sábado, 29 de junho de 2013

VOCÊ QUER SER ESCRITOR(A)? Veja como fazê-lo – 1ª. parte
MILTON  MACIEL

Damos início hoje a uma série de artigos dirigidos àquelas pessoas que adorariam ser capazes de escrever e publicar livros, artigos, crônicas, poesias, matérias técnicas, etc. Uma coisa muito mais fácil de fazer do que a maioria das pessoas pensa.

Hoje, como primeira parte, retiramos um pequeno trecho de um trabalho que já publicamos em diversos locais, inclusive neste blog, uma série de três artigos denominada “QUEM NOS HÁ DE LER?”

DEMANDA REPRIMIDA POR LIVROS NO BRASIL

Já afirmei anteriormente que essa demanda existe. Vou me dedicar a mostrá-la agora. Para isso apanhei um gráfico numa publicação e fiz mais dois. Neles se mostra que o brasileiro médio lê MUITO menos que seus equivalentes argentinos, chilenos e uruguaios. Quais as razões? Em primeiro lugar as culturais é óbvio, pois basta ler ali que temos 15% de analfabetismo ainda, contra 3 ou 2% de nuestros vecinos

Mas isso é só um número e diz muito pouco, pois nós temos que considerar que podemos facilmente chegar ao dobro disso, se considerarmos o analfabetismo FUNCIONAL – aqueles que mal e mal sabem ler e assinar o nome, mas que são incapazes totalmente de leitura MAIS interpretação – ou seja, em termos técnicos, têm alfabetização mas não têm LETRAMENTO.

Isso se comprova por pesquisas como as da FIPE e do Instituto Pró-Livro, que delimitam o potencial do mercado brasileiro de leitores em 80 milhões de pessoas. Isso quer dizer uns míseros 40 POR CENTO da população. E diz também que, à medida que a governança brasileira se torne capaz de acreditar que o investimento mais importante de todos é em Educação e em EDUCADORES, o mercado de leitores potencias tem tudo para explodir.

Mas, enquanto isso não acontece, enquanto um sacrificado professor acaba tendo que sobreviver com um salário de fome que é cerca de apenas um centésimo do que custa ao país um reles deputado federal (e existem 513 dessas ‘coisas’ neste país caolho, consumindo mais de 800 milhões por ano, um descalabro absoluto!!!), então essa multiplicação será apenas vegetativa e não explodirá jamais.

Por outro lado, dentro do universo potencial de 80 milhões de leitores (duas Argentinas, cinco Chiles, 23 Uruguais) a grande maioria NÃO PODE COMPRAR LIVROS regularmente. Não tem poder aquisitivo para isso! O livro brasileiro, limitado a tiragens pequenas pela exigüidade do mercado que pode pagar por ele, tem preço alto demais. E, como se não bastasse, em cima disso ainda temos a lamentável cabeça-de-porco do salafrário “custo Brasil”. Um círculo vicioso viciado!

Contudo, para esses leitores ávidos de ler e impedidos de fazê-lo pelo alto custo do livro físico, há uma luz no fim do túnel: o e-book! Mas só depois que o espírito-de-porco de muitos empresários, que são agora donos da produção e distribuição de e-books, deixe de ser aliado da cabeça-de-porco do incompetente “custo Brasil”. O que é só uma questão de tempo e acontecerá. Irrecorrivelmente!

Na próxima parte desta série vamos relacionar a dificuldade de escrever que as pessoas sentem exatamente com o assunto que foi tema desta primeira parte. (M. MACIEL)


sexta-feira, 28 de junho de 2013

TRÔPEGO PASSO (Série OS POEMAS DA SOMBRA – No. 2) 
MILTON MACIEL 

2 - A Sombra e os Relacionamentos

“I looked and looked and this I came to see:
That what I thought was you and you,
Was really me and me”
Autor desconhecido

Olhei e olhei e isto eu pude ver:
Aquilo que eu pensei que era você e você,
Era realmente eu e eu.

(LOGO APÓS O POEMA, TEMOS O TEXTO EXPLICATIVO
SOBRE A SOMBRA NOS RELACIONAMENTOS)

TRÔPEGO PASSO
Milton Maciel

Trôpego passo meu, em meio à multidão,
Onde me levas, assim lasso e cambaleante?
Haverá sina pra este meu andar errante?
Alcançarei mais do que a poeira deste chão?

Se mal me arrasto pelo passadiço angusto,
É que, perdido, meu percurso é desatino.
E, quando penso ter chegado a meu destino,
O que encontro é só meu leito de Procusto.(*)

Nele eu suporto a mais terrível das torturas,
Que é recordar seu olhar frio e indiferente,
A me dizer que o seu desprezo é permanente
E que, à frente, só terei penas mais duras.

Estou prosternado neste tremedal tremendo,
Vendo que a vida se me esvai a cada instante,
Você, de mim, a cada dia mais distante,
E eu, sem você, a cada dia mais sofrendo.

Ah, e pensar que o findar das minhas penas
Ocorreria a um simples gesto seu... apenas!

.(*) LEITO DE PROCUSTO: esse Procusto era um criminoso sádico de Elêusis, Grécia antiga. Ele recebia hóspedes em sua casa e lhes dava uma cama para dormirem. Então, se o hóspede fosse maior que a cama, amarrava-o e cortava-lhe os pés. Se fosse menor, esticava-o com cordas, num suplício horrível. Sempre tinha como se divertir, pois, na verdade, tinha dois quartos de hóspedes com camas de tamanhos bem diferentes. Teseu matou-o: amarrou-o atravessado em uma de suas camas e o fez caber, cortando-lhe as pernas e a cabeça (romântico isso, não? Ao menos os sádicos devem achar). Leito de Procusto passou para a literatura como sinônimo de ambiente de torturante sofrimento.

SOMBRA, RELAÇÃO E PROJEÇÃO

Um dos campos onde A SOMBRA se manifesta mais intensamente é o dos RELACIONAMENTOS. Este é o típico ambiente psicológico onde funciona livremente o mecanismo denominado PROJEÇÃO. O nome não poderia ter sido mais bem escolhido. No processo psicológico de Projeção, tudo se passa como se nós passássemos uma tinta branca na outra pessoa, evitando ver como ela é realmente, e ligássemos nosso projetor sobre essa nova tela, projetando ali as imagens que QUEREMOS ver.

Essas imagens são de duas categorias gerais. Podemos chamá-las, para simplificar, de “Meus Defeitos” e de “Minhas Necessidades.”

quinta-feira, 27 de junho de 2013

SEGREDO DE POLICHINELO  
MILTON  MACIEL 

Saquarema, 2 de Janeiro. Por quase toda Região dos Lagos, em quase toda Saquarema e absolutamente em todo Bacaxá, o segredo das infidelidades de Toninha é um segredo de polichinelo. Que é um segredo que todo mundo está careca de saber, só alguns tontos persistem em acreditá-lo realmente desconhecido. No caso, um dos tontos é a própria Toninha, que acha que ninguém, inclusive seu marido Ariosvaldo, sabe de nada. Bom, pelo menos quanto a isso ela está com a razão. De fato o Ariosvaldo não sabe de nada. Portanto o outro tonto é o marido mesmo.

Mas isso é mais do que compreensível, porque dita a boa regra que o marido deve ser o último a saber. Nem tão boa assim, porque há quem discorde. Uns são os maridos em   geral, é óbvio. Mas outra discordância, muito mais importante, é a que vem do falecido Nelson Rodrigues. Ele escreveu: “O marido não deve ser o último a saber. O marido não deve saber NUNCA!”

Pois esse é também o credo da Toninha: O Ariosvaldo não deve saber nunca. Não que ela se importe muito com a reação dele, se souber, porque ela tem certeza que o marido é, no fundo – que no fundo só, que nada, na frente também, inteiro! – um grande banana.

A Toninha faz dele gato e sapato. Mais sapato do que gato, considerando o jeito como ela pisa no infeliz. Ali no bairro todo mundo sabe das aventuras dela com o elenco quase inteiro do Boa Vista, o time de futebol. E também comentam, e não a boca fechada, de como ela costuma passar em revista, um após outro, um bom rol de rapazes estudantes da Escola Técnica, quase vizinha da casa dela. A Toninha é assim, um caso raro de apetite insaciável, marido algum no mundo poderia dar conta de tal Pantagruel de saias, ainda mais que o que ela gosta de comer é fruta de outra natureza.

Uma coisa notável é que ela costuma se divertir com as denúncias que o Ariosvaldo recebe, há ocasiões em que chega mais de uma por dia. Ela coleciona tudo, não deixa destruir nada: bilhetes, cartas anônimas... Ah, disso ela tem um alentado arquivo, que faz questão de manter sempre atualizado. Antes guardava tudo em caixas – e bota caixas nisso! – de sapato. Depois, informatizou-se. Agora ela obriga o tonto do Ariosvaldo a digitar todas as denúncias no computador e salvar em arquivo interno e pendrive. É uma vaidosa, uma narcisista.

Ela justifica, dizendo pra ele que quer reunir o máximo de provas para depois contratar um detetive que seja capaz de identificar cada uma das pessoas autoras daquelas centenas de cartas (sim, são centenas!) e bilhetes maldosos e infamantes. Aí pretende processá-las todas por difamação e calúnia. O marido, achando que já havia material mais do que suficiente, chegou inclusive a lhe trazer um detetive de Niterói, para iniciar a investigação. Mas tudo o que a Toninha fez foi convencer o panaca do Ariosvaldo que ela precisa ir duas vezes por semana a Niterói, para explicar cada uma das cartas, com detalhes, para o detetive. Geralmente vai de manhã é só volta de noite, não quer que o detetive deixe nenhuma carta sem investigar, dá um trabalho!...

Por outro lado, ela está agora passando em revista os possíveis advogados da Região dos Lagos, para decidir quem irá representá-la no processo. Tarefa que também demanda muito tempo, o Ariosvaldo compreende. Inclusive tempo noturno, porque a maior parte dos advogados se recusa a tratar do assunto no escritório durante o expediente diurno. O que ela diz para o marido eu não consigo imaginar mas, seja o que for, o tapado aceita.

Aliás, ele acredita piamente que a mulher tem algumas inimigas impiedosas, que não se conformam com a beleza da Toninha, e que ficam tentando acabar com o casamento feliz que eles têm. Pura inveja, querido! Essas mal-amadas não se conformam com o nosso amor, tão perfeito, tão lindo, tão fiel.

Se é verdade que o pior cego é o que não quer ver, então o Toninho é o pior cego de Saquarema. Devia usar bengala e cachorro o tempo todo, até pra tomar banho. Mas o fato é que ele não acredita em nada que disserem contra a Toninha e fim de papo! E dessa forma o casamento deles já dura cinco anos.

Eu mesmo já andei naquelas águas revoltas e gostosas da mulher do Ariovaldo. Por baixo (desculpem o trocadilho), uma cinco vezes. Ou seis, sei lá se dá pra contar aquela ligeirinha de pé na sacristia, quando tive que me arrancar (literalmente!) com um salto ornamental, quase que o Padre Sebastião nos pega em flagrante.

Pois é, como digo, esse é o segredo de Polichinelo de Saquarema. No fundo, todo mundo sabe e centenas de pessoas se comprazem em denunciar o tal segredo ao corno do Ariovaldo. Mas não adianta. O que fazer, se na verdade até o Padre Sebastião sabe de tudo, mas é obrigado a calar pelo segredo de confessionário?

Sim, porque a maluca da Toninha se confessa todas as semanas e é claro que conta tudo pro padre. Aliás, acho que tem o maior prazer (é literal, também!) fazendo isso. Explico: Tão devota ela é, que não precisa mais se ajoelhar em frente ao confessionário na igreja. Como deferência toda especial a sua fiel (?!) paroquiana, a Toninha agora pode se confessar na casa paroquial, nas quartas-feiras, quando o padre fica sozinho, coitado. Pois é!... acho que isso nunca vai mudar...

Saquarema, 12 de Janeiro. Errei feio. Hoje tudo mudou! A Toninha está chorando pelos cantos, inconsolável. Pagou pela sua bazófia, pela sua imprudênca, pela sua vaidade. Pois o Ariosavaldo entrou ontem à tardinha com um processo de divórcio por traição contumaz. Entregou as caixas antigas e o pendrive atualizado com centenas de denúncias anônimas e comprou o tal detetive, que acabou trabalhando pro marido. Comprovou um monte de casos da Toninha. Agora ela está perdida, vão arrancar metade de tudo o que ela tiver. Bem, isso não é surpresa, afinal. Tem sempre um dia em que a casa cai, nesses casos.

Mas o mais estarrecedor foi o que eu fiquei sabendo, isso sim a boca fechada (já explico!). E esse não é, de maneira nenhuma, um segredo de polichinelo. Esse esteve o tempo todo guardado a sete chaves. E é chocante.

Sabe o Dr. Bernardino, o representante do Ariosvaldo? Pois é, ele estava armando a coisa toda há um bom tempo, na moita, na surdina. E eu acabo de saber em primeira mão, revelação de uma pessoa chegadíssima ao advogado (na verdade acho que o cara é um pistoleiro de aluguel), que ele e o Ariosvaldo são AMANTES desde antes do casamento deste. Na verdade, parece que armaram tudo pro Ariosvaldo dar o golpe do baú, porque a Toninha já era rica e foi herdando um monte de propriedades depois de casada, com a morte dos parentes. Casaram com comunhão de bens.

Ora a Toninha sempre teve aquele fogaréu, aquele furor uterino. E se encantou com a evidente vocação do pretendente Ariosvaldo para ser um grande corno manso. Por isso acabou casando com ele, apesar de ele ser um pé-rapado. E como a vocação não só se confirmou, como foi valentemente mantida e ampliada ao longo de cinco anos, o casamento se manteve firme como uma rocha todo esse tempo, enquanto o casal de malandros esperava a morte sucessiva dos parentes da Toninha.

Ora, o Ariosvaldo, quem diria! , Além de tão corno, parecia tão macho! E o Dr. Bernardino, então?! Não, ninguém podia desconfiar disso. Nunca! Nem eu, que conheço os dois há tanto tempo. E o pior é que eu não posso contar nada do que fiquei sabendo sobre o caso deles, sobre a armação safada deles. A pessoa que me contou, depois que o fez, encostou o cano de um revólver na minha barriga e disse, com voz sinistra: “Experimente abrir esse bico, que eu fecho com chumbo de 44Se alguém mais ficar sabendo, é porque VOCÊ deu com a língua nos dentes, meu camarada. E aí...” 

Gelei. Não sei de nada! Esqueci tudo...

Mas, por via das dúvidas, como não resisto à tentação de mostrar que eu sabia de toda a trama, estou escrevendo isto aqui. Vou esconder num cofre de banco e deixar instrução para que só seja aberto em caso de morte minha. Quem sabe? Aí o povo vai ver que eu era um cara bem informado. E prudente! 

Agora, se vocês estiverem lendo isto, então... quer dizer que eu dancei. E sem ter culpa de nada, eu que não ia ser idiota de abrir o bico!

quarta-feira, 26 de junho de 2013

A BALA PERDIDA    
MILTON  MACIEL

Era um menino alegre, puro e inocente, na plenitude dos seus oito aninhos recém-completados. Era uma família que tinha nesse garotinho toda a sua felicidade e encantamento. Era uma escola particular, situada em um bairro de classe média alta, onde mães e pais formavam sempre irregularíssimas filas triplas com seus carrões, na hora da saída.

A vida corria tranquila e sem transtornos para todos. Aquela parte da cidade grande parecia não ter nada a ver com a atmosfera tensa e angustiada daqueles bairros onde a falta de segurança é absoluta. Como um verdadeiro oásis, o ambiente urbano onde a Escola Nova Esperança se esparramava preguiçosamente por quase um quarteirão, vivia em paz há mais de dez anos.

Mas aquela era a cidade grande. E a realidade, a dura realidade, que não poupa nem mesmo as casas dos banqueiros e dos senadores, mais dia, menos dia haveria de bafejar com seu hálito mefítico a paz da Nova Esperança. E a realidade chegou. E foi trazida por uma bala perdida.

Não faz sentido comentar o que é uma bala perdida, não a esta altura da existência em uma cidade permanentemente conturbada pela violência dos embates entre polícia e bandidos; e entre bandidos e bandidos. Hoje todos sabem muito bem o que é uma bala perdida na cidade grande.

Pois vou contar como uma bala perdida destroçou a vida tranquila de um menininho de oito anos e como veio a cobrir de revolta e opróbrio toda a sua família.

Um dia o menininho caminhava contente pelo corredor da escola, sozinho, depois que quase todos os coleguinhas tinham corrido para fora, ao final do horário de aulas. E foi ali, dentro da escola – e, não, no seu exterior, na calcada em frente, que a bala perdida veio estraçalhar sua jovem existência e, por extensão, a de sua família inteira.

O menininho já estava quase na porta de saída quando viu aquela coisa brilhante no chão do corredor. Era a bala perdida! Pudesse ele adivinhar o que viria, jamais teria se aproximado daquele brilho enganador. Mas não podia, era só uma criança inocente. Então o menininho abaixou-se e apanhou a bala.

Em sua embalagem prateada estava escrito: Bala de Hortelã Domênico. Huum, uma bala Domênico! E, ainda por cima, de hortelã, sua favorita. O menininho ficou feliz e começou a girar o papel prateado na mão, para abri-lo. Quando finalmente o conseguiu e ia colocar na boca o testemunho de sua boa sorte, ouviu uma voz estridente:

– Ladrão! Ele roubou a minha bala, mãe. Ele é um ladrão, mãe! Castiga ele!

Em vão o menininho gritou sua inocência. O outro garoto, um chato terrível e mimado, vinha pela mão da mãe. E a mãe era simplesmente a dona e diretora da escola. E essa mulher, de olhos de coruja sob os grossos aros redondos e nariz de gavião, apanhou imediatamente o menininho pela orelha, arrastando-o até sua sala, cuja porta fechou. Vinte minutos depois a porta era aberta. Lá estavam o moleque acusador, sua mãe cara de coruja nariguda e ... a mãe do menininho!

Que ouviu, mortificada, a história do roubo da bala de hortelã. Que na verdade não era roubada, era somente uma bala perdida. Mas nem mesmo sua mãe lhe deu crédito. Chorou e pediu perdão à diretora e seu filho, prometeu dar castigo exemplar ao ladrão e mentiroso quando chegasse em casa. E o fez com todo o rigor que o caso exigia. Ladrão? Pois lugar de ladrão era na cadeia. E colocou o menininho de castigo no quartinho dos fundos, a pão e água, por todo o fim-de-semana. E para cada pessoa que chegava, ela desfiava sempre a mesma história, da vergonha que havia passado na escola, por causa daquele filho tão pequeno e já tão ladrão. Doeu demais no menininho.

Pior ainda foi na escola. A diretora e o filho se encarregaram de espalhar a notícia. Logo, logo, o menininho passou a ser vítima de bullying generalizado. Ganhou de todos o apelido de Ladrãozinho. Que mudou para Ladrão assim que ele se fez maior. E Ladrãozão, depois resumido para Drãzão, pelo resto de sua vida.

O trauma foi absurdamente grande, naturalmente alguma consequência ele traria. E trouxe. Assim que chegou à idade adulta, o ex-menininho entrou para a política. Se a infelicidade o quis fazer conhecido como Drãozão, ele iria fazer por merecer o apelido. Elegeu-se vereador, depois deputado estadual, depois deputado federal. Está lá em Brasília pelo terceiro mandato consecutivo. É venal como poucos, rouba descaradamente, mete a mão no dinheiro público, faz juz ao nome Drão. Sim, conseguiu, a custa de bom investimento, mudar a maneira como era chamado por todos, eleitores inclusive: Drão. Que dizia ser homenagem ao nome de um benemérito avô inventado, Alessandro, conhecido pela alcunha de Drão.

E lá está ele ainda hoje, fazendo a vergonha de toda sua família. Todos os parentes negam que o conhecem. Sua mãe jura que nunca teve esse filho, mandou certa vez dar surra de criar bicho num jornalista, que andou investigando a fundo as origens do nobre deputado Drão. Todos os membros da família gritam a plenos pulmões que não são portadores da suprema vergonha de terem nela um deputado federal: “Eu não sou parente de deputado federal, não sou, não sou!!!” E dizer que tudo isso aconteceu por causa de um trauma de infância, uma injustiça  cruel.
MALDITA BALA PERDIDA!

segunda-feira, 24 de junho de 2013

DIÁRIO DE UMA DIETA ATRIBULADA
Ou De como Emagrecer para Entrar num Vestido
MILTON  MACIEL 
POSTAGEM DE ANIVERSÁRIO: hoje, dia de São João, 
nosso blog completa seu primeiro ANO de vida. Com 
22 036 acessos até o amanhecer deste dia. 
MUITO OBRIGADO, LEITORAS E LEITORES.

Encontrei ontem o diário ultra-secreto da Maria Regina. Passei a noite toda lendo. Indiscrição? Claro que é! Mas quem disse que eu sou discreta? E também com tudo o que aconteceu, vocês vão acabar me dando razão. Eu li tudo e vou fazer mais: vou mostrar pra todo mundo. No fim vocês vão me dar razão. Vejam só, vou mostrar aqui só algumas páginas, as mais interessantes, por que a xaropada é muito grande:

23 de Novembro. Querido diário, estou tão feliz! A Mariana me convidou para ser madrinha no casamento dela. Eu, madrinha, que maravilha! Puxa, justo a Mariana, tão pernóstica, tão metida a besta. Não, Meu Deus, que que eu estou dizendo! Não, a Marianinha é muito querida, imagina, me convidou para ser sua madrinha. Ela é um amor.

24 de Novembro. Querido diário, hoje eu tive que fazer aquilo. Tive, sim, não teve jeito. Pois é, subi numa balança! Droga, levei um susto, claro, depois de tanto tempo... Bem, eu admitia para as pessoas que estava acima do peso ideal. Quanto? Ah, uns dois quilos. Não, uns cinco talvez. Mas elas pareciam não acreditar, olhavam de um jeito tal que eu me sentia um baleia, como se tivesse dez quilos de excesso. Bem, então com a história do casamento, do vestido, sabe como é, eu tive que subir na balança. E sabe o que a desgraçada me disse: que eu estou com quinze quilos a mais. Quinze! Por isso é que eu não gosto de balança. Eu odeio balança!

27 de Novembro. Querido diário, estou animada de novo. Depois da depressão do encontro com a balança, fui à costureira e escolhi o vestido que ela vai fazer pra mim. Um arraso! Tá na cara que eu vou ficar mais bonita que qualquer outra, até que a própria noiva. Fiquei super animada. Tanto que corri para o médico e consegui ser atendida na hora, de tanto que eu fiz chantagem, que ia me matar, que estava em depressão profunda, não vou contar o resto que eu tive que fazer, mas ele me atendeu na hora. Vou entrar em dieta! Vou perder logo, logo, esses malditos quinze quilos.

1 de Dezembro. Querido diário, estou animada. Hoje é o meu quarto dia de dieta e eu estou me sentindo ótima. Acho até que vou me pesar. Estou ansiosa. Mas o médico disse pra esperar uma semana. Vais ser difícil. Eu odeio esperar!

2 de Dezembro. Querido diário, difícil é fazer essa dieta! Ontem não resisti, tive que dar uma quebradinha. Mas foi só de noite, na pizzaria com a turma. Só quatro pedaços, e olha que era rodízio. Mas hoje estou de volta ao rigor. Espartana! Eu sou forte. Tenho força de vontade!

4 de Dezembro. Querido diário, estou arrasada. Subi na maldita. Perdi peso, sim. Sabe quanto: 500 gramas! Só meio quilo depois de uma semana comendo capim e peito de frango grelhado, coisa mais insossa e horrorosa! Uma semana sem botar um chocolate, um docinho que fosse, na boca e aquela ingrata me apronta uma dessas... Eu odeio balança!

11 de Dezembro. Querido diário, a coisa vai mal. O casamento é em 14 de Janeiro. E eu tenho que estar esbelta para entrar naquele vestido maravilhoso. Ontem foi o dia da primeira prova. A costureira fez como eu pedi, bem nas medidas do manequim que eu sei que vou ter na semana do casamento. Resultado; não entrei no vestido, é claro! Saco! Pra piorar, aquela velha azeda ainda resolveu me dar lição de moral. Me esculachou, disse que eu devo estar tapeando a dieta. Quatro-olho desgraçada! Como era a segunda semana de dieta, subi de nova na maldita, só pra desfeitear aquela insolente. Pois é, eu estou dois quilos mais magra! Dois quilos! Velha nojenta...

14 de Dezembro. Querido diário, hoje tive uma recaída. Também, vi o Rodolfo com a nova namorada dele! Foi a primeira vez. Fiquei arrasada. Eu precisava de algo urgente pra esquecer. Entrei na primeira confeitaria que achei e me entupi de sorvete e torta, fiquei uma duas horas lá dentro, comendo e chorando escondida. Ainda sobrou um pouco de torta, trouxe pra casa. Hoje não tem dieta! Estou arrasada de novo. Eu odeio o Rodolfo!

18 de Dezembro. Querido diário. Hoje é dia de subir na maldita. Não vou. Não quero me aborrecer, me irritar com aquela filha da puta. Vou deixar para depois de amanhã, afinal tenho retorno ao médico mesmo. Puxa, vou ter que maneirar. Não, vou ter que fazer um puta dum esforço, senão o cara vai pegar no meu pé pra valer!

20 de Dezembro. Querido diário. Acabo de chegar do médico. Não preciso dizer nada, não é? Foi horrível. Três quilos em três semanas!... Se bem que eu acho que a balança dele deve estar bem errada, pelo menos uns três quilos a mais. Nas minhas contas, eu já devo ter perdido mais de cinco quilos. Amanhã vou até me pesar na maldita, só pra confirmar a minha certeza. Eu odeio balança de médico!

24 de Dezembro. Querido diário, estou firme como um rochedo, um poço de força de vontade. Subi na maldita e ela me disse que eu já perdi quatro quilos! Vitoriosa! Será? Quase um mês e quatro quilos? É, é pouco, o casamento é em 14 de Janeiro. E o pior é que hoje é noite de Natal. Eu adoro Natal. Como é que alguém pode ficar de dieta numa festa de Natal? Ainda mais com a montanha de coisas boas que a vai ter na casa da minha avó!

25 de Dezembro. Querido diário, eu odeio Natal!

31 de Dezembro. Querido diário, voltei à dieta pra valer depois daquele Natal desgraçado de comilança. Subi na maldita hoje: cinco quilos! Até que estaria razoável, não fosse pela noite que vem aí, não é? Noite de Ano Novo. Ah, eu adoro Ano Novo, foguetório, champanhe (sempre bebo demais) e aquele montão de coisa boas (sempre como demais).

1 de Janeiro. Querido diário, eu bebi demais. E eu comi demais... Eu odeio Ano Novo!

4 de Janeiro. Querido diário. Sabe o que a maldita teve a coragem de me dizer? Pois é, que eu continuo só nos cinco quilos. E o casamento é daqui a 10 dias! Estou entrando em desespero. Pra piorar, hoje foi o dia da segunda prova na costureira. Ah, nem vou contar como foi horrível. Eu me descontrolei (dei para andar muito nervosa ultimamente, nem pareço eu), xinguei a velha, falei que ela errou as medidas. Ela não disse nada, mas em compensação, durante a prova, me encheu de alfinetadas a toda hora. Desgraçada. Eu odeio costureiras!

5 de Janeiro. Querido diário, sonhei com chocolate a noite inteira. Um chocolatào macho, gostoso como só, eu mordia ele em cima, ele transava comigo por baixo, que sonho maravilhoso! Acho que passei a noite gozando duplamente. Acordei exausta, mas feliz, aliviada. Aí eu não subi na maldita, é claro. Tomara que eu tenha esse doce sonho gostoso outra vez esta noite. Vou até dormir mais cedo.

6 de Janeiro. Querido diário, essa dieta está acabando com os meus nervos! Tive outro sonho enorme esta noite, Mas em vez de ser a delícia do chocolatão, sonhei foi com a bruxa da costureira. E ela passou a noite toda me espetando som uns alfinetes enormes, pareciam agulhas de tricô. E rindo da minha cara. E como se não bastasse, o médico entrava no sonho, mandava eu tirar o vestido e ficava pegando nos meus peitos, mostrando pra costureira onde ela tinha que passar a tesoura para tirar o excesso. Acordei emputecidíssima, é claro!

7 de Janeiro. Querido diário, falta um semana pro maldito casamento. Não agüentei a pressão, estou nervosíssima, super chateada, super irritada! Estou aqui pensando quem foi que eu ainda não xinguei esta semana. Briguei com todo mundo! E, depois do sonho do chocolate, eu não consigo mais ficar sem a minha barrinha diária, recaída da braba. Caramba, eu preciso de doce! Eu preciso de comida! E sabe o que mais? Eu preciso de macho, tá! Tô numa secura danada desde que o Rodolfo se mandou com aquela magricela ossuda. Ah, se pelo menos eu  tivesse o sonho com o chocolate de novo...

8 de Janeiro. Querido diário, sonhei com chocolate de novo! Mas dessa vez não foi legal. Nem bem transei, fiquei grávida. Em instantes eu estava com um barrigão gigantesco. E aí passei o resto da noite parindo tudo que é tipo de chocolate, até caixas enormes de dúzias eu pari. Foi horrível! Essa dieta esta acabando comigo! Acho que vou largar tudo...

9 de Janeiro. Querido diário, cinco dias para o casamento. Cinco quilos é tudo o que eu perdi, sofrendo como um condenado no deserto. É injusto! Será que Deus existe mesmo? Porque, olha, o que eu tenho rezado desde o começo dessa dieta desgraçada... Ah, que bom se eu tivesse mais tempo!... Por que essa assanhada da Mariana tinha que casar logo agora? Por que ela não adia essa droga de casamento? Ei, taí uma boa idéia. Se o casamento for adiado, eu tenho mais tempo pra emagrecer! Acho que vou pensar nisso. E quer saber que mais, querido diário? A culpa de todo esse meu sofrimento é da Mariana mesmo. Não sei por que essa pernóstica, essa emproada, essa nojentinha, foi inventar de me convidar pra madrinha.

10 de janeiro. Querido diário, essa Mariana é minha inimiga! Só pode ser, estive pensando muito. Sabe por que ela me convidou? Foi pra tirar uma onda comigo. Ela sabia que, se eu fosse madrinha, ia ter que entrar num vestido novo, ia ter que emagrecer. É isso, como é que eu não percebi na hora?! Burra, era só dizer não e ela que fosse derramar a maldade dela em cima de outra. Eu odeio a Mariana!

11 de Janeiro. Querido diário, já sei como me livrar desse pesadelo. Começa que já parei a maldita da dieta hoje mesmo. Chega! Vou pro rodízio de pizza de novo hoje. E vou comprar um monte de chocolate e de sorvete. O vestido pro casamento? Que casamento? Esquece, não haver nenhum casamento! Como? Ah, me aguarde, você não perde por esperar. Nem aquela desgraçada da Mariana. Ela vai ver o que e bom pra tosse. Nunca mais ela convida outra... digamos, levemente rechonchudinha pra madrinha de casamento. Eu odeio a Mariana!

12 de Janeiro. Querido diário, está feito! Já mandei a carta pro Antonio. É, Antonio, o noivo. Diário, me superei! Nunca mandei uma carta anônima tão bem feita como esta, palavra! Mas nem aquela que enrolou o Padre Augusto naquela investigação de pedofilia, que eu considerava minha obra prima. Estou orgulhosa de mim. Só quero ver se vai ter casamento agora! Olha, diário, as coisas que eu contei naquela carta deixam qualquer cafetina de bordel morta de vergonha. Carreguei nas tintas mesmo! Além de contar todos os podres da Mariana, que não são poucos, o que eu inventei de sacanagem deixa o livro da Bruna Surfistinha no chinelo. Eu sou um gênio. Agora aquela filha da puta vai se ferrar. Eu odeio a Mariana!

13 de Janeiro. Querido diário, o circo pegou fogo! Tá o maior escândalo na família. O corno do Antonio entrou aos berros na casa da Mariana, falou que não casa mais! Fiquei sabendo agora, a Gilda me ligou toda feliz com a fofoca. E aí aproveitou pra me contar mais umas da Mariana, que ela diz que ouviu da Amanda, que foi empregada na casa daMariana por uns tempos. Bem feito! Se eu soubesse antes...

14 de Janeiro. Querido diário, vai ter casamento!!! Pois o corno do Antonio acreditou em tudo o que a Mariana e a mãe dela contaram. Que é tudo mentira, que a menina é inocente, que é invenção de alguma maluca despeitada, de um espírito diabólico, um monte de besteiras mais. O cara é muito trouxa mesmo, vai ter a maior galhada da história de São Paulo, ele que se prepare. Se já começa relevando assim, aí mesmo é que a Mariana vai se servir. Corno manso! Eu odeio a mãe da Mariana. Eu odeio a Mariana! Eu odeio o Antônio! Eu odeio todos os cornos mansos, uns sem caráter, uns bunda–moles! Eu odeio casamento! Eu só amo o meu chocolate... Quero mais!...

Pois é, aí parou o diário, foi a última pagina. Quando aquela gorda doida entrou na igreja atrasada, depois que a cerimônia tinha começado, usando um vestido salmão que não fechava nas costas, na bunda, nas coxas, em lugar nenhum, com a roupa de baixo aparecendo, toda lambuzada de chocolate e gritando que odiava casamento, que odiava toda e qualquer pessoa ali presente cujo nome ela lembrasse, que odiava o padre, que odiava a Mariana e que odiava o Antônio... Céus, foi um Deus nos acuda! Seguraram aMaria Regina, que estava no maior surto, e chamaram socorro médico urgente. Ela saiu de lá em camisa de força, xingando o Antônio de corno manso, a Mariana de puta e entregando fácil, fácil quem tinha sido a autora da carta anônima.

Pois é, ela está internada até hoje. Por isso eu remexi nas coisas dela até encontrar o esconderijo secreto do diário. Não me arrependo. Agora vocês sabem quem é a Maria Regina. Estou contente. Eu odeio a Maria Regina!

Mariana? Na Europa ainda, com o corno do marido, lua-de-mel. Ela me ligou ontem, falando que está meio de rolo com um sueco lindo, que está no mesmo hotel deles, em Gstaad. Essa MarianaMaria Regina é que está certa: uma putinha!

quinta-feira, 20 de junho de 2013

SOU UM FANTASMA !     
Ou: Meu Trabalho como GHOST WRITER
MILTON  MACIEL

Tenho um dia longo demais, que começa às 7 da manhã, quando levanto e termina às 3 da manhã seguinte, quando vou deitar sob protesto. Detesto dormir! Acho uma terrível perda de tempo. Aos 21 anos de idade consegui acesso a um eletroencefalógrafo, fiz um treinamento autógeno e aprendi a dormir 3 horas por dia (hoje em dia, durmo quase 4). 

Meu médico me chamou de louco e disse que eu ia morrer muito cedo. Outro médico disse que eu ia envelhecer horrivelmente, seria um ancião aos quarenta. Quando ultrapassei a marca de 3 vezes 21 anos de idade, não tendo morrido, que eu saiba,  nem ficado mais velho do que o normal, provei que eles estavam errados. O único problema para mim é que esse período curto de sono não permite uma boa produção de endorfinas, hormônio de crescimento e leptina, de forma que tenho mais dificuldade para lutar contra o excesso de peso. Este é garantido cada vez que eu abandono a minha boa dieta paleolítica e passo a me entupir de carboidratos, como faz todo mundo na dieta convencional do ocidente.

Mas não recomendo que todo mundo durma pouco assim, porque a necessidade de sono é algo absolutamente INDIVIDUAL e depende do número mínimo de ciclos de SONHO que uma pessoa necessita. Para mim bastam três. Tenho um trabalho chamado “DREAMS, YOUR COSMIC CONSCIOUSNESS”, onde mostro pormenorizadamente tudo isso. Infelizmente, nunca o produzi em português.

Mas esse não é o tema deste artigo. Mencionei isso somente com o intuito de dizer que o meu dia é MUITO longo. Começo a escrever às 9 da manhã, depois de assistir aos noticiários e ler notícias na Internet. E, com raras interrupções, vou até 3 da madrugada seguinte. E escrevo DEPRESSA demais também. O resultado é que escrevo muito mais do que eu posso publicar, apesar de lançar, como agora, cinco livros no mesmo semestre, de manter um blog de postagens diárias e de ter presença nas redes sociais ativíssima.

Por isso acabei desembocando num caminho novo, que descobri morando nos Estados Unidos: hoje sou GHOST WRITER (Escritor FANTASMA). Que é o cara que escreve para os outros e, na hora da publicação, simplesmente desaparece, se esfuma no ar, como sempre o faz um bom fantasminha camarada. O nome do ghost writer jamais aparece na capa de um livro ou como autor de um artigo ou de matérias para blogs e sites na Internet. Sou, nessa atividade, como o José Costa, personagem do livro “Budapeste” de Chico Buarque de Holanda, que ganhou, com ele, um prêmio Jabuti em 2004. Se você nunca o leu, recomendo que o faça.

Como José Costa, acho a atividade de ghost writer extremamente gratificante. E as razões são mais de uma.

A primeira é poder dar voz a idéias ou históricos e feitos de outras pessoas. Elas têm conteúdo próprio, mas não estão capacitadas a colocá-los em palavras com a mesma facilidade e qualidade com que um escritor profissional pode fazê-lo. Ninguém é obrigado a saber escrever bem, literariamente. Exceto, lógico, o escritor profissional. Então, nesta aliança, empresto aquilo que para mim é fácil, natural e rápido (tenho 22 livros publicados e formação também em área tecnológica), para dar vazão a conteúdos válidos e importantes, que resultam em livros de ficção, livros de negócios, livros e manuais técnicos, blogs e websites de grande importância para quem os vai consumir.

A segunda eu considero ainda mais gratificante. É quando crio romances e novelas livremente, e entrego pronta a obra de ficção, geralmente no prazo de um mês. Durante esse tempo faço leituras semanais da parte pronta (geralmente via Skype) com a pessoa e vamos trocando ideias e fazendo esta ou aquela alteração ou enriquecimento, com a colaboração dela. O que me encanta neste tipo de trabalho é que ele me deixa criar com total liberdade e aí o trabalho flui com uma incrível velocidade. Já escrevi um romance policial de 308 páginas em 21 dias, para um cliente de Miami. Isso não pode ser nada de surpreendente para os meus leitores do blog, porque eles testemunharam diariamente a criação da novela histórica O CERCO, baseada na invasão dos hunos à Gália em 541 AD. Fui escrevendo e postando um capítulo (10-12 páginas) por dia, de 7 de Fevereiro deste ano até 23 de Abril, quando postei o último. O livro físico que nasceu dali tem 400 páginas.

Mas o que me agrada demais nesta atividade, é tirar pessoas do anonimato e convertê-las em escritores(as) da noite para o dia. Oriento-as na publicação auto-suficiente e no marketing dos livros, quer sejam físicos, quer sejam e-books. E a prática tem me demonstrado que a vida de uma pessoa pode ser claramente dividida em dois períodos: AL e DL – ou seja, Antes do Livro e Depois do Livro. Ter o seu nome na capa de um livro altera profundamente a maneira como a pessoa é vista e se insere na sociedade humana. Tenho visto esposas menosprezadas “darem a volta” em maridos machistas; Pessoas psicologicamente tímidas virarem leoas e leões e enfrentarem os entrevistadores com a maior tranquilidade em jornal e TV, na promoção de seus livros. E uma cliente minha do Rio de Janeiro me jurou que esfregou de verdade, fisicamente no duro, o seu primeiro livro na cara de uma cunhada (ou da sogra, não lembro bem). É, como eu disse: AL/DL!

Isso que é valido plenamente em obras de ficção, como romances e contos, é ainda mais forte para livros de não-ficção. Nesse caso, o nome na capa do livro represente a fixação da expertise da pessoa. Ela é automaticamente investida na condição de autoridade sobre aquele assunto ali tratado. Eis aí por que razão a publicação de um livro sobre o ramo de atividade profissional da pessoa acaba resultando sempre numa enorme promoção para os seus negócios. Políticos, por exemplo, adoram publicar suas biografias, que eu chamo de “angelizadas”, meses antes das convenções e das eleições que vão disputar. Barack Obama não foi exceção. Eu mesmo tive a satisfação de elaborar a biografia e a correspondente plataforma (blog, site, redes sociais) de um ex-prefeito que, com sua fixação renovada ante os eleitores, que já o estavam esquecendo, conseguiu eleger seu filho para ao mesmo cargo, numa das mais conhecidas “cidades” de Miami-Dade.

Também ajudei a eleger (com um trabalho que não é biografia, mas uma espécie de memória combinada com um ideário e plano de ação política), um candidato a deputado estadual de um estado brasileiro. Que até hoje não fede nem cheira, mas, pelo menos, se ainda não cumpriu suas promessas, também não está fazendo o que não deve fazer. Obviamente, tal tipo de trabalho tem que ser feito por volta de dois anos antes da eleição. Além do que, seis meses antes, ele seria legalmente proibido.

Um dos meus trabalhos mais gratificantes aconteceu quando, ao longo de uma pesquisa exaustiva com arquivos, jornalistas e historiadores locais, consegui escrever a saga de uma família de imigrantes de São Paulo, cujo patriarca passou para a história como um bandido. E conseguimos demonstrar que tudo não passou de uma enorme armação de inimigos políticos que o derrotaram (ao vencedor as batatas!), resgatando a memória de um homem íntegro. Isso lava a alma da gente como ghost e torna o parente que assina o livro como autor um verdadeiro herói para toda a família.

Agora, no intervalo de um mês, entre a segunda quinzena de Junho e a primeira de Julho, vou ter o incomparável prazer de ver o lançamento de dois livros de uma série e mais dois livros de outra série, criados para duas pessoas maravilhosas aqui do Brasil. Livros que terão o condão de transformar suas vidas, aumentar-lhes a auto-estima e prepará-las para, fazendo alguns cursos de capacitação para escritores, aumentarem cada vez mais sua participação nos livros até se tornarem auto-suficientes e dispensarem o gasparzinho.

Por isso tudo, amo esta profissão de ghost writer. E, como o José Costa, do Chico Buarque, tenho um P... orgulho dela e da prática do seu sigilo profissional absoluto. Se um dia alguém disser que eu escrevi o livro X para o escritor Y, pode ter certeza que eu nego e meu advogado processa!

Uma nota: A Writer’s Digest publicou recentemente que, de todos os títulos publicados nos Estados Unidos em 2012, ela estima que 43% deles foram escritos por ghost writers. Isto é quase um para um: para cada livro escrito pelo autor, outro foi escrito para ele, para a empresa ou para a ONG, por um escritor fantasma. E a tendência é crescente!






A DAR CAMBOTAS, DENTRO, O CORAÇÃO
MILTON MACIEL

À sua vista, meu pobre coração
Virou cambota no meu peito vário,
Que, de inconstante no seu modo diário,
Travou-se em rocha firme da Paixão.

Esta mudança me fez, desde então,
Em suas mãos menos que um hilota.
Ah, por que tinha que virar cambota,
Dentro do peito, este meu coração!

No emaranhado insano da emoção,
Fiquei variado, tonto, apaixonado.
De hussardo dardo o peito trespassado,
A dar cambotas, dentro, o coração.

Sendo incapaz de lhe dizer um não,
Sigo esta vida de passo cambaio.
Como atingido por malaio raio,
Vira, em cambotas, o meu coração.

No estrupidar da mera sensação
De me arrastar em tolo desvario,
Corro a você, como pr’o mar um rio:
Em cambalhotas o meu coração!

(cambota = cambalhota)

quarta-feira, 19 de junho de 2013

E-BOOKS: o seu presente e futuro como leitor e como autor
MILTON MACIEL

Neste artigo vou citar normalmente a Amazon, maior livraria do mundo, como exemplo de operação do mercado de e-books. Mas esclareço que não sou vendedor dessa empresa e que o que cito aqui pode, de um modo geral, ser aplicado a outras plataformas concorrentes dela. Uso a Amazon como exemplo apenas por ter mais experiência com ela.

Em 2008 a Amazon lançou o Kindle, o aparelho pioneiro dos leitores de livros digitais. Custava quase 500 dólares. No ano seguinte, 2009, já a comercialização de e-books para Kindle ultrapassava toda a venda (17%) de livros de capa dura na Amazon. No ano seguinte, 2010, a venda de e-books na Amazon ultrapassou a venda de todos os livros físicos de capa mole (brochuras). E no ano passado, na Amazon, a maior livraria do mundo, a venda de e-books ultrapassou a venda total de livros físicos, brochuras e capas duras.

É isso mesmo que você leu: mais e-books do que todos os livros impressos!

O leitor Kindle, modelo inicial, hoje é vendido a 67 dólares. O Kindle Fire, uma espécie de irmão mais novo, um autêntico tablet atual com tela colorida, custa menos de 200 dólares. E seu preço vai continuar caindo, pois a guerra dos tablets é total e todos eles são leitores de e-books, não apenas da plataforma Kindle da Amazon, mas também da plataforma Nook da Barnes and Noble, da Kobo, da Sony, do Ipad. E ainda temos os leitores no Iphone e nos smart-phones Samsung e outros, que funcionam com o sistema Android. Eu tenho uma verdadeira biblioteca em cada um dos meus dois smart-phones Samsung, que prefiro aos tablets, pois além de tablets reais, eles também são telefones.

Quando poderia eu imaginar, apenas meia dúzia de anos atrás, que um dia eu poderia ter no bolso da minha camisa mais de uma centena de livros, entre eles a obra completa de Carl Gustav Jung, de Dostoievsky, de Tolstoi, junto com livros da maior atualidade, lançados dias atrás. Imagine-se, leitora ou leitor amigos, vocês com 112 livros de verdade, de papel e capa grossa, no bolso da camisa! Não dá, não é?

O que facilita esse processo é que os livros não são armazenados na memória interna do computador ou dispositivo de leitura, mas ficam na “nuvem” de dados da Amazon, Barnes & Noble ou da Apple Store, etc. Para ter acesso a eles, você precisa estar conectado à Internet (ponto a favor dos smart-phones, que independem de redes wi-fi no ambiente!). Isso apenas caracteriza o aspecto pioneiro dos e-books, quanto ao uso das nuvens de armazenamento na rede, tendência a se tornar totalmente dominante nos próximos anos.

Em outras palavras, a revolução atual dos e-books veio para ficar. Não matará os livros de papel, as árvores ainda não terão esse alívio de imediato. Mas a publicação de livros físicos certamente vai declinar. Em especial, a revolução dos tablets vai atingindo as crianças, que vão se acostumando rapidamente com essa nova forma de material de leitura, um dispositivo do tamanho de um livro, porém mais leve e que é, ao mesmo tempo, um computador. E como esses baixinhos de hoje sabem fazer coisas com um computador! Agora esse computador lhes dá acesso a um enorme número de livros, muitos deles interativos, mais revistas e até mesmo jornais para os mais crescidinhos.

Minha esposa adora minha biblioteca no smart-phone: posso ler na cama sem precisar deixar a luz de cabeceira acesa, o que atrapalha o sono dela. Meus filhos também curtem uma outra praticidade do e-book em celular inteligente: Agora eles vão para o banheiro sempre com os celulares, não levam mais revistas ou livros. Como todos sabemos, aquele instante sagrado nos banheiros brasileiros é um dos grandes promotores do salutar hábito de leitura neste pais.

Por isso tudo recomendo, nos cursos de formação de escritores que costumo dar, que os candidatos a escrevinhadores se preparem para ter seus livros publicados no explosivamente crescente mercado de livros eletrônicos. Ainda mais que esses e-books não são legíveis apenas em tablets, smart-phones, Nooks e Kindles. Você tem aplicativos gratuitos para fazer downloads de e-books em qualquer computador: desktop, notebook ou netbook. Um dos meus prazeres, por exemplo, é conectar um notebook na TV de 52 polegadas, pela entrada HDMI, e ler livros, revistas e jornais naquele monitor gigantesco, a metros de distância. É também o melhor substituidor de comerciais que já descobri.

O download de um livro típico no formato Kindle leva cerca de 2 minutos. Quer dizer, você entra no site da livraria, faz a compra em 3 minutos, o download em mais 2, a instalação local do arquivo em mais 2 e, sete minutos depois de iniciar o processo de compra, você já está começando a ler. Isso é... imbatível! Isso sem falar que existem vários milhares de livros de custo zero para baixar. Dos livros de Jung, o que me custou mais caro, saiu por 2.95 dólares, seis reais hoje.

Uma outra coisa muito importante para os leitores de português. A Amazon já está publicando livros em diversos idiomas além do inglês. O português entre eles. Ou seja, agora você pode fazer o upload do seu arquivo para as diversas plataformas e pouco depois já começa a tê-lo disponível no mercado. No caso da Amazon, quando encaminho um arquivo de livro em inglês, 48 horas depois o e-book já está disponível para o planeta inteiro no formato Kindle.

No caso de um arquivo em português, eles pedem cinco dias para poder passar o arquivo para a plataforma deles. Ou seja, menos de uma semana depois de você fazer o upload do arquivo do seu livro na Amazon, esta o disponibiliza para download em todo o mundo,Brasil incluído, em português. Comparado com os longos meses (ou mais de ano) que você tem que esperar até ter seu livro impresso e distribuído da forma convencional...

A produção de livros físicos também vai declinar por outras razões.

Uma delas é no aspecto quantitativo: Graças ao processo “printing on demand” (impressão sob encomenda) não é mais necessário imprimir grandes quantidades de livros previamente ao lançamento. Ou seja, vai-se imprimindo à medida que entram os pedidos de livros. Sobre esse assunto falarei em uma próxima postagem.

A outra razão é no aspecto relativo: Cada vez é maior o número de títulos lançados como e-books, uma vez que o custo de publicação tende a zero e os próprios autores podem ser seus próprios editores. Numa ótica relativa, aumenta o percentual de títulos publicados como e-books, que não ousariam ir à praça como livros físicos e isso provoca um encolhimento relativo percentual dos livros físicos.

Mas há um outro fenômeno se observa em constante crescimento: é cada vez maior o número de títulos que são lançados exclusivamente como e-books. Isto é, nunca serão impressos! Por que razão? Bem a coisa pega aqui é pelo preço do livro. A maior parte dos e-books é comercializada com preços abaixo de 10 dólares. O valor mais típico está mesmo abaixo de 5 dólares, opção em que preferi situar meus próprios títulos de e-book. Os grandes beneficiados aqui são o autor e o leitor. Por que?

Tomando o exemplo da Amazon, se você fixa o seu preço de venda em menos de 10 dólares, o seu royalty vai ser de 70%. Isso mesmo: 70 por cento! Se escolher colocá-lo acima desse valor, o royalty baixa para 30%. Mesmo assim é muito mais que os magros 10% do preço de capa que o autor pode obter no livro impresso. Veja que quem define o preço final de venda é sempre o autor, não a Amazon.

Com custos de produção e distribuição absolutamente irrisórios, a Amazon pode pagar esses royalties tão altos a ainda lucrar muito com a parte que lhe toca. Evidentemente, a venda tende a ser muito maior se você tem, contra a opção do livro físico a 20 dólares (mais frete), a opção do e-book a 5 dólares; Agora veja o benefício para o autor:

Se ele escolhe seu preço final como 5 dólares e tem 70% de royalty, seu ganho é de $3.50 por livro. Isso equivale a ter que ter o mesmo livro, se impresso, vendido por 35 dólares, para que ele possa ter o mesmo royalty de $ 3.50. Agora pense só no potencial de venda de um título a 5 dólares versus a 35 dólares.

Obviamente em qualquer das duas opções, a Amazon irá fazer o desconto legal do Imposto de Renda norte-americano, o que é perfeitamente normal. E o pagamento é feito por depósito em uma conta que você abre em um banco americano ou então pelo envio de um cheque para seu endereço, todos os meses. E você pode, sim, mesmo não morando nos Estados Unidos, publicar e receber normalmente os seus royalties da Amazon, pagos em dólares americanos e descontadas apenas as taxas do IRS (imposto de renda).