CONFISSÕES DO FIM DO MUNDO
MILTON MACIEL
O mundo vai
acabar amanhã, 21 de dezembro, não sei a hora local. Contudo, para não passar
para o outro lado (pois eu acredito que exista um outro lado!) cheio de
pecados, resolvi fazer aqui as minhas confissões, para poder transitar para lá
de alma pura.
Para minha sogra
confesso: fui eu quem esvaziou os quatro pneus do seu carro naquela noite em
1999, na entrada do túnel Rebouças. E botei a culpa naqueles moleques, lembra?
Que moleques? Ora, os que te assaltaram, não é?
Para minha
primeira esposa confesso: Sim, eu traía você com aquela seria a minha segunda
esposa. Você estava certa, mas eu sempre neguei.
Para minha
segunda esposa confesso: Sim, eu traía você com aquela que seria a minha
terceira esposa. Idem, idem.
Para minha
terceira esposa, confesso: Sim, eu traía você com a minha primeira esposa, então
já minha primeira ex. Idem, idem.
Para minha
terceira esposa, confesso: Sim, eu acho você gorda! Gordaaaa! Gordíssima. Uma
baleia. Mas eu minto, dizendo que não me importo. Bem, confesso que agora eu
não me importo muito porque... Bom, sabe a sua priminha de Fortaleza, a
Marilda, que está passando uma temporada conosco... Sim, sim: esta é mesmo mais
uma confissão!...
Para o meu chefe confesso:
Sim, eu tentei conquistar sua filha. Mas seu irmão mais novo já estava na
parada faz tempo, não deu jeito. Dê um aperto nele: se o seu irmão também achar
que o mundo acaba amanhã, ele confessa.
Para meu
confessor, Padre Onésio, confesso: Perdão, Padre, porque pequei: sua
“protegida” Maricotinha também me recebia nas noites de 4ª. feira, antes que o
senhor chegasse.
Para minha
ex-colega Altamira e para meu chefe confesso: Não, não foi Altamira quem soltou
aquele terrível pum no elevador naquela noite fatídica, o que resultou em sua
sumária demissão. Eu a acusei e todos acreditaram. Na verdade, o culpado fui
eu.
Para a minha
seguradora confesso: Sabem o carro que deu perda total em Março passado e você
me pagaram o valor de um novo? Pois bem, eu armei tudo e joguei o bicho contra
o poste. Pulei antes, é claro. Não, não me machuquei, não se preocupem, treinei
bastante antes, sabe como é.
Bom isso é que
existe de mais leve. O resto é muito feio, muito mais feio mesmo, algo que até
um cara de pau como eu tem vergonha de confessar de público. Mas isso tudo eu
já confessei para o Padre Onésio ontem, na tarde de quarta-feira, antes de
precedê-lo nos doces mistérios de Maricotinha. Coitado, acho que ele deve estar
em choque até agora! Só não confessei nossa sociedade de responsabilidade
limitada (a ele, que entra com a grana e o apartamento), o que tenho a
hombridade de fazer aqui e de público hoje.
Agora vou para
casa, vou começar a rezar. Pela minha alma? Não, vou rezar para que de fato
aconteça o fim do mundo amanhã.
Porque, se não
acontecer a hecatombe universal, depois de todas as confissões que eu fiz aqui
e ao Padre, eu estou é LASCADO!
Assinado: Ricardo Guarani-Kaiowá Lewandowski Barbosa
Cachoeira
(Sim, Ricardão
para as íntimas, isso mesmo!)
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