sexta-feira, 23 de novembro de 2012


CORREU TANTO, TANTO  
MILTON MACIEL  

Correu tanto, tanto, que passou sem sentir pela primavera.
Tinha pressa: produzir, faturar, comandar, comprar, comprar.
Flores abriram e fecharam, mas ele não viu. Ora, flores!...

Pássaros cantaram esfuziantes, mas ele não ouviu. Ora, pássaros!...
Tinha pressa: dar propinas, concorrer, ganhar, comprar, comprar.
Crianças brincaram alegres, mas ele não notou. Ora, crianças!...

Então correu tanto, tanto, que passou sem sentir pelo verão.
Tinha pressa: refinanciar, hipotecar, sonegar, comprar, comprar.
A esposa de olhar sempre mais triste, mas ele ignorou. Ora, mulheres!...

E então correu tanto, tanto, que passou sem sentir pelo outono.
Tinha pressa. E pressão alta, ansiedade, gastrite. Ora, médicos!...
Não chegou ao inverno: O enfarto correu mais que ele. Ora... Ora...

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