domingo, 20 de março de 2016

LUA  OCULTA – 80  
MILTON MACIEL 

80 – UMA COMPRA COM CARÁTER
Fim do cap. 78:  "– Então agora você já está entendo por que eu trouxe você. Esta fazenda já está certificada, você ganha dois a quatro anos de tempo. Basta que você corra na frente e compre esta propriedade!" 

– Eu? Nossa, você tem razão amor. Eu posso agora. Eu estou tão acostumada a nunca ter dinheiro minha vida toda, que continuo pensando como uma semimendiga, como meu pai me obrigava a pensar. Mas é verdade, eu posso comprar isto aqui, esta maravilha, este autêntico tesouro que o meu amor achou pra mim. Com certeza, com toda essa fortuna que vem para o meu nome, eu posso comprar isto aqui, por mais caro que seja.

– Não é caro, amor. O coitado do homem precisa vender logo, está praticamente torrando tudo. É um preço injusto e logo, logo, assim que a notícia correr, vem um desses fazendeiros grandes e compra isto aqui de olhos fechados. E depois, é claro, detona tudo. Não há nenhum produtor orgânico de porte em Amarante.

– Nossa, amor, quer dizer que, se eu comprar, eu protejo a área de algum possível predador, é isso?

– Pois é isso mesmo, minha adorada agrônoma.

– Sim, sim, querido. Independente do que eu vier a fazer aqui, eu salvo a certificação. E ganho essa tremenda vantagem, como prêmio.

– Isso mesmo, amor. Foi por isso que eu, além de trazer você aqui, já fiz uma reserva, assinei uma opção de compra com o corretor, que é o Paulo César, que você conhece. Quer dizer, se você quiser, a fazenda é sua, meu anjo!

– Ai, amor, amor! É claro que eu quero, eu quero sim! Ai, como você me entende, como você me ajuda, como você é o melhor homem do mundo, meu Celsinho adorado!

E, como fazia tantas vezes, Larissa literalmente saltou sobre Celso, montou nele com as duas pernas apertadas quase na cintura dele e o cobriu de beijos. O que fez sua temperatura subir de imediato.

Então Larissa, com a sua espontaneidade incontrolável, desceu de Celso, tomou sua mão e arrastou-o para o carro, já arrancando as roupas de ambos. Jogou-o com força no banco de trás do Corolla, empurrando-o pelo peito, e montou já quase nua sobre ele. Desta vez fizeram amor sem a marca registrada de Larissa, a delicadeza. Agora ela fervia de amor e de entusiasmo, de excitação e de gratidão. Ela tomou as iniciativas e cavalgou-o fogosamente, como uma amazona à sua montaria.
Quando estavam no segundo round, Celso falou, timidamente:

– Cuidado, amor, é melhor a gente não abusar. Tem o capataz por aqui, ele pode aparecer a qualquer momento. E aí, como é que fica?

Larissa, sem perder um segundo de atenção no que estava fazendo, falou com a maior naturalidade:

– Ora, se ele chegar, ele espera. A gente faz que não viu o homem e termina direitinho tudo o que tem que fazer ainda. Agora não dá pra parar, ele que tenha paciência. Ai... Amor... Ai...

O capataz não apareceu. Ufa, melhor assim, pensou Celso. Sua menina era espontânea demais, criança demais provavelmente, seria bem capaz de seguir fazendo amor na frente de um estranho, sem se importar, como se isso fosse a coisa mais natural do mundo.

Melhor mesmo que o homem não tivesse aparecido. Até porque ele sabia que Celso Teles era o comprador, que já era o novo dono.  Era melhor ir embora logo, combinar com o corretor Paulo Cesar para refazerem a transação já em nome de Larissa. E ele, Celso, pediria para Lucas liberar o valor suficiente de uma das contas de Larissa que eram administradas por ele e por Lucas.

Esse valor iria diretamente para a conta de Celso, que já havia pago à vista pela fazenda. E seu anjinho passaria a ser a dona da única fazenda de porte do município que tinha certificação orgânica. Ele ficou emocionado ao ver que Larissa estava fazendo a compra sem pensar em mais nada além de proteger a área e garantir que ela continuasse habilitada oficialmente para a produção orgânica. Que caráter, que princípios que tinha o seu anjo!

Mas, muito mais do que isso, ele já conseguia antever o que aquela fazenda de porte médio ia significar para o futuro de Larissa. E, segundo garantiam Maria Amália e Gládis De Rios, para o futuro de Amarante. Ali mesmo ia começar a carreira da futura Secretária de Agricultura e Abastecimento de Amarante. E de sua futura prefeita, em um tempo mais longínquo.

Voltaram para a Teles Automóveis, com Larissa comovidíssima agora, os olhos mais claros do que nunca, orvalhados de pequenas lágrimas de felicidade, brilhando como se tivessem luz azul própria. Uma luz daquele azul que não podia existir...

Ao chegarem, ela correu para suas amigas, para contar a grande novidade. Gládis se fez de surpresa, como de fato estavam todas as outras. Não disse uma só palavra para não furar, sem querer, a historinha que Celso Teles tivesse inventado. A Fofinha tinha que ser tratada de forma diferente, nem sempre a verdade podia ser-lhe apresentada de frente, nua e crua. Mesmo quando era uma verdade maravilhosa de se saber, como a daquele quase-presente de seu adorador.

Celso, por sua vez, correu para o telefone e, de sua sala, ligou para Paulo Cesar, para combinar a mudança dos documentos. Maravilha, tudo certo! No outro dia explicaria para sua anjinha porque havia mandado pagar um preço bem diferente daquele que o proprietário pedia. Ninguém como um anjo para entender isso. Ela estava animadíssima e tranquila quanto à compra, porque ele lhe dissera que havia assinado com o corretor uma opção de compra. Paulo Cesar confirmaria tudo amanhã.

Marcaram o encontro para duas da tarde, Celso fez questão de dizer que preferia passar, com Larissa, no escritório do corretor, ao invés de esperá-lo na Teles Automóveis. Como costumava explicar para seu pessoal, “Nós temos que prestigiar todo profissional, é uma questão de respeito. A gente não é melhor do que ninguém. ”

Esse era o milionário Celso Teles, a simplicidade em pessoa. E a honestidade e o caráter, também. Mais uma vez o comprovara horas atrás, ao fechar o negócio da compra da fazenda que seria, agora, repassada para Lissinha.

De fato, no dia seguinte, a caminho do escritório do corretor, Celso abriu o jogo com Larissa. Iam os dois muito contentes no impagável fusca laranja de Lissinha, por escolha de Celso, que, com isso, mostrava para sua anjinha o quanto gostava de tudo o que fosse dela. Muita gente na cidade estranhava ao ver aquela dupla de pessoas sabidamente muito ricas, andando num carrinho velho e chamativo. Ainda mais que tinham de acostumado a ver Larissa dirigindo impressionantes SUVs enormes. E que, mais incrível ainda, o homem era simplesmente o dono da maior revenda de automóveis da cidade, tinha um monte de carros de luxo importados a seu dispor, podia se exibir com qualquer Audi ou Mercedes que quisesse.

Ah, pensavam muitos, era de homens assim que Amarante precisava. Já pensou se esse cara vira nosso prefeito? É, sonhar não paga imposto...

No caminho, Celso explicou para Larissa:

– Meu anjo, a gente vai pagar um preço um pouco mais alto pela fazenda. Mais alto do que o dono está pedindo, compreende?

– Por que razão, meu querido?

– Porque a fazenda vale muito mais e o homem está torrando tudo porque precisa vender rápido. Eu não acho isso justo. Eu sou comerciante, ganho muito nas compras que faço, mas ganho por causa do volume das compras. Não porque eu me prevaleço da condição desesperada do vendedor. Nunca fiz isso na vida. E nunca vou fazer. Neste caso, o vendedor é o seu colega agrônomo e ele baixou o preço da fazenda em mais de 250 mil reais. Aí eu não aceitei o desconto, é claro.

– Meu amor, o que você disser para eu fazer, eu faço. Se você acha que deve ser assim, assim será. E, se eu estou entendendo direito, concordo totalmente cm você.

– Pois é, querida, a gente tem muito dinheiro. Precisa uma vida inteira para gastar tudo, se parar de trabalhar para ganhar mais. Então não é justo, não é ético, você se aproveitar e espremer uma criatura para ganhar mais um pouco numa transação. Veja, no caso desta fazenda, o coitado do seu colega não está conseguindo nem colocar o valor do enorme esforço que ele fez para conseguir a certificação orgânica. Está vendendo pelo preço da terra, mais as benfeitorias, menos o enorme desconto. Eu sou incapaz de me prevalecer dessa situação, minha moral não me permite que eu me aproveite assim em cima de um homem correto como esse, que investiu e valorizou tanto aquela propriedade. O que você me diz, amor? Fique à vontade, se você pensa diferente, a gente faz do jeito que você quiser.

– Larissa parou o caro de repente, enlaçou Celso entre seus braços, beijou-lhe os lábios com suavidade, E falou:

– Você é o homem mais correto deste mundo, meu amor. Há muito tempo eu já aprendi que, se a gente quer agir direito nesta vida, é só imitar o que você faz. É verdade, eu agora tenho uma quantidade enorme de bens, eu nem consigo imaginar direito o tamanho da coisa toda. E eu também não quero ser mesquinha. Se a fazenda vale o que você acha que vale, então é esse o preço que eu vou pagar. Nenhum centavo menos.

E voltou a tocar o carro em frente, até chegarem ao escritório do corretor Paulo Cesar. Ali as explicações e formalidades foram todas apresentadas e o contrato foi assinado, o corretor felicíssimo, não só com o fechamento do negócio, mas com o inesperado e inacreditável acréscimo de preço e comissão. Eram incríveis aqueles dois clientes riquíssimos! Jamais em sua vida ele havia visto algo assim: fazerem questão de pagar o preço justo, abrindo mão de 250 mil reais!

Imediatamente após, dirigiram-se todos no fusca para o tabelionato, onde a escritura foi lavrada no ato, gentileza da oficial Mara, em reconhecimento à importância da compradora e seu ‘noivo’; e em homenagem à inigualável e eterna Miss Amarante, agora a mais nova fazendeira do pedaço. Sim, lembrou-se ela, não era só capricho de riquinha: a moça era graduada em agronomia...

Quando voltaram para a empresa, enquanto Larissa ia, toda vibrante, mostrar a escritura para padrinho Rondelli e, depois, para Gládis e as outras moças, Celso atendeu uma ligação do exterior que o fez dar pulos de entusiasmo:

– Chefe?  – falou a eficientíssima telefonista Marisa Venturini, jovem amarantense de apenas 19 anos, que cursava contabilidade à noite – Ligação para o senhor. Chamada internacional. Don Diego Alarcon de Rivera, direto de Madri.

– Maravilha, Marisa. Passe logo. E avise todo mundo para me deixarem sossegado no escritório até eu parar de falar com esse camarada. Quando a ligação terminar, você avisa todo mundo que eu estou disponível de novo.

Na meia hora seguinte todo o estado-maior da Teles Automóveis, enquanto festejava a aquisição por sua Fofinha da única fazenda orgânica de Amarante, estava ligada na misteriosa ligação que corria a portas fechadas no escritório do chefe. Todo mundo ardendo de curiosidade, por causa da ordem que Celso havia dado à telefonista. Opa, alguma novidade muito importante estava no ar. O que seria?

Imediatamente todos, principalmente Larissa, começaram a bombardear Gládis De Rios com perguntas:

– Quem é esse espanhol, Gládis? Você sabe.

– Não sei nada, dona Fofinha. Nadinha mesmo.

Hijita, essa carinha e esse sorrisinho eu conheço, sua danada. Vamos, conte pra gente quem é o homem, o que está rolando lá no escritório do Celso?

– Ai, mamita! Se o Celso não falou nada para ninguém, é porque ele quer que a coisa fique assim, ele vai revelar quando achar conveniente. Lembram quantos anos ele levou para contar que era o Romano do Milan? Por favor, eu não tenho direito de fazer isso com meu jefito adorado. Perguntem para ele. Eu não sei nada e pronto.

Era evidente que a bruxinha do bem já sabia. Mas tiveram que se conformar, dali não sairia nenhuma informação. Larissa foi a primeira a reconhecer e valorizar a atitude de sua amiga e musa inspiradora:

– Muito bem, Gládis. Você tem razão. Lealdade é uma coisa tão nobre! Vindo de você, não se pode esperar outra coisa. Eu vou contar pro Celso a carga que a gente fez sobre você e como você resistiu ao nosso ataque cruel. Ele vai adorar.

Grácias, chiquita – respondeu Gládis, fazendo um afago no rostinho mimoso de sua protegida. Tenham paciência. E tenham modos, nada de ficar crivando o jefito de perguntas.

Celso apareceu minutos depois, sorridente e enigmático. Nada comentou. E, por causa das palavras de Gládis, ninguém – nem mesmo Larissa Silva – perguntou nada sobre o misterioso telefonema. Ele imediatamente entrou no assunto da fazenda da Fofinha e do que poderia ser feita ali, segundo as ideias da nova proprietária.

Lissinha levantou voo e passou a falar animadamente sobre suas primeiras concepções, que estavam ainda mais para sonhos do que para planos. Celso deu corda total a tudo isso e sugeriu que ela trocasse ideias com Lucas, cuja presença mandou solicitar na mesma hora, Então deixou Larissa entusiasmada a discutir possibilidades e ideias com o administrador e pediu licença para se retirar.

Saiu todo sorridente e caminhando como se andasse sobre nuvens. Gládis de Rios olhou para ele e depois desviou sua atenção para a eufórica Larissa. Ah, Fofa, que bobinha! Nem se deu conta que o jefe a enrolou para poder seguir com o seu mistério. É, mas agora grandes mudanças vão acontecer. É melhor que a gente se prepare, Os tempos vão ser outros para todos. A hora de Celso Teles chegou!

CONTINUA


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