domingo, 2 de junho de 2013

O VELHO PAPA-VIRGENS – 8ª. parte
Ou “O descabaçador em Ação”; Ou: "De como duas mulheres inteligentes logram e castigam um velho tarado"
MILTON  MACIEL
Extraído do livro LOLITA DE ARACAJU, A Mais Jovem
Dona de Bordel do Mundo - MILTON MACIEL – Idel – SP

(Este livro é LEITURA PARA ADULTOS. Aos excertos publicados no Facebook e Grupos aplico uma ‘censura’ prévia, amaciando palavras ou eliminando trechos. No blog, o texto é igual ao do livro)

Final da 7a. parte
– Eu digo que você é a criaturinha mais inteligente, mais esperta, mais sacana, mais tarada, mais bondosa, mais sensível e mais adorada deste mundo! Eu amo você menina! É a primeira vez que eu tenho coragem de dizer isso. Pronto!

– E eu amo você demais também, Zezé. Amo meu anjo protetor, minha amiga querida, minha tia vendedora de cabaço, minha atriz favorita.

– Ah, eu esqueci de dizer que você é, também a mais divertida e a mais gozadora. Fofura!... Pois então pode ligar. Vamos procurar logo essa tal viúva de Barra de Coqueiros.

8a. PARTE 
  Pouco mais de dez e meia, Alcebíades desceu de um táxi em frente à casa de Zezé. Mandou o taxista ficar esperando, gritou chamando por ela. Esta subiu no táxi e rumaram todos para o hospital. O agiota pediu para Zezé descer uns dois quarteirões antes e lhe deu um pacote. Sussurrou:

– Quinze mil, em notas de cem reais. Agora, veja bem: não vá o desgraçado do sujeito passar você pra trás. Como é que ele vai garantir a operação para nós?

– Ah, ele falou que não escreveu nossos nomes, deixou espaço em branco. Assim que contar a grana, ele coloca ali uns nomes inventados e outras profissões e endereços... como é mes-mo...humm... presumidos. E aí eu tenho que levar o nome do “agressor” escrito e fazer minha sobrinha decorar e acusar esse outro indivíduo de ser o estuprador.

– Genial! – tranqüilizou-se Alcebíades. E foi embora no táxi. Mal sabia que, ao fim do dia, iria perder mais dois cabaços preciosos.

   Zezé, pegando outro táxi, voltou depressa para casa. Ali apanhou Lolita. A inacreditavelmente eficiente Dra. Celine já havia conseguido e passado as coordenadas da costureira viúva de Barra de Coqueiros. Felizmente, era uma pessoa muito antiga no bairro e, como tal, bastante conhecida. Criava duas sobrinhas a que se afeiçoara muito, nunca tivera filhos no casamento. Agora passava por dificuldades tão grandes que acabara recorrendo aos préstimos – e empréstimos – do conhecido Alcebíades. Vivendo em casa alugada, dera como garantia tudo o que tinha de valor em casa, desde geladeira até as duas máquinas de costura. O valor do empréstimo: apenas mil e quinhentos reais.

   Como Alcebíades esperava, nunca pudera quitar a dívida, vivia de pagar valores mínimos e de reformar a dívida, que ia crescendo sempre. Quando Lolita e Zezé desceram do táxi, em frente à sua casa, Dona Durvalina ficou toda contente, esperançosa de estar sendo procurada por clientes novas. Conduziu-as para a sala, mostrou seus moldes e figurinos, falou um pouco sobre seus serviços e sobre clientes a que atendia. Ficou muito surpresa, contudo, quando a mocinha bonita – Bonita só? Era uma verdadeira pintura, uma obra de arte da natureza, sem um grãozinho de coisa artificial no rosto ou nas mãos, com um corpo daqueles que deixam os homens completamente ensandecidos – perguntou:

– Posso conhecer suas sobrinhas?

  Não foi preciso mais nada. As duas garotas, que estavam espiando escondidas, entraram correndo na sala, cercaram Lolita e se apresentaram. Olhavam encantadas para aquela moça tão fina, tão elegante e, acima de tudo, tão bonita.

– É, elas são umas gracinhas, mesmo Zezé. Não admira que o urubu velho ande dando voltas no pedaço. E, voltando-se para a costureira, falou direto:

– O urubu é o velho Alcebíades, aquele agiota. Estamos sabendo que ele apanhou a senhora na rede dele há um bom tempo, não é?

   A mulher, arregalando os olhos surpresa, fez que sim com a cabeça. Quem seriam aquelas mulheres e o que queriam dela e das meninas?

 – O que nós queremos é ajudar a senhora a quitar sua dívida. E a razão disso é que nós queremos salvar suas sobrinhas daquele maníaco sexual.

   Durvalina ficou em silêncio, engolindo em seco, por um instante. Depois desabou na poltrona e era evidente que ia começar a chorar. Zezé agiu prontamente, pedindo às meninas para que a levassem àquela padaria que dava para ver ali da janela. Ela estava a fim de sorvete e, se as meninas fossem com ela, todas poderiam se deliciar. Saíram as três num papo animado.

– Quanto a senhora está devendo para aquele canalha?

   Durvalina, fazendo força para conter o choro, respondeu:

– Ah, nem sei mais, minha filha. Cada mês ele me aparece com um valor diferente, sempre mais alto. Me leva boa parte do que eu consigo ganhar no mês e me faz assinar uma nova promissória de valor maior. A última que eu vi, já estava em 3800 reais. E eu venho pagando todo mês, há uns seis meses. Mas o que eu posso fazer? Ganho muito pouco, daria para a gente viver apertada, mas com o pagamento da dívida... Ele me ameaça sempre, que vai tomar meus teréns todos. O meu medo maior é pelas minhas máquinas de costura. O que vai ser de nós, se isso acontecer? E agora, nos últimos meses, ele veio com uma conversa diferente, começou a ficar mais gentil, traz chocolates para as meninas e fica conversando com elas. Francamente, moça, eu fico horrorizada, eu vejo que aquele velho está com má intenção com as minhas meninas. E elas são tão crianças ainda!

– E ele já lhe fez proposta por elas? Já botou preço?

– Não, moça, isso ele não fez. Mas anda com umas conversas estranhas, que as meninas deviam ajudar nas despesas da casa e que ele sabe um jeito muito bom de elas fazerem isso, mesmo tendo só dez e doze anos. Eu fiquei muito desconfiada, mas não posso responder mal, estou nas mãos dele. Estou com muito medo agora, por causa das crianças.

– Pois sossegue, Dona Durvalina. Nós ficamos sabendo de tudo estes dias, através de uma amiga nossa que é advogada. Nós temos uma briga especial com esse homem, não vou nem entrar em detalhes. Tudo que a gente puder fazer para atrapalhar os golpes desse ordinário, a gente vai fazer. E, no seu caso, nós queremos lhe livrar das garras dele, dando o dinheiro para pagar toda a dívida. Sim, isso mesmo, Dona Durvalina. Pagar tudo, o principal e os juros.

– Mas moça, é muito dinheiro, como é que eu vou lhe pagar?

– Ah, mas não se incomode com isso, não. Não é dinheiro nosso.

– E de quem é então? Da Igreja?

– Ah, não me faça rir. Igreja! Não, o dinheiro é dele mesmo.

   A pobre mulher estava cada vez mais confusa:

–  A senhorita diz que o dinheiro é dele, do mequetrefe mesmo?!! Mas como é que pode...

– Não se incomode com isso, Dona Durvalina, que é história comprida. Mas o que importa é que nós conseguimos fazer um negócio no qual o imbecil perdeu em vez de ganhar. Com isso ganhamos dinheiro dele, dinheiro que ele arranca de gente trabalhadeira, honesta e sofrida como a senhora. E nós vamos usar esse dinheiro para resgatar dívidas de clientes dele, principalmente porque, com os empréstimos que ele faz, ele geralmente esta de olho nas meninas novinhas da família. Ele é o que se chama aqui de papa-virgem, papa-cabaço. Ou descabaçador. O prazer da vida dele é tirar a virgindade de meninas novinhas, quanto mais criança, melhor para ele.

– É, há um mês uma pessoa do bairro me deu um toque, que eu tomasse cuidado, que o que o velho queria era pegar as minhas meninas. Sabe, era uma coisa tão nojenta que eu não acreditei na hora. Mas depois, quando ele veio com aquela conversa mole...

– Muito bem, Dona Durvalina. Eis aqui o que a senhora vai fazer. Aqui está o cartão do escritório de advocacia. Ligue para lá e marque uma hora com a Dra. Celine. Ela já está esperando pela senhora. Leve todos os papéis que tiver do negócio com o velho. Ela vai recalcular tudo, chamar o desgraçado no escritório e quitar sua dívida totalmente. E vai fazer uma ameaça bem clara com respeito às crianças, fique tranqüila. Eu lhe garanto que, umas horas depois de a senhora falar com a Dra. Celine, esse indecente nunca mais aparece para lhe perturbar. E as meninas estarão salvas – Xô, urubu!   

   A costureira ficou alguns momentos estática, olhando os olhos perfeitos, magnéticos de Lolita. Depois, da poltrona onde estava, deixou-se escorregar para o chão e, de joelhos, tomou uma das mãos da jovem, começando a cobri-las de beijos e lágrimas.

–  Minha filha, você só pode seu um anjo que Deus mandou do céu. Eu rezo tanto pedindo ajuda para nós e proteção para estas duas crianças inocentes. Você tem a cara, tem a formosura de um anjo, só pode ser uma criatura de Deus. Obrigada, obrigada por se preocupar com a gente. Deus lhe pague! Deus lhe pague.

   E, ante a força do milagre que lhe acontecia, a pobre viúva desmanchou-se longamente em soluços de gratidão, abraçada aos joelhos redondos e perfeitos de seu anjo salvador. Lolita deu-lhe tempo para extravazar a emoção, ficando a passar-lhe delicadamente as mãos pelos cabelos grisalhos muito asseados. Por sua vez, estava feliz por estar conseguindo eliminar aquele espectro de sacrifício, penúria, dor e desespero daquela que era só mais uma pobre vítima indefesa de um canalha desclassificado.
CONTINUA

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