sexta-feira, 29 de abril de 2016

LUA  OCULTA – 93
MILTON MACIEL 

93 – DO QUE PODEM UMA BOCA SÁBIA E UMA MENTE PERVERSA
Fim do cap 92 - "– Eu até dei uma choradinha, pro Rondelli ver. Mas eu chorei mesmo foi de raiva, porque achei a maior injustiça não ter podido aplicar o veneno naquele verme eu mesma. Mas vamos descer do táxi amor, o homem está nos olhando com uma cara!" 

Desceram e pagaram a corrida, o motorista olhando-os com cara de desprezo e reprovação. Bergonzi deu de ombros e comentou:

– Cacete, gata, que luxo essa sua avenida! Cada prédio mais imponente que o outro, um estilo antigo. E eles não são muito altos, não?

– Outra hora eu te explico tudo, amor, mostro tudo. Mas agora vamos subir, porque o que eu quero mostrar pra você é outra coisa. E você sabe muito bem o que é, você deixou ela toda molhadinha, tesão.

Subiram pela ampla escadaria, Bergonzi carregando suas duas malas e Diva levando a valise de mão. A todo instante paravam para se agarrar e beijar. Entraram enfim no apartamento e Diva levou Natanael, pela mão, direto para o grande banheiro, onde ligou a ducha de água quente e ambos se despiram aos beijos e abraços.

Fizeram amor de pé sob o chuveiro, os respectivos orgasmos vieram rapidíssimos, estavam atrasados mais de 90 dias. O atraso fez com que Diva, que raramente gozava com penetração, conseguisse fazê-lo.

Só então dedicaram-se a lavar um ao outro paciente e meticulo- samente, num longo ritual que foi reacendendo a chama da paixão. Depois correram nus, mal passando a toalha sobre o corpo, e entraram no grande e luxuoso quarto aquecido. Diva jogou-se de costas sobre a cama e afastou bem as pernas, abrindo os lábios maiores com os dedos das duas mãos:

– Prontinha, amor. Olha só ela aqui, bem rosadinha como você gosta, prontinha pra sua boca e pra essa língua que me deixa louca. Vem, vem, mata a minha saudade, mata a minha fome. Me chupa, me lambe toda, me faz gozar como só você sabe!

Natanael Bergonzi colocou os joelhos no chão acarpetado e mergulhou de cabeça naquela rósea intimidade, rodeada de claros pelos castanhos, meticulosamente aparados. E começou a sessão daquilo em que era mestre consagrado, sua inigualável experiência e perícia levando as mulheres ao delírio vezes sem fim.

Diva Silva, de todas as amantes que tivera, era aquela que mais gozava com essa prática. Enlouquecia e gemia muito alto, quase urrava de prazer. Praticamente não tinha orgasmos com penetração, mas endoidecia quando trabalhada com perícia pelos lábios e pela língua de um mestre como ele. Na primeira vez que fizeram amor, há coisa de uns nove anos atrás, ele foi direto à fonte e ela ficou travada e constrangida.

Bergonzi descobriu depois, quando ela se abriu, que o palhaço do marido dela falava que aquela parte de uma mulher era uma coisa nojenta e que macho não se rebaixava a fazer isso. E a tonta tinha acreditado nessa estupidez.

Quando ele lhe deu o primeiro “banho de língua”, Diva teve o seu primeiro orgasmo numa relação sexual. E foi um orgasmo devastador. Nunca o tivera com aquele orangotango do marido, que chegava, enfiava, gozava em dois minutos e caía de lado, roncando. Diva só conseguia gozar, desde menina, se masturbando.

Quando ela contou, chorando muito, sua vida sexual com o primata rude que era o marido dela, o amante conseguiu entender perfeitamente como a jovem esposa tinha ficado profundamente traumatizada pelas experiências com aquele monstro. Isso tornava mil vezes mais fácil o caminho para ele, o amante, para mantê-la apaixonada e submissa. Bastaria agir sempre como o oposto polar do orangotango, com carinho, respeito, sensualidade e fazendo-a ter, cada vez mais, seus orgasmos múltiplos devastadores, graças ao sexo oral.

Assim sempre a teria a seus pés e um dia, no futuro, quando houvesse condições seguras, poderia fazê-la livrar-se daquele estrupício e ficar com muito dinheiro. A cada ano que passava o baixote crescia em fortuna e Natanael Bergonzi sabia que não devia ser afoito, apressar-se à toa.

Não, tinha todo o tempo do mundo. Era só manter com perfeição suas duas grandes conquistas naquela cidade: a confiança daquele empresário inescrupuloso e traiçoeiro, mas cada vez mais milionário; e a paixão enlouquecida da mulher daquele primitivo, a parte mais fácil e mais agradável do seu longo trabalho de catequese.

Sim, se ele soubesse agir com calma e determinação, com paciência e perseverança; se construísse uma reputação de homem íntegro e competente; se mantivesse sua condição de amante fogoso e carinhoso, então seu futuro estaria garantido.

Não importava que precisasse trabalhar assim por anos, estava já ganhando um bom dinheiro, mas que não era nada perto do que ele um dia iria conseguir arrancar, através daquela futura esposa divorciada do macaco, ou, ainda melhor, da futura viuvinha mais rica de Amarante.

Agora, enquanto trabalhava com a língua e a boca, ajoelhado sobre o carpete macio daquele quarto de luxo, Natanael Bergonzi tratava de ocupar sua mente, para aguentar o longo e cansativo exercício de perícia e paciência. Diva ia gozar duas, três, seis, dez vezes, antes de se sentir exausta e pedir que ele parasse. Mas esse era um ritual que correspondia a uma espécie de acordo tácito entre eles: ele lhe dava esse tipo de sexo, que era o único que ela adorava, e ela o mantinha na condição de herdeiro potencial, futuro marido da divorciada ou da viúva Diva Simonetti, ex-Silva.

E, claro, ajudava sua ascensão na empresa do mão-de-vaca do marido, falando bem dele, desde que apenas como profissional.

 Precisava manter sempre, para o marido, a história que não simpatizava de jeito nenhum com aquele gerente dele, mas que tinha que reconhecer que ele era honesto e competente como nenhum outro.

No fundo, Natanael sabia que a fortuna só viria com a morte do miserável do Pitoco. É claro que Valdemar nunca deixaria Diva divorciar-se dele, levando uma parcela enorme dos seus bens. Nada mais certo do que o fim sumário da mulher, que ele mandaria matar imediatamente. Não, não, cuidado e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.

Esperaria, cresceria em importância e confiança dentro da estrutura toda de Valdemar Silva. E cresceria em importância para a futura viuvinha, cada dia mais envolvida, mais submissa a ele, mais dependente dele para sexo, prazer e carinho, literalmente viciada nas práticas enlouquecedores de seu amante gostosão.

Então agora, em plena Paris, ajoelhado e trabalhando duro, encenando gemidos e falando de vez em quando palavras excitantes, mais para descansar os lábios amortecidos e a língua que doía, do que para dizer verdades de amor, Natanael decidiu recordar, para ocupar a mente, a história que ela havia lhe contado tantas vezes: a história do desastre sexual que tinha sido a vida de Diva Silva antes de entregar-se a suas mãos – e boca – de mestre.

Um trauma

Quando aquele baixinho gorducho, dono de mais de um caminhão, propôs pagar por sua virgindade ao pai dela, Diva ficou apavorada quando soube que o velho bêbado tinha aceitado o negócio. Ela tinha 17 anos e mantinha-se virgem, abaixo de muito medo – do pai e do castigo divino. Mas então aquele homem feio, horroroso, muito mais velho do que ela, pagou por ela, e cumpriu a condição, que era casar antes, ali mesmo na capelinha da Linha Mangelli, modesta aglomeração de casinhas da colônia italiana remanescente, na zona rural entre Amarante e Rio dos Cedros.

Pagaram um padre de Pomerode para vir oficiar a cerimônia e, naquela mesma noite, Valdemar Silva levou sua presa para a cabine do caminhão e a executou ali mesmo, a menos de 5 quilômetros de casa, em plena estrada. Foi um verdadeiro estupro e a menina nunca mais se refez do horror dessa experiência. E do cheiro horrível daquela coisa do homem, que a obrigou a botar a boca ali e ficar fazendo um monte de movimentos cansativos, que pareciam não ter fim, até que uma coisa salgada e gosmenta esguichou dentro dela, fazendo-a assustar-se e afogar. E a vomitar de nojo.

Depois de mais meia hora, o homem parou o caminhão de novo no acostamento, mandou-a deitar no banco, abrir bem as pernas, sem a calcinha e entrou nela com violência, sufocando-a com o peso do seu corpo balofo e com a insistência de seus beijos molhados e nojentos, cheios de uma baba com cheiro e gosto de cigarro, falando grosserias e palavrões com evidente prazer.

Diva Simonetti, 17 anos, odiou Valdemar Silva desde aquela noite infernal. Agora era ela propriedade dele, ele a tinha comprado de seu maldito pai. Mas um dia ela haveria de ficar por cima e haveria de se vingar desses dois desgraçados, nem que fosse a última coisa que fizesse na vida.

Mas, em poucos dias, a menina compreendeu qual seria sua real situação. Descobriu que o homem tinha uma casa luxuosa em Amarante, era dono de uma transportadora pequena, mas já possuía seis caminhões.

Diva Simonetti, agora Silva, descobriu-se de repente uma mulher rica. Para sua condição anterior de quase indigente, filha daquele maldito, com mais oito irmãos, trabalhando duro na roça e sem direito a escola, analfabeta e muito pobre, tornara-se agora tremendamente rica. Subitamente aquele brutamontes baixinho se engraçara com ela e a comprara; por um bom dinheiro, certamente, nunca teve ideia de quanto.

Foi ali na cidade de Amarante, com uma casa bonita e duas empregadas domésticas, que a menina Diva descobriu muitas outras coisas. Descobriu, por exemplo, que ela era muito bonita, muito mais bonita do que podia imaginar. Bastou ter dinheiro para roupas de luxo e poder ir a salões de beleza, e ela se descobriu tão fascinante quanto o caminhoneiro dizia que ela era.

Essa era a parte boa: ela podia pedir o dinheiro que quisesse a ele, desde que fosse para se embelezar ou embelezar a casa. O Pitoco, como era o apelido que ele detestava, era um exibicionista nato, adorava mostrar que podia comprar coisas caras. Entre essas estava a bonequinha linda, que ele tinha comprado do pai na Linha Mangelli.

Mas Valdemar, que vivia mais tempo na estrada do que em casa, era brutalmente ciumento. As duas empregadas, que moravam no emprego, eram, antes de mais nada, as guardas do presídio. Diva nunca podia sair só. E nenhum homem podia entrar naquela casa, em hipótese alguma.

Quando precisaram de um encanador, a garota teve que passar o dia todo fora com uma das empregadas, enquanto a outra, uma velha de 66 anos, ficava em casa com o rapaz que fazia os consertos.

Foi aí que Diva descobriu, fascinada, o mundo dos concursos de beleza, que acompanhava na televisão e nas revistas, depois que conseguiu aprender a ler, com duas professoras particulares que vinham em casa. Quando, ingenuamente, suplicou ao marido que lhe permitisse inscrever-se no concurso de Miss Amarante, achando que ele ia adorar a ideia, foi que levou a primeira surra dele, que a chamou de tudo, de puta rampeira para cima. Mulher dele não era para ser olhada pelada pelos outros. Aquela foi a primeira de muitas outras surras que viriam. O ódio contra o orangotango desprezível cresceu proporcionalmente.

E também sua frieza sexual com ele, que era absoluta. Por Valdemar ela sentia desprezo, raiva, ódio, nojo e medo, muito medo. Como poderia achar sexo bom com aquele animal? Gostava de se masturbar, pensava em artistas de novelas, não só para se excitar, mas também para ter a sensação maravilhosa que estava enfiando os chifres naquele desgraçado. Sabia que, se o fizesse de verdade, seria uma mulher morta.

Com o tempo aprendeu a se resignar e fingir. Fingia vontade, fingia orgasmos, fingia gostar dele. Ajudava o fato que o nojento não a importunava sempre, havia inúmeras vezes em que, soube-o pelas empregadas, ele preferia ir para a zona e usar as putas. Então teve muito medo de pegar doenças, Aids, exigiu que ele usasse camisinha com ela e apanhou de novo. Mas não desistiu, continuou insistindo e apanhando, até que ele acabou concor-dando. Principalmente depois que ela ficou grávida.

A gravidez foi o melhor período de sua vida de casada, porque o animal parou de procurá-la na cama, achava que podia ocasionar a perda da criança. E, depois que a barriga cresceu muito, porque, segundo ele disse claramente, ela tinha ficado feia demais. Aquilo tudo foi uma maravilha, infelizmente interrompida com o nascimento da menina Larissa. Dois meses depois, ele voltou a importuná-la com aquela coisa dura e desconfortável. E malcheirosa, mais do que tudo.

Os pensamentos de Natanael foram interrompidos pelo tão esperado “Ai, agora chega, benzinho, não aguento mais.”

Ufa, até que enfim! Agora era a vez dele. Era só esperar a convocação. Que veio um minuto depois:
– Pode vir amor, sua vez, enfia.

Ah, a mesma lengalenga de sempre. Primeiro ele tinha que trabalhar horrores para ela gozar muito. Depois, quando ela estava não só saciada, mas exausta de tanto gozar, aí ele subia para o clássico papai-mamãe. Era a sua vez de gozar. Mas ele sabia que tinha que se apressar, porque, se demorasse mais do que dois ou três minutos, vinha aquela frase que o deixava irritado, nervoso, indignado mesmo. E que, em mais de uma vez, o tinha feito simplesmente brochar e cair fora.

Hoje certamente não ia acontecer, ele estava mesmo muito excitado, ia ser rápido. Mas não foi o suficiente para que a frase fatídica não viesse. Ela falou, com aquela costumeira voz de cansaço, quase de sono:

– Ainda vai demorar? falta muito?

Ah, desgraçada! Egoísta! Ele trabalhava quinze minutos para ela, se esfalfando, e ela não podia ficar quieta, de perna aberta, por 3 minutos que fosse, sem precisar fazer nada, se cansar, fazer qualquer movimento? Inferno! Ah, mas hoje ele não ia parar, ia até o fim, precisava se aliviar.

Continuou por mais um minuto até acabar. Para manter a excitação e não brochar por causa da frustração e da irritação, imaginou outra vez que transava com Lurdinha, a única mulher que ele tinha de fato amado nos últimos anos, que era um furacão na cama, que não se cansava de fazer tudo o que ele mais gostava.

A professorinha
Gozou vendo o rosto de Lurdinha, sua boca falando palavras excitantes, sorrindo para ele com ternura. Depois saiu de cima, foi para o banheiro lavar-se, sempre lembrando de sua pobre professorinha.

Coitada, quis dar o golpe da barriga pra cima dele, obrigá-lo a casar com ela, certa que ele o faria por amor à criança que ia nascer.

Fechou a tampa do vaso sanitário e usou-o como uma cadeira. Gostava de lembrar de Lurdinha. Vinha-lhe uma sensação boa de amor correspondido, de sexo gostoso. E uma sensação boa de trabalho bem feito, bem sucedido, quando foi preciso apelar para a ignorância no final. As duas coisas o faziam sentir-se gratificado.

Estúpida, Lurdinha! Burra! Como é que ele ia casar com uma professora primária sem um tostão furado e desistir de sua presa principal, sua futura divorciada ou viúva riquíssima? Ora, filho uma pinoia! Tinha que reconhecer que amava Lurdinha, mas business is business! Não era um sentimento idiota daqueles que ia atrapalhar seu futuro de homem rico e poderoso.

Só que a Lurdinha grávida começou a mudar, ficou mais emotiva e mais inconveniente.

E então fez o pior de todos os erros. Ameaçou revelar o caso deles para todo mundo, para Diva Silva inclusive. Sim, ele tinha sido idiota o suficiente para confessar para a moça, no início da relação, quando estava muito apaixonado, qual a razão de não poder assumir publicamente o namoro deles. Falou-lhe que era chantageado pela mulher do patrão, que era seu escravo sexual, mas que se sujeitava a isso porque ela lhe prometia uma grande recompensa em dinheiro, para ele ajudá-la a se divorciar do marido e levar uma boa parte da grana dele. Afinal, ele era a única pessoa em quem aquele bestalhão confiava.

Durante um tempo, Natanael conseguiu levar sua professorinha no bico. Afinal, ele era um craque nisso com as mulheres. Mas, depois que engravidou, porque parou de tomar a pílula de propósito, Lurdinha começou a pressioná-lo para assumir a relação, dizendo que se ele não desse um jeito de se livrar da patroa ninfomaníaca e revelar o amor deles para todo mundo, ela mesma o faria, contando para todos, inclusive, que estava grávida de Bergonzi.

A barriga de Lurdinha estava começando a ficar evidente. E, quando ela lhe deu um ultimato, dando-lhe só uma semana para resolver tudo, caso contrário ela iria pessoalmente a Diva Silva e contaria tudo, Natanael começou a entrar em pânico. Era a hora do tudo ou nada. Ou defendia seu dinheiro agora drasticamente, ou perdia tudo.

Pensou muito e resolveu que o melhor caminho era abrir o jogo com a própria Diva. O risco seria menor do que se ela viesse a saber tudo por Lurdinha. Chorou muito, confessou que tivera um caso fugaz, sem amor, com uma professora, porque Diva não o amava de verdade, só o usava sexualmente, só pensava no prazer dela, nunca no dele. Fez-se de vítima, de apaixonado não-correspondido, de coitado chantageado por outra amante inescrupulosa, que lhe aplicara o golpe da barriga; uma amante que ele não só nunca amara, como da qual sentia agora o mais profundo nojo.

Diva ficou furiosa no início, ameaçou terminar tudo. Mas Bergonzi sabia que aquilo não era verdade, que ela dependia dele para ter sexo e cumplicidade, para poder falar mal do macaco que odiava, para continuarem com o plano de, muito em breve, mandarem aquele maldito pro inferno com o veneno e ficarem com o dinheiro dele. Agora não era hora de brigar, era hora de união. Foi nesse momento propício que Natanael sugeriu a Diva que ele podia usar o 1080 com a amante asquerosa e inconve-niente. O veneno!

CONTINUA

Nenhum comentário:

Postar um comentário