quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Nasce o Egito - 3a. parte


NASCE O EGITO – 3ª parte
MILTON MACIEL
(Baixo Nilo, 12 000 A.C.)

Altzcotl e seu companheiro Lerbetz, foram os únicos dentre os atlanteanos sobreviventes ao     grande afundamento de sua ilha-continente de Possêidia – que ficava no oceano Atlântico, muito a oeste das colunas que marcavam o começo do Mar Interno – a conseguirem se estabelecer nas terras dos egípcios. Estes, dotados de uma cultura ainda muito rústica, acreditaram que os estrangeiros fossem deuses e se entregaram totalmente à liderança deles.

Altzcotl e Lerbetz, ao longo dos primeiros dez anos, fecundaram centenas de mulheres egípcias mais de uma vez. Geraram assim uma larga descendência de filhos que herdaram a importante carga genética dos pais. O gene deles que determinava a altura, por exemplo, mostrou-se dominante e os filhos e filhas dos atlanteanos logo se revelaram crianças acentuadamente mais altas que os filhos dos egípcios, Eram também nitidamente dolicocéfalas, ao passo que as outras crianças tinham as cabeças mais arredondas. Assim ficou muito fácil distinguir as “crianças dos deuses” das outras crianças. Os atlanteanos, contudo, nunca permitiram que seus descendentes tivessem tratamento diferente dos descendentes dos egípcios e eram punidos os “filhos dos deuses” que se vangloriassem de sua superioridade ou procurassem diminuir os outros. Mas esses descendentes dos deuses revelaram, como esperavam eles, uma inteligência muito maior, o que fez com que a diferenciação fosse de estabelecendo de uma forma natural e, não, hierárquica.

Os atlanteanos introduziram a agricultura de diversos tipos de grãos, que foram selecionando através de intercâmbios com os brancos do Cáucaso e os negros dos planaltos a noroeste. Depois de cerca de um ano, chegaram a um cultivar de trigo com o qual puderam expandir as lavouras com grande grau de homogeneidade e alta produtividade. Ensinaram aos egípcios como poderiam aproveitar as cheias de seu grande rio, que era chamado de Neílos pelos nativos. Para o período seco, instituíram a irrigação, desenvolvendo equipamentos para bombear água do rio e distribuí-la ao longo de muitos quilômetros de canais e comportas.

Ensinaram também a domesticar os grandes animais de chifres que os egípcios só caçavam até então. Criados em cativeiro, esses animais passaram a formar grandes rebanhos e a primeira coisa que os atlanteanos fizeram com eles foi adestrar um grande número para puxar os estranhos implementos agrícolas que eles estavam ensinando os egípcios a fazer, com madeiras extremamente duras que negociavam com mercadores de outros lugares da África. Arados e outros implementos foram desenvolvidos e o uso da tração animal permitiu um grande salto na produção. Então os atlanteanos passaram a fazer o mesmo trabalho de seleção com árvores frutíferas, ensinando os egípcios a cultivarem seus primeiros grandes pomares. E também o linho, o cânhamo e o papiro, assim como o algodão, pouco anos depois, passaram a ser produzidos em grande escala.

Dessa forma, aquele agrupamento original do delta do Neílos cresceu extraordinariamente em poucos anos e sua região, abarrotada de alimentos de todos os tipos, vegetais e animais, com todos os seus subprodutos, como os couros, fios e tecidos, conheceu uma grande prosperidade, permitindo que existissem centenas de produtos para trocar com o que lhes traziam mercadores das mais diversas regiões da África e da Ásia.

Já nos primeiros dois anos, os atlanteanos começaram a formar seu primeiro exército. Explicaram aos pacíficos habitantes locais que, face ao enorme acúmulo de bens e de terras férteis cultivadas, de grandes rebanhos em expansão, seria fatal que atraíssem a cobiça de outros grupos e até de outros povos mais distantes, que viriam atacá-los para conquistar suas terras e posses. Como os homens já não precisavam gastar seu tempo na tarefa diária de coletar alimentos silvestres e caçar e pescar, tendo passado rapidamente de caçadores-coletores para agricultores, tinham tempo de sobra para serem treinados fisicamente e adestrados no manejo das novas armas que os deuses lhes ensinaram a fazer. Destas, sem dúvida, a mais importante foi o novo e elaborado arco, de enorme alcance e precisão, com o que a flechas se tornaram efetivamente uma barreira mortal para o avanço dos primeiros e mal-sucedidos invasores.

Outro grande avanço que os atlanteanos implantaram foi a sistema de casas individuais. Até então os egípcios originais viviam em grandes habitações coletivas, erguidas com adobe precário, e recobertas com o mesmo material reforçado por grandes traves de madeira. Sobre esse forro plano viviam homens e mulheres a maior  parte do dia, quando não estavam no trabalho de coletar e caçar. Ali cozinhavam, comiam, lavavam sua rudes vestes, tinham sua vida social diária. Na parte de baixo ficavam os grandes quartos coletivos e dezenas de pessoas dormiam ali em grande confusão e promiscuidade, sem privacidade alguma.

Os “deuses” impuseram uma nova norma. Os casais e as famílias deveriam construir casas individuais, de adobe agora muito melhorado pela adição de palhas e dejetos de bovinos, moldados em formas. E casas com bom distanciamento entre elas, seguindo desenhos geométricos que geraram as primeiras ruas de sua incipiente cidade, a qual se espalhou velozmente na horizontal por causa disso.

Naqueles primeiros dois anos pioneiros, os mais difíceis de todos, os atlanteanos ensinaram os egípcios a construir canoas eficientes, inclusive algumas enormes para duas dezenas de remadores, que embarcavam levando seus mortíferos conjuntos de arco e flechas e se tornaram, assim, a primeira “frota” de combate do Neílos. Mas o trabalho principal foi o de ensinar a construção e o uso dos primeiros veleiros. De início apenas canoas um pouco melhoradas, com o passar dos anos foram crescendo de tamanho e permitiram que tripulações de até 50 homens embarcassem para viagens pelo Mar Interno. Numa dessa expedições de exploração, chefiada por Altzcotl, chegaram a uma enorme ilha ao norte, onde o atlanteano descobriu, encantado, grandes aflorações de minério de cobre, de facílima extração. Encheu o barco até quase o limite de sua capacidade de carga com esse minério e ao chegar, deixou Lerbetz louco de entusiasmo.

Fizeram rapidamente fornos para produzir carvão vegetal, coisa desconhecida pelos egípcios. E, com couro e madeira, improvisaram foles e forja. E no fim do segundo dia, viram, emocionados, correr o líquido avermelhado que viria mudar tudo para eles: ali estava, com alto grau de pureza, a primeira corrida de cobre que produziam. Moldes precisos de argila finíssima foram feitos e os mais diversos objetos começaram a ser moldados. A começar, obviamente, por pontas de flechas e de lanças, espadas e lâminas para revestimento dos escudos. As mesmas lâminas, à medida que uma equipe de artesãos aprendia a lidar com elas, batendo facilmente o metal dútil e maleável, serviram para que fossem feitas as primeiras armaduras para proteção dos peitos e das costas dos guerreiros. Com isso o forte exército do delta tornou-se simplesmente invencível.

Evidentemente, com a disponibilidade de um metal, tudo mudou. Começou o que seria a Idade do Cobre para o Egito. Os grandes barcos passaram a fazer semanalmente a rota entre o delta e a grande Ilha do Cobre (Chipre, hoje em dia, nome que quer dizer exatamente cobre) e a metalurgia do cobre revolucionou toda a economia e a própria agricultura cultura. Arados, ferramentas e implementos agrícolas passaram a ser feitos de metal. Agora sim, os atlanteanos viram enfim a possibilidade de darem um salto de gigante rumo a uma nova civilização. As crianças aprendiam facilmente a ler e escrever, usando o alfabeto de Atlântida, de 26 letras. O progresso viria agora a passos de gigante.

– Precisamos agora ter a felicidade de encontrar algum minério de estanho, para fazer bronze em liga com este cobre. Nossas armas e objetos em geral ficarão muito mais resistentes e duradouros.

– Sim, Lerbetz. E, se um dia acharmos ouro e chumbo, então poderemos fazer com eles e o cobre nosso mais precioso metal atlanteano, o oricalco, com o qual tudo se pode construir.

– Ah, o oricalco! A civilização. A tecnologia. As máquinas... Quanto disso nos será dado ver ainda em vida, Altzcotl?

Quando chegaram à adolescência, centenas de filhas do deus Altzcotl passaram a exigir seus direitos sagrados de terem filhos com o  deus Lerbetz. E as deste, os de terem filhos com o deus Altzcotl. Assim, ao cabo dos primeiros vinte anos, foi completada a grande experiência de aprimoramento genético da população original. Poderiam parar naquele ponto e deixar que o cruzamento normal entre seus descendentes e entre estes e os descendentes dos egípcios originais se encarregaria, ao longo das décadas seguintes, de definir naturalmente um padrão homogêneo de população, muito mais apta física e intelectualmente.

E assim, a partir do grande delta do Neílos, por ação dos dois “deuses” atlanteanos, começou a nascer o novo Egito. 

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