GUAÇU-MIRIM
MILTON MACIEL
Os Guaçu (= grande) eram um povo indígena de
enorme tamanho.Os homens, se fossem vistos hoje, seriam tomados por volantes de
voleibol um pouco mais crescidos. Já os Mirim (= pequeno) eram de outra ascendência
e, após séculos de intercruzamento, foram diminuindo de tamanho até se
estabilizarem na altura máxima de 1 metro e 55.
Mas vejam a ironia agora: Os Guaçu estavam
há centenas de anos estabelecidos numa curva do rio, por eles chamado de Iguaçu
(= água grande). Foi quando chegaram os primeiros Mirim e se estabeleceram do
outro lado do rio. Os Guaçu não se importaram. Tudo era grande e farto na terra
deles. Não havia como aquele grupo de nanicos afetarem o ambiente e trazerem
escassez. Deixaram-nos ficar do outro lado do rio e até lhes acenavam amistosamente.
Com o tempo a aldeia dos Mirim cresceu
bastante. De longe, parecia que as duas aldeias eram uma coisa só, apenas com o
rio, que apesar do nome não era largo coisíssima nenhuma, a passar dentro dela.
E deram para chamar o lugar de Guaçumirim (= grande-pequeno). Os habitantes dos
dois lados foram se conhecendo e se dando cada vez melhor.
Um dia, para consolidar a paz reinante
ainda mais, o chefe dos Mirim resolveu oferecer sua filha em casamento ao filho
do chefe dos Guaçu. Este, reconhecido, retribuiu da mesma forma. Também
ofereceu uma de suas filhas para casar com um filho do chefe Mirim.
E foi aí que começaram os problemas. Na dia
do casamento houve uma grande festa para todos, comemorada no lado Guaçu. Mas,
ao cair da noite, quando os casais se retiraram para as ocas reservadas para a
consumação dos casamentos, coisas estranhas aconteceram.
Da oca para onde foi a filha do chefe Mirim
com o filho do chefe Guaçu, saiu de repente um grito de pavor. Soube-se depois,
quando a indiazinha saiu correndo em disparada, se jogou no rio e nadou até sua
aldeia numa velocidade impressionante, que ela, coitadinha, tinha levado o
maior susto ao ver, pela primeira vez, o guaçú do marido. Ah não, era guaçu
demais para a sua mirimzinha, pernas pra que te quero!
Em compensação, da outra oca saiu, de
repente, a maior gargalhada. E a risada foi ficando cada vez mais alta, mais
estrepitosa, não parava nunca. Entenderam todos o que se passara quando o
indiozinho saiu com a maior cara de encabulado de dentro da oca, pulou no rio e
nadou célere para sua aldeia. É que a esposa tinha ficado passada ao ver o
mirimzinho do marido e, pensando nas proporções de sua guaçú, caiu na
gargalhada sem poder se conter ou parar.
Começou nessa noite a primeira grande
cizânia em Guaçumirim. Acabou-se a harmonia! Mas isso é assunto para contar
outra hora.
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