sábado, 25 de abril de 2015

NÃO JULGUE ANTES DE SABER 
MILTON MACIEL

– Tire a calcinha e deite !

A voz do homem careca era fria e imperiosa, dominadora. Lucy sabia que tinha que obedecer, não lhe restava qualquer alternativa, não tinha saída.

Viu a cabeça calva afundar entre suas coxas, sentiu o toque das mãos do homem lá, contraiu-se toda, preparou-se para o inevitável. Quando este veio, foi menos desconfortável do que ela esperava. Não opôs qualquer resistência. Com o coração em tumulto, esperou de olhos fechados, tensa, que o homem fizesse tudo o que queria fazer.

Quando enfim ele acabou, Lucy viu a cabeça calva erguer-se com um sorriso de vitória nos lábios.

– Pode relaxar, Dona Lucy. Parabéns, a senhora NÃO está grávida.

Lucy deu um grito, erguendo-se da mesa ginecológica com um único salto estabanado:

– Tem certeza, doutor?! Pelo amor de Deus, me diga que é verdade, eu não estou grávida mesmo?

– Claro que não, Dona Lucy. Acalme-se, se esse era todo o seu problema, ele não existe mais. Esse seu teste de farmácia é fajuto ou a senhora fez a coisa errada.

Como um raio Lucy enfiou a saia, apanhou a bolsa e... E então voltou-se e deu um beijo estalado naquela careca salvadora, fazendo o médico arregalar os olhos estupefato. Na pressa, esqueceu de botar a calcinha.

– Obrigada, doutor. Obrigada, obrigada. Meu anjo salvador!

Correu porta afora, deixou a clínica voando, saltou no automóvel, dirigiu em disparada, o coração mais acelerado que o motor do carro. Só então se deu conta que estava sem calcinha.

“Não estou grávida! Não estou! Não estou! Maldito teste de farmácia! Bem, pelo menos serviu pra mostrar o grande cafajeste que é o Sílvio. Desgraçado, tirou o corpo fora, me deixou na maior fria. Esse nunca mais põe as mãos, que dirá outra coisa, neste corpinho gostoso aqui. Acabou!”

Sim, que situação aquela em que ficara: como explicar uma gravidez para o marido estéril?

Suspirou aliviada. Aliviou também o pé no acelerador, começou a dirigir mais suavemente. Agora, enfim, estava conseguindo se acalmar. Filha da mãe aquele Sílvio, um amante de primeira, mas um homem de última. Covarde! Não quis assumir, deu no pé, queria que ela abortasse, não aceitou a proposta dela de viverem juntos, deixando ela do marido, o chato do Osório.

Agora estava sem um caso. Mas ela se conhecia, sabia que não seria por muito tempo. Como aguentar o panaca do Osório, sem ter um bom amante para ajudar?

Lembrou do Doutor Eurico, seu anjo salvador. Um homem calvo de meia idade, delgado, aparência máscula, voz dominadora... Imaginou aquela careca entrando entre suas coxas, mas de outra maneira muito mais gostosa. Sentiu um frêmito de excitação.

“Meu Deus, estou sem calcinha, não posso molhar minha saia branca! Preciso pensar noutra coisa.”

Pensou no Osório.

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