A LÂMPADA MÁGICA
MILTON MACIEL
Um dia encontrei
uma lâmpada mágica. Sei que é inverossímil, não peço que você acredite. Foi num
hotel em Brasília. O hóspede anterior deve ter esquecido. Ou, quem sabe,
resolveu se livrar dela, não sei.
O fato é que,
assim que entrei no apartamento 603, notei aquele estranho objeto ao lado do
telefone: uma típica lâmpada de Aladim. Não pensei duas vezes, tratei logo de
esfregá-la com uma toalha de rosto. Como de praxe, veio a fumaça, tomou conta
do quarto e dela, impressionante, emergiu o gênio.
Minha maior
surpresa foi constatar que o gênio era um conhecido senador, com vários
mandatos sucessivos. Perguntei-lhe ansioso por meus três pedidos. Só um,
respondeu ele, estavam em época de contenção nas Arábias, explicou.
Só um? Nessas
circunstâncias pedi dinheiro, é claro: Quero
ser multimilionário! E fiquei esperando pela montanha de reais. De dólares,
seria ainda mais adequado.
Mas o velho
senador me explicou que não era mais assim que as coisas funcionavam. Eu ia ter
que ganhar o dinheiro. Ia ter que ter
negócios próprios. E ele ia fazer isso tudo para mim naquele momento mesmo. Ato
contínuo, ele pegou seu telefone celular e começou a fazer ligações. Foram
muitas. Eu, atento, só a ouvir nomes: Paulo Maluf, Marcos Valério, Nicolau dos
Santos Neto, L. Estevão, Carlos Cachoeira. Gente que naquele tempo, coisa de
mais de dez anos atrás, eu praticamente não conhecia. Hoje, logicamente, são ou
foram meus parceiros de negócios. Estou rico, milionário, multimilionário. Sou
empreiteiro de obras, dos grandes, dos maiores. O gênio cumpriu sua missão. E
eu cumpro a minha palavra com ele, de não revelar jamais quem ele é. Só posso
garantir que ele vai ter muitos mandatos mais pela frente, afinal os gênios são
imortais.
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