segunda-feira, 15 de julho de 2013

Quer Ser Escritor(a) - 8

QUER SER ESCRITOR(A)? – Veja como fazê-lo – Parte 8
MILTON MACIEL  (ivory tower = torre de marfim)

Vamos dar continuidade à nossa viagem rumo à condição ímpar de ESCRITOR PUBLICÁVEL. Vamos descobrir que, sim , essa viagem é possível e podemos chegar a essa condição almejada, desde que observemos as condições básicas para abordar o mercado.

Vamos lá, mais uma vez para gravar para sempre:

1 – Uma grande idéia
2 – Uma boa plataforma
3 – Uma qualidade de texto de razoável para cima

Então, mais uma vez, vou sublinhar:

Uma excelente qualidade texto não é garantia de que você vai conseguir ser publicado(a). Porque há duas condições mais importantes a serem satisfeitas antes que, se forem realmente muito boas, garantem a publicação até mesmo de textos mais limitados técnica e artisticamente.

E relaxe, porque você vai me ver repetindo esse assunto muitas vezes ainda. E nunca será demais repeti-lo. Vai impedir que você trabalhe só no lado criativo/literário/técnico e fracasse depois na hora da venda dos livros, rendendo-lhe decepção, amargura e provável
prejuízo financeiro. Agora, tocando em frente:

FICÇÃO ou NÃO-FICÇÃO?

Quando as pessoas ouvem a palavra escritor tendem imediatamente a associá-la à um conceito, o de ROMANCISTA. Isso inclui a imensa maioria dos que, neste momento, estão ensaiando seus primeiros passos na senda que pode levá-los a condição real de escritor. O POETA vai meio de roldão dentro desse conceito genérico, o que é intrinsecamente errado.  Na verdade, o que as pessoas estão pensando é no conceito mais amplo de FICÇÃO e FICCIONISTA. Ou seja, aquele autor que escreve sem se ater obrigatoriamente à realidade concreta exterior, mas deixa fluir de sua imaginação um sem número de personagens e enredos puramente ficcionais, embora muitas vezes ancorados em ambientes verdadeiros, como uma determinada cidade ou um avião. Ou numa linha de tempo e acontecimentos reais em paralelo, como na novela histórica.

Só que essa associação estereotipada não corresponde à realidade. Há um enorme número de gêneros em que não se usa a ficção e que podem embasar perfeitamente a carreira de um(a) escritor(a) de sucesso. O ensaio, a crítica, a memória, a biografia, a história, o texto técnico ou de negócios, o de culinária e grande parte das crônicas, são algumas dessas avenidas de expressão, em que a imaginação, a ficção, não são utilizadas. E nem por isso fazem o autor menos escritor que o ficcionista.

Então cumpre fazermos aqui uma boa distinção entre estas grandes divisões da nossa profissão: Ficção e não-ficção.

Não se deixe levar pela tal conceituação erroneamente automatizada, que assimilamos na escola e da visão igualmente estereotipadas dos nossos pais, que aprenderam a associar a palavra escritor a José de Alencar, Machado de Assis, Eça de Queiroz, Jorge Amado, Érico Veríssimo, Graciliano Ramos ou Vinicius de Moraes.  São igualmente escritores Gilberto Freire, Pedro Calmon, Laurentino Gomes, Miguel Reale, Augusto Cury, Lair Ribeiro, Roberto Shyniashiki ou Padre Marcello Rossi.

O fato de estes últimos não serem ficcionistas e ‘literatos’ não os torna menos ESCRITORES, especialmente se os encararmos sob a ótica REALÍSTICA de mercado, pois são escritores que “vendem” para seus respectivos nichos de mercado.

É claro que o elitismo natural do meio acadêmico vai-se espalhar e contaminar a conceituação estereotipada de “escritor”. Mas nós não devemos cair nesta armadilha. Porque o autor do livro de negócios que fala sobre eficiência gerencial pode vender 50 mil livros e o acadêmico que produz belos trabalhos de cunho crítico ou literário pode amargar vendas de 323 livros ao longo de toda sua vida.

Coloco essa afirmação para sugerir a meus estudantes que devem se desarmar de preconceitos e não devem, de forma alguma, continuar associando o conceito de escritor ao conceito de ficcionista.  E não devem encarar os escritores de não-ficção como se eles fossem ‘inferiores’, o que seria um absurdo.

Na verdade, todos prestam importantes benefícios à comunidade, cada um atingindo leitores em seus nichos específicos, tal como sucede com os compositores de música popular e os de música erudita (e não estou afirmando que os ficcionistas  correspondam necessariamente aos músicos eruditos!)

Eu comecei minha vida literária com o mais difícil – mercadologicamente – dos gêneros – a Poesia, quando ainda garotão e pianista. Depois os estudos de engenharia química me levaram naturalmente para o terreno técnico e passei anos escrevendo só artigos de fundo tecnológico, um enorme número deles. De uma forma  ambém natural meus textos técnicos foram escorregando para o lado da agricultura, depois para a economia agrícola e finalmente para a Agricultura Orgânica. Entre livros e manuais técnicos, acabei publicando 14 obras nessa área.

Depois que comecei a trabalhar em Miami, tive tempo de me dedicar à ficção finalmente. A poesia voltou com força, mas junto com ela vieram os romances. Mas o meu maior sucesso comercial dessa fase “americana” ainda é “A Sopa Química”, meu livro de maior vendagem de 2008 para cá. É um legítimo não-ficção, tal qual meu maior sucesso de vendas de todos os tempos, que tem o humilde nome de “Como Tornar Seu Sítio Lucrativo”, livrinho de 80 páginas, de 1997 e campeão de engolir re-edições, mais uma vez esgotado agora, aguardando sua moderna versão em “technicolor e cinemascope” (lembram dessas palavras, amigos cinéfilos?), ou seja, está sendo atualizado e convertido em e-book – como aliás, quase toda minha obra de agricultura orgânica.

Mas tenho vendido bem meus livros de ficção, romances que vão desde o “Lolita de Aracaju” até o recente “O Cerco”. Isso porque uso um sistema próprio de venda direta que é la crème de la crème, e que ainda pretendo ensinar a todos.

Muito bem, perguntarão alguns, onde vai essa conversa desembocar?

Vai desembocar na afirmação da minha experiência PESSOAL como autor de FICÇÃO (romance, conto, poesia) e de NÃO-FICÇÃO (ensaio de feminismo, livros de divulgação científica e livros e manuais técnicos de agricultura). E trabalhando em dois mercados: o brasileiro e o norte-americano.

Portanto, sinto-me a vontade para dizer:

Os editores preferem NÃO-FICÇÃO
É MUITO mais fácil produzir não-ficção
É MUITO mais fácil VENDER não-ficção

Isso, evidentemente, desde que o trio maravilhoso seja religiosamente respeitado, ele não é diferente para ficção ou não-ficção:

1 – Ideia
2 – Plataforma
3 – Qualidade

Mais afirmações nascidas de minha prática, quer como autor, quer como editor:

É mais FÁCIL vender ficção nos Estados Unidos
É BEM mais DIFÍCIL vender ficção no Brasil.

Por isso, mais do que nunca, os ficcionistas e candidatos a ficcionistas brasileiros, precisam aprender a render muito bem nos itens 1 e 2 do trio. É ali está o segredo do seu sucesso futuro.

Por isso, sempre que você tiver esse ecletismo, recomendo-lhe  vivamente que você não seja exclusivamente ficcionista. Um pouco de não-ficção não vai “rebaixá-lo” do seu pedestal de grande intelectual e artista (no mais das vezes acompanhado de minguado orçamento), mas pode perfeitamente ser o segredo que lhe garanta o leitinho das crianças e um pouco mais: a paz de espírito para poder escrever uma ficção de primeira linha.

Vamos nos dedicar a desenvolver isto na parte 9. Mas, desde já, quero deixar bem claro que não o vou desestimular da opção de ficcionista, pode relaxar. Nós vamos é tratar de ver porque a literatura brasileira de ficção tem tais dificuldades de comercialização. Conhecer o “inimigo”, em resumo.

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