sábado, 8 de dezembro de 2012


MAIS UM DIA QUE TERMINA  
MILTON MACIEL  
  
I - A PAZ

Mais um dia que termina
Na mais pura e santa paz.

No mato de sina-sina,
Com alarido se agita,
Um bando de caturrita
Que fez ali seu ninhal.

Festeja o reino animal:
No açude, defronte ao mato,
Espadana o ganso, grato,
Seus pios levantando ecos.
Dúzia e meia de marrecos,
Retoçando mansamente,
Deslizam, nadando em frente,
Das garças de bico chato.

Quando sobre o açude raso,
O sol mergulha no acaso,
Tingindo o céu de laranja,
A bicharada se arranja,
Pr'uma noite de descanso.
 Assim que se cala o ganso,
Chega a vez da saparada,
Que entoa sua coaxada,
Saudando a primeira estrela.
Erguem os olhos para vê-la,
De dentro d’água, os peixinhos.

E então, da noite, os caminhos
Subitamente rebrilham:
No céu, mil pontos fervilham
E a noite então se incendeia
Pois que surge a Lua Cheia.

Mais uma noite que começa,
Na mais pura e santa paz...


II - PORÉM...

O dia termina em paz,
A noite começa em paz...

Mas há um bicho capaz
De acabar com tudo isso:
Basta surgir do moquiço,
A espingarda sobre o ombro,
O bicho-homem, o assombro
Que horroriza a Natureza.
Bicho da maior fereza,
Que espalha a morte e a dor,
Que vai matar por prazer,
Só para poder dizer
Que ele é um grande Caçador!


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