sexta-feira, 10 de abril de 2015

O POETA E O GUASCA - 5a. Parte  
MILTON MACIEL   (ilustração: Alfred de Vigny)

Não chorar, nem escondido,
E engolir toda sua mágoa;
Não ter olhos rasos d´água,
Se o coração foi partido.
O que é que temos aqui?
Um Alfred de Vigny?

V

Ué, meu patrão, quem é esse,
O tal de Alfredo Devinhí?
Que ele nunca veio aqui,
Não conheço, me parece...
Pelo jeito é estrangeiro,
Não tem nome brasileiro."

"E tem razão, meu amigo,
É da França e um grande poeta.
Tenho sua obra completa,
Que trago sempre comigo.
Veja só este livro aqui:
é de Alfred de Vigny.

Observe este texto aqui,
Parece você quem o fez.
Primeiro eu leio em francês,
Depois traduzo de vez:


Quand on voit ce qu'on fut sur terre et ce qu'on laisse,
Seul le silence est grand; tout le reste est faiblesse.
 (Alfred de Vigny, 1797 - 1863)

Quando vemos o que fomos na terra e o que se deixa,
Só o silêncio é grande; todo o resto é fraqueza.”

"Cuepucha, patrão, que lindo!
Bonito barbaridade...
E o que ele diz é verdade.
Não se deve andar caindo
Pelos cantos, como um fraco,
Que é mais embaixo o buraco.

Pois é: ‘O silêncio é grande
E todo o resto é fraqueza!’
Pra mim isso é fortaleza
De um macho que se garante.
Esse tal francês De Vigny
Seria mui bem-vindo aqui.”

“Pena que o homem nasceu
Há mais de duzentos anos.
Viveu sérios desenganos,
De um brabo câncer morreu.
Porém nunca se queixou,
Tudo firme ele aguentou."

H
oje, ouvindo o seu cantar
Foi dele que me lembrei.
E foi também o que achei
Por seu modo de falar:
Nós temos no pampa, aqui,
Outro Alfred de Vigny.”

“Quem me dera, meu bom patrão
Ser poeta como esse aí!
Desse Alfred de Vigny,
Só tenho a disposição.
E o senhor, na sua poesia
Tem a mesma valentia?”

“Que nada, meu companheiro,
Eu sou é um grande chorão!
E a dor no meu coração
Eu berro pro mundo inteiro.
Eu confesso pra você:
Sou um Alfred de Musset!”

CONTINUA AMANHÃ

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