MILTON MACIEL
(Baixo Nilo, 12 000 A.C.)
RESUMO:
Altzcotl e seu companheiro Lerbetz são os
últimos sobreviventes de um grupo de atlanteanos que, tendo acreditado na
informação do químico e astrólogo Zemphor, resolveram acompanhar a este em uma
fuga do oceano Atlântico, para além das colunas de Atlas, antes que o grande e
iminente desastre sobreviesse. Entrando com seu barco ligeiro no mar interno às
colunas, contornaram o território e começaram a subir para norte. Estavam nesse
ponto quando a série de explosões catastróficas efetivamente aconteceu. Em um
dia e uma noite a grande ilha de Possêidia partiu-se em inúmeros pedaços e
todos eles foram tragados pelo oceano de Atlas, indo parar a mais de 3000
metros de profundidade. Era o fim do que restara de Atlântida. Dos resíduos
orgânicos deixados numa área tão vasta surgiu um mar de sargaços
impressionantes ao longo dos anos seguintes e a súbita retirada da barreira
natural que a grande ilha-continente impunha no oceano Atlântico modificou
totalmente o regime de correntes, com o rápido surgimento de uma nova corrente
que passou a levar as águas quentes do meio Atlântico para as distantes terras
boreais.
Após uma rápida passagem por terras nos
contrafortes dos Pirineus, os atlanteanos foram repelidos por povos locais
paleolíticos e perderam a maior parte de seus homens; alguns possivelmente sobrevivendo para serem
feitos prisioneiros e escravos. O grupo restante, de apenas seis sobreviventes,
retomou a jornada por barco até chegarem à embocadura de um grande rio,
conforme meta original de Zemphor. Ali, afirmava ele, os atlanteanos
encontrariam um povo dócil e receptivo, que já estava começando a descobrir os
primeiros rudimentos da agricultura. Ali poderiam se estabelecer e dar
continuidade a sua civilização, impedindo que a história de Atlântida fosse
varrida para sempre, como acontecera com seu continente.
Uma terrível tempestade colocou a pique o
grande barco de metal e com ele afundaram Zemphor, três homens e todo o equipamento
técnico de que dispunham. Só Altzcotl e Lerbetz conseguiram chegar à praia com
vida, mas praticamente sem recursos técnicos. Foram encontrados por pessoas de
cor escura, estatura não tão elevada quanto a deles, que os receberam
amistosamente e trataram de alimentá-los e dar-lhes roupas para abrigá-los. Os
nativos admiraram-se da grande altura dos atlanteanos e passaram a vê-los como
semi-deuses. Isso ficou ainda mais forte depois que os dois perceberam que suas
lanternas de mão ainda funcionavam e que eles podiam iluminar seus próprios
rostos à noite, criando um efeito realmente fantasmagórico. Foi graças a isso
que conseguiram se estabelecer ali e a levar o povo local a fazer o que eles
queriam.
Na verdade, o que os dois esperavam era
poder iniciar ali um novo pólo de civilização. Mas ficaram tremendamente
desapontados com o baixíssimo nível intelectual dos nativos do território
egípcio. Eram tão trogloditas quanto os brancos dos Pirineus e possuíam uma
linguagem articulada extremamente rudimentar. Mas era tudo com que os dois atlanteanos
podiam contar para sobreviver e tentar desenvolver alguma coisa de sua
tecnologia. Começaram então, com muita dificuldade a ensinar aos nativos
rudimentos de agricultura melhor e princípios de navegação.
Um dia apareceu, andando ali entre as
terras do Delta, um homem branco da alta estatura também. Vinha sozinho e se
apoiava numa espécie de cajado. Era conhecido dos egípcios, que o receberam com
satisfação. O homem era uma espécie de sacerdote e sua intenção era converter
os nativos para sua religião. Os atlanteanos o julgaram um louco inofensivo. Há
muito, em Atlântida, as religiões tinham sido banidas por obscurantistas e
fanatizantes e não existiam mais templos e sacerdotes. Mas o atlanteanos
perceberam que o sacerdote branco era dotado de grande inteligência e que,
portanto, no lugar de onde ele vinha, devia haver mais pessoas como ele. Ali,
com certeza, seria muito mais fácil e mais rápido desenvolver uma civilização.
O homem alto mostrou, rabiscando na areia,
que viera dos contrafortes de uma grande montanha chamada Ararat, onde viviam
os de sua raça. E demonstrou possuir conhecimentos razoavelmente avançados de
cultivo de grãos. Contudo o homem, face ao seu fracasso de conversão dos
nativos, foi embora de repente, deixando um recado de que voltaria a aparecer
por ali no futuro. Os egípcios não precisavam de novos deuses dos brancos, já
tinham seus próprios novos deuses, aqueles dois homens altos, de cor de cobre
como eles, que eram capazes de vencer a treva da noite e que podiam brilhar no
escuro. E que falavam uma língua que só deuses poderiam entender, mas que se
comunicavam com eles através de mímica e de desenhos que sabiam fazer com
inacreditável exatidão.
PARTE
2 – A reprodução dos Atlanteanos
Altzcotl, que fora o comandante do navio
perdido, estava um bocado desolado com o avanço intelectual muito lento dos
nativos egípcios. Mas, estimulado por Lerbetz, reconheceu que tinha que
continuar tentando e que, mais do que isso, precisavam os dois ter relações
sexuais com as mulheres egípcias, para garantirem a continuidade de sua semente
e, principalmente, encontrarem nas crianças mestiças que gerariam, um potencial
genético mais desenvolvido do ponto de vista intelectual. Lerbetz, que fora um
geneticista profissional por longos anos, afirmava que isso seria possível ao
logo de poucas gerações de seleção. Cada um dos deuses teria que cruzar com as
filhas do outro, tão logo essas meninas atingissem uma maturidade sexual e
reprodutiva que pudesse garantir a saúde de mães e filhas. Eram ambos homens
fortes e jovens, na faixa dos trinta anos e, se tivessem continuado em
Atlântida, não iriam viver menos de 120 anos. Quanto tempo durariam nessas
terras selvagens?
Explicaram aos egípcios que desejavam
esposas e ficaram chocados com a enorme quantidade de mulheres que se ofereceram
a eles, porque um grande número delas já viviam com seus homens. Mas estes
pareciam encantados com a honra de verem suas mulheres parirem filhos de deuses
e ficavam o tempo todo implorando aos dois deuses que aceitassem suas esposas
em suas tendas. A mesma coisa faziam suas mulheres. As mocas solteiras, que
gozavam de grande liberdade sexual, sem tabus de virgindade como também não os tinham as atlanteanas, também vinham suplicar aos deuses que lhes dessem filhos
divinos.
Então os dois atlanteanos passaram os meses
seguintes tentando satisfazer todas aquelas mulheres, independente de idade ou
aparência física, de serem solteiras ou casadas. A maior dificuldade que encontraram foi convencê-las
de que, aquelas que se deitassem com um dos deuses, ficava terminante proibida
de se deitar com o outro, o que as deixava profundamente decepcionadas.
Formariam linhagens separadas de descendentes de cada um deles. As mais
rigorosas anotações eram feitas por eles, acompanhadas das honrosas “marcas dos
deuses” (pequenas tatuagens que os atlanteanos lhes faziam no ombro direito),
estabelecendo quem era o deus fecundante.
Dezenas e mais dezenas de mulheres conceberam e, meses
depois, uma impressionante quantidade de novos bebês estavam sendo
criados por suas mães, que, tão logo se viam aptas, imploravam aos deuses que
as fertilizassem de novo. Todos os bebês recebiam também a distinção da marca
dos deuses no ombro.
Os dois atlanteanos viram que teriam
dificuldades de diferençar seus filhos dos filhos dos nativos, que também
continuavam a coabitar com suas esposas e namoradas, o que eles consideravam
perfeitamente normal e justo. Só mesmo testes que aplicariam no futuro poderiam
lhes revelar as diferenças. E teriam que desenvolver esses testes sem qualquer
tipo de reagente bioquímico, apenas pela observação de tipos físicos e
avaliações práticas de quocientes de inteligência.
A inevitável explosão demográfica que se
seguiu ajudou os atlanteanos a desenvolver uma agricultura de maior precisão,
pois passaram a contar com mão-de-obra sempre crescente. E os resultados da
agricultura irrigada que ensinaram foram suficientes para gerar, pela primeira
vez na história dos egípcios, grandes excedentes de alimentos estocados. Para o
Egito, era o fim do Paleolítico e o início efetivo do Neolítico. Agora fazia-se necessário que os atlanteanos desenvolvessem a metalurgia.
CONTINUA
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