sábado, 25 de agosto de 2012


A LÂMPADA MÁGICA
MILTON MACIEL


Um dia encontrei uma lâmpada mágica. Sei que é inverossímil, não peço que você acredite. Foi num hotel em Brasília. O hóspede anterior deve ter esquecido. Ou, quem sabe, resolveu se livrar dela, não sei.

O fato é que, assim que entrei no apartamento 603, notei aquele estranho objeto ao lado do telefone: uma típica lâmpada de Aladim. Não pensei duas vezes, tratei logo de esfregá-la com uma toalha de rosto. Como de praxe, veio a fumaça, tomou conta do quarto e dela, impressionante, emergiu o gênio. 

Minha maior surpresa foi constatar que o gênio era um conhecido senador, com vários mandatos sucessivos. Perguntei-lhe ansioso por meus três pedidos. Só um, respondeu ele, estavam em época de contenção nas Arábias, explicou.

Só um? Nessas circunstâncias pedi dinheiro, é claro: Quero ser multimilionário! E fiquei esperando pela montanha de reais. De dólares, seria ainda mais adequado.

Mas o velho senador me explicou que não era mais assim que as coisas funcionavam. Eu ia ter que ganhar o dinheiro. Ia ter que ter negócios próprios. E ele ia fazer isso tudo para mim naquele momento mesmo. Ato contínuo, ele pegou seu telefone celular e começou a fazer ligações. Foram muitas. Eu, atento, só a ouvir nomes: Paulo Maluf, Marcos Valério, Nicolau dos Santos Neto, L. Estevão, Carlos Cachoeira. Gente que naquele tempo, coisa de mais de dez anos atrás, eu praticamente não conhecia. Hoje, logicamente, são ou foram meus parceiros de negócios. Estou rico, milionário, multimilionário. Sou empreiteiro de obras, dos grandes, dos maiores. O gênio cumpriu sua missão. E eu cumpro a minha palavra com ele, de não revelar jamais quem ele é. Só posso garantir que ele vai ter muitos mandatos mais pela frente, afinal os gênios são imortais.

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