TABACO E BRASIL – UM TIRO NO PÉ
MILTON MACIEL
Uma associação imoral – mas mortal – liga governos e agroindústria do
tabaco em todo o mundo. No Brasil não é diferente. Com a mão direita o governo
fatura, recolhendo um gigantesco montante de tributos anuais. Com a mão
esquerda, no entanto, o governo gasta – e muito mais do que arrecada – para
atender os problemas de saúde pública causados pelo tabaco. Em resumo, um tiro
no pé. Em números redondos, arrecada 10 bilhões e gasta 20 bilhões por ano.
“Esta quarta-feira (29/08/2012) é o Dia
Nacional de Combate ao Fumo, e um levantamento divulgado pela organização não
governamental ACT (Aliança do Controle do Tabagismo) chama a atenção: em 2011,
o Brasil gastou mais de R$20 bilhões para tratar doenças relacionadas ao
tabaco. O valor equivale a cerca de 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto) do país
e estima-se que corresponda ao dobro do que se arrecada com impostos sobre
cigarros.
Os dados mostraram, também, que 82% dos casos de
câncer de pulmão no Brasil são causados pelo fumo e 83% dos tumores de laringe
estão relacionados ao tabagismo.” (Dráuzio Varella)
Só a Souza Cruz,
maior indústria do ramo no país, recolheu 7,6 bilhões em impostos em 2011 e
pode exportar mais de 2 bilhões por ano em produtos do tabaco. Como há, ligadas
a agroindústria do fumo, mais de 30 mil famílias de produtores e um número
igualmente grande de pessoas envolvidas nas áreas industrial, comercial, de
transportes e de serviços, compreende-se que o fator inercial a preservar o
ramo de negócios é gigantesco.
Com o argumento
de manter empregos e atividades rurais, mais o de manter ininterrupto o fluxo
de tributos para o tesouro, o governo faz uma aliança espúria e míope com a
atividade, que é no mínimo criminosa,
uma vez que existe para produzir algo que é extremamente (e somente!) nocivo à
saúde humana e que é mortal nas duas
pontas: o produtor envenenado pelo uso de níveis estratosféricos de agrotóxicos
permitidos para o cultivo e o consumidor envenenado até à morte ou à
incapacitação pelo coquetel mortífero de mais de 4000 componentes tóxicos da
fumaça inalada por fumantes e por suas vítimas inocentes, os fumantes passivos.
Por muito menos
do que isso, pessoas são presas e condenadas: os traficantes de maconha, por
exemplo. Já os traficantes oficiais de tabaco matam à luz do dia e com total
acobertamento de seus cúmplices governamentais. Dentro do próprio governo
existe luta: de um lado os ministérios da área econômica e da agricultura, do
outro lado os ministérios da saúde e do trabalho.
No Brasil, os responsáveis
matam mais de 200 mil pessoas por ano. E, depois, com a maior cara deslavada,
vão às missas e cultos dominicais, apresentando-se como cidadãos exemplares.
Como dizia um desses imorais, presidente por muitos anos de uma das maiores multinacionais
do cigarro: “A pessoa começa a fumar por
que quer, então pode deixar de fumar
se quiser, também.” Evidentemente o crápula não fazia menção ao fato de que
seu produto mortífero causa DEPENDÊNCIA química e psicológica, como qualquer
droga – uma ratoeira onde a criança e o jovem entram, mas de onde não conseguem
sair depois.
E é dessa
dependência, alimentando-se da agonia e da morte, que os barões do tabaco vivem
e enchem seus cofres, como qualquer chefe de tráfico de morro, como qualquer
Pablo Escobar. A única diferença é que os oficializados faturam muito mais
bilhões e matam muito mais milhões do que seus concorrentes mantidos na
ilegalidade.
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