quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O PÊNIS DO PTERODÁTILO – 2a. parte
MILTON  MACIEL


Prezada leitora, prezado leitor: conforme prometi ontem, aqui está a postagem da crônica original de Murillo Nóbrega, o solerte articulista, publicada esta manhã no jornal a que serve com sua inteligência.  No final, tecerei um rápido comentário.
O Pênis do Pterodátilo  (É pterodáctilo, Murillo!)

Padre Anastácio foi o que mais ficou mais consternado com a notícia. Tanto que, face ao evidente embaraço ante uma iminente revoada de repórteres à sua porta, preferiu refugiar-se no sítio de um parente, a uns seguros 50 quilômetros de sua paróquia. Para os auxiliares diretos, uma determinação: “Ninguém sabe, ninguém viu.”

Pudera! Não se passavam ainda vinte e quatro horas desde que aquele jornal publicara a bombástica entrevista com o Professor Antonioni, o celebrado arqueólogo e paleontologista. Católico praticante e recém-mudado para o bairro, o professor começou a assistir missas na igreja de padre Anastácio. E, de imediato, tivera sua atenção chamada para a pequena coluna que ornava o altar-mor.

Muito mais cientista do que carola, o professor não teve dúvida ou recato algum. Esperou um horário em que a igreja estava às moscas e, com a ferramenta adequada, raspou a base da coluna e removeu uma quantidade considerável de material. No laboratório da Faculdade empreendeu um minucioso exame. Depois remeteu amostras para o serviço especializado da USP, onde obteria uma datação rigorosa referente ao material. Os especialistas de lá confirmaram, dentro do mesmo mês, sua suspeita do primeiro momento. Então tratou de saber como aquilo fora parar em uma igreja católica.

Padre Anastácio contou-lhe, com evidente orgulho, como cometera ele o pecadilho do contrabando, ao trazer e não declarar aquela relíquia, comprada por ele mesmo em uma loja de antiguidades em Istambul, na Turquia, durante uma viagem muitos anos atrás. O vendedor lhe garantira que aquela peça cilíndrica viera do Parthenon, em Atenas, de onde fora pilhada ainda no século XIX. Agora ele concordava em vender a peça raríssima a Anastácio porque tinha uma imensa simpatia pela Igreja Católica Romana, tão grande quanto a antipatia que nutria pela Igreja Ortodoxa, ele um bom a compreensivo muçulmano.

Chegado ao Brasil, Padre Anastácio conseguiu que fosse aprovada e executada uma pequena reforma no altar-mor, colocando em destaque aquela pequena coluna. Sobre ela, a pequena plataforma onde eram deixados os materiais da santa comunhão, de onde o padre os retirava na hora de ministrar o sacramento, várias vezes por semana. No seu íntimo, o segredo que o padre guardava a sete chaves no coração: Ali, no seu altar, uma peça de um dos templos pagãos mais famosos, curvava-se ante a glória maior do Deus e dos santos dos católicos.

Todo dia Padre Anastácio vivia essa enorme satisfação. Contemplava seu pilar, afagava-o com carinho e devoção, os paroquianos viam aquilo como uma saudável esquisitice de seu pároco, acostumaram-se com isso. Depois, com o tempo, também as beatas deram para fazer a mesma coisa. Ao chegarem, persignavam-se ante o altar, e antes de dobrar um dos joelhos rapidamente, seguiam o mesmo ritual do padre, de deslizar as mãos ao longo do pilar, com muito respeito e contrição.

Vai daí que foi uma bomba quando o professor Antonioni, ao invés de vir conversar com padre antes, simplesmente seguiu a norma acadêmica e publicou seu trabalho científico em português, inglês e italiano. Nesse trabalho ele mostrava cabalmente que, numa igreja no Brasil, existia, há muitos anos, uma peça de devoção, no altar-mor, que não era nada senão O PÊNIS ERETO DE UM PTERODONTE fossilizado. A ilustrar o trabalho, diversas fotografias que o professor colhera na igreja, numa das quais se via o pároco a alisar a pequena coluna com evidente satisfação, de olhos fechados.

Quando o assunto chegou ao conhecimento do editor-chefe do jornal, por ínvios e tortuosos caminhos, ele vislumbrou de imediato a repercussão bombástica que aquilo teria. Despachou repórteres e fotógrafos para a Igreja e a Faculdade. No dia seguinte, matéria de capa, uma manchete calhorda, de evidente duplo sentido, letras garrafais, berrava:

PADRE REZA MISSA COM A MÃO NO PÊNIS!

Foi um escândalo total. As beatas, ciosas de sua reputação, ficaram possessas. Também elas e até algumas outras pessoas gradas da comunidade tinham o hábito de “pegar no pau em plena igreja" (os redatores, maldosos, não pouparam veneno, queriam mais era que o circo pegasse fogo).

No fundo era tudo uma grande bobagem, o padre não tinha culpa de nada e o fato de aquele pilar ser um objeto fálico de verdade, “no duro”, como os caçoístas viviam a dizer, não tinha a menor importância. O erro estava na cabeça das pessoas, na malícia de umas e na maldade de outras. O pobre padre passou uns tempos no ostracismo, o pilar fálico foi evidentemente removido do altar por ordem do bispo e não se falou mais no assunto depois de uns meses.

A discussão permaneceu – e áspera – muito mais tempo no circuito acadêmico, onde colegas despeitados do professor contestaram a autenticidade da peça e sua datação. Foi uma batalha homérica, mas o tempo acabou dando razão aos pesquisadores brasileiros. A única coisa que não pôde passar do campo das conjecturas foi como o membro ereto do animal foi extirpado instantaneamente e se manteve naquele estado até ser fossilizado. A teoria do prof. Antonioni referia-se ao efeito fulminante do impacto do asteroide, há 65 milhões de anos, exatamente quando o amoroso pterodonte preparava-se para consumar seu libidinoso ato. Conjecturas, apenas, nada pode ser provado, não há meios.

(Bem isso encerra a matéria de Murillo Nóbrega. Francamente, eu não lhe vejo mérito algum. Pelo contrário, está viciada na base, posto que o animal a que ele quis se referir não poderia nunca ser um pterodáctilo. Pterodáctilos eram pequenos, tinham menos de um metro, jamais poderiam pegar um homem no bico e alçar voo com ele, como mostram nos filmes. Grandes assim, só os pterossauros maiores, como o pterodonte. Este, sim, poderia ser o artista da história dele. Mas, como o próprio Murillo reconhece, ele não sabia – e continua não sabendo – nada sobre esses répteis voadores. Mas há uma outra incorreção, essa muito mais grave: a grafia correta, em idioma português, é pterodáctilo, com um C no meio. Eta, Murillo trapalhão! E tem mais: que história é essa de dizer que o pênis do elefante pesa só 10 quilos? Ô, Murillo  ignorante, o pênis do elefante mede de 1,5 a 2 metros de comprimento e pesa de 35 a 45 quilos! E cada testículo pesa 2 quilos. Aprendeu, papudo?! MM)

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