MILTON MACIEL
O amor a custo
medra
Em um peito aferrolhado,
Onde um coração
de pedra
Bate frio,
descompassado.
Onde os olhos,
com voragem,
Como os olhos de
Narciso,
Em um delírio
profundo,
Procuram sua
própria imagem,
Na sua falta de
juízo,
Na sua imensa
frieza,
A narcisista se
trava
Num mundo de
pequeneza
E se faz, pra
sempre, escrava
Da sua própria
beleza.
Entregar-se a tal
criatura,
Esperando ser
amado,
É ignorância
pura.
É condenar-se ao
desgosto
Pois a Bela só
tem cuidado
É com o seu
próprio rosto.
Não espere ter
seu amor,
Nem que suplique
de joelho.
Será inútil seu fervor,
Será inútil seu fervor,
Será em vão seu
anseio.
Será só uma tolice:
Porque Narciso acha feio
Tudo o que não é espelho,
Como o poeta já
disse.
(O poeta: Caetano Velloso, em SAMPA)
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