Ou: Meu
Trabalho como GHOST WRITER
MILTON
MACIEL
Tenho um dia longo demais, que começa às 7
da manhã, quando levanto e termina às 3 da manhã seguinte, quando vou deitar
sob protesto. Detesto dormir! Acho uma terrível perda de tempo. Aos 21 anos de
idade consegui acesso a um eletroencefalógrafo, fiz um treinamento autógeno e
aprendi a dormir 3 horas por dia (hoje em dia, durmo quase 4).
Meu médico me chamou de louco e disse que
eu ia morrer muito cedo. Outro médico disse que eu ia envelhecer horrivelmente,
seria um ancião aos quarenta. Quando ultrapassei a marca de 3 vezes 21 anos de
idade, não tendo morrido, que eu saiba, nem ficado mais velho do que o normal, provei
que eles estavam errados. O único problema para mim é que esse período curto de
sono não permite uma boa produção de endorfinas, hormônio de crescimento e
leptina, de forma que tenho mais dificuldade para lutar contra o excesso de
peso. Este é garantido cada vez que eu abandono a minha boa dieta paleolítica e
passo a me entupir de carboidratos, como faz todo mundo na dieta convencional
do ocidente.
Mas não recomendo que todo mundo durma
pouco assim, porque a necessidade de sono é algo absolutamente INDIVIDUAL e
depende do número mínimo de ciclos de SONHO que uma pessoa necessita. Para mim
bastam três. Tenho um trabalho chamado “DREAMS, YOUR COSMIC CONSCIOUSNESS”,
onde mostro pormenorizadamente tudo isso. Infelizmente, nunca o produzi em
português.
Mas esse não é o tema deste artigo.
Mencionei isso somente com o intuito de dizer que o meu dia é MUITO longo.
Começo a escrever às 9 da manhã, depois de assistir aos noticiários e ler
notícias na Internet. E, com raras interrupções, vou até 3 da madrugada
seguinte. E escrevo DEPRESSA demais também. O resultado é que escrevo muito
mais do que eu posso publicar, apesar de lançar, como agora, cinco livros no
mesmo semestre, de manter um blog de postagens diárias e de ter presença nas redes
sociais ativíssima.
Por isso acabei desembocando num caminho
novo, que descobri morando nos Estados Unidos: hoje sou GHOST WRITER (Escritor
FANTASMA). Que é o cara que escreve para os outros e, na hora da publicação,
simplesmente desaparece, se esfuma no ar, como sempre o faz um bom fantasminha
camarada. O nome do ghost writer
jamais aparece na capa de um livro ou como autor de um artigo ou de matérias
para blogs e sites na Internet. Sou, nessa atividade, como o José Costa,
personagem do livro “Budapeste” de Chico Buarque de Holanda, que ganhou, com
ele, um prêmio Jabuti em 2004. Se você nunca o leu, recomendo que o faça.
Como José Costa, acho a atividade de ghost writer extremamente gratificante.
E as razões são mais de uma.
A primeira é poder dar voz a idéias ou
históricos e feitos de outras pessoas. Elas têm conteúdo próprio, mas não estão
capacitadas a colocá-los em palavras com a mesma facilidade e qualidade com que
um escritor profissional pode fazê-lo. Ninguém é obrigado a saber escrever bem,
literariamente. Exceto, lógico, o escritor profissional. Então, nesta aliança,
empresto aquilo que para mim é fácil, natural e rápido (tenho 22 livros
publicados e formação também em área tecnológica), para dar vazão a conteúdos
válidos e importantes, que resultam em livros de ficção, livros de negócios,
livros e manuais técnicos, blogs e websites de grande importância para quem os
vai consumir.
A segunda eu considero ainda mais
gratificante. É quando crio romances e novelas livremente, e entrego pronta a
obra de ficção, geralmente no prazo de um mês. Durante esse tempo faço leituras
semanais da parte pronta (geralmente via Skype) com a pessoa e vamos trocando
ideias e fazendo esta ou aquela alteração ou enriquecimento, com a colaboração
dela. O que me encanta neste tipo de trabalho é que ele me deixa criar com
total liberdade e aí o trabalho flui com uma incrível velocidade. Já escrevi um
romance policial de 308 páginas em 21 dias, para um cliente de Miami. Isso não
pode ser nada de surpreendente para os meus leitores do blog, porque eles
testemunharam diariamente a criação da novela histórica O CERCO, baseada na
invasão dos hunos à Gália em 541 AD. Fui escrevendo e postando um capítulo
(10-12 páginas) por dia, de 7 de Fevereiro deste ano até 23 de Abril, quando
postei o último. O livro físico que nasceu dali tem 400 páginas.
Mas o que me agrada demais nesta atividade,
é tirar pessoas do anonimato e convertê-las em escritores(as) da noite para o
dia. Oriento-as na publicação auto-suficiente e no marketing dos livros, quer
sejam físicos, quer sejam e-books. E a prática tem me demonstrado que a vida de
uma pessoa pode ser claramente dividida em dois períodos: AL e DL – ou seja,
Antes do Livro e Depois do Livro. Ter o seu nome na capa de um livro altera
profundamente a maneira como a pessoa é vista e se insere na sociedade humana.
Tenho visto esposas menosprezadas “darem a volta” em maridos machistas; Pessoas
psicologicamente tímidas virarem leoas e leões e enfrentarem os entrevistadores
com a maior tranquilidade em jornal e TV, na promoção de seus livros. E uma
cliente minha do Rio de Janeiro me jurou que esfregou de verdade, fisicamente
no duro, o seu primeiro livro na cara de uma cunhada (ou da sogra, não lembro
bem). É, como eu disse: AL/DL!
Isso que é valido plenamente em obras de
ficção, como romances e contos, é ainda mais forte para livros de não-ficção.
Nesse caso, o nome na capa do livro represente a fixação da expertise da
pessoa. Ela é automaticamente investida na condição de autoridade sobre aquele
assunto ali tratado. Eis aí por que razão a publicação de um livro sobre o ramo
de atividade profissional da pessoa acaba resultando sempre numa enorme
promoção para os seus negócios. Políticos, por exemplo, adoram publicar suas
biografias, que eu chamo de “angelizadas”, meses antes das convenções e das
eleições que vão disputar. Barack Obama não foi exceção. Eu mesmo tive a
satisfação de elaborar a biografia e a correspondente plataforma (blog, site,
redes sociais) de um ex-prefeito que, com sua fixação renovada ante os
eleitores, que já o estavam esquecendo, conseguiu eleger seu filho para ao
mesmo cargo, numa das mais conhecidas “cidades” de Miami-Dade.
Também ajudei a eleger (com um trabalho que
não é biografia, mas uma espécie de memória combinada com um ideário e plano de
ação política), um candidato a deputado estadual de um estado brasileiro. Que até
hoje não fede nem cheira, mas, pelo menos, se ainda não cumpriu suas promessas,
também não está fazendo o que não deve fazer. Obviamente, tal tipo de trabalho
tem que ser feito por volta de dois anos antes da eleição. Além do que, seis
meses antes, ele seria legalmente proibido.
Um dos meus trabalhos mais gratificantes
aconteceu quando, ao longo de uma pesquisa exaustiva com arquivos, jornalistas
e historiadores locais, consegui escrever a saga de uma família de imigrantes de
São Paulo, cujo patriarca passou para a história como um bandido. E conseguimos
demonstrar que tudo não passou de uma enorme armação de inimigos políticos que
o derrotaram (ao vencedor as batatas!), resgatando a memória de um homem
íntegro. Isso lava a alma da gente como ghost e torna o parente que assina o
livro como autor um verdadeiro herói para toda a família.
Agora, no intervalo de um mês, entre a
segunda quinzena de Junho e a primeira de Julho, vou ter o incomparável prazer
de ver o lançamento de dois livros de uma série e mais dois livros de outra
série, criados para duas pessoas maravilhosas aqui do Brasil. Livros que terão
o condão de transformar suas vidas, aumentar-lhes a auto-estima e prepará-las
para, fazendo alguns cursos de capacitação para escritores, aumentarem cada vez
mais sua participação nos livros até se tornarem auto-suficientes e dispensarem
o gasparzinho.
Por isso tudo, amo esta profissão de ghost
writer. E, como o José Costa, do Chico Buarque, tenho um P... orgulho dela e da
prática do seu sigilo profissional absoluto. Se um dia alguém disser que eu
escrevi o livro X para o escritor Y, pode ter certeza que eu nego e meu
advogado processa!
Uma nota: A Writer’s Digest publicou
recentemente que, de todos os títulos publicados nos Estados Unidos em 2012,
ela estima que 43% deles foram escritos por ghost writers. Isto é quase um para
um: para cada livro escrito pelo autor, outro foi escrito para ele, para a
empresa ou para a ONG, por um escritor fantasma. E a tendência é crescente!
Milton, eu já era seu fã. Não sei porquê, mas gostava daquilo que escrevia, agora, depois de ler este "ghost writer" fiquei louco para conhecer algum dos seus livros!
ResponderExcluirTentei em Angola, encontrá-los, mas... agora em Portugal...e nada. Mas vou tentar que algum amigo me envie do Brasil.
Agora a parte do sono: EU NÃO CONSIGO DORMIR!
E QUERO! MUITO!!!
A minha mulher depois de insistir muito para ir ao médico, fiz-lhe a vontade.
O pobre do médico disse-me que tem pena, se eu dormir de noite, porque é o momento mais fértil e de maior gozo para mim, mas diz ele, se não o fizer...
Pelo menos tenho o amigo Maciel, como bom exemplo. Já elouqueceu? É a minha esperança!!!
Grande Abraço Amigo ghost writer!
Adorei! Obrigado!