CONFISSÕES DO FIM DO MUNDO
MILTON MACIEL

Para minha sogra
confesso: fui eu quem esvaziou os quatro pneus do seu carro naquela noite em
1999, na entrada do túnel Rebouças. E botei a culpa naqueles moleques, lembra?
Que moleques? Ora, os que te assaltaram, não é?
Para minha
primeira esposa confesso: Sim, eu traía você com aquela seria a minha segunda
esposa. Você estava certa, mas eu sempre neguei.
Para minha
segunda esposa confesso: Sim, eu traía você com aquela que seria a minha
terceira esposa. Idem, idem.
Para minha
terceira esposa, confesso: Sim, eu traía você com a minha primeira esposa, então
já minha primeira ex. Idem, idem.
Para minha
terceira esposa, confesso: Sim, eu acho você gorda! Gordaaaa! Gordíssima. Uma
baleia. Mas eu minto, dizendo que não me importo. Bem, confesso que agora eu
não me importo muito porque... Bom, sabe a sua priminha de Fortaleza, a
Marilda, que está passando uma temporada conosco... Sim, sim: esta é mesmo mais
uma confissão!...
Para o meu chefe confesso:
Sim, eu tentei conquistar sua filha. Mas seu irmão mais novo já estava na
parada faz tempo, não deu jeito. Dê um aperto nele: se o seu irmão também achar
que o mundo acaba amanhã, ele confessa.
Para meu
confessor, Padre Onésio, confesso: Perdão, Padre, porque pequei: sua
“protegida” Maricotinha também me recebia nas noites de 4ª. feira, antes que o
senhor chegasse.
Para minha
ex-colega Altamira e para meu chefe confesso: Não, não foi Altamira quem soltou
aquele terrível pum no elevador naquela noite fatídica, o que resultou em sua
sumária demissão. Eu a acusei e todos acreditaram. Na verdade, o culpado fui
eu.
Para a minha
seguradora confesso: Sabem o carro que deu perda total em Março passado e você
me pagaram o valor de um novo? Pois bem, eu armei tudo e joguei o bicho contra
o poste. Pulei antes, é claro. Não, não me machuquei, não se preocupem, treinei
bastante antes, sabe como é.
Bom isso é que
existe de mais leve. O resto é muito feio, muito mais feio mesmo, algo que até
um cara de pau como eu tem vergonha de confessar de público. Mas isso tudo eu
já confessei para o Padre Onésio ontem, na tarde de quarta-feira, antes de
precedê-lo nos doces mistérios de Maricotinha. Coitado, acho que ele deve estar
em choque até agora! Só não confessei nossa sociedade de responsabilidade
limitada (a ele, que entra com a grana e o apartamento), o que tenho a
hombridade de fazer aqui e de público hoje.
Agora vou para
casa, vou começar a rezar. Pela minha alma? Não, vou rezar para que de fato
aconteça o fim do mundo amanhã.
Porque, se não
acontecer a hecatombe universal, depois de todas as confissões que eu fiz aqui
e ao Padre, eu estou é LASCADO!
Assinado: Ricardo Guarani-Kaiowá Lewandowski Barbosa
Cachoeira
(Sim, Ricardão
para as íntimas, isso mesmo!)
Nenhum comentário:
Postar um comentário