MILTON MACIEL
No Dia das Mães eu escrevi que esta imagem
era, na minha opinião “a mais linda foto de Dia das Mães”. Foi Maria Regina Alves
que a encontrou e compartilhou conosco. Mas eu estava errado. Retrato-me. Esta não é uma
fotografia. É um ÓLEO SOBRE TELA, pintado pela artista norteamericana Nancy
Howe. O nome é “Tender refrain/First-born”.
Então retifico: na minha opinião, esta é a mais bela IMAGEM de Dia das Mães. Justifico:
A pintura em si é um portento. Nancy Howe é
autodidata e trabalha em seu ateliê em Vermont. Mas viaja pelo mundo e foi no
norte do Quênia, África, que ela encontrou a inspiração para criar esta tela.
Encontrou esta menina-moça, que já é mãe. E
encontrou a Beleza Absoluta, para mim. A moça é belíssima, mas mais bela é a
corrente de vida que dela flui ininterrupta para sua criança. É uma corrente de
vida, pois nasce dela e se transmuta em leite que dá e preserva a vida. E é também
uma corrente de energia pura, a energia com que as mães banham e protegem suas
crias. Uma energia invisível, a menos que você olhe com cuidado para os olhos também
não-visíveis dessa mãezinha. Então você os adivinha facilmente. E percebe como
eles estão fixos docemente no serzinho que suga seu peito, este peito também um
símbolo beirando o sacrossanto.
E, como se isso ainda fosse pouco, Nancy Howe
soube captar e transmitir com total perfeição a beleza dos adornos
multicoloridos com que a menina-mãe envolve seu pescoço, seu dorso, seu rosto,
sua cabeça, seus pulsos. Arte mais Arte!
E ainda tem mais. Através do amor de mãe da
menina queniana pode-se ver o Amor Materno maior que a Mãe África exportou,
através do cruel estatuto da escravidão, para quase todos os continentes. Dessa
mãe vieram os homens e mulheres que encheram o mundo inteiro de alimentos,
irrigando as terras de seus algozes com sangue, lágrimas e suor. A Mãe África mandou
seus filhos e filhas, arrancados com brutalidade do seu seio, para que
alimentassem o mundo. Deles o banzo, os gemidos, as saudades, as dores e os
cansaços fizeram brotar a doçura do açúcar, sob o amargo do látego.
E milhões de mães-pretas deram amorosamente
seu seio fecundo aos beiços brancos dos filhos de seus tiranos. Peitos negros
sacrossantos!...
E milhões de mocinhas como essa da pintura
foram forçadas ao sexo por seus senhores brancos. E pariram os primeiros
brasileiros autênticos, os mulatos.
Estranha coincidência que hoje seja 13 de
Maio. Estranha coincidência que hoje mais de 200 meninas nigerianas estejam
escravizadas por seus seqüestradores terroristas, tratadas como alimárias.
Mas não é estranha coincidência que em
todos os cantos do mundo milhões e milhões de jovens mulheres como esta estejam
sendo, AGORA, discriminadas, agredidas, estupradas, seviciadas, forçadas ao
casamento, repudiadas, abandonadas por conta própria para criarem sozinhas seus
filhos. Isso vale para a África, para nossas Américas, para a Europa, para a Ásia,
para a Oceania, para todas as mulheres de todas as raças.
Triste humanidade primitiva deste belo
planeta Terra, que ainda não é capaz de ver nessa menina-moça e menina-mãe apenas
o que ela tem de sublime e sagrado. Porque é um SER HUMANO somente! E, ainda
mais, porque é um ser humano especial: é mulher. E é MÃE!
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