MILTON MACIEL
Está sendo postada e retransmitida no
Facebook uma tabela de proteínas em vegetais COMPLETAMENTE ERRADA. Como essa é
minha área de atuação profissional e como
detesto ver minha amigas e meus amigos do Face sendo induzidos a erro, resolvi
interferir, publicando uma tabela CORRIGIDA. Sugiro a quem já tenha entrado
nessa “onda” e repostado a tabela errada, que tenha a humildade e a ética de
repostar a tabela correta. Pois a tabela errada pode PREJUDICAR muitas pessoas,
que, acreditando que esses vegetais têm esses teores absurdamente altos de
proteínas (todos eles têm mais de 90% só de ÁGUA!), podem descuidar de sua
alimentação correta. Isto pode ser ainda MAIS GRAVE para os vegetarianos
neófitos e para os que estão em fase de transição para o vegetarianismo, pois
podem ser induzidos a um gravíssimo erro em suas dietas.
USO ERRADO DAS TABELAS
A maioria das pessoas costuma usar de forma
ERRADA as tabelas de nutrientes nos alimentos, quando as consulta. Isso porque
poucos são os crudivoristas, aqueles que só comem alimentos CRUS. Para estes,
unicamente, os teores de nutrientes nos alimentos serão sempre os mesmos.
Evidentemente, os crudivoristas devem ser todos vegetarianos, eu nunca tive a
oportunidade de conhecer um crudivorista carnívoro, embora alguns amigos meus
sejam eméritos devoradores de peixe cru em restaurantes japoneses. Mas são
crudivoristas part-time, tão somente.
Para todas as outras pessoas, porém, as
tabelas podem induzi-las a erros. E erros sérios. A grande maioria das tabelas
publica o teor de nutrientes nos alimentos CRUS. Só que esses alimentos vão ser
cozidos, assados ou fritos. E a forma de preparação pode alterar totalmente os
teores originais.
Por que isso acontece? Consideremos o
exemplo dos feijões, que são os campeões protéicos do reino vegetal. Há dezenas
de variedades de feijões que chegam ao mercado, o que faz com que tenhamos
buscado um teor MÉDIO de conteúdo protéico no grão cru. Esse valor é de 20,4%.
Mas veja bem, isso no grão CRU. Você nem deve comer os grãos de feijão nesse
estado, pois isso vai lhe ocasionar pesados problemas digestivos. Os feijões
estão entre os vegetais que só devem ser consumidos COZIDOS.
Vai daí que você prepara o seu feijãozinho
cozido do dia-a-dia e pensa que está ingerindo 20,4 gramas de proteína em cada
100 gramas do preparo. LEDO ENGANO! Você começa deixando o feijão DE MOLHO de
uma dia para o outro? Pois bem, você está fazendo o grão AMOLECER, ou seja, se
HIDRATAR (= absorver água). Depois quando você o cozinha a alta temperatura
(geralmente usando pressão), vai continuar a hidratação, vai acontecer uma DESNATURAÇÃO
de certas proteínas, e vai haver uma permeabilização e um rompimento parcial do
grão que resulta na crème de la crème
do feijão, ou seja o CALDO! Que é, basicamente ÁGUA.
Então você tem agora muita
água DENTRO do grão cozido e tem muita água FORA do grão cozido (o caldo). Aí,
quando a gente faz a análise bromatológica do seu feijão cozido, em cada 100
gramas dele só vão restar 8,1 gramas de proteínas. Ou seja, cozinhar feijão é
simplesmente baixar seu teor de proteínas de 20% para 8% ! MAS ATENÇÃO: Isso se dá numa escala RELATIVA, você não perdeu proteínas significativamente, só as fez o teor delas diminuir proporcionalmente à água assimilada pelo sistema.
E isso vai acontecer com a maior parte dos
alimentos cozidos. Já os assados e os fritos podem resultar numa CONCENTRAÇÃO de
ALGUNS nutrientes. Porque nos alimentos que você cozinha, a água de hidratação
permanece nos grãos cozidos e nos caldos (exceto naquele arroz “sequinho e
soltinho”, que quase não terá caldo. Por outro lado, muitos nutrientes serão
levados embora na água de cocção, por processos normais de dissolução e de osmose.
Já no alimento assado/grelhado, há uma acentuada PERDA DE ÁGUA. (e geralmente
de gorduras também), o que costuma resultar numa CONCENTRAÇÃO relativa dos
nutrientes deixados.
Assim, uma carne cozida tem seu teor de
proteínas um POUCO diminuído e uma carne assada tem o mesmo AUMENTADO
consideravelmente, porque a porção perdeu muita água e muita gordura. Assim uma
carne de frango com 28% de proteína quando crua, pode passar a ter até 37%
quando frita. Mas isso não quer dizer que o fritura fez aparecer um monte de
novas proteínas vindas do nada, mas, sim, que água e gordura deixaram o
sistema, de tal forma que o que era 28% antes, virou agora 37% numa nova escala
relativa.
Fica aqui então a tabela do Dr. Guilherme
Franco para sua apreciação. Verduras, legumes e frutas têm normalmente baixo
teor de proteínas, mas são essenciais em nossa alimentação por causa dos
micronutrientes, fibras, enzimas e fitoquímicos, No reino vegetal, só os grãos
das leguminosas podem encarar a competição com as proteínas de origem animal,
um complexíssimo assunto que não quero desenvolver aqui. Mas cuidado: Uma coisa
é teor em grão CRU, a outra, completamente diferente, é a realidade que vai
estar no seu prato.
TEOR DE PROTEÍNAS EM 100 GRAMAS de:
ESPINAFRE 2,3
COUVE 1,4
BRÓCOLIS 3,3
(FLORES)
BRÓCOLIS 1,3
(FOLHAS)
COUVE-FLOR 2,5
CHAMPIGNON 1,7
SALSINHA 3,2
PEPINO C/CASCA 0,7
PEPINO S/CASCA 0,07
PIMENTÃO 1,3
REPOLHO 2,2
TOMATE 1,1
CARNE BOVINA (média) 24,5
CARNE BOVINA charque 48,0
CARNE DE AVES (média) 28,0
CARNE DE AVES (defum.) 42,7
OVOS 12,8
Feijão grão cru 20,4
Feijão cozido (média)
8,1
Soja grão cru 40,0
Soja cozida 14,0
Arroz integral grão cru 8,1
Arroz polido cru 7,6
Arroz cozido
2,8
Trigo grão cru 12,7
Trigo cozido
5,0
Milho seco grão cru 9,8
Milho verde cru 6,2
Amendoim cru 28,1
Amendoim torrado 23,2
[Desculpem, o software do Blogspot não permite manter a formatação alinhada original da coluna de números e eu, francamente, não vou voltar e colocar tudo em tabela]
É isso aí, agora temos uma tabela mais eficiente.
ResponderExcluirPirei na observação sobre o alinhamento dos números da tabela! Parabéns! Sério! Parabéns! =D
ResponderExcluirTabela incrível mas, 100g de espinafre tem 2.6 g de proteína contra 100g de carne que levam 26 g de proteína... como equiparar essa quantidade?
ResponderExcluirEssas tabelas realmente são ilusórias, PARABÉNS Milton por desmascarar elas.
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