ONOFRE E O VEGETARIANO
Milton Maciel
Categoria: Textos gauchescos
Pues nem le
conto, vivente! O Onofre andava abichornado pelos canto, más atropelado que cusco em procissão, más
perdido que cego em tiroteio. Eu é que tirei ele dessa situação. Encontrei o
índio velho no bolicho do Ademar faz dois dia e ele tava mesmo incomodado. Nem
bem me viu, e antes mesmo que eu pudesse pedi uma canha, o turuna veio pra mim
com essa pergunta isquisita:
- Buenas, tchê! Me responde uma cosa: é
verdade que existe vegetariano?
- Buenas. Que
existe o que?!...
- Vegetariano.
- Mas bá, tchê!
Que que é isso, esse nome más estranho? Vegeta... o que?
- Ta-ri-a-no!
Vegetariano. Tá com cera nos ovido?
- Bueno, isso eu não
ouvi nunca. Que que é essa cosa?
- Pues foi o
Nicanor que me garantiu que existe. Más eu não acredito.
- E por quê?
- Bueno, ele veve
pra cima e para baxo, tu sabe como é. O índio velho não tem paradero, não isquenta banco, viaja más que tropero dos tempo antigo, dá más volta que
bolacha em boca de velho desdentado. Más agora, quando ele me veio com essa do
tal vegetariano, eu fiquei foi mui brabo com o desgraçado. Fiquei foi com
vontade de le dá uns planchaço com o facão. Más ele me garantiu que viu gente
assim numa das viage dele...
- E viage pra
donde?
- Pues foi lá pras estranja, prum lugar longe
demás, um país de nome Curitiba, deve ficar a miles e miles de léguas daqui da
frontera, de Santana do Livramento.
- Curitiba? Nunca
ouvi falá. Vai vê nem existe, é só invenção desse farolero, tá só fazendo
farol.
- Bueno, olha que
tu pode tá com a razão. Esse Nicanor é mesmo mui farolero, veve contando umas
história mui sem pé nem cabeça, a maior parte deve sê mesmo mentira. Foi como
eu respondi pra ele:
- Ah, pára Nicanor! Tu ta atochando, contando vantage. Más nunca que um índio assim pode de existí!
E o Onofre
continuou, fulo de raiva:
- Mas ele me
garantiu, me jurô pelo que hay de más sagrado e no fim casamo uma pelega de mil
numa aposta. Ele diz que existe, eu digo que não existe, ele diz que prova, eu
digo que não prova, que é mentira dele. É por isso que to perguntando pra todo
mundo que vejo, se eles acredita que existe o tal de vegetariano.
- Mas cumpadre,
me diga o que é esse tal de bicho isquisito, com esse nome de xarope pra tosse.
- Bueno, agora tu
é que não vai acreditá. Sabe o que o cabortero do Nicanor disse que é o tal de
vegetariano?
- Desembucha.
- Pues é um índio
isquisito que não come carne nunca! E não come carne porque não qué!
- Ah, más manda
esse falsero contá otra! Más é claro que não pode tê home assim. Imagina, não
comê carne porque não qué! É atochada dele, pode tê certeza.
- Pues não lhe
disse! É claro que o patife ta mentindo. Diz que o tal do isquisito não come
carne porque não qué, tá sentindo o cheirinho da costela na brasa e nem enche a
boca de água. Não fica com vontade de
trinchá os dente numa chuleta, nuns miúdo de boi. Más diz que nem churrasco de
ovelha o vivente come, por aí tu já vê.
- Barbaridade!
- Agora olha o
pior: o índio não come carne porque não qué, não é que não possa comprá um bom
quarto pra assá, uma costela gorda pra
fazê no fogo de chão. Pode comprá, tem a plata, mas não compra porque não qué!
- Mas entonces o
loco não come otras carne, uma galinha que seja, cosa más sem graça, o então um
tatu mulita o uma perdiz do banhado?
- Pues que nada!
Diz que não come nada que seja de carne, nem um mondongo. Nem mesmo pexe, cosa
más sem graça também.
- Que não come o
que! Não existe! O então, se o Nicanor acha que viu, o índio tava era tomando o
pelo dele, disse que não comia más foi comê iscondido.
- Bueno, quero vê
é ele prová essa barbaridade. Não prova!
- Não prova!
- Pues não hay
esse tipo de gente aqui em Santana. Nem em Dom Pedrito, nem em Bagé, que
conheço algo das terra de fora aqui no Brasil. Também a castelhanada não tem
desse pessoal. Nem em Rivera, nem em Salto, nem em Mata Ojo Chico, que é o que
conheço do Uruguai, não hay gente estranha assim. E sabe o Juan Pedro, o
esquilador, aquele de Tacuarembó, que é uruguaio? Pues também ele nunca ouviu
falá de vetetariano no Uruguai.
- Entonces le
garanto também eu, cumpadre. Sossega. Não hay vegetariano!
- Bueno, tu me
convenceu. Não hay! E vamo tomá uma canha pra isquecê essa bobage. Como vai a
cumadre? (MM)
As velhas raízes, sempre presentes: Santana do LIvramento.
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