quinta-feira, 9 de abril de 2015

O POETA E O GUASCA - Parte 4  
MILTON MACIEL
.......................
...São versos de apaixonado,
Uma beleza completa!
Por favor, quem é o poeta?”

“Bueno, poeta não tem não,
Que é verso de índio xucro.
Mas tô saindo no lucro
Se lhe agrada à compreensão,
Já que o autor desse embrulhado
É aqui este seu criado.”

IV

"Não seja modesto, amigo
Que eu conheço bem do assunto
E, com você aqui junto,
Fica mais sério o que digo.
Sou Álvaro Souza Dutra,
Doutor em Literatura."

O gaiteiro estende a mão
a do outro tomando inteira:
“Sou um guasca da fronteira
Pra lhe servir, meu patrão.
Um campeiro de boa paz,
Da fazenda, o capataz.”

“Mas me diga, por favor,
O que é que você cantava
Enquanto sua dor tocava:
Eram seus males de amor?
Se achar que sou indiscreto,
Nada diga de concreto.”

“Bueno, eu lhe peço perdão,
De normal sou reservado.
Sou um tipo mui calado,
Não mostro a minha emoção.
E quando eu cantei aquilo,
Pensei que estava solito.

Se sofro, eu sofro comigo,
A minha dor não divido.
Tento não soltar gemido
E isso eu sempre consigo.
Pode doer, que sigo em frente,
Calado, firme e silente.

O sofrimento que trago
Não logra me derrubar
E tendo que continuar,
A própria dor eu esmago.
É assim, patrão, que eu acho
Que deve sofrer um macho.”

“Meu caro amigo gaúcho
Eu estou impressionado.
Como um poeta apaixonado
Consegue se dar ao luxo:
Não expor seu sofrimento
No mais agudo lamento?

Não chorar, nem escondido,
E engolir toda sua mágoa;
Não ter olhos rasos d’água
Se o coração foi partido.
O que é que temos aqui?
Um Alfred de Vigny?”

CONTINUA AMANHÃ

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