O DESCOBRIMENTO DO BRASIL
MILTON MACIEL
Dizem que um
certo Cabral,
Movido pela
intuição,
Jogou sua
embarcação
Pro lado oposto
do oceano.
Só que esse era seu plano
Desde o início da
empreitada.
Ora, que
intuição, que nada:
Tudo coisa planejada.
Por uma mente genial!
Por uma mente genial!
Então pra não dar
na vista,
Pra não parecer
conquista,
Mandou contar em
Lisboa
Que perderam a
rota boa
Por culpa da
calmaria;
Quando o que ele
queria
Era aportar no
Brasil
No final do mês de
Abril.
Já que o esperto Cabral
Já que o esperto Cabral
Pensava que o
Carnaval
Era então que acontecia
Lá pras bandas da
Bahia.
Pois o nosso bom
Cabral,
Que era um tanto
tarado,
Sabia, que em
carnaval,
Todo mundo anda
pelado.
Errou quanto à
data o gajo,
Mas acertou
quanto ao trajo,
E o que viu, melhor
ainda:
Um monte de índia
linda
Com as coisas todas
de fora.
Pensou: Não vou mais embora!
Desceu da nau
abrasado,
Soltando fogo das
ventas.
Só não gostou,
por seu lado,
De coisas que
achou nojentas:
Os índios também pelados,
Com os troços
dependurados,
Como a coisa mais
normal.
Ta bom, já que é carnaval,
Melhor aceitar contente
O costume dessa gente,
Pensou o astuto
Cabral.
E Cabral,
contente, aceita
Pois o que
espera, confiante,
É a primeira
índia que deita,
No mato com o
Comandante.
Fartaram-se os
marinheiros,
Foram pros matos,
faceiros,
Com as índias a
rebolar.
Mas para os
índios, coitados,
Nenhuma mulher à
vista
Da parte dos
lusitanos.
Ah, comédia dos
enganos!
Ainda que o índio
insista,
E espere a
retribuição,
Ficaram todos na
mão:
Mulher branca não
havia,
Pra retribuir na
Bahia
Aquilo que as índias
davam.
Por isso, desde o
começo,
Desde o primeiro
tropeço,
Da nossa
diplomacia
(Só o nosso lado
cedia!),
Faz-se injustiça
profunda,
Pois nada é mais
verdadeiro:
Entra com o cravo
o estrangeiro
E o Brasil entra
com a bunda.
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