quarta-feira, 29 de agosto de 2012



TABACO E BRASIL – UM TIRO NO PÉ
MILTON MACIEL

Uma associação imoral – mas mortal – liga governos e agroindústria do tabaco em todo o mundo. No Brasil não é diferente. Com a mão direita o governo fatura, recolhendo um gigantesco montante de tributos anuais. Com a mão esquerda, no entanto, o governo gasta – e muito mais do que arrecada – para atender os problemas de saúde pública causados pelo tabaco. Em resumo, um tiro no pé. Em números redondos, arrecada 10 bilhões e gasta 20 bilhões por ano.

Esta quarta-feira (29/08/2012) é o Dia Nacional de Combate ao Fumo, e um levantamento divulgado pela organização não governamental ACT (Aliança do Controle do Tabagismo) chama a atenção: em 2011, o Brasil gastou mais de R$20 bilhões para tratar doenças relacionadas ao tabaco. O valor equivale a cerca de 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto) do país e estima-se que corresponda ao dobro do que se arrecada com impostos sobre cigarros.
Os dados mostraram, também, que 82% dos casos de câncer de pulmão no Brasil são causados pelo fumo e 83% dos tumores de laringe estão relacionados ao tabagismo.” (Dráuzio Varella)

Só a Souza Cruz, maior indústria do ramo no país, recolheu 7,6 bilhões em impostos em 2011 e pode exportar mais de 2 bilhões por ano em produtos do tabaco. Como há, ligadas a agroindústria do fumo, mais de 30 mil famílias de produtores e um número igualmente grande de pessoas envolvidas nas áreas industrial, comercial, de transportes e de serviços, compreende-se que o fator inercial a preservar o ramo de negócios é gigantesco. 

Com o argumento de manter empregos e atividades rurais, mais o de manter ininterrupto o fluxo de tributos para o tesouro, o governo faz uma aliança espúria e míope com a atividade, que é no mínimo criminosa, uma vez que existe para produzir algo que é extremamente (e somente!) nocivo à saúde humana e que é mortal nas duas pontas: o produtor envenenado pelo uso de níveis estratosféricos de agrotóxicos permitidos para o cultivo e o consumidor envenenado até à morte ou à incapacitação pelo coquetel mortífero de mais de 4000 componentes tóxicos da fumaça inalada por fumantes e por suas vítimas inocentes, os fumantes passivos.

Por muito menos do que isso, pessoas são presas e condenadas: os traficantes de maconha, por exemplo. Já os traficantes oficiais de tabaco matam à luz do dia e com total acobertamento de seus cúmplices governamentais. Dentro do próprio governo existe luta: de um lado os ministérios da área econômica e da agricultura, do outro lado os ministérios da saúde e do trabalho.

No Brasil, os responsáveis matam mais de 200 mil pessoas por ano. E, depois, com a maior cara deslavada, vão às missas e cultos dominicais, apresentando-se como cidadãos exemplares. Como dizia um desses imorais, presidente por muitos anos de uma das maiores multinacionais do cigarro: “A pessoa começa a fumar por que quer, então pode deixar de fumar se quiser, também.” Evidentemente o crápula não fazia menção ao fato de que seu produto mortífero causa DEPENDÊNCIA química e psicológica, como qualquer droga – uma ratoeira onde a criança e o jovem entram, mas de onde não conseguem sair depois.

E é dessa dependência, alimentando-se da agonia e da morte, que os barões do tabaco vivem e enchem seus cofres, como qualquer chefe de tráfico de morro, como qualquer Pablo Escobar. A única diferença é que os oficializados faturam muito mais bilhões e matam muito mais milhões do que seus concorrentes mantidos na ilegalidade.




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