POR UMA MASCULINIDADE SADIA – 2a. parte
MILTON MACIEL
AS RAÍZES PSICOLÓGICAS DO MACHISMO
“Homens e mulheres já nascem machistas. Isso é
o que muito pouca gente percebe. Enquanto se desenrola a luta secular das
mulheres por emancipação, tremendas forças inerciais resistem ao seu avanço,
apresentadas por homens e, paradoxalmente, por mulheres também. São forças
inconscientes e coletivas, são os arquétipos da sociedade patriarcal e
machista, formados ao longo dos últimos dez mil anos, que se impõem, irresistíveis,
desde o fundo do inconsciente de meninas e meninos, minando toda possibilidade
de harmonia e cooperação entre os gêneros, desde a mais tenra infância.
Arquétipos são figurações multi-milenares do inconsciente coletivo
Estamos literalmente programados, tanto
homens quanto mulheres, para sermos machistas. Essa programação brutal precede
o nosso nascimento. Somos, portanto, machistas de nascença. Por muito tempo
ficaremos dominados por essas forças incoercíveis. As mulheres tomam
consciência delas muito cedo, porque serão, desde meninas, vítimas permanentes
desse machismo latente, oculto, que se exterioriza para submergi-las em um
mundo de medo e de exploração. Os homens tardam mais a perceber seu papel
opressor. Eu, um gaúcho típico da fronteira com o Uruguai, onde vivi até os 14
anos, precisei de quase cinco décadas para cair na real e perceber que o pior
no machismo é o fato de ele ser atávico e oculto, inconsciente.”
Excerto
extraído de: [Milton Maciel - O Machismo
Oculto, in: “A Bela Morde a Fera” (IDEL, São Paulo, 2009 – pg. 288)]
As
mulheres, embora vitimadas pelo machismo, não conseguem perceber que são, ao
mesmo tempo, suas propagadoras de geração a geração. Compelidas pela força
inconsciente do arquétipo, criam suas filhas para serem submissas e seus filhos
para serem dominadores. Ensinam a elas que elas são fracas e que não são
capazes de defender a si próprias quando agredidas ou desrespeitadas, que só um
homem poderá defendê-las. Nada pode ser menos verdadeiro.
Já
mães e pais criam seus meninos para serem agressivos, fortes, competitivos,
ferozes até. E, dessa forma, castram completamente a possibilidade de um
crescimento em que exista respeito e integração verdadeiros entre meninas e
meninos, o que vai perpetuar a raiz da futura infelicidade conjugal, de lares emocionalmente
desequilibrados, berço para uma nova geração de crianças emocionalmente
desbalanceadas, incompletas afetivamente, futuros guerreiros e guerreiras, a
ferir-se uns aos outros inapelavelmente, infelizes no amor, insatisfeitos no
sexo. O machismo é a nossa grande chaga coletiva, a gênese de nossa
infelicidade amorosa.
Miami, Jan 21 2012
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