quarta-feira, 8 de abril de 2015

O POETA E O GUASCA - 3a. parte
MILTON MACIEL
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De vanguarda, sua poesia,
Que tantos prêmios lhe dera
Parecia uma quimera
Ante aquela nostalgia.
No guasca o emocionava
A dor que comunicava.

Ansioso por conhecê-lo
Esperou que o som parasse,
Que a voz do guasca calasse
E que ele pudesse vê-lo.
Pediu que entrasse o gaúcho
No seu ambiente de luxo.

                   III

Rogou-lhe: “Traga a sanfona,
Entre que aqui está quentinho”.
O guasca entrou de mansinho,
Trazendo sua cordeona:
“Puxa, doutor da cidade,
Tá quente barbaridade!”

Tirou chapéu e casaco,
Sentindo a falta da brisa.
Quase que tira a camisa,
Já suando no sovaco.
Só não o fez por respeito,
Por se comportar direito.

O outro, todo entrouxado,
Mostrava que frio sentia,
Mas cordialmente sorria
Pra seu novo convidado:
“Você é bom acordeonista
E canta como um artista.”

“Bondade sua, meu patrão!
Sou só um guasca da campanha
Que menos toca que arranha,
Lhe dando a falsa  impressão.
E que cantar? Canto nada!
Voz de taquara rachada!”

“Não é verdade, por favor!
Você é um artista completo.
E esse seu falar direto
Me impressionou, sim senhor!
Os versos lindos, de trova,
De sua dor a maior prova,

Me deixaram extasiado
Por sua simplicidade.
Me tocaram de verdade.
São versos de apaixonado,
Uma beleza completa!
Por favor, quem é o poeta?”

“Bueno, poeta não tem não,
Que é verso de índio xucro.
Mas tô saindo no lucro
Se lhe agrada à compreensão,
Já que o autor desse embrulhado
É aqui este seu criado.”

CONTINUA AMANHÃ

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