MILTON MACIEL
Fim da 4a. parte:
João seguiu com
elas, enquanto as comia com os olhos, vendo aquele festival de corpos perfeitos
e desnudos, algo com que jamais tinha sequer sonhado na vida. As indiazinhas
percebiam claramente a excitação do português e o atiçavam ainda mais,
parecendo divertir-se muito com aquilo tudo. Conversavam e riam às gargalhadas,
estavam completamente à vontade, nuas daquele jeito na frente de um homem.
João compreendeu claramente que havia sobrevivido ao
naufrágio, mas se isso tinha acontecido fora por um verdadeiro milagre, pois a última lembrança que tinha é
que havia desistido de lutar e começara a fundar e beber daquela água salgada e gelada.
5a. parte:
Então
havia perdido os sentidos. E isso tudo teria acontecido no exato momento em que
seu corpo havia dado à areia. A própria água
o havia jogado na praia e depois, com o recuar da maré, ficara ele ali
exposto ao sol, que devia ter surgido logo depois da tempestade. Esta devia ter
sumido tão rápido quanto aparecera. E ele tinha acordado seco e com aquela
sensação maravilhosa de estar aquecido até à medula dos ossos.
Então aquele
grupo de adolescentes índias o havia encontrado, puxado sua barba ramalhuda e,
fazendo-o levantar-se, elas o tangiam agora em direção a algum lugar, talvez à
aldeia em que viviam. E foi exatamente isso o que se confirmou, quando, minutos
depois, mais indígenas, mulheres de todas as idades, homens e crianças
começaram a aparecer e a cercar o pequeno grupo jovem em marcha.
As índias que o
comboiavam faziam comentários animados para as outras pessoas e todos caiam na
gargalhada. Mostravam-se todos curiosos, divertidos e amistosos. E
interessadíssimos na barba dele. Várias outras índias se aproximaram e
puxaram-lhe a barba, como as mais jovens haviam feito. Todos andavam nus,
inclusive os homens, com aquelas coisas todas penduradas para fora, como se
fossem bichos. E João achou aquilo tudo muito feio e deplorável. Exceto pelas
indiazinhas adolescentes, que achava lindíssimas peladas.
Chegaram enfim à
aldeia, um conjunto de um grande número de choças de palha, dotada de uma
paliçada de troncos, para sua proteção. O grupo escoltou-o até em frente de uma
choça de dentro da qual saiu um indígena com aspecto imponente, embora
totalmente nu como todos os demais e portando uma espécie de pequeno cocar
feito de penas coloridas. Todos o tratavam com deferência, respeito e muita
cordialidade, como se fossem muito amigos. Era evidente que aquele era um
chefe.
De fato,
tratava-se do cacique Tibiriçá, o chefe supremo de uma grande aldeia que ficava
lá em cima da serra que João podia avistar dali. Havia um outro evidente chefe
da tribo local, mas este prestava a toda hora homenagens a seu ilustre visitante.
O cacique
Tibiriçá sabia falar algumas palavras em português, o suficiente para que se
estabelecesse um esboço de diálogo entre ele e o recém-chegado. Dessa forma os
indígenas souberam que o nome dele era João, algo muito comum entre os portugueses
que por ali apareciam. Mas ficaram sabendo que este era um João diferente, por
que ele era João Ramalho.
Cercado de
índios e índias por todos os lados, João tentou explicar que seu outro nome era
Ramalho por causa de sua barba grande e muito crespa. Uma das garotas que o
havia encontrado na praia aproximou-se dele e puxou sua barba sem cerimônia,
dizendo:
– Ramalho! – mas
o Erre que ele pronunciava era doce, não tinha o som rascante do Erre normal
dos portugueses. Outras meninas e meninos, todos crianças, vieram puxar-lhe a barba também e
diziam algo que lhe parecia soar assim:
–
Aramalho... Aramalho... Aramalho...
– Ora, será que esse gajos pensam que minha barba é
feita de arame? Não, duvido que essa gente saiba o que é um arame. Deve ser a
maneira de eles pronunciarem o som do Erre. É melhor eu me acostumar.
A essa altura o
grupo de moças adolescentes, que o resgatara na praia, voltou a cercá-lo e,
fazendo um sinal ao chefe da aldeia, como a pedir licença, levaram o português
para fora da taba, tangendo-o em direção a um riacho próximo. Tomaram conta
dele como se ele lhes pertencesse, como um achado delas.
João contou-as
mais uma vez: eram dezesseis raparigas agora, cada uma mais formosa do que a outra.
Esguias, de bom corpo, alegres, risonhas, gente de uma simpatia que ele nunca
tinha visto em vida. E cheirosas, limpíssimas! Todas faziam questão de tocar
nele, de pegar seus braços e mãos, de tocar seu ombros e até suas nádegas. Como
estavam todas nuas, era difícil para o português esconder o estado de excitação
em que se encontrava. Ainda bem que estava vestido!
Mas pior ficou
sua situação quando chegaram ao riacho. A mocinha que parecia ser a líder de
todas falou várias palavras que ele não entendeu, mas apontou para suas roupas
e levou os dedinhos ao nariz diversas vezes. João Ramalho entendeu que suas
roupas fediam, afinal ele também tinha um nariz.
Um segundo
depois, quando todas as moças caíram sobre ele e começaram a tentar arrancar
suas roupas, o português ficou encabulado. Era evidente que aquelas moças
queriam que ele tirasse a roupa e, como apontavam para a água, entendeu que
elas queriam que ele tomasse banho. Tentou se esquivar, mas a moças eram muitas
e, embora não entendo muito bem de roupas, coisa de brancos, acabaram por
arrancar-lhe peça por peça, a começar pelas botas ainda encharcadas de água do
mar.
CONTINUA
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