QUE POETAS EXISTAM, É PRECISO
MILTON MACIEL
É preciso que os poetas falem roucos,
Livre, soltos, desmiolados, doidos, loucos;
Libertários,
Libertinos,
Temerários,
Pequeninos.
Gigantescos
Pelas rimas.
E dantescos
Pelas sinas.
É preciso que os poetas cantem soltos,
Os seus ais de mares mansos ou revoltos.
Censurados,
Desamantes,
Desvairados,
Delirantes.
Desvalidos,
Estressados,
Esquecidos,
Mal amados.
É preciso que os poetas digam tudo,
Almas tristes, desvalidas, estro mudo.
Sobranceiros,
Agourentos,
Traiçoeiros,
Peçonhentos.
Desdenhados,
Reprimidos,
Rejeitados
E esquecidos.
É preciso que os poetas gritem alto,
Por amarem, peito em lava ou frio basalto.
Sofrimento,
Esperança.
Sentimento,
Semelhança.
Diferença,
Concordância,
Desavença
Ou consonância.
Mistér se faz que eles existam, simplesmente,
Para gritar por nós o que nos vai na mente.
Solucem eles, por nós, o nosso canto
De amor, de desamor, de desencanto.
E que traduzam, infelizes, descontentes,
O que se oculta em nossas almas decadentes.
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