terça-feira, 6 de maio de 2014

O  POETA E O GUASCA – 6 
MILTON MACIEL 

Se foi pro Rio de Janeiro
Cuidá da sua carreira.
Meu sonho ruiu por inteiro,
Minha vida se fez poeira.
Nunca disse que me amava,
Só que nós... não combinava.

Nós fomo piazito junto
Nós tava sempre colado.
Sempre a gente tinha assunto
Nós crescemo lado a lado.
E na escola da fazenda
Estudei com minha prenda.

Depois ela foi pra cidade
Pra continuá seus estudo
Eu sofri barbaridade,
Fiquei más quieto que um mudo.
Foi por causa dessa dona
Que aprendi a tocá cordeona.

Já que não sou de chorá,
É com a música que eu choro.
E aprendi, só, a versejá,
Que só por verso eu imploro.
Imploro na cantilena,
Que volte Maria Helena.

Maria Helena, você disse?!!
Esse é o nome de sua amada?

Sim meu patrão, esse mesmo,
Minha eterna namorada.

Pois também Maria Helena
É o nome da minha amada!
Só que a minha, como eu,
No Rio se estabeleceu.

Que cosa más engraçada,
Veja bem isso o senhor:
Do mesmo nome é chamada
Quem manda no nosso amor.

A minha mora no Rio
Na faculdade é minha aluna.

Também no Rio vive a minha,
É de olho azul e loirinha.
E a sua, como é que é?

Deixe que eu lhe mostre, amigo,
Com esta poesia minha:

“Cerúleos reflexos, céus dolentes prometidos,
preenchem órbitas de onde sempre estou ausente.
Escravo eu de promessas não cumpridas,
distantes.
Esvoaçam fios de ouro, eu desespéro.
Enquanto
o Redentor olha pra mim, indiferente.
E é como se eu ouvisse:
Ela ama outro! Ela ama outro!”

Cue pucha, meu patrão,
Eu não entendi foi nada!

Não se importe, meu amigo,
Eu já esperava por isso.
Sempre acontece comigo,
O meu texto é denso e omisso.
E o que eu escrevo, é sabido,
Nem sempre será entendido.

Mas deixe que traduza eu,
Como se fosse francês,
O que minha mão escreveu
Nesse estranho português:
Cerúleo é azul:
os olhos dela,
órbitas, cor do céu,
reflexos.
Eu ausente deles,
dessa janela,
Onde reverbero
versos desconexos.
Onde desespero
e até o Cristo
me é indiferente.
Fios de ouro:
O esvoçante cabelo.
Loiro!

Bueno, entonces me parece
Que a sua, tal qual a minha,
Tem olho azul e é loirinha.

Isso mesmo, amigo gaúcho!

Só que ela, por quem padece,
Pela parte que le toca,
É uma loirinha carioca.

Mais coincidência, meu caro!
Veja, a coisa continua:
A minha Maria Helena
É gaúcha como a sua.
As duas vivem no Rio,
Não parece um desvario?

Ah, é gaúcha a sua também?
E de onde que ela vem?

Pois é aqui desta estância,
Da qual você é o capataz
Eu vim visitar o seu pai
Um gaúcho de importância
Que é o seu chefe... Rapaz!!!... 
Então você é o Juvêncio!!!

Deus do Céu, BARBARIDADE!!!...

Foi só então que aqueles dois
Perceberam, finalmente,
Que existia apenas UMA
Maria Helena. Somente!

No sofá os dois sentaram,
por longo tempo silentes.
Para dentro de si olharam,
Dos seus dramas mais conscientes.
Dramas terríveis aqueles,
Brincava o destino com eles!

Não era um destino qualquer:
Amavam a MESMA mulher!

CONTINUA...

Nenhum comentário:

Postar um comentário