sexta-feira, 31 de agosto de 2012


ERA UMA NOITE DE INFINDÁVEIS VERSOS

MILTON  MACIEL

Era uma noite de infindáveis versos.
Tudo pulsava - da Terra ao Infinito.
Crescente-cheia a Lua resvalava
Pelo azul-negro, qual ardente lava,
Fazendo o céu ainda mais bonito.
Pelo ar, aromas suaves e dispersos...

Era uma noite de infinita espera,
De suaves luzes, morna calmaria.
Ante as estrelas, nuvens deslizavam
Em ralos tufos que se desmanchavam
Sob a galáxia, que tremeluzia
Aos sons furtivos de uma outra Era...

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

UMA QUESTÃO DE ESCALA  
MILTON  MACIEL  



TABACO E BRASIL – UM TIRO NO PÉ
MILTON MACIEL

Uma associação imoral – mas mortal – liga governos e agroindústria do tabaco em todo o mundo. No Brasil não é diferente. Com a mão direita o governo fatura, recolhendo um gigantesco montante de tributos anuais. Com a mão esquerda, no entanto, o governo gasta – e muito mais do que arrecada – para atender os problemas de saúde pública causados pelo tabaco. Em resumo, um tiro no pé. Em números redondos, arrecada 10 bilhões e gasta 20 bilhões por ano.

Esta quarta-feira (29/08/2012) é o Dia Nacional de Combate ao Fumo, e um levantamento divulgado pela organização não governamental ACT (Aliança do Controle do Tabagismo) chama a atenção: em 2011, o Brasil gastou mais de R$20 bilhões para tratar doenças relacionadas ao tabaco. O valor equivale a cerca de 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto) do país e estima-se que corresponda ao dobro do que se arrecada com impostos sobre cigarros.
Os dados mostraram, também, que 82% dos casos de câncer de pulmão no Brasil são causados pelo fumo e 83% dos tumores de laringe estão relacionados ao tabagismo.” (Dráuzio Varella)

Só a Souza Cruz, maior indústria do ramo no país, recolheu 7,6 bilhões em impostos em 2011 e pode exportar mais de 2 bilhões por ano em produtos do tabaco. Como há, ligadas a agroindústria do fumo, mais de 30 mil famílias de produtores e um número igualmente grande de pessoas envolvidas nas áreas industrial, comercial, de transportes e de serviços, compreende-se que o fator inercial a preservar o ramo de negócios é gigantesco. 

Com o argumento de manter empregos e atividades rurais, mais o de manter ininterrupto o fluxo de tributos para o tesouro, o governo faz uma aliança espúria e míope com a atividade, que é no mínimo criminosa, uma vez que existe para produzir algo que é extremamente (e somente!) nocivo à saúde humana e que é mortal nas duas pontas: o produtor envenenado pelo uso de níveis estratosféricos de agrotóxicos permitidos para o cultivo e o consumidor envenenado até à morte ou à incapacitação pelo coquetel mortífero de mais de 4000 componentes tóxicos da fumaça inalada por fumantes e por suas vítimas inocentes, os fumantes passivos.

Por muito menos do que isso, pessoas são presas e condenadas: os traficantes de maconha, por exemplo. Já os traficantes oficiais de tabaco matam à luz do dia e com total acobertamento de seus cúmplices governamentais. Dentro do próprio governo existe luta: de um lado os ministérios da área econômica e da agricultura, do outro lado os ministérios da saúde e do trabalho.

No Brasil, os responsáveis matam mais de 200 mil pessoas por ano. E, depois, com a maior cara deslavada, vão às missas e cultos dominicais, apresentando-se como cidadãos exemplares. Como dizia um desses imorais, presidente por muitos anos de uma das maiores multinacionais do cigarro: “A pessoa começa a fumar por que quer, então pode deixar de fumar se quiser, também.” Evidentemente o crápula não fazia menção ao fato de que seu produto mortífero causa DEPENDÊNCIA química e psicológica, como qualquer droga – uma ratoeira onde a criança e o jovem entram, mas de onde não conseguem sair depois.

E é dessa dependência, alimentando-se da agonia e da morte, que os barões do tabaco vivem e enchem seus cofres, como qualquer chefe de tráfico de morro, como qualquer Pablo Escobar. A única diferença é que os oficializados faturam muito mais bilhões e matam muito mais milhões do que seus concorrentes mantidos na ilegalidade.




segunda-feira, 27 de agosto de 2012


FOFOCA, MALEDICÊNCIA 
MILTON  MACIEL

Outra fofoca chegando ao seu ouvido curioso?
Não fique mais nessa roda, caia fora desse papo.
Cale-se, fecha a matraca, segure a língua de trapo!
Não seja outro a engrossar esse círculo vicioso.

Quando a boca venenosa solta a língua viperina,
Olhe a víbora nos olhos e pergunte calmamente:
Você viu? Estava lá? Não pode ser que alguém mente?
Tem certeza? Testemunhas? Ou só destila... toxina?

E de sua parte interrompa essa corrente infernal.
No seu ouvido ela morre, por sua boca ela não sai.                                       
Pois, se sair, ela volta e sobre quem que recai?
Sobre você, certamente: de VOCÊ vão falar mal.

Não aceite ser um elo a mais nessa vil corrente.
Em você ela termina: fofoca não vai em frente!
Pois Alguém já ensinou que mesmo onde o erro medra,
“Só quem está sem pecado que atire a primeira pedra.”
Foto: Beautiful Art

domingo, 26 de agosto de 2012


O RADIOGONIOMETRISTA  HEMIPRISMÁTICO  
MILTON  MACIEL

Era um radiogoniometrista dos menos importantes. Nunca chegara a ser um grande profissional e, ao que tudo indicava, nunca chegaria. No hemiprismático, então, aí mesmo é que fracassava volta e meia em suas medidas. Apenas de uma coisa teve sempre muito orgulho na vida: do seu título profissional. Falava de boca cheia: Eu sou radiogoniometrista!

Inchava de orgulho quando preenchia a ficha de check in em hotéis e podia escrever: Profissão... Radiogoniometrista. Olhava com ares de superioridade para os funcionários do hotel, pois é lógico que eles ficavam impressionadíssimos, os babacas, ao se verem frente e frente com um radiogoniometrista.

Seu cartão de visitas tinha apenas seu nome em letras pequenas e o título, logo abaixo, em letras versais, negrito e itálico, enormes: João Alves – Radiogoniometrista Hemiprismático. De lamento na vida apenas o fato de nunca ter casado. Não porque sentisse falta de amor ou companheira. Quanto a isso, era indiferente. Mas lamentava o fato de não ter podido ter crianças, para que eles pudessem falar com orgulho que eram filhos e filhas de um radiogoniometrista.

Nunca quis se aposentar, para não deixar o exercício ativo de sua notável profissão. Trabalhou, assim, até o último dia de sua vida, que se extinguiu quando ele estava fazendo mais uma medida e ficou muito contrariado com o erro sistemático acumulado.
Deixou instruções específicas: enterro simples, lápide suntuosa: “Seja aqui lembrado João Alves – Rádiogoniometrista Hemiprismático”.

Apenas de uma coisa esqueceu-se o João: de nos explicar que raio de profissão era essa e que diabos fazia um radiogoniometrista hemiprismático. Sinto dizer que, por causa dessa distração dele, eu não sei até hoje que porcaria é isso afinal. E peço desculpa aos leitores que devem estar tão curiosos como eu. Como as definições de dicionários e de Internet são dúbias, sugiro aos amigos que procurem conhecer pessoalmente outro radiogoniometrista hemiprismático e se informem com ele que diabos de coisa ele faz para ganhar a vida.

Ah, e assim que o conseguirem, por favor, mandem um e-mail me contando o que é essa coisa afinal. Ficarei eternamente agradecido.

sábado, 25 de agosto de 2012


A LÂMPADA MÁGICA
MILTON MACIEL


Um dia encontrei uma lâmpada mágica. Sei que é inverossímil, não peço que você acredite. Foi num hotel em Brasília. O hóspede anterior deve ter esquecido. Ou, quem sabe, resolveu se livrar dela, não sei.

O fato é que, assim que entrei no apartamento 603, notei aquele estranho objeto ao lado do telefone: uma típica lâmpada de Aladim. Não pensei duas vezes, tratei logo de esfregá-la com uma toalha de rosto. Como de praxe, veio a fumaça, tomou conta do quarto e dela, impressionante, emergiu o gênio. 

Minha maior surpresa foi constatar que o gênio era um conhecido senador, com vários mandatos sucessivos. Perguntei-lhe ansioso por meus três pedidos. Só um, respondeu ele, estavam em época de contenção nas Arábias, explicou.

Só um? Nessas circunstâncias pedi dinheiro, é claro: Quero ser multimilionário! E fiquei esperando pela montanha de reais. De dólares, seria ainda mais adequado.

Mas o velho senador me explicou que não era mais assim que as coisas funcionavam. Eu ia ter que ganhar o dinheiro. Ia ter que ter negócios próprios. E ele ia fazer isso tudo para mim naquele momento mesmo. Ato contínuo, ele pegou seu telefone celular e começou a fazer ligações. Foram muitas. Eu, atento, só a ouvir nomes: Paulo Maluf, Marcos Valério, Nicolau dos Santos Neto, L. Estevão, Carlos Cachoeira. Gente que naquele tempo, coisa de mais de dez anos atrás, eu praticamente não conhecia. Hoje, logicamente, são ou foram meus parceiros de negócios. Estou rico, milionário, multimilionário. Sou empreiteiro de obras, dos grandes, dos maiores. O gênio cumpriu sua missão. E eu cumpro a minha palavra com ele, de não revelar jamais quem ele é. Só posso garantir que ele vai ter muitos mandatos mais pela frente, afinal os gênios são imortais.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012


PARA VIVER UM GRANDE AMOR  
MILTON  MACIEL 

Mestres, Vinicius e Drummond mostraram
Sua fórmula Para Viver Um Grande Amor.
Agora é minha vez de dar, cooperador,
A fórmula que os anos me ensinaram.

(Elementar demais esta fórmula minha,
Complicação alguma nela se adivinha!).

Meu caso foi ter tido a sorte extrema
De receber, de Deus, graça suprema:
Basta encontrar na vida uma fadinha
E que essa fada se chame Terezinha. (MM)



PARA VIVER UM GRANDE AMOR     
Carlos Drummond de Andrade   


Para viver um grande amor
É preciso abrir todas as portas que fecham o coração.
Quebrar barreiras construídas ao longo do tempo,
Por amores do passado que foram em vão.

É preciso muita renúncia em ser e mudança no pensar.
É preciso não esquecer que ninguém vem perfeito para nós!
É preciso ver o outro com os olhos da alma e se deixar cativar!
É preciso renunciar ao que não agrada ao seu amor...

Para que se moldem um ao outro como se molda uma escultura,
Aparando as arestas que podem machucar.
É como lapidar um diamante bruto...para fazê-lo brilhar!

E quando decidir que chegou a sua hora de amar,
Lembre-se que é preciso haver identificação de almas!
De gostos, de gestos, de pele...
No modo de sentir e de pensar!

É preciso ver a luz iluminar a aura,
Dando uma chance para que o amor te encontre
Na suavidade morna de uma noite calma...
É preciso se entregar de corpo e alma!

É preciso ter dentro do coração um sonho
Que se acalenta no desejo de: amar e ser amada!
É preciso conhecer no outro o ser tão procurado!
É preciso conquistar e se deixar seduzir...

Entrar no jogo da sedução e deixar fluir!
Amar com emoção para se saber sentir
A sensação do momento em que o amor te devora!

E quando você estiver vivendo no clímax dessa paixão,
Que sinta que essa foi a melhor de suas escolhas!
Que foi seu grande desafio... e o passo mais acertado
De todos os caminhos de sua vida trilhados!

Mas se assim não for...
Que nunca te arrependas pelo amor dado!
Faz parte da vida arriscar-se por um sonho...
Porque se não fosse assim, nunca teríamos sonhado!

Mas, antes de tudo, que você saiba que tem aliado.
Ele se chama TEMPO... seu melhor amigo.
Só ele pode dar todas as certezas do amanhã...

A certeza que... realmente você amou.
A certeza que... realmente você foi amada.



PARA VIVER UM GRANDE AMOR  
VINICIUS DE MORAES  


Para viver um grande amor, preciso/ é muita concentração e muito siso,/ muita seriedade e pouco riso/ - para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, mistér/ é ser um homem de uma só mulher;/ pois ser de muitas, poxa! é de colher.../ - não tem nenhum valor.

Para viver um grande amor, primeiro/ é preciso sagrar-se cavalheiro/ e ser de sua dama por inteiro/ - seja lá como for.

Há que fazer do corpo uma morada/ onde clausure-se a mulher amada/ e postar-se de fora com uma espada/ - para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, vos digo,/ é preciso atenção como o "velho amigo",/ que, porque é só, vos quer sempre consigo/ para iludir o grande amor.

É preciso muitíssimo cuidado/ com quem quer que não esteja apaixonado,/ pois quem não está, está sempre preparado/ pra chatear o grande amor.

Para viver um grande amor, na realidade,/ há que compenetrar-se da verdade/ de que não existe amor sem fieldade/ - para viver um grande amor.

Pois quem trai seu amor por vanidade/ é um desconhecedor da liberdade,/ dessa imensa, indizível liberdade/ que traz um só amor.

Para viver um grande amor, il faut/ além de fiel, ser bem conhecedor/ de arte culinária e de judô/ - para viver um grande amor.

Para viver um grande amor perfeito,/ não basta ser apenas bom sujeito;/ é preciso também ter muito peito/ - peito de remador.

É preciso olhar sempre a bem-amada/ como a sua primeira namorada/ e sua viúva também,/ amortalhada no seu finado amor.

É muito necessário ter em vista/ um crédito de rosas no florista/ - muito mais, muito mais que na modista!/ - para aprazer ao grande amor.

Pois do que o grande amor quer saber mesmo,/ é de amor, é de amor, de amor a esmo;/ depois, um tutuzinho com torresmo/ conta ponto a favor...

Conta ponto saber fazer coisinhas:/ ovos mexidos, camarões, sopinhas,/ molhos, strogonoffs – comidinhas/ para depois do amor.

E o que há de melhor que ir pra cozinha/ e preparar com amor uma galinha/ com uma rica e gostosa farofinha,/ para o seu grande amor?

Para viver um grande amor é muito,/ muito importante viver sempre junto/ e até ser, se possível, um só defunto/ - pra não morrer de dor.

É preciso um cuidado permanente/ não só com o corpo mas também com a mente,/ pois qualquer "baixo" seu, a amada sente/ - e esfria um pouco o amor.

Há que ser bem cortês sem cortesia;/ doce e conciliador sem covardia;/ saber ganhar dinheiro com poesia/ - para viver um grande amor.

É preciso saber tomar uísque/ (com o mau bebedor nunca se arrisque!)/ e ser impermeável ao diz-que-diz-que/ - que não quer nada com o amor.

Mas tudo isso não adianta nada,/ se nesta selva oscura e desvairada/ não se souber achar a bem-amada/ - para viver um grande amor.

il faut = é preciso (francês, pronuncia-se IL FÔ) 
fieldade – fidelidade
vanidade = vaidade
oscura = escura

UM BLOG DE ANIVERSÁRIO  2   
Você é convidado para a nossa festa e para uma fatia do nosso bolo!
MILTON MACIEL


Hoje estamos comemorando dois meses de atividade: nosso blog deu-se à luz em 24 de Junho deste ano. E nasceu com essa mania de ser festeiro, de comemorar datas e pessoas. Muito provavelmente porque parido foi em plenos festejos juninos de São João – que acendeu uma fogueira no seu coração. Um inequívoco oportunista, pois surgiu já com padroeiro próprio e festejos por todo o país e pelo mundo.

Desde então, nesses dois meses, fizemos 105 postagens (está aqui não incluída) e tivemos, até este exato momento, manhã de sexta-feira, 24/08, 2 824 acessos de leitores. Nestes acessos, além de leitores no Brasil, tivemos outros em vários países: Rússia (246), Alemanha (122), Estados Unidos (100), França (18), Portugal (10), Canadá (2) e Emirados Árabes Unidos, Polônia e Letônia (1 acesso cada um). Bom sinal. Principalmente de que brasucas, portugas, angolas, moçambas e outros que tais estão espalhados por todo este mundo de Deus, numa verdadeira diáspora de fala lusófona.  

Proporcionalmente, parece que o lusófono expatriado é mais carente de leituras que o ajudem a manter sua conexão às raízes, o que, para mim, constitui um estímulo a mais para continuar a escrever, produzir quadros e postar continuamente.

Quero expressar aqui minha enorme gratidão a todos os nossos leitores e leitoras, principalmente pelo trabalho de formiguinhas amigas que têm feito, recomendando o nosso Blog a seus conhecidos através de suas listas de e-mails e para seus amigos de redes sociais. Como retribuição, neste dia de festa, ofereço a cada um uma fatia do bolo aqui mostrado, na forma das postagens a seguir, em que grandes nomes da nossa literatura falam sobre o que é necessário PARA VIVER UM GRANDE AMOR.

O blog, como toda criança pequena, ainda tem muito o que aprender. Está começando a se organizar, a elaborar Menus de CATEGORIAS e LISTAS de Títulos, para facilitar a escolha para quem se interessa por postagens ou assuntos específicos. No topo da página estão agora as Categorias. Se o seu interesse maior é por poesia, por exemplo, basta clicar, no alto da página, na categoria Poesia (42) e só aparecerão na janela de leitura à esquerda as matérias postadas como poesia, 42 até hoje. Se chegar ao pé da página, clique em postagens mais antigas e continuará tendo acesso a mais matérias.

Nas Listas, logo abaixo das Categorias, começam a aparecer títulos específicos. Em Humor, por exemplo, você pode clicar em uma qualquer das muitas postagens e ela, somente ela, irá aparecer na janela de leitura: “Evilásio na Praia”, Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau Revisitados”, etc.

Muito obrigado e feliz aniversário para todos nós, que somos, leitores e autor, os donos do Blog – por isso mesmo, muito apropriadamente, sempre chamado de NOSSO Blog. (MM)

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

AMANHÃ FESTA DE ANIVERSÁRIO!
MILTON MACIEL
Nosso BLOG completa 2 MESES de vida em 24/08. 
Que nossas amigas e amigos nos acompanhem amanhã e aguardem postagens especiais.

Hoje reproduzimos um comentário de uma gentil leitora do Brasil, com sua autorização. Por sinal que ela sabe escrever muito bem e deveria pensar seriamente em implementar seu próprio blog.

“Sobre seu blog:
Alimento de cada dia este, que me mantém curiosa, surpresa, emocionada... Que me deixa alegre, na maioria das vezes; ou encantada, saudosa... Que me faz reviver filmes, canções, amores, momentos especiais. Que modifica o meu com o seu humor. É ginástica facial! Traz o ontem para o hoje e transporta o hoje numa nave para o futuro. Liga o presente ao passado ou será o contrário? No outono ele surgiu: nada aborrecido, boreal, mas sim inteiramente austral. Com ele, noites mais longas. Que delícia! E também mais cores no céu, no chão... Além disso tudo, extremamente afrodisíaco. Ceres que o diga: Plantação, colheita, comida, nascimento, sexo e morte, mistério e ministério. Afinal, de onde ele vem?”

Ana Cláudia Kinas
21/08/2012

Foto: Andrew Cooney


HOMENAGEM A NELSON RODRIGUES
Centenário do nascimento

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

terça-feira, 21 de agosto de 2012

ESCADA DA VIDA  
MILTON MACIEL  
  


O ABATE DE CANGURUS NA AUSTRÁLIA  E A ADIDAS
MILTON  MACIEL

Várias postagens no Facebook dizem textualmente “A Adidas está matando milhares de cangurus na Austrália para fazer sapatos”. Isso é incorreto.

(Para se entender o que aqui se diz, é necessário ler até o fim, sem preguiça, e chegar aos valores numéricos lá expostos).

Longe de mim defender a ADIDAS – que não tem minha simpatia por outras razões – do que quer que seja, mas a realidade é bem diferente. Quem originou essa matéria, que vem sendo repostada nas redes sociais, sem maiores análises críticas, por pessoas sensíveis e de boa vontade, não tem conhecimento suficiente sobre a Austrália e sua economia. E não conhece bem economia agrícola, minha aérea, de um modo geral. Ou tem outras razões para fazer o que fez, sabe-se lá!  

Existe na Austrália uma INDÚSTRIA DO CANGURU, assim como existe do gado bovino e do ovino.

   Aceito que pessoas sejam contra a matança de cangurus para fins de aproveitamento humano. Mas antes vamos olhar os pezinhos delas, suas bolsas e malas, suas despensas e geladeiras. Aqui no Brasil, por exemplo, onde criamos um bovino para cada ser humano (somos os maiores exportadores mundiais de carne bovina), temos, em consequência dos abates internos, um gigantesca industria do couro e uma correspondentemente grande indústria calçadista. (Veja os números no final, não deixe de fazê-lo)

 Aqui também matamos cabras, ovelhas, porcos, peixes, jegues, tartarugas, coelhos, capivaras, codornas, faisões e muitas, muitas galinhas e frangos. BILHÕES DELES! Sim, eu disse BILHÕES, não foi erro de digitação.

Atenção quem está reclamando da matança dos cangurus: Você usa sapato de couro, tênis com aplique de couro, banco de carro de couro, usa bolsa de couro, come carne de boi, de frango e de outros animais? Come ovos e consome laticínios? Se a resposta é SIM, perdeu a moral para falar dos australianos. Agora, se é vegano roxo (e deixo claro que eu não sou), aí pode falar, na moral!

Agora a VERDADE sobre a INDÚSTRIA do canguru na Austrália:

A população desses animais vem sendo mantida constante, nos últimos 25 anos, ao redor da média de 25 milhões de animais (o país tem também 27 milhões de bovinos, um quase nada perto do que nós temos aqui no Brasil). Não há risco de extinção dos cangurus. A matança autorizada A EMPRESAS E PESSOAS ESPECIALIZADAS e controlada pelo governo é de 8% da população de cangurus por ano - 2 milhões dos 25 milhões de animais, as pequenas variações anuais ocorrendo mais em função das secas.

Ora, havendo o abate desses 2 milhões, existirão dois milhões de COUROS, que serão curtidos e industrializados (são couros pequenos, quando comparados com os de boi). O que a Adidas e os demais fabricantes de calçados fazem é só aproveitar esses couros disponíveis na indústria local do canguru. Aqui no Brasil, as fábricas fazem o mesmo com couro de boi, de jacaré e até de peixe.

Portanto, NÃO É VERDADE, QUE UMA FÁBRICA DE CALÇADOS MATE CANGURUS. E uma só fábrica, ainda por cima! Seria como afirmar, aqui no Brasil, que a SAMELLO ou uma única outra fabricante de calçados, de Franca ou de Novo Hamburgo, mata bois para fazer sapatos. Ridículo.

O que pega aqui no Brasil e na Europa, é que o canguru é um bichinho fofinho que a gente só conhece de zoológico e de filme infantil. Mas para os australianos a realidade é totalmente diferente. Os cangurus se reproduzem em liberdade, como animais silvestres e com tanta prolificidade, que é feito um controle populacional pelo abate calculado de menos de 10% da população total por ano. No Brasil começa a se ver isso no Rio Grande do Sul, onde já vem sendo autorizados pelo IBAMA  abates de um grande número de javalis e porcos selvagens que, oriundos do Uruguai, reproduzem-se com tal facilidade que se tornaram uma séria ameaça a lavouras e a seres humanos, pela sua extrema agressividade.

Para os australianos, é essa caça controlada ao canguru que gera a indústria correspondente, com toda a sua cadeia de produtos, subprodutos e empregos diretos e indiretos. São dois milhões de animais, cuja carne é apreciada e consumida pelos australianos; e dois milhões de couros que são industrializados a aproveitados, pela indústria calçadista inclusive, pela Adidas inclusive.

Podemos morrer de dó do canguru abatido, do filhote que pode morrer à míngua. Mas porque não morrer de dó do bezerrinho que, meses depois, você estraçalha nos dentes na forma de picanha e costela na sua churrascaria favorita? E que dizer do seu filé, sua lingüiça, seu queijinho prato, seu ovo frito? E do bezerrinho desnutrido na marra para virar VITELA?

 Todo abate é, sem dúvida, um ato de crueldade contra o animal. Mas só tem moral para falar isso de boca cheia (desculpe o trocadilho) o VEGANO. Desde que, coerentemente, não use nada de couro também.

Você está falando mal da Adidas e dos australianos? Os australianos matam 2 milhões de cangurus por ano, esses malvados. Pois então deixe eu lhe dar os números do Brasil, referentes ao ano de 2010:

ABATE TOTAL  (IBGE, Nov. 2011)

BOVINOS – 30 milhões de animais 
PORCOS -    33 milhões de animais
FRANGOS -   5 BILHÕES de animais

E mais:
COUROS – 35 milhões de unidades
LEITE – 22 BILHÕES de litros
OVOS -   2,5 BILHÕES  de dúzias

CANGURUS – 2 milhões de animais (Ah, esses bandidos australianos! São uns desumanos, não são bonzinhos como nós, os suaves e gentis brasucas, que não sacrificamos os nossos animaizinhos para comer, usufruir e exportar, que não formamos entre os maiores gigolôs de bicharada deste mundo!).

E olhe que alguém pode começar, no Facebook da Austrália, uma proposta de boicote aos calçados e tênis feitos no Brasil, por extrema crueldade contra os nossos animaizinhos. Afinal, só em bovinos, matamos quinze para cada canguru deles. E bois de 15 arrobas ou mais, nada comparáveis aos coitados dos cangurus, pequenos e magrelos.

domingo, 19 de agosto de 2012


AURÉLIO NÃO TEM BUCETA (que não é palavrão!)
MILTON  MACIEL

Que Aurélio não tenha buceta pode parecer óbvio, pensarão muitos, por tratar-se, evidentemente de um homem. Mas não é a qualquer Aurélio que quero me referir aqui. É ao Buarque de Hollanda, o Pai dos Burros, o dicionário Aurélio. Esse Aurélio não tem  buceta porque a grafia correta, em idioma português, é boceta – com O.

Nós é que temos o costume de, ao falarmos, trocar muitas vezes o o pelo u, mormente se o coitado do o é a última letra: ensino vira ensinu, caderno vira cadernu, e assim por diante. Da mesma forma, bochecha vira buchecha, boceta vira buceta e por aí vai. Logar virou oficialmente lugar, inclusive. Com o tempo, o mesmo vai acontecer com a dita cuja.

Então fica comprovada minha primeira afirmação: Aurélio não tem buceta.

Vamos agora à segunda: Buceta não é palavrão; Aliás, também não é nome feio. Senão vejamos:

Para mim palavrão e anticonstitucionalissimamente, é oftalmotorrinolaringologista ou, pior ainda, a maior de todas as palavras registradas em dicionário de português (Houaiss) até hoje, a maior palavra de nosso idioma, um termo técnico com 46 letras, que descreve o portador de um tipo de silicose: 

pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico.

Pois o pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico é um coitado que desenvolveu uma silicose por inalar repetidamente fumaça com cinzas de vulcão. Vai ver cansou de cheirar pó, não fazia mais efeito.

Ora, convenhamos que pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico é mesmo um palavrão! Lembra até um daqueles enormes vocábulos que, em todo o planeta Terra, só podem existir em idioma Alemão – vocábulos que, para serem pronunciados até o fim, exigem que o pobre mortal tenha que parar para tomar fôlego pelo menos umas quatro vezes, se não quiser cair duro, roxo, cianótico ou, quiçá, até mesmo para-vulcanoconiótico.

Boceta é palavrinha, é pequena e é delicada, com 6 letrinhas, não tem a nada a ver com o gigantismo de um oftalmotorrinolaringologista, de pantagruélicas 28 letras, um inegável, um ineludível palavrão.

Por outro lado, o machismo dominante de nossa cultura pespegou-nos a peça de que boceta é nome feio. Discordo. Para mim nome feio é Valdicrêisson, Anderssocreitão, Um-Dois-Três-de-Oliveira-Quatro, Hermenengarda Filisbinda, até mesmo o inocente nissei T. Oku Kaganawara.

Já boceta é linda.  Tanto como inocente palavra, não afetada pelos machismos e falsos-moralismos da cultura hipócrita, quanto na sua estética exterior da parte física feminina, mormente quando envolvida por seus naturais pelos, capazes de esconder eventuais excessos. Aí ela é o Delta de Vênus e seu inconfundível formato de escuro triângulo tem inspirado os artistas pelos séculos sem fim.

Ora, é fundamento da Filosofia, na Estética, que “belo é aquilo que se deseja”. Pois se mais de 3 em cada 4 homens e mais de 1 em cada 4 mulheres passam a vida inteira atrás de um (ou vários!) Deltas de Vênus, como conceber que ele não seja lindo, se é assim tão desejado?

Boceta etimologicamente parece provir de bouceta, uma pequena bolsa ou caixa. Ou seja, é uma bolsinha. Em Portugal ainda é comum que se use a expressão Caixa de Pandora e, mais raramente, Boceta de Pandora, para designar o recipiente do qual Pandora deixou escapar todos os males que afligem a humanidade.

O mito grego de Pandora tem paralelo no de Eva e a Serpente, de origem sumeriana. Em ambos o mesmo nojento machismo dos religiosos da Antiguidade (não muito diferente do dos fanáticos religiosos de hoje) dá um jeito de colocar a culpa na mulher por todos os males humanos.

Quando Zeus (Júpiter, para os usurpadores romanos) empreendeu sua longa guerra contra seu pai Kronos (Saturno, para os romanos usurpadores), todos os Titãs, da mesma estirpe de Kronos, aliaram-se a ele. Com exceção de um só: o Titã Prometeu. Ele preferiu trair sua estirpe e manter-se aliado de Zeus, porque tinha o dom da profecia, sabia ver o futuro. E, nesse futuro, ele viu Zeus vencedor.

Quando isso de fato se concretizou, Zeus resolveu recompensar o aliado, dizendo-lhe para pedir o que bem entendesse. Ora, Prometeu o que fez, pegando o novel chefe dos deuses olímpicos pela palavra, foi pedir a Zeus que livrasse de punição a seu irmão Titã, Epimeteu. Zeus havia condenado todos os Titãs, exceto Kronos e Rea, seus pais, ao banimento para o Tártaro, nas entranhas da Terra (Gaia). Apanhado pela palavra, Zeus ficou furioso, pois queria de toda forma se vingar de Epimeteu.

Contudo, já que era forçado a perdoá-lo, arranjou outra forma de puni-lo. A forma foi ardilosa e... belíssima. Pois foi então criada uma mulher “artificial’ (o mito não é muito claro quanto a este artificialismo, posto que Pandora era uma perfeita mulher, uma obra prima de Hefesto). Essa mulher, de incrível beleza, foi oferecida por Zeus a Epimeteu como esposa, como prova de que não havia mais ressentimentos.

Só que Pandora chegou trazendo consigo uma boceta (é a outra!). Essa boceta de Pandora era um misterioso repositório, dentro do qual havia algo guardado que NUNCA poderia ser revelado. Ou seja, Pandora JAMAIS poderia abrir a boceta. O mito aproveita para aludir à proverbial curiosidade humana, é claro que a travestindo de curiosidade feminina. E o que acontece é que Pandora não resiste e, um dia, bem escondida, ela abre uma pontinha de sua boceta.

E aí acontece a desgraça, tal qual planejada por Zeus: de dentro da bolsa, (ou caixinha, ou vaso, conforme a versão) saem todos os males que vão afligir a humanidade: a intemperança, a ambição, a cobiça, os ciúmes, a velhice e a doença. Pandora fecha a boceta rapidamente e lá ainda fica a Esperança: a última que sai, por isso a última que morre.

Ou seja, deram um jeito de botar todas as culpas numa boceta (em duas, para sermos mais exatos) pelos males dos homens. Da mesma forma culparam a coitada da Eva de ser uma tapada, que é enganada pela Serpente (Lilith), cedendo – também por causa da curiosidade. Aí ela tentou o homem e o desgraçou, resultando daí a expulsão do Paraíso. Ou seja, a boceta é culpada pelos males dos paus!

Ah, sim podemos dizer pau, sem problemas. Afinal, isso é coisa de homem, é coisa de macho. Não é palavrão! Começa que tem só 3 letras. Depois, pau é pau; é pedaço de madeira, antes de mais nada. Nem pode ser arrolado como nome feio, veja só!

Então o establishment machista fixou a coisa assim: pau pode, boceta não pode. Pau não é nome feio, boceta é nome feio. Pau não é palavrão, boceta é palavrão. E o pior é que fizeram as mulheres acreditar nisso! Ou seja, os cretinos machistas, que foram os que impuseram isso, vivem correndo atrás delas, quando não vai por bem vai por mal, e elas têm que acreditar que a coisa é feia, que é palavrão, que é inferior. Pois o Freud não inventou até a tal da inveja do pau, veja se pode! E as histéricas, lembram? Hister = útero. Psicologia machista, um portento do início do século passado. Que depois evoluiu, é justo reconhecer.

Então está na hora de encerrar este texto. O Aurélio não tem, mas ainda vai ter, a língua evolui. Não é palavrão, nem é nome feio. Na verdade, é Delta de Vênus, tem a beleza do desejado, fora a beleza anatômica em si. Então que as mulheres tenham orgulho de suas bocetas e parem de falar aquilo ali, lá em baixo, xana, xoxota, periquita, pixirica e outros substitutivos que são, de um modo geral, palavras menos bonitas e soam mais como desculpas por serem portadoras de uma.

E não precisa falar vulva. É um nome mais sem graça ainda. Boceta tem vulva e vagina, é completa e é digna. E é bonita, como uma criação perfeita de Deus que é. Chega de hipocrisia! Fim de papo!



terça-feira, 14 de agosto de 2012

sexta-feira, 10 de agosto de 2012


EU  QUERO!
MILTON MACIEL

EU QUERO
Tudo!
Ainda que não mereça e alcançar não possa, ainda que
mudo
deva eu ficar por todo o sempre e não haja destino ou porto
rudo,
onde eu possa aportar e descansar meu corpo vil e torto.

Contudo,
devo dizer que nunca esperei muito deste mundo e sua gente.
Agudo
foi o meu senso de exclusão, de vão engano ou quase-sorte.
Estudo
foi meu refúgio, meu altar, minha caverna, foi meu eremitério,
escudo
estulto em que, por fim e em vão, tentei abrigo e tive morte. (MM)
REMORSO 
MARIO QUINTANA


QUEM NOS HÁ DE LER?  
MILTON  MACIEL

Internet. E-mails, Google. Redes sociais. Internetês. Comunicação massificada, difusão ultra-democrática do conhecimento. Maravilhas!

Contudo, acompanhando a evolução da linguagem praticada através das infovias, há que se ter um pouco de preocupação também. Por um lado se enriquece a língua portuguesa com centenas e centenas de neologismos. Por outro lado, se empobrece o idioma à medida que as crianças e os jovens, ao se acostumarem à essa que vai ser a nova linguagem  – irreversivelmente, creio eu – se desacostumam da riqueza vocabular do nosso idioma, tão ciosamente preservada ao longo de séculos por nossa literatura e pelo esforçado ensino do Português em nossas escolas.

Tenho tido muita proximidade com professores e estudantes de nível básico e médio, numa parte do Brasil tida como bem aculturada: o Sul. E o que constamos, eles e eu, é que o hábito da leitura, tal qual o conhecemos por centenas de gerações, está mudando rápida e drasticamente. A leitura de livros se tornou mais e mais desinteressante para estas novas gerações. Elas migraram para a Internet, onde passam muitas horas do dia, justamente aquelas de que dispõem quando não estão assistindo televisão. Ou seja, estão sempre em frente a um ou outro tipo de tela, o que eu apelidei de TELA-educação.

Com seu batalhão de tablets, smart phones, netbooks e notebooks – tornados cada vez mais acessíveis a quase todos, em casa e na escola, (e isso é bom!) – os jovens, cada vez mais conectados à Internet e interligados pelas redes sociais, tendem a ler somente os livros que lhes são exigidos, impostos mesmo, pelos professores.

Precisamos estar à altura de reconhecer este fenômeno e abordá-lo de uma forma criativa, para tentar aprender com ele e descobrir como corrigir facetas eventualmente negativas; e investir no inegável potencial positivo que ele encerra.

Esse movimento, esta rápida transição, é de fato irreversível. Não podemos observá-lo com saudosismo ou pessimismo somente. Essas crianças e adolescentes, esses jovens adultos também, são os leitores de hoje e de amanhã. E eles estão maciçamente na Internet hoje.

Então é na Internet que nós devemos IR DE ENCONTRO a eles. É nos computadores, grandes ou pequenos (como os telefones inteligentes) que nós temos que nos comunicar com eles. Há toda uma nova linguagem a aprender e a desenvolver. O esforço deve ser nosso, enquanto educadores. Nós não vamos mais conseguir impor os mesmos valores e metodologias que serviram de esteio à nossa geração e às dos nossos pais e avós.

Lembro-me que, na terceira série do primeiro grau, eu costumava inventar mil pretextos para sair da aula e me enfiar, muitas vezes escondido, na biblioteca da escola. Ensinaram-me a ler muito cedo e ensinaram-me a ler livros. Eu ansiava por eles, queria ler todos os livros da biblioteca ao mesmo tempo! E essa era a única biblioteca a que eu tinha acesso com aquela idade.

Mas hoje tudo é muito diferente. Para todos, inclusive as crianças, existe a Internet e existem os buscadores como o Google. Bibliotecas inteiras podem ser arquivadas em telefones celulares. Porque, felizmente, agora existe o e-book.

Contudo, o que me preocupa é o tipo de leitor que nós, educadores e escritores, vamos encontrar nesse futuro que já está chegando. Qual vai ser o universo cultural desse novo leitor médio? Ainda temos gerações que passaram pelos bancos escolares e aprenderam a ler livros. Mas estas gerações serão – e já estão sendo – inevitavelmente substituídas pelas novas gerações de REDE-LEITORES (netreaders), um pessoal que só lê em telas de dispositivos eletrônicos.

E, mesmo que eles leiam o que publicamos na rede, como textos avulsos ou como e-books, que LINGUAGEM usaremos? Vamos ter, por exemplo, que baixar o nível vocabular e semântico de nossa comunicação para nos adaptarmos a um universo de crescente empobrecimento do vernáculo e, paradoxalmente, a seu crescente enriquecimento com neologismos incorporados às centenas celeremente, a maior parte meras adaptações de termos técnicos novos ou apenas anglicismos inevitáveis – em grande número e, pelo geral, de forma sintetizada ou abreviada.

Como escritor e como educador, preocupa-me o perfil do meu leitor daqui para a frente. Por enquanto ainda tenho leitores da – digamos – ‘velha guarda’. Só que essa ‘velha guarda’ tem todas as idades, inclusive gente bem jovem, pois esses foram os que aprenderam desde cedo a ler e a amar livros, os bons e velhos livros de papel, que constituíram sempre o nosso universo de leitura.

Mas os tempos mudaram. Muitas das pessoas que, pouco tempo atrás, você veria nas ruas e parques com livros nas mãos, hoje você encontra é às voltas com tablets e celulares, lendo também. Mas lendo o que? E em que linguagem?

Grande parte está lendo e-mails, lendo e mandando mensagem de texto, vidradas em Facebooks ou Orkuts. Até mesmo ao atravessar ruas ou ao dirigir carros! Sim, essa pessoas estão lendo. Mas... o que? E, quando estão em casa? E quando querem ler por puro prazer, qual será a sua leitura?

Aí está o grande desafio que se apresenta a todos nós como escritores, educadores e como mães e pais esclarecidos e responsáveis. Há uma revolução em curso. Isso é inegável. Isso não é mais futuro, já é presente. E a pergunta que se impõe é:

COMO VAMOS ENSINAR NOSSAS CRIANÇAS A LER NESTES NOVOS TEMPOS?

Vai ter que ser valorizando o livro de papel, mas, em grande parte, terá que ser também pelas infovias, onde o pessoal da ‘velha guarda’ da leitura (insisto: que tem hoje de 6 a 90 anos de idade), está trocando rapidamente o livro impresso pelo e-book.

Mas pouco importa se é impresso ou e-book: é LIVRO! E como vamos conseguir que esta nova forma de leitor, de ciber-leitor, de rede-leitor, se interesse por ler LIVROS? Esse é o desafio em si. Ou será que é o próprio conceito de LIVRO que vai mudar, engolido pela nova realidade?

Para citar apenas um exemplo, num dos livros que estou escrevendo no momento como ghost-writer, para um cliente de área técnica, estou incorporando quadros e imagens coloridas fantásticos, fotografias (policromias que inviabilizariam um livro impresso, certamente), ANIMAÇÕES flash e VÍDEOS. Além disso, há links no livro que levam ao website do meu cliente, para aprofundar o diálogo com o leitor e criar vínculos comerciais potenciais. E, nas referências bibliográficas, grande parte da lista é formada por links ativos, que levam o leitor diretamente para os artigos publicados ali referidos. Claro, isso na versão E-BOOK. Mas... que livro é esse? Sim, sem sombra de dúvida, um NOVO LIVRO, um livro vivo e interativo e que, para completar, vai ser atualizado MENSALMENTE. Ou seja, a tal da nova edição, revista e ampliada, torna-se simplesmente automática.

Mas, deixando de lado esse caso em particular, e pensando em todo tipo de literatura e livro, não-ficção e ficção, volto à pergunta do título:

QUEM NOS HÁ DE LER?... E... Como vamos escrever para eles?  (MM)

terça-feira, 7 de agosto de 2012


MISSAL 
ULIAN,  em Eski de Letras

Minha alma foi evangelizada pelo Deus em teus olhos,
E só diante de ti me ajoelho.

Minha paz foi arrebatada no altar do teu colo,
E só diante dele eu choro.

Minha fé foi retradada no confessionário, teu beijo,
E só nele eu me absolvo.

Meu corpo é asilado na igreja do teu abraço
E, vê, só nela eu sou salvo.

domingo, 5 de agosto de 2012

OLHAR AMANTE  
MILTON   MACIEL


Haverá, qual este, olhar que fale tanto Amor?
Ou barreira haverá que o vero amor impeça?
Não creio: basta ver uma imagem como essa,
Pra saber que é Amor Maior o que ela expressa. (MM)



NO PRINCÍPIO ERA O VERBO  
MILTON  MACIEL



ANTE A GLÓRIA DO UNIVERSO  
MILTON  MACIEL

quinta-feira, 2 de agosto de 2012


GUAÇU-MIRIM  
MILTON  MACIEL

Os Guaçu (= grande) eram um povo indígena de enorme tamanho.Os homens, se fossem vistos hoje, seriam tomados por volantes de voleibol um pouco mais crescidos. Já os Mirim (= pequeno) eram de outra ascendência e, após séculos de intercruzamento, foram diminuindo de tamanho até se estabilizarem na altura máxima de 1 metro e 55.

Mas vejam a ironia agora: Os Guaçu estavam há centenas de anos estabelecidos numa curva do rio, por eles chamado de Iguaçu (= água grande). Foi quando chegaram os primeiros Mirim e se estabeleceram do outro lado do rio. Os Guaçu não se importaram. Tudo era grande e farto na terra deles. Não havia como aquele grupo de nanicos afetarem o ambiente e trazerem escassez. Deixaram-nos ficar do outro lado do rio e até lhes acenavam amistosamente.

Com o tempo a aldeia dos Mirim cresceu bastante. De longe, parecia que as duas aldeias eram uma coisa só, apenas com o rio, que apesar do nome não era largo coisíssima nenhuma, a passar dentro dela. E deram para chamar o lugar de Guaçumirim (= grande-pequeno). Os habitantes dos dois lados foram se conhecendo e se dando cada vez melhor.

Um dia, para consolidar a paz reinante ainda mais, o chefe dos Mirim resolveu oferecer sua filha em casamento ao filho do chefe dos Guaçu. Este, reconhecido, retribuiu da mesma forma. Também ofereceu uma de suas filhas para casar com um filho do chefe Mirim.

E foi aí que começaram os problemas. Na dia do casamento houve uma grande festa para todos, comemorada no lado Guaçu. Mas, ao cair da noite, quando os casais se retiraram para as ocas reservadas para a consumação dos casamentos, coisas estranhas aconteceram.

Da oca para onde foi a filha do chefe Mirim com o filho do chefe Guaçu, saiu de repente um grito de pavor. Soube-se depois, quando a indiazinha saiu correndo em disparada, se jogou no rio e nadou até sua aldeia numa velocidade impressionante, que ela, coitadinha, tinha levado o maior susto ao ver, pela primeira vez, o guaçú do marido. Ah não, era guaçu demais para a sua mirimzinha, pernas pra que te quero!

Em compensação, da outra oca saiu, de repente, a maior gargalhada. E a risada foi ficando cada vez mais alta, mais estrepitosa, não parava nunca. Entenderam todos o que se passara quando o indiozinho saiu com a maior cara de encabulado de dentro da oca, pulou no rio e nadou célere para sua aldeia. É que a esposa tinha ficado passada ao ver o mirimzinho do marido e, pensando nas proporções de sua guaçú, caiu na gargalhada sem poder se conter ou parar.

Começou nessa noite a primeira grande cizânia em Guaçumirim. Acabou-se a harmonia! Mas isso é assunto para contar outra hora.