MILTON MACIEL
Os assim chamados Três Porquinhos eram, na verdade, imensos porcos adultos de mais de cem quilos, obesos, prósperos e desonestos ao extremo. Começaram todos no ramo imobiliário, com capital fornecido pela mãe, uma porca Large White americana que enriquecera aplicando o golpe da barriga em porcos ricos e famosos na Europa. Os três eram meio-irmãos, filhos de pais diferentes, como se pode depreender pelos sobrenomes: Cícero Fífer, Heitor Fidler e Homero Edmund. Este último, o mais velho deles, foi primeiro prático de rebocadores de navios em um porto obscuro do Mar Báltico, atividade da qual lhe veio o apelido de Prático.
Cícero Fífer construía nas periferias cabanas muito humildes, com telhados de colmo, que alugava para porcos de baixa renda. Heitor Fidler optou pelo ramo de casas pré-fabricadas de madeira, alugadas a porcos de classe média. Já o Prático especializou-se em casas de alvenaria alugadas a porcos de classes sociais mais altas. Mas os negócios dos irmãos se viram fortemente prejudicados quando veio o grande furacão de 1982. As cabanas de Cícero Fífer e as casas de madeira de Heitor Fidler literalmente sumiram do mapa. O mesmo aconteceu com os telhados das casas de alvenaria de Homero Edmund.
Foi quando conheceram o Lobo Mau, que tinha, à época, uma firma de construção e recuperação de telhados. Seu sobrenome era Maals, de famosa família alemã de Nüremberg, mas os toscos habitantes locais não conseguiam pronunciar o nobre nome germânico de forma nenhuma, o que fez com que, com o passar do tempo, a pronúncia fosse corrompida para o nome Mau: Lobo Mau, ao invés de Lobo Maals.
Foi de tanto verem o Lobo encarapitado entre os telhados e chaminés das casas de Prático que esses ignorantes acabaram inventando a absurda história que o Lobo tentava invadir as casas de Prático pela chaminé. E mais absurda e ridícula foi a invenção de que o sopro do Lobo e não o furacão foi o responsável pela destruição das casas e telhados. Como se algo assim fosse possível! Santa ignorância!
De qualquer forma, data da época da reconstrução dos telhados a sólida amizade que se estabeleceu entre o Lobo Mau e os Três Porcões. Amizade que se manteve mesmo depois que os porcos abandonaram o ramo imobiliário pelo mais lucrativo negócio de contrabando de bebidas, armas e drogas, reforçado pela exploração de lenocínio, no próspero estabelecimento que construíram na saída da cidade, à beira da floresta. Ali, oculta sob a inocente aparência de uma casa de mulheres e de uma birosca de beira de estrada, correu solta, anos a fio, a venda de drogas, armas e bebidas falsificadas, razão da real prosperidade dos irmãos porcos.
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