QUEM NOS HÁ DE LER?
MILTON MACIEL
Internet. E-mails,
Google. Redes sociais. Internetês.
Comunicação massificada, difusão ultra-democrática do conhecimento. Maravilhas!
Contudo,
acompanhando a evolução da linguagem praticada através das infovias, há que se
ter um pouco de preocupação também. Por um lado se enriquece a língua
portuguesa com centenas e centenas de neologismos. Por outro lado, se empobrece
o idioma à medida que as crianças e os jovens, ao se acostumarem à essa que vai
ser a nova linguagem – irreversivelmente,
creio eu – se desacostumam da riqueza vocabular do nosso idioma, tão ciosamente
preservada ao longo de séculos por nossa literatura e pelo esforçado ensino do Português
em nossas escolas.
Tenho tido muita
proximidade com professores e estudantes de nível básico e médio, numa parte do
Brasil tida como bem aculturada: o Sul. E o que constamos, eles e eu, é que o
hábito da leitura, tal qual o conhecemos por centenas de gerações, está mudando
rápida e drasticamente. A leitura de livros se tornou mais e mais
desinteressante para estas novas gerações. Elas migraram para a Internet, onde
passam muitas horas do dia, justamente aquelas de que dispõem quando não estão
assistindo televisão. Ou seja, estão sempre em frente a um ou outro tipo de
tela, o que eu apelidei de TELA-educação.
Com seu batalhão
de tablets, smart phones, netbooks e notebooks – tornados cada vez mais
acessíveis a quase todos, em casa e na escola, (e isso é bom!) – os jovens,
cada vez mais conectados à Internet e interligados pelas redes sociais, tendem
a ler somente os livros que lhes são exigidos, impostos mesmo, pelos
professores.
Precisamos estar
à altura de reconhecer este fenômeno e abordá-lo de uma forma criativa, para
tentar aprender com ele e descobrir como corrigir facetas eventualmente
negativas; e investir no inegável potencial positivo que ele encerra.
Esse movimento,
esta rápida transição, é de fato irreversível. Não podemos observá-lo com
saudosismo ou pessimismo somente. Essas crianças e adolescentes, esses jovens
adultos também, são os leitores de hoje e de amanhã. E eles estão maciçamente
na Internet hoje.
Então é na
Internet que nós devemos IR DE ENCONTRO a eles. É nos computadores, grandes ou
pequenos (como os telefones inteligentes) que nós temos que nos comunicar com
eles. Há toda uma nova linguagem a aprender e a desenvolver. O esforço deve ser
nosso, enquanto educadores. Nós não vamos mais conseguir impor os mesmos
valores e metodologias que serviram de esteio à nossa geração e às dos nossos
pais e avós.
Lembro-me que, na
terceira série do primeiro grau, eu costumava inventar mil pretextos para sair
da aula e me enfiar, muitas vezes escondido, na biblioteca da escola. Ensinaram-me
a ler muito cedo e ensinaram-me a ler livros. Eu ansiava por eles, queria ler
todos os livros da biblioteca ao mesmo tempo! E essa era a única biblioteca a
que eu tinha acesso com aquela idade.
Mas hoje tudo é
muito diferente. Para todos, inclusive as crianças, existe a Internet e existem
os buscadores como o Google. Bibliotecas inteiras podem ser arquivadas em
telefones celulares. Porque, felizmente, agora existe o e-book.
Contudo, o que me
preocupa é o tipo de leitor que nós,
educadores e escritores, vamos encontrar nesse futuro que já está chegando.
Qual vai ser o universo cultural desse novo leitor médio? Ainda temos gerações
que passaram pelos bancos escolares e aprenderam a ler livros. Mas estas
gerações serão – e já estão sendo – inevitavelmente substituídas pelas novas
gerações de REDE-LEITORES (netreaders),
um pessoal que só lê em telas de dispositivos eletrônicos.
E, mesmo que eles
leiam o que publicamos na rede, como textos avulsos ou como e-books, que
LINGUAGEM usaremos? Vamos ter, por exemplo, que baixar o nível vocabular e
semântico de nossa comunicação para nos adaptarmos a um universo de crescente
empobrecimento do vernáculo e, paradoxalmente, a seu crescente enriquecimento
com neologismos incorporados às centenas celeremente, a maior parte meras
adaptações de termos técnicos novos ou apenas anglicismos inevitáveis – em
grande número e, pelo geral, de forma sintetizada ou abreviada.
Como escritor e
como educador, preocupa-me o perfil do meu leitor daqui para a frente. Por enquanto ainda tenho leitores da – digamos
– ‘velha guarda’. Só que essa ‘velha guarda’ tem todas as idades, inclusive
gente bem jovem, pois esses foram os que aprenderam desde cedo a ler e a amar
livros, os bons e velhos livros de papel, que constituíram sempre o nosso
universo de leitura.
Mas os tempos
mudaram. Muitas das pessoas que, pouco tempo atrás, você veria nas ruas e
parques com livros nas mãos, hoje você encontra é às voltas com tablets e
celulares, lendo também. Mas lendo o que? E em que linguagem?
Grande parte está
lendo e-mails, lendo e mandando mensagem de texto, vidradas em Facebooks ou
Orkuts. Até mesmo ao atravessar ruas ou ao dirigir carros! Sim, essa pessoas
estão lendo. Mas... o que? E, quando estão em casa? E quando querem ler por
puro prazer, qual será a sua leitura?
Aí está o grande
desafio que se apresenta a todos nós como escritores, educadores e como mães e
pais esclarecidos e responsáveis. Há uma revolução em curso. Isso é inegável.
Isso não é mais futuro, já é presente. E a pergunta que se impõe é:
COMO VAMOS
ENSINAR NOSSAS CRIANÇAS A LER NESTES NOVOS TEMPOS?
Vai ter que ser
valorizando o livro de papel, mas, em grande parte, terá que ser também pelas
infovias, onde o pessoal da ‘velha guarda’ da leitura (insisto: que tem hoje de
6 a 90 anos de idade), está trocando rapidamente o livro impresso pelo e-book.
Mas pouco importa
se é impresso ou e-book: é LIVRO! E como vamos conseguir que esta nova forma de
leitor, de ciber-leitor, de rede-leitor, se interesse por ler LIVROS? Esse é o
desafio em si. Ou será que é o próprio conceito de LIVRO que vai mudar, engolido
pela nova realidade?
Para citar apenas
um exemplo, num dos livros que estou escrevendo no momento como ghost-writer, para um cliente de área
técnica, estou incorporando quadros e imagens coloridas fantásticos,
fotografias (policromias que inviabilizariam um livro impresso, certamente),
ANIMAÇÕES flash e VÍDEOS. Além disso, há links no livro que levam ao website do meu cliente, para aprofundar
o diálogo com o leitor e criar vínculos comerciais potenciais. E, nas
referências bibliográficas, grande parte da lista é formada por links ativos,
que levam o leitor diretamente para os artigos publicados ali referidos. Claro,
isso na versão E-BOOK. Mas... que livro é esse? Sim, sem sombra de dúvida, um
NOVO LIVRO, um livro vivo e interativo e que, para completar, vai ser
atualizado MENSALMENTE. Ou seja, a tal da nova edição, revista e ampliada,
torna-se simplesmente automática.
Mas, deixando de
lado esse caso em particular, e pensando em todo tipo de literatura e livro,
não-ficção e ficção, volto à pergunta do título:
QUEM NOS HÁ DE
LER?... E... Como vamos escrever para eles?
(MM)
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