sábado, 1 de junho de 2013

O VELHO PAPA-VIRGENS – 7ª. parte
Ou “O descabaçador em Ação”; Ou: "De como duas mulheres inteligentes logram e castigam um velho tarado"
MILTON  MACIEL
Extraído do livro LOLITA DE ARACAJU, A Mais Jovem
Dona de Bordel do Mundo - MILTON MACIEL – Idel – SP

(Este livro é LEITURA PARA ADULTOS. Aos excertos publicados no Facebook e Grupos aplico uma ‘censura’ prévia, amaciando palavras ou eliminando trechos. No blog, o texto é igual ao do livro)

Final da 6a. parte
Estou perdido, desgraçado! O que vai ser de mim? Vão querer me prender! E vai dar nos jornais, nas rádios, na TV. Eu vou aparecer como um bandido. Mas o que foi que eu fiz para merecer uma coisa dessas, meu Deus?!

   Nessa hora, em que pese ter que manter a expressão de susto e consternação, Zezé riu satisfeita por dentro. E pensou: O que é que você fez, cafajeste? O que é que você fez?!!! Mas você ainda tem coragem de perguntar, seu ordinário? Pois não chega tudo o que você aprontou com tantas e tantas famílias, até suicídio você provocou, seu animal sem alma, que eu estou sabendo!

7.a PARTE 
   Porém, contendo-se, Zezé continuou sua parte do script com maestria de profissional. Começou a choramingar também:

– Ah, desgraça, desgraça! E aquele policial querendo se aproveitar de nós, doutor!

–  Ahnn!... – Doutor Alcebíades tirou as mãos do rosto e voltou-se para Zezé – Que policial?!

– Pois o homem que faz o tal do boletim, doutor. Quando a doutora se afastou, ele me chamou para um canto e disse que isso tudo que a gente fez, aqui no Brasil, tem jeito de não dar cadeia. Eu não entendi na hora. Aí o sujeito, que é meio grosso, disse que eu estava me fazendo de boba ou era muito burra mesmo. E me falou, direto, na lata:

– Se vocês me arranjarem um bom dinheiro, eu dou um jeito nesse BO – mas olha que eu não aceito mixaria, a chapa de vocês está quente. Conforme o trato que este BO receber, vocês estão acabados.

   Doutor Alcebíades pareceu voltar à vida, o rosto terrivelmente pálido tomou cor novamente. Agora estava no território dele: era só uma questão de dinheiro, de negociar. Êta país gostoso de se viver! Ia escapar dessa, agora tinha certeza.

– Pois o desgraçado me disse para vir buscar dinheiro em casa e voltar lá o mais rápido que eu pudesse. Que, se chegar o outro colega dele, do outro turno, então ele não pode fazer mais nada.

– E quando é que acaba o turno dele?

– Ele falou que pode esperar até meio-dia, no máximo. Depois disso, ele disse que a gente tá lascado.

– E quanto ele quer? – perguntou, aflito, o usurário.

– Quinze mil em dinheiro vivo, se for até onze horas. E vinte mil se for até meio-dia. Depois das onze, tem que dividir com outro.

   O velho farmacêutico estava francamente entusiasmado. Depois do terrível susto que passara, aquele valor lhe parecia irrisório. Sabia de casos mais simples do que o seu e que tinham custado muitas vezes mais do que o homem do hospital estava pedindo. Estava de volta à vida, o resto era só dinheiro. E isso, como de hábito, saia era de seus clientes endividados. Essa mulher mesmo, dona Zezé, estava na cara que não ia poder pagar os vinte mil, por isso mesmo é que lhe entregara a soma. Em pouco tempo, estaria dando uma arrumada marota e vendendo aquela casinha. Ia lucrar uns sessenta mil livres no negócio. Era dos lucros polpudos dos empréstimos não resgatáveis que ele podia se dar ao luxo de comprar cabaços. O gasto era só aparente, saía sempre da família da virgem.

– S’imbora então, dona! Toca arranjar esse dinheiro em notas grandes. Pode deixar que eu estou de volta a tempo de levar a bufunfa para o homem antes das onze. Não dá nem tempo de regatear, vou ter que engolir do jeito que vem.

   Zezé, espertíssima, não deixou de dizer:

– Mas é o senhor que vai ao hospital levar o dinheiro, não é, doutor? Eu não quero tocar nele, tenho medo de ser assaltada. E o senhor, quem sabe, consegue um abatimento com o homem...

– Está louca, criatura? Você mesma não disse que já sabem que fui eu que arrombei a menina, que estão me acusando de estupro. E a tal médica que me chamou de monstro? Só seu fosse louco para entrar naquele lugar. E não precisa de desconto, não. Pode deixar que eu recupero isto no próximo negócio grande que eu fizer. Incluo como taxa – e abriu seu sorriso de dentes ruins – Você é que vai levar o dinheiro. Você, entendeu?!

   Zezé fez que esboçava resistência. Depois, com cara de medo, fez que sim com a cabeça. Então o farmacêutico partiu em disparada, estranhamente sóbrio, demandando um táxi para chegar logo ao seu cofre secreto, muito bem oculto na adega de sua casa.

   E assim que o velho saiu, a casa voltou à rotina:

– Pode sair, meu anjo. Vitória total! – falou Zezé, alegremente.  

   Lolita apareceu sorrindo e veio abraçar a amiga:

– Parabéns, ‘titia’! – falou, gozando – A senhora foi genial. Um Óscar para minha ‘tia’ querida, um Óscar de melhor atriz!

– Você estava espiando! Ou adivinhou tudo, para variar?

– Eu estava ouvindo tudo, de orelha colada à janela. Não precisei me esconder lá nos fundos e a curiosidade era grande demais, também.

– Puxa, e você já está recuperada do estrago que o velho lhe fez? Quantos pontos levou na perseguida? – E Zezé estourou de rir.

– Pontos vai precisar esse ladrão agiota na carteira e na conta bancária dele. Vamos apurar a féria, minha querida sócia?

– Pois não, senhorita. Deixe comigo:
15 mil para o policial virtual, em dinheiro
  6 mil para o cabaço virtual, em cheque
  2 mil para o cabaço virtual, em dinheiro
20 mil como empréstimo virtual, em cheque

– Um belo total de 43 mil reais, portanto, dona Zezé!

– Isso mesmo! Boa de matemática também, é?

– Ora, continha de adição, né? Bobagem.

– Mas quarenta e três mil não é bobagem nenhuma, hein?

– Ah, não é mesmo. É bem mais do que o que estava nos faltando.

– Sim, quer dizer que, de uma hora para outra, estamos totalmente prontas para começar nossas obras e nossa decoração. Que maravilha. Temos que festejar. Que é que você acha, minha filha?

– Como você quiser, Zezé. Mas você viu que está nos sobrando dinheiro agora, não é?

– Sim, por quê? Quer fazer uma celebração maior, é?

– Não Zezé, meu amor. É que nós vamos devolver uma parte do que está sobrando para o ladrão do Alcebíades.

– Devolver para o ladrão? Será que eu ouvi bem ou estou ficando doida? Ou é você que está doidinha, doidinha de pedra?

– Não senhora! O que nós vamos fazer é o seguinte: Eu vou ligar para a Celine agora mesmo e vou pedir que ela descubra quem é e onde mora a costureira de Barra de Coqueiros que o agiota está apertando. Vamos saber quanto é a dívida dela. E aí damos o dinheiro e ela paga ao miserável. E aplicamos mais um castigo nele: tomamos mais dois cabaços dele numa operação só. O que você me diz?

– Eu digo que você é a criaturinha mais inteligente, mais esperta, mais sacana, mais tarada, mais bondosa, mais sensível e mais adorada deste mundo! Eu amo você menina! É a primeira vez que eu tenho coragem de dizer isso. Pronto!

– E eu amo você demais também, Zezé. Amo meu anjo protetor, minha amiga querida, minha tia vendedora de cabaço, minha atriz favorita.

– Ah, eu esqueci de dizer que você é, também a mais divertida e a mais gozadora. Fofura!... Pois então pode ligar. Vamos procurar logo essa viúva de Barra de Coqueiros.
CONTINUA

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