domingo, 9 de junho de 2013

O  BANHEIRO NA LITERATURA BRASILEIRA 
MILTON  MACIEL

Na minha opinião, a leitura (matéria prima para qualquer literatura) tem seu templo máximo na biblioteca. Logo após vem a livraria. Isso é mais do que evidente. Contudo, uma grande injustiça é feita, quando se deixa de computar – e reconhecer, por conseguinte –  a fundamental importância do terceiro elemento dessa tríade: O BANHEIRO. 

É de suma importância esse reduto sagrado da leitura (logo, da literatura) brasileira. Quem não lê no banheiro e nunca leu, que atire a primeira pedra.

Só o farão os estomagados, os aflitos e os apressados, bem como os que, tendo engolido o relógio da sala de partos ao nascer, transitam pela vida obcecados com o tempo e a rígida observâncias dos horários, com a cruel sensação que um dia poderão cometer o imperdoável (para eles) pecado de chegarem 30 segundos atrasados a qualquer compromisso e, mais angustiante ainda, a seu próprio enterro. Estes são, maciçamente, capricornianos.

Para todos os outros existe aquela benfazeja pilha de livros, jornais e revistas que fazem a alegria e a nobreza intelectual de qualquer banheiro de pessoas normais. Está certo que os geminianos exageram, pois têm ali uma inacreditável pilha de livros, todos eles iniciados, com sumários rigorosamente lidos e que um dia, certamente, ainda os haverão de ler todos até o fim (a gente sabe que não, mas finge que acredita, geminianos podem ser amigos vivazes e divertidos, é só não contrariar).

O perigo são os escorpiões e câncer, que uma vez que entram num assunto, não querem mais sair de jeito nenhum. Os cancerianos entram no mundo mágico do romance que lêem, choram e gargalham e não vão deixar aquela emoção só porque a vida lá fora continua e têm horários (argh!) a cumprir, ora bolas! E os escorpiões entram nos mistérios dos Dan Brown ou dos Stephen King e ninguém os arranca mais do banheiro. E há os piscianos também, que se distraem tanto com a leitura, que quando se apercebem – correção: quando os outros percebem (os peixes não são do tipo que se apercebe de coisas) e botam a porta finalmente abaixo, a festa de formatura da namorada já acabou há mais de duas horas.

Com todos esses, a grande vantagem é a maciça economia de papel higiênico, porque o que haveria a tratar com o papel já secou há muito tempo. De qualquer forma, caso outras pessoas precisem usar o mesmo banheiro, o melhor, o mais garantido, é mesmo chamar o chaveiro; se este não puder vir, os bombeiros. E, em último caso, a Força Nacional.

Mas, deixando de lado tanta reclamação, há que considerar o que nos interessa, que é o lado positivo disso tudo: enquanto empatam a vida e as eliminações dos outros, esses beneméritos leitores lêem muito, lêem demais e, assim, levam à frente o movimento que expande o consumo de literatura brasileira e até mesmo da estrangeira.

Eu, por exemplo, chego ao ponto de ler no BANHO. Tenho um suporte para livros na janela, posso ler no chuveiro (Sim, minha conta de energia é um pouco maior mesmo!). E um outro que me permite folhear livros bem seguros na borda da banheira, para os banhos de imersão.  Claro, costumo ler à mesa de refeição, sempre que estou comendo sozinho. Idem, idem, no restaurante: sou aquele cara que chega ali sempre com um livro (ou revista técnica) debaixo do braço. Se não vier amigo ou família, levo o triplo do tempo e só desocupo o lugar depressa se vejo que vai faltar lugar para outras pessoas. (Uma confissão: sou canceriano –  desculpem!).

Mas de qualquer forma, o que importa é restaurar a justiça. Neste país, é mister que se reconheça a importância transcendental que o banheiro tem na formação e conservação do salutar hábito da leitura. Por isso o banheiro deve ser reconhecido como o Terceiro Templo sacrossanto da Literatura Brasileira.

Li, dias atrás, que cientistas franceses, após pesquisarem com mais de 15000 leitores contumazes  de banheiro, chegaram à formulação de uma interessante teoria a respeito da causa desse despertar para a leitura, durante o exercício de tal atividade natural – a qual também os homens só podem fazer sentados.


Afirmam os pesquisadores que, quando uma pessoa elimina uma certa massa de material presente no corpo, um volume correspondente se abre no cérebro, admitindo assim a entrada de mais e mais informação. Confesso que ainda não entendi bem qual a correlação. Parece, a priori, que isso teria a ver com o que as pessoas têm na cabeça, mas sou ignorante demais para poder entender cientistas de um nível tão alto..

Nenhum comentário:

Postar um comentário