segunda-feira, 27 de março de 2017

PARA QUEM QUER ESCREVER FICÇÃO
# 5 – SUSPENSE, MISTÉRIO, TERROR
MILTON MACIEL

Vou procurar responder aqui a certas dúvidas que tenho observado tanto em meus alunos do curso de formação de escritores como em escritores a que venho prestando assessoria à distância. O tema inicial é FICÇÃO DE GÊNERO. E, a seguir, abordo as diferenças entre as modalidades de gênero SUSPENSE, MISTÉRIO E TERROR.

A ficção pode ser Literária, Dominante ou De Gênero. Já me referi a isso no início desta série, desnecessário repeti-lo aqui. Mostrei, inclusive, exemplo de gêneros e de subgêneros. De onde veio essa classificação? Basicamente ela foi criada pelo mercado editorial, que precisou definir os diferentes nichos que os LEITORES preferem, de forma que tanto editores quanto autores pudessem se adequar aos gostos e exigências daquele que manda em qualquer mercado: o consumidor. Ao longo dos anos, esses nichos foram se definindo e estratificando em gêneros e subgêneros, variações especiais dentro de cada gênero.

Por exemplo, na ficção de gênero romântica há regras bem definidas a observar pelo autor. A trama tem que girar em torno de uma relação de amor heterossexual, o conflito e o antagonismo provêm de alguém ou alguma condição que tenta impedir o sucesso dessa relação, a epifania surge quando um dos dois (ou ambos) protagonistas consegue se transformar e, superando suas falhas ou limites, logra alcançar condições para tornar o amor possível. E o fim tem que ser sempre feliz. Para poder fazer parte da forte RWA – Romance Writers of America – não basta pagar a anuidade de 100 dólares. Você precisa provar que já publicou pelo menos um romance com essa estrutura geral e se comprometer por escrito a observá-la sempre em suas próximas obras.

Caramba, mas isso não é caretice, não é engessar a criatividade do autor? Olhe, pode até ser, mas acontece que as editoras já sabem que há um gigantesco público consumidor para este tipo de gênero literário, apenas o maior de todos para ficção. Então elas não vão investir dinheiro na publicação de uma obra de ficção romântica que não esteja adequada a estes cânones. Ou seja, se você quer ser publicado e vender ficção romântica, então você tem que escrever dentro desses estreitos limites de estruturação. É simplesmente uma questão de escolha. Ela é fundamentalmente mercadológica e, não, artística. Se o seu par romântico é formado por pessoas do mesmo sexo, sua história será reclassificada para outro importante nicho de mercado, que é a ficção de gênero LGBT.

Pois bem, da mesma forma que para o gênero de ficção romântica existem essas regras particularíssimas, outras regras se aplicam a cada um dos outros gêneros e subgêneros.

Agora passo a responder e esclarecer as dúvidas sobre o que é adequado aos gêneros de Suspense, Mistério e Terror.  Enfatizando, outra vez, que é tudo uma questão de adequar-se àquilo que o mercado editorial aceita publicar, que é o reflexo exato daquilo que os leitores aceitam comprar. Você pode, perfeitamente, escrever fora da caixinha, rebelar-se contra essas imposições de gênero, operar dentro de um nicho híbrido menos comum. Apenas lembre que vai ser mais difícil que as editoras aceitem o seu manuscrito, nada que uma boa autopublicação não possa resolver. Contudo, depois, nas livrarias, você vai notar a mesma má-vontade com a exposição e difusão de sua obra. Fazer o quê?, são as regras do mercado. Mas, insisto, isso não é razão para você desistir da luta, você pode ir em frente por conta própria nas etapas de produção, distribuição e comercialização, desde que aprenda a se estruturar para isso.
SUSPENSE é a grande mãe desse e dos outros dois gêneros também. É óbvio que o Mistério e o Terror bem-sucedidos são também movidos a suspense. A diferença está em como você cria e gradua esse suspense, onde o aplica, qual a situação do protagonista, do crime, da solução.

Há pelo menos um crime ou uma tragédia natural no enredo de qualquer dos três gêneros
No Suspense, o leitor fica ali, roendo as unhas, antecipando o crime que pode acontecer.
No Mistério, o crime normalmente JÁ aconteceu ao começar a história.
No Terror, mais brutal, o leitor VÊ o crime acontecendo, conhece o criminoso

Qual é a grande questão do enredo:
No Suspense é: Como evitar que o crime aconteça.
No Mistério é: Quem praticou o crime.
No Terror é: Como vai morrer a vítima.

Como o autor orienta o leitor:
No Suspense, o leitor conhece perigos que os protagonistas ainda não sabem que vão correr.
No Mistério, o leitor recebe e procura indícios que lhe permitam descobrir o criminoso por si.
No Terror, o leitor vê as ações, não existe mistério, o leitor conhece o segredo.

Como funciona no leitor:
Suspense: Emoção, coração. Preocupação com os protagonistas e sua sobrevivência.
Mistério: Pensamento, cérebro. Dedução intelectual.
Terror: Visceral, medo. Susto.

No próximo bloco vamos falar mais detalhadamente sobre como criar suspense em seus escritos, de um modo mais geral, não restrito apenas a estes três gêneros aqui mencionados.

CONTINUA


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