“O PREÇO DA LIBERDADE É A ETERNA VIGILÂNCIA”
MILTON
MACIEL
A frase-título é conhecidíssima. Mas,
paradoxalmente, é bem pouco compreendida e, consequentemente, é muito pouco
levada a sério. Tive a curiosidade de testar a compreensão do seu significado
com meus alunos, quer de curso superior, quer de seminários e palestras.
Como
eu esperava, a maioria deles disse entender a frase como algo que se aplica aos
regimes ditatoriais e totalitários, que essa vigilância aplicar-se-ia aos
riscos que a democracia corre ante as tentativas de golpe de estado, ante o
estabelecimento de regimes militares. Nessa ocasião, eu os fiz ver que essa
compreensão, embora válida, era extremamente limitada. Por que?
Porque não se pode pensar em vigilância
somente perante aqueles que nos querem impor, pela força, os regimes de exceção.
É de vital, de transcendental importância, que nós mantenhamos uma eterna vigilância
DENTRO DO REGIME DEMOCRÁTICO enquanto ele funciona normalmente, sem ameaças.
Como assim? Ora, nós temos que nos manter
ativos e vigilantes, para conservar nossa liberdade democrática de cidadãos e
de eleitores. As pessoas votam no Brasil porque, número um, o voto é OBRIGATÓRIO.
Número dois, porque uma parte da população QUER votar, quer exerceu o sufrágio
como um DIREITO de cidadania, quer
participar ativamente do processo político.
Pois bem, uma vez que nós votamos agora na última
eleição, que porque quisemos, quer porque fomos obrigados, precisamos APRENDER que nossa participação não acaba
aí:
Não basta votar, tem que fiscalizar! E ESSA
É A ETERNA VIGILÂNCIA !
Ou seja, se você, com seu voto, ajudou a
eleger um candidato, então você acaba de se tornar RESPONSÁVEL pelo desempenho
dessa pessoa no seu cargo. Por sua responsabilidade, essa pessoa está agora
sendo empossada no cargo. Logo, você faz parte da egrégora formada ao redor
dela. Se ela fizer mau uso do seu mandato, você precisa estar atento e
vigilante, pronto a forçá-la a cumprir sua promessas e agir com observância da
lei e da ética. Se você não o fizer, omitir-se, lavar as mãos, então sua
responsabilidade vai se transformar em CULPA. VOCÊ colocou aquela criatura ali!
E se você saiu da eleição como perdedor? Seu
voto foi em vão, seu candidato não foi eleito. Ora, mesmo nesse caso você tem
que se manter vigilante e atento, procurando seguir o desempenho de quem foi
para o lugar que você queria ocupado por seu candidato ou candidata. Por sua
vontade, essa pessoa não estaria nesse cargo. Então trate de manter uma estrita
vigilância sobre ela. É assim que você pode fazer sua parte, ocupar seu lugar
ATIVAMENTE no processo democrático.
Omitir-se, lavaras mãos, dizendo frases
como “Eu não votei nele”; ou “Votei nele, ele foi eleito, agora é com ele, eu não
sou político.
Isso é errado! É abrir mão do papel de
vigilantes que devemos desempenhar para conservarmos o direito à liberdade
dentro do processo democrático. Trata-se agora da liberdade de termos as instituições
funcionando, os mandatos sendo exercidos com competência e honestidade, da
liberdade, em suma, de conservarmos a democracia funcionando adequadamente, de
modo que, com bons gestores, não venhamos amanhã a ter que lutar contra os golpistas
de plantão, que sempre se aproveitam das grandes crises administrativas, econômicas
e institucionais para tentarem tomar o poder em suas peludas mãos discricionárias.
Muito bem, então vejamos: Foram eleitos o
prefeito e os vereadores para a sua cidade. Como é que você pode fiscalizá-los
daqui para a frente? Sim, você, cidadã ou cidadão comum, que não é um político,
mas também não uma pessoa omissa? Pense um pouquinho, enquanto nós postamos
isto aqui. Na postagem seguinte, nós vamos discutir o que você pode fazer, quais
os meios que você tem para ficar informado a respeito das atitudes do seu candidato
eleito ou daquele que está agora no posto porque derrotou o seu candidato preferido.
E como você pode manter essa pessoa, ou essas pessoas, de rédea curta,
fiscalizar o que eles vierem a fazer.
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