MILTON MACIEL
– Você é louco Marcel! Parece que você
nunca sente frio.
– Ora, 8 graus num 5 de Fevereiro não é
nada mau, aqui em Joinville.
–Mas isso não é razão para ficar com os pés
dentro da água do rio. Deve estar um gelo!
– Que nada! Exagero seu. Ah, eu adoro este
rio de águas límpidas que corta Joinville! Sou capaz até de dar um mergulho
agora mesmo, quer ver?
– Não, seu louco. Você está de roupa! Pare
de se exibir. Isso não me impressiona mais, sabia? Já me convenci: você, só internando.
– No Hospital Local de Joinville?
– Não, num sanatório psiquiátrico no Pólo
Norte, seu maluco.
– Aline, Aline! Você fala isso da boca pra
fora. Aliás, por falar em boca...
E Marcel, inclinando-se, beijou Aline
demoradamente na boca. Ela ficou imóvel por um instante; depois, correspondeu
ao beijo timidamente. Mas falou:
– Está vendo como você é louco mesmo! De
onde saiu isso? Esse beijo... por quê?
– Ora, você já disse: porque eu sou louco.
Louco por você, sua tonta!
– Marcel... Não brinque com isso. No fim,
você acaba com a nossa amizade que vem desde a infância e pra quê?
– Mas eu quero acabar com a nossa amizade,
Aline. É o que eu mais quero, na minha loucura.
– Marcel, por favor, pare com isso, está me
assustando! Por que terminar a nossa amizade? Eu não quero!...
– Mas, Aline, me entenda: eu quero que a
nossa amizade acabe aqui e agora, para deixar nascer o nosso AMOR!
– Amor, Marcel? Você disse amor? Tem
certeza?
– Toda a certeza do mundo, Aline. Cansei de
enganar a mim mesmo. O que eu sinto por você é amor, amor de verdade. E desde
menino já era assim.
Aline tomou as duas mãos do rapaz entre as
suas, levou-as a seu rosto e, de repente, desatou a chorar. Chorava e ria ao
mesmo tempo, os belos olhos azuis derramando lágrimas abundantes, os dentes perfeitos
brilhando num sorriso de pura felicidade.
– Você me ama, Marcel? Me ama?
– Sim, eu sempre amei a menininha e amo agora
a mulher maravilhosa em que você se transformou.
Aline apertou-se contra ele e o beijou – apaixonadamente,
desta vez. Depois sussurrou:
– Eu sempre amei você, Marcel. Sempre!
Então saíram de mãos dadas, montaram na
motoneta e subiram até o espaço do antigo castelo demolido pela Revolução. Lá de cima, era possível ver toda Joinville,
seus belos canais do rio Marne brilhando ao sol, o Bief resplandecente, o
Poncelot, o cais de Peceaux, o Château du Jardin mais distante... E Marcel,
enlaçando Aline, lhe propôs:
– Aline, seja minha princesa. Um dia saiu
aqui de França um príncipe de Joinville e ele foi casar com uma princesa lá no
distante Brasil. E dizem que, por causa deles, outras pessoas fundaram uma
cidade com o mesmo nome da nossa. E que esta cidade existe até hoje e que é
enorme, não é como esta nossa cidadezinha de 4000 habitantes. Eu serei o seu
príncipe de Joinville e você será minha princesa do Brasil. E será minha esposa
querida. Você aceita?
– Oui, monsieur
le Prince de Joinville!
– Mais oui,
mademoiselle la Princesse du Brésil!
(Este miniconto, publicado na Miniantologia
No. 5 da Associação Confraria das Letras, de Joinville, SC, Brasil, foi uma
pegadinha para meus amigos da Joinville brasileira, que, em Fevereiro, vinham
de amargar um calor absurdo de 52 graus no fim de Janeiro. Eles devem ter
estranhado muito a temperatura de 8 graus e o rio de águas LÍMPIDAS que corta o
centro da cidade. É, eles sabem que o Rio Cachoeira deles.... arre! Só no fim
eles vão entender de que Joinville eu estou falando).
Canalisée ou en
liberté, l’eau de la Marne se coupe en quatre pour magnifier Joinville et, par
des chemins de rivages d’une douceur empreinte de distinction, conduire le
promeneur jusqu’au château du Grand Jardin.
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