O VELHO PAPA-VIRGENS – 7ª. parte
Ou “O descabaçador em Ação”; Ou: "De como duas mulheres inteligentes logram e castigam um velho tarado"
MILTON MACIEL
Extraído do livro LOLITA DE ARACAJU, A Mais Jovem
Dona de Bordel do Mundo - MILTON MACIEL – Idel – SP
(Este livro é LEITURA PARA ADULTOS. Aos excertos publicados no Facebook e Grupos aplico uma ‘censura’ prévia, amaciando palavras ou eliminando trechos. No blog, o texto é igual ao do livro)
Final da 6a. parte
– Estou perdido, desgraçado! O que vai ser de mim? Vão querer me
prender! E vai dar nos jornais, nas rádios, na TV. Eu vou aparecer como um
bandido. Mas o que foi que eu fiz para merecer uma coisa dessas, meu Deus?!
Nessa
hora, em que pese ter que manter a expressão de susto e consternação, Zezé riu
satisfeita por dentro. E pensou: O que é
que você fez, cafajeste? O que é que você fez?!!! Mas você ainda tem coragem de
perguntar, seu ordinário? Pois não chega tudo o que você aprontou com tantas e
tantas famílias, até suicídio você provocou, seu animal sem alma, que eu estou
sabendo!
7.a PARTE
Porém, contendo-se, Zezé
continuou sua parte do script com maestria
de profissional. Começou a choramingar também:
– Ah, desgraça, desgraça! E aquele policial querendo se aproveitar de
nós, doutor!
– Ahnn!... – Doutor Alcebíades
tirou as mãos do rosto e voltou-se para Zezé – Que policial?!
– Pois o homem que faz o tal do boletim, doutor. Quando a doutora se
afastou, ele me chamou para um canto e disse que isso tudo que a gente fez,
aqui no Brasil, tem jeito de não dar cadeia. Eu não entendi na hora. Aí o
sujeito, que é meio grosso, disse que eu estava me fazendo de boba ou era muito
burra mesmo. E me falou, direto, na lata:
– Se vocês me arranjarem um bom dinheiro, eu dou um jeito nesse BO – mas
olha que eu não aceito mixaria, a chapa de vocês está quente. Conforme o trato
que este BO receber, vocês estão acabados.
Doutor Alcebíades pareceu
voltar à vida, o rosto terrivelmente pálido tomou cor novamente. Agora estava
no território dele: era só uma questão de dinheiro, de negociar. Êta país gostoso de se viver! Ia escapar dessa, agora tinha
certeza.
– Pois o desgraçado me disse para vir buscar dinheiro em casa e voltar
lá o mais rápido que eu pudesse. Que, se chegar o outro colega dele, do outro
turno, então ele não pode fazer mais nada.
– E quando é que acaba o turno dele?
– Ele falou que pode esperar até meio-dia, no máximo. Depois disso, ele
disse que a gente tá lascado.
– E quanto ele quer? – perguntou, aflito, o usurário.
– Quinze mil em dinheiro vivo, se for até onze horas. E vinte mil se for
até meio-dia. Depois das onze, tem que dividir com outro.
O velho farmacêutico estava francamente
entusiasmado. Depois do terrível susto que passara, aquele valor lhe parecia
irrisório. Sabia de casos mais simples do que o seu e que tinham custado muitas
vezes mais do que o homem do hospital estava pedindo. Estava de volta à vida, o
resto era só dinheiro. E isso, como de hábito, saia era de seus clientes
endividados. Essa mulher mesmo, dona Zezé, estava na cara que não ia poder
pagar os vinte mil, por isso mesmo é que lhe entregara a soma. Em pouco tempo,
estaria dando uma arrumada marota e vendendo aquela casinha. Ia lucrar uns
sessenta mil livres no negócio. Era dos lucros polpudos dos empréstimos não
resgatáveis que ele podia se dar ao luxo de comprar cabaços. O gasto era só
aparente, saía sempre da família da virgem.
– S’imbora
então, dona! Toca arranjar esse dinheiro em notas grandes. Pode deixar que eu
estou de volta a tempo de levar a bufunfa para o homem antes das onze. Não dá
nem tempo de regatear, vou ter que engolir do jeito que vem.
Zezé, espertíssima, não deixou de dizer:
– Mas é o
senhor que vai ao hospital levar o dinheiro, não é, doutor? Eu não quero tocar
nele, tenho medo de ser assaltada. E o senhor, quem sabe, consegue um
abatimento com o homem...
– Está louca,
criatura? Você mesma não disse que já sabem que fui eu que arrombei a menina,
que estão me acusando de estupro. E a tal médica que me chamou de monstro? Só
seu fosse louco para entrar naquele lugar. E não precisa de desconto, não. Pode
deixar que eu recupero isto no próximo negócio grande que eu fizer. Incluo como
taxa – e abriu seu sorriso de dentes ruins – Você é que vai levar o dinheiro. Você, entendeu?!
Zezé fez que esboçava resistência. Depois,
com cara de medo, fez que sim com a cabeça. Então o farmacêutico partiu em
disparada, estranhamente sóbrio, demandando um táxi para chegar logo ao seu
cofre secreto, muito bem oculto na adega de sua casa.
E assim que o velho saiu, a casa voltou à
rotina:
– Pode sair,
meu anjo. Vitória total! – falou Zezé, alegremente.
Lolita apareceu sorrindo e veio abraçar a
amiga:
– Parabéns,
‘titia’! – falou, gozando – A senhora foi genial. Um Óscar para minha ‘tia’
querida, um Óscar de melhor atriz!
– Você estava
espiando! Ou adivinhou tudo, para variar?
– Eu estava
ouvindo tudo, de orelha colada à janela. Não precisei me esconder lá nos fundos
e a curiosidade era grande demais, também.
– Puxa, e
você já está recuperada do estrago que o velho lhe fez? Quantos pontos levou na
perseguida? – E Zezé estourou de rir.
– Pontos vai
precisar esse ladrão agiota na carteira e na conta bancária dele. Vamos apurar
a féria, minha querida sócia?
– Pois não,
senhorita. Deixe comigo:
15 mil para o
policial virtual, em dinheiro
6 mil para o cabaço virtual, em cheque
2 mil para o cabaço virtual, em dinheiro
20 mil como
empréstimo virtual, em cheque
– Um belo
total de 43 mil reais, portanto, dona Zezé!
– Isso mesmo!
Boa de matemática também, é?
– Ora,
continha de adição, né? Bobagem.
– Mas
quarenta e três mil não é bobagem nenhuma, hein?
– Ah, não é
mesmo. É bem mais do que o que estava nos faltando.
– Sim, quer
dizer que, de uma hora para outra, estamos totalmente prontas para começar
nossas obras e nossa decoração. Que maravilha. Temos que festejar. Que é que
você acha, minha filha?
– Como você
quiser, Zezé. Mas você viu que está nos sobrando dinheiro agora, não é?
– Sim, por
quê? Quer fazer uma celebração maior, é?
– Não Zezé,
meu amor. É que nós vamos devolver uma parte do que está sobrando para o ladrão
do Alcebíades.
– Devolver
para o ladrão? Será que eu ouvi bem ou estou ficando doida? Ou é você que está
doidinha, doidinha de pedra?
– Não
senhora! O que nós vamos fazer é o seguinte: Eu vou ligar para a Celine agora
mesmo e vou pedir que ela descubra quem é e onde mora a costureira de Barra de Coqueiros que o agiota está apertando. Vamos saber quanto é a dívida dela. E aí
damos o dinheiro e ela paga ao miserável. E aplicamos mais um castigo nele:
tomamos mais dois cabaços dele numa operação só. O que você me diz?
– Eu digo que
você é a criaturinha mais inteligente, mais esperta, mais sacana, mais tarada,
mais bondosa, mais sensível e mais adorada deste mundo! Eu amo você menina! É a
primeira vez que eu tenho coragem de dizer isso. Pronto!
– E eu amo
você demais também, Zezé. Amo meu anjo protetor, minha amiga querida, minha tia
vendedora de cabaço, minha atriz favorita.
– Ah, eu
esqueci de dizer que você é, também a mais divertida e a mais gozadora.
Fofura!... Pois então pode ligar. Vamos procurar logo essa viúva de Barra de Coqueiros.
CONTINUA
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