ELA
MILTON MACIEL
Há horas que esta imagem está me incomodando!
Não consigo esquecer esses olhinhos. Eu os
vi pela primeira vez há poucas horas. A foto é de Vinoth Chandar. Chegou-me
através do movimento 50 Million Missing, que busca pressionar os governantes da
Índia quanto ao problema crônico da violência contra a mulher e do generocídio feminino naquele país.
Ela é uma indianazinha. E ela reflete em
seu rostinho todo o medo e toda a incerteza que acompanha a condição feminina
naquela sociedade machista. Sim, esse problema é extremamente crítico na Índia.
Mas eu não quero falar só de Índia agora. Eu quero falar de Mundo, eu quero
falar de Brasil.
Eu não sei o nome dessa menininha com medo.
Mas vou chamá-la de ELA. E vou usar
ELA e seus olhinhos tristes e assustados para falar de TODAS as mulheres deste
mundo. Portanto, também das do Brasil. Os olhinhos assustados de ELA são os
olhos das mulheres que precisam temer por sua dignidade, por sua segurança, por
seu direito ao respeito e à liberdade.
É muito triste, muito perigoso e muito
desequilibrado um mundo onde metade de seus habitantes tem que ter medo físico
da outra metade. Acho isso de um primitivismo a toda prova. Inaceitável.
O gênio de um Matisse, de um Fernando
Pessoa, a sensibilidade de uma Isadora Duncan, o poema concreto de uma Estação
Espacial orbitando a Terra, de uma Voyager 2 rompendo as barreiras do nosso
sistema solar, e então... Então eu vejo os olhinhos de ELA. E tudo aquilo
parece refluir para dentro de nossa barbárie coletiva.
Não é possível um mundo em que ELA tem que
ter medo no olhar. Os olhinhos de ELA clamam por justiça. Clamam por paz.
Clamam por não-violência. O olhar de ELA abrange o mundo inteiro, penetra até à
medula cada um de nós. E os olhos de ELA exigem de nós que façamos algo!
Os que achamos que é inaceitável um mundo
em que ELA tem que ter medo “dele”, nós os que pensamos assim, temos que fazer
algo. Por que ELA não pode fazer sozinha. ELA foi treinada a se acreditar
frágil e indefesa, desaprendeu que na natureza são as leoas que caçam e ensinam
os filhotes a lutar.
E, em particular os homens que não
aceitamos esse estado de coisas, que somos obrigados a reconhecer que o grande
predador é o próprio homem, é hora de nos colocarmos corajosamente na linha de
frente, hostilizando abertamente os covardes agressores e estupradores,
forçando-os a receber justiça, seja de que forma for, até que o dia chegue em
que os olhinhos de ELA não mais mostrem medo, mas confiança na vida.
Muito apropriado seu texto amigo.Chamo-lhe amigo por ser solidária também nesta luta contra a desigualdade social, sexual ou qualquer outra discriminação que nos pese.E nem precisamos de bandeiras ou religiões, para que nos ensine ou nos vista de qualquer coisa santificada. Somos gente, e isso deveria ser mais que suficiente para sermos respeitadas(os),todos como iguais. Abraços fraternos. :-)
ResponderExcluirMUIto agradecido, amiga Hilda.
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