacho e, ao mesmo tempo,
manobrava o outro braço e as pernas para lograr manter-se flutuando.
Nesse momento a indiazinha
que havia arremessado as roupas na água recuou alguns passos, correu e deu um
salto verdadeiramente espetacular, caído ao lado dele, mergulhando e
desaparecendo totalmente na água agora escura. Em menos de um minuto estava de
volta, trazendo na mão a bota naufragada. Empurrou-a contra o peito de João,
que a tomou agradecido. A mocinha tornou a levar várias vezes os dedos às
narinas, deixando bem claro por que razão ela havia arremessado aquela tralha
fedegosa ao rio. Certamente contava com livrar-se dela para sempre e não
esperava que o português ficasse tão triste com a perda da bota.
Afinal, para que
ele queria usar aquelas coisas que só faziam mal ao corpo e acumulavam sujeira
e mau cheiro? Todos os brancos eram assim, usavam aqueles panos e couros dias e
dias sem os tirar, eram imundos, não tomavam banho nem mesmo uma única vez por dia
que fosse. Por isso todos eles cheiravam assim tão mal. Com o jovem de aramalho
na cara era a mesma coisa. Tinha caído no mar, quase morrido afogado, e mesmo
assim suas vestimentas e botas ainda tinham aquele cheiro horrível de inhaca.
Mas o que a
deixava ainda mais admirada era que os brancos usassem aquelas coisas sobre o
corpo para esconder uma parte dele, mesmo quando estavam passando o maior
calor. Eles tinham vergonha de mostrar justo a parte mais gostosa, a parte de
se divertir, de sentir coisa boa, de brincar na rede, no chão, dentro d’água,
tão gostoso! Por que eles tinham vergonha disso? Gente esquisita, não sabiam
brincar...
Todas as índias
começaram a sair da água, só João Ramalho e aquela moça ainda estavam lá
dentro, movimentando-se para flutuar. As meninas chamaram:
–Potira! Potira!
– e fizeram-lhe sinal que deviam ir embora, a noite já estava ficando muito
escura.
Potira! Então
esse era o nome daquela indiazinha tão linda, pensou João Ramalho. E perguntou,
apontando o indicador para ela:
– Potira?
A menina apontou
para o espaço entre seus belos seios e confirmou: Potira. E, apontando para o português, falou: Jaao Aramalho. E repetiu
várias vezes, alternando a indicação com o dedo:
Potira, Jaao
Aramalho. Potira, Jaao Aramalho.
CONTINUA
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