terça-feira, 4 de setembro de 2012


NEGRA VELHA  
MILTON  MACIEL

Paro a lida pra te olhar, negra velha amiga,
Ver como avanças pouco, no teu passo lento,
Despacito nomás, a mão tateando ao vento.
Hay névoa nos teus olhos e muita mágoa antiga.

Teu peito encarquilhado que pra frente se curva,
Esconde a vida que ele deu pra tanta gurizada...
Pois quanto piá amamentaste nesses seios então fartos,
Filhos de brancas sem leite de quem fizeste os partos!
Mas que hoje te esqueceram na tua pobreza turva,
Porque, que nem vaca, envelheceste e foste abandonada.

Quantos homens de importância trouxeste tu ao mundo
E quantos deles só viveram pelo leite no teu peito?
Quanto piazito faminto foi no teu seio escuro aceito,
Porque ali dentro batia um coração de amor profundo!

Mas hoje chego aqui e te descubro nessa baita solidão:
Tua velhice desamparada e trôpega, cheia de tristeza.
Essa vista turva, esse abandono cruel, essa pobreza...
E de todos os que por ti passaram, nenhuma gratidão!

Vem, negra velha amiga, vem comigo, apóia no meu braço,
Não mamei do teu leite, mas conheço uma a quem salvaste:
Uma que hoje é a mulher da minha vida e a quem amamentaste.
Vem comigo, nobre negra, tu vais viver conosco, dá um abraço! 

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