MILTON MACIEL
– Tire a calcinha e deite !
A voz do homem careca era fria e imperiosa,
dominadora. Lucy sabia que tinha que obedecer, não lhe restava qualquer
alternativa, não tinha saída.
Viu a cabeça calva afundar entre suas
coxas, sentiu o toque das mãos do homem lá, contraiu-se toda, preparou-se para
o inevitável. Quando este veio, foi menos desconfortável do que ela esperava.
Não opôs qualquer resistência. Com o coração em tumulto, esperou de olhos fechados,
tensa, que o homem fizesse tudo o que queria fazer.
Quando enfim ele acabou, Lucy viu a cabeça
calva erguer-se com um sorriso de vitória nos lábios.
– Pode relaxar, Dona Lucy. Parabéns, a
senhora NÃO está grávida.
Lucy deu um grito, erguendo-se da mesa ginecológica com um único salto estabanado:
– Tem certeza, doutor?! Pelo amor de Deus,
me diga que é verdade, eu não estou grávida mesmo?
– Claro que não, Dona Lucy. Acalme-se, se
esse era todo o seu problema, ele não existe mais. Esse seu teste de farmácia é
fajuto ou a senhora fez a coisa errada.
Como um raio Lucy enfiou a saia, apanhou a
bolsa e... E então voltou-se e deu um beijo estalado naquela careca salvadora,
fazendo o médico arregalar os olhos estupefato. Na pressa, esqueceu de botar a
calcinha.
– Obrigada, doutor. Obrigada, obrigada. Meu
anjo salvador!
Correu porta afora, deixou a clínica voando,
saltou no automóvel, dirigiu em disparada, o coração mais acelerado que o motor
do carro. Só então se deu conta que estava sem calcinha.
“Não estou grávida! Não estou! Não estou!
Maldito teste de farmácia! Bem, pelo menos serviu pra mostrar o grande
cafajeste que é o Sílvio. Desgraçado, tirou o corpo fora, me deixou na maior
fria. Esse nunca mais põe as mãos, que dirá outra coisa, neste corpinho gostoso
aqui. Acabou!”
Sim, que situação aquela em que ficara: como
explicar uma gravidez para o marido estéril?
Suspirou aliviada. Aliviou também o pé no
acelerador, começou a dirigir mais suavemente. Agora, enfim, estava conseguindo
se acalmar. Filha da mãe aquele Sílvio, um amante de primeira, mas um homem de
última. Covarde! Não quis assumir, deu no pé, queria que ela abortasse, não
aceitou a proposta dela de viverem juntos, deixando ela do marido, o chato do Osório.
Agora estava sem um caso. Mas ela se
conhecia, sabia que não seria por muito tempo. Como aguentar o panaca do Osório,
sem ter um bom amante para ajudar?
Lembrou do Doutor Eurico, seu anjo
salvador. Um homem calvo de meia idade, delgado, aparência máscula, voz
dominadora... Imaginou aquela careca entrando entre suas coxas, mas de outra
maneira muito mais gostosa. Sentiu um frêmito de excitação.
“Meu Deus, estou sem calcinha, não posso
molhar minha saia branca! Preciso pensar noutra coisa.”
Pensou no Osório.
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