NEGRA VELHA
Paro a lida pra
te olhar, negra velha amiga,
Ver como avanças
pouco, no teu passo lento,
Despacito nomás,
a mão tateando ao vento.
Hay névoa nos
teus olhos e muita mágoa antiga.
Teu peito
encarquilhado que pra frente se curva,
Esconde a vida
que ele deu pra tanta gurizada...
Pois quanto piá
amamentaste nesses seios então fartos,
Filhos de brancas
sem leite de quem fizeste os partos!
Mas que hoje te
esqueceram na tua pobreza turva,
Porque, que nem
vaca, envelheceste e foste abandonada.
Quantos homens de
importância trouxeste tu ao mundo
E quantos deles só
viveram pelo leite no teu peito?
Quanto piazito
faminto foi no teu seio escuro aceito,
Porque ali dentro
batia um coração de amor profundo!
Mas hoje chego
aqui e te descubro nessa baita solidão:
Tua velhice
desamparada e trôpega, cheia de tristeza.
Essa vista turva,
esse abandono cruel, essa pobreza...
E de todos os que
por ti passaram, nenhuma gratidão!
Vem, negra velha
amiga, vem comigo, apóia no meu braço,
Não mamei do teu leite,
mas conheço uma a quem salvaste:
Uma que hoje é a
mulher da minha vida e a quem amamentaste.
Vem comigo, nobre
negra, tu vais viver conosco, dá um abraço!
Nenhum comentário:
Postar um comentário