O POETA E O GUASCA – 4
Quand on voit ce qu'on fut sur terre et ce
qu'on laisse,
Seul le silence est grand; tout le reste
est faiblesse.
(Alfred de Vigny)
Quando vemos o que fomos na terra e o que se deixa,
Só o silêncio é grande; todo o resto é fraqueza.”
Cuepucha, patrão, que lindo!
Bonito barbaridade...
E o que ele diz é verdade.
Pelos cantos, como um fraco,
Que é
mais embaixo o buraco.
Pois é: ‘o silêncio é grande
E todo o resto é fraqueza!’
Pra mim isso é fortaleza
De um macho que se garante.
Esse tal francês De Vigny
Seria mui bem-vindo aqui.”
“Pena que o homem nasceu
Há mais de duzentos anos.
Viveu sérios desenganos,
De um brabo câncer morreu.
Porém nunca se queixou,
Tudo firme ele aguentou."
Hoje, ouvindo o seu cantar
Foi dele que me lembrei.
E foi também o que achei
Por seu modo de falar:
Nós temos no pampa, aqui,
Outro Alfred de Vigny.”
“Quem me dera, meu bom patrão
Ser poeta como esse aí!
Desse Alfred de Vigny,
Só tenho a disposição.
E o senhor, na sua poesia
Tem a mesma valentia?”
“Que nada, meu companheiro,
Eu sou é um grande chorão!
E a dor no meu coração
Eu berro pro mundo inteiro.
Eu confesso pra você:
Sou um Alfred de Musset!”
“Outro Alfredo,
meu patrão?
Também é poeta
francês?
Ou quem sabe ele
é talvez,
Poeta de outra
nação?
Esse Alfredo
Demissê
É bueno também
por quê?”
“Sim, ele é
francês também,
Poeta famoso e
muito bom,
Mas verseja em
outro tom,
Que, acho eu, não
lhe convém.
Esse é um chorão
como eu,
Mas nada ruim lhe
aconteceu.”
A vide lhe foi
mais mansa
Que a do outro
Alfred poeta
Quase uma festa
completa
Dessas que você
não cansa.
Até a morte lhe
sorrindo,
Pois ele morreu
dormindo.
Mesmo assim foi
um chorão,
Como se muito
sofresse,
Sobre ele se
abatesse
A desgraça, a
solidão.
A causa do seu
final?
Foi a bebida o
seu mal.”
“Bueno, patrão,
eu entendo
O que hay com
certas pessoas:
Elas no fundo são
boas,
Mas na vida vão
sofrendo.
Sofrem mais com a
realidade.
Têm mais
sensibilidade.”
A mesma dor que
pra uns
É como um talho
de facão,
Prá outros é só
um beliscão,
Como as coisas
mais comuns.
Estes soltam
menos ais.
E aqueles...
gemem demais.”
“Essa é a grande
diferença
Entre Vigny e
Musset.
Ora, certo está
você,
Pra Musset a dor
é imensa.
Musset sempre se
atormenta,
E o estóico Vigny
aguenta.
Deixe então eu
lhe mostrar
A poesia de
Musset,
Depois me diga
você
O que ela lhe faz
pensar.
Veja só este
poema,
Gritar a dor é
seu tema:
“Quel que soit
le souci que ta jeunesse endure,
Laisse-la s'élargir, cette sainte blessure
Que les noirs séraphins t'ont faite au fond du cœur:
Laisse-la s'élargir, cette sainte blessure
Que les noirs séraphins t'ont faite au fond du cœur:
Rien ne nous
rend si grands qu'une grande douleur.
Mais, pour en
être atteint, ne crois pas, ô poète,
Que ta voix ici-bas doive rester muette.
Les plus désespérés sont les chants les plus beaux,
Et j'en sais d'immortels qui sont de purs sanglots. »
Que ta voix ici-bas doive rester muette.
Les plus désespérés sont les chants les plus beaux,
Et j'en sais d'immortels qui sont de purs sanglots. »
continua... Figura: Alfred de Musset
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