quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

TRISTE, ESTRANHO MUNDO
MILTON MACIEL

Triste bruto mundo,
Onde em latas de lixo por festim,
crianças reviram o seu parco de comer.
Cachorros coçam suas sarnas pelas ruas,
por onde humanos se esbarram desconexos.
Bebem os homens suas dores nos botecos
e matam-se uns aos outros sem porquê.

Triste feio mundo,
onde, moídas de competição,
mulheres TÊM que ser ardilosamente belas,
perenemente magras, eternamente jovens,
absurdamente responsáveis.
E desejáveis, usáveis, descartáveis.
(e matar-se de trabalhar pra pagar por tudo isso!)
Fiéis aos muitos seus e aos muitos seus deveres,
Porém estranhamente infiéis a si mesmas!

Ah, triste velho mundo,
Onde políticos corruptos vicejam,
Empresários corruptores sonegam,
Banqueiros rapinam na escorchância
E paraísos fiscais a todos acobertam.
Os honrados cidadãos fajutam, mentem,
também sonegam, pirateiam, fazem gatos.
Mas não deixam de cumprir o seu cívico dever:
vão às ruas protestar e quebrar contra a corrupção!

Triste louco mundo
de terrorismo, guerras e de exploração.
Países Senhores da Guerra vendem armas a dinheiro,
Mas fazem fiado a desgraça, a morte e a desolação,
a carne jovem por eles consumida em bucha de canhão.
A carne ainda mais jovem mercadejada na prostituição,
Meninas e mulheres sofrendo seu ordálio eterno:
Desrespeito, assédio, estupro. E agressão.

Triste estranho mundo,
onde crianças teimam em nascer,
onde os poetas insistem em sofrer
E os amantes se obstinam em amar.
Onde há doutores que ainda ousam curar,
e professores que se esfalfam pra ensinar.
Onde há malucos que não param de sonhar
e há visionários que ainda soem acreditar.

Ah, triste alegre mundo,
Que não pára de girar!

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