QUER SER ESCRITOR(A)? – Veja como fazê-lo – Parte 8
MILTON
MACIEL (ivory tower = torre de marfim)
Vamos dar
continuidade à nossa viagem rumo à condição ímpar de ESCRITOR PUBLICÁVEL. Vamos
descobrir que, sim , essa viagem é possível e podemos chegar a essa condição
almejada, desde que observemos as condições básicas para abordar o mercado.
Vamos lá, mais
uma vez para gravar para sempre:
1 – Uma grande
idéia
2 – Uma boa
plataforma
3 – Uma
qualidade de texto de razoável para cima
Então, mais uma
vez, vou sublinhar:
Uma excelente
qualidade texto não é garantia de que você vai conseguir ser publicado(a).
Porque há duas condições mais importantes a serem satisfeitas antes que, se
forem realmente muito boas, garantem a publicação até mesmo de textos mais
limitados técnica e artisticamente.
E relaxe, porque
você vai me ver repetindo esse assunto muitas vezes ainda. E nunca será demais
repeti-lo. Vai impedir que você trabalhe só no lado criativo/literário/técnico
e fracasse depois na hora da venda dos livros, rendendo-lhe decepção, amargura
e provável
prejuízo
financeiro. Agora, tocando em frente:
FICÇÃO ou NÃO-FICÇÃO?
Quando as
pessoas ouvem a palavra escritor tendem imediatamente a associá-la à um
conceito, o de ROMANCISTA. Isso inclui a imensa maioria dos que, neste momento,
estão ensaiando seus primeiros passos na senda que pode levá-los a condição
real de escritor. O POETA vai meio de roldão dentro desse conceito genérico, o
que é intrinsecamente errado. Na verdade,
o que as pessoas estão pensando é no conceito mais amplo de FICÇÃO e
FICCIONISTA. Ou seja, aquele autor que escreve sem se ater obrigatoriamente à
realidade concreta exterior, mas deixa fluir de sua imaginação um sem número de
personagens e enredos puramente ficcionais, embora muitas vezes ancorados em
ambientes verdadeiros, como uma determinada cidade ou um avião. Ou numa linha
de tempo e acontecimentos reais em paralelo, como na novela histórica.
Só que essa
associação estereotipada não corresponde à realidade. Há um enorme número de
gêneros em que não se usa a ficção e que podem embasar perfeitamente a carreira
de um(a) escritor(a) de sucesso. O ensaio, a crítica, a memória, a biografia, a
história, o texto técnico ou de negócios, o de culinária e grande parte das
crônicas, são algumas dessas avenidas de expressão, em que a imaginação, a
ficção, não são utilizadas. E nem por isso fazem o autor menos escritor que o
ficcionista.
Então cumpre
fazermos aqui uma boa distinção entre estas grandes divisões da nossa
profissão: Ficção e não-ficção.
Não se deixe
levar pela tal conceituação erroneamente automatizada, que assimilamos na
escola e da visão igualmente estereotipadas dos nossos pais, que aprenderam a associar
a palavra escritor a José de Alencar, Machado de Assis, Eça de Queiroz, Jorge
Amado, Érico Veríssimo, Graciliano Ramos ou Vinicius de Moraes. São igualmente escritores Gilberto Freire,
Pedro Calmon, Laurentino Gomes, Miguel Reale, Augusto Cury, Lair Ribeiro, Roberto
Shyniashiki ou Padre Marcello Rossi.
O fato de estes
últimos não serem ficcionistas e ‘literatos’ não os torna menos ESCRITORES,
especialmente se os encararmos sob a ótica REALÍSTICA de mercado, pois são
escritores que “vendem” para seus respectivos nichos de mercado.
É claro que o
elitismo natural do meio acadêmico vai-se espalhar e contaminar a conceituação
estereotipada de “escritor”. Mas nós não devemos cair nesta armadilha. Porque o
autor do livro de negócios que fala sobre eficiência gerencial pode vender 50
mil livros e o acadêmico que produz belos trabalhos de cunho crítico ou
literário pode amargar vendas de 323 livros ao longo de toda sua vida.
Coloco essa
afirmação para sugerir a meus estudantes que devem se desarmar de preconceitos
e não devem, de forma alguma, continuar associando o conceito de escritor ao
conceito de ficcionista. E não devem
encarar os escritores de não-ficção como se eles fossem ‘inferiores’, o que
seria um absurdo.
Na verdade,
todos prestam importantes benefícios à comunidade, cada um atingindo leitores
em seus nichos específicos, tal como sucede com os compositores de música popular
e os de música erudita (e não estou afirmando que os ficcionistas correspondam necessariamente aos músicos
eruditos!)
Eu comecei minha
vida literária com o mais difícil – mercadologicamente – dos gêneros – a
Poesia, quando ainda garotão e pianista. Depois os estudos de engenharia
química me levaram naturalmente para o terreno técnico e passei anos escrevendo
só artigos de fundo tecnológico, um enorme número deles. De uma forma ambém natural meus textos técnicos foram
escorregando para o lado da agricultura, depois para a economia agrícola e
finalmente para a Agricultura Orgânica. Entre livros e manuais técnicos, acabei
publicando 14 obras nessa área.
Depois que
comecei a trabalhar em Miami, tive tempo de me dedicar à ficção finalmente. A
poesia voltou com força, mas junto com ela vieram os romances. Mas o meu maior
sucesso comercial dessa fase “americana” ainda é “A Sopa Química”, meu livro de
maior vendagem de 2008 para cá. É um legítimo não-ficção, tal qual meu maior
sucesso de vendas de todos os tempos, que tem o humilde nome de “Como Tornar
Seu Sítio Lucrativo”, livrinho de 80 páginas, de 1997 e campeão de engolir
re-edições, mais uma vez esgotado agora, aguardando sua moderna versão em
“technicolor e cinemascope” (lembram dessas palavras, amigos cinéfilos?), ou
seja, está sendo atualizado e convertido em e-book – como aliás, quase toda
minha obra de agricultura orgânica.
Mas tenho
vendido bem meus livros de ficção, romances que vão desde o “Lolita de Aracaju”
até o recente “O Cerco”. Isso porque uso um sistema próprio de venda direta que
é la crème de la crème, e que ainda
pretendo ensinar a todos.
Muito bem,
perguntarão alguns, onde vai essa conversa desembocar?
Vai desembocar
na afirmação da minha experiência PESSOAL como autor de FICÇÃO (romance, conto,
poesia) e de NÃO-FICÇÃO (ensaio de feminismo, livros de divulgação científica e
livros e manuais técnicos de agricultura). E trabalhando em dois mercados: o
brasileiro e o norte-americano.
Portanto,
sinto-me a vontade para dizer:
Os editores
preferem NÃO-FICÇÃO
É MUITO mais
fácil produzir não-ficção
É MUITO mais
fácil VENDER não-ficção
Isso,
evidentemente, desde que o trio maravilhoso seja religiosamente respeitado, ele
não é diferente para ficção ou não-ficção:
1 – Ideia
2 – Plataforma
3 – Qualidade
Mais afirmações
nascidas de minha prática, quer como autor, quer como editor:
É mais FÁCIL
vender ficção nos Estados Unidos
É BEM mais
DIFÍCIL vender ficção no Brasil.
Por isso, mais
do que nunca, os ficcionistas e candidatos a ficcionistas brasileiros, precisam
aprender a render muito bem nos itens 1 e 2 do trio. É ali está o segredo do
seu sucesso futuro.
Por isso, sempre
que você tiver esse ecletismo, recomendo-lhe
vivamente que você não seja exclusivamente ficcionista. Um pouco de
não-ficção não vai “rebaixá-lo” do seu pedestal de grande intelectual e artista
(no mais das vezes acompanhado de minguado orçamento), mas pode perfeitamente
ser o segredo que lhe garanta o leitinho das crianças e um pouco mais: a paz de
espírito para poder escrever uma ficção de primeira linha.
Vamos nos
dedicar a desenvolver isto na parte 9. Mas, desde já, quero deixar bem claro
que não o vou desestimular da opção de ficcionista, pode relaxar. Nós vamos é
tratar de ver porque a literatura brasileira de ficção tem tais dificuldades de comercialização.
Conhecer o “inimigo”, em resumo.
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