segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

A  ANTI-POESIA DO ABSURDO  
MILTON MACIEL

Escrito em 18/3/2013,  para Kawany Victória 
(que os fabricantes de bebida alcoólica mataram, através de um dependente químico ao volante)
E para Jéssica, jovem mãe ilesa, despedaçada.
(Hoje, em 2015, VOCÊ nem lembra ou pensa mais nelas, não é mesmo?)

[Perdão, poetas, se ouso invadir o sagrado espaço das musas com gemidos que não são de amor, mas de indignação. Não, não me tomem por moralista ou religioso. Não sou nem um nem outro. Graças a Deus!]

Fuma.
Bebe.
Se droga.

(Atenção: Ninguém aqui está falando de maconha, cocaína e outros afins.
Essas são drogas leves. Estou me referindo às pesadas, às que matam milhões!)

Fuma.
Bebe.
Se droga.

(Se droga com isso mesmo: fumo e álcool! Essas duas é que são as piores drogas da humanidade! Bebida alcoólica causa mais prejuízo que todas as outras drogas do mundo COMBINADAS! Exceto o tabaco, é claro, que tem seu próprio inferno)

Cigarro
Cerveja
Cachaça
Uísque

(CERVEJA é a PIOR droga alcoólica do Brasil. Responsável pelo maior número de acidentes e mortes no trânsito. Por brigas e agressões sem fim. Por violência doméstica e estupros aos milhares)

Cerveja
Latinha
Garrafa

(Só o maior fabricante de cerveja produz 25 milhões de unidades por dia!
Ele sabe que mata todos os dias. Mas morre de rir. É, ele põe a culpa em VOCÊ!)

“Beba com moderação”,
Diz o fabricante cretino em sua propaganda.
E em sua embalagem (convenientemente, omite ali a caveira e as duas tíbias).

(Como se isso fosse possível! Como se o incauto jovem, vítima preferencial das campanhas milionárias de propaganda, fosse capaz de moderação nessa idade!)

Perdão, Erato!
Se hoje guardo a lira e empunho a espada.
Mas todos os dias os meninos matam e se matam.
Bêbados, entupidos da droga-cerveja

Perdão, Polimnia!
Porque os hinos aqui são funéreos.
Mas os homens matam os homens.
Mas os homens matam suas mulheres.
Mas os homens matam crianças, matam bebês.
Bêbados, entupidos da droga-cerveja, da droga-cachaça, da droga-uísque.

Perdão, Melpômene!
Mas hoje eu choro a Tragédia maior
Da morte de um bebê de três meses!
Esmagado pelo álcool no cérebro de mais um bêbado ao volante.
(Às vésperas do seu batizado! O álcool destroçou uma mãe por dentro, para sempre!)
Nove meses de sacrifício. Três meses de alegria. Ao todo, Um ano de esperança.
Um segundo de crueldade: e o fabricante de bebida ceifou mais uma vida inocente!

Perdão, Calíope!
Se tenho que invadir o espaço sagrado da poesia
Com a Eloqüência antipática dos que gritam contra a morte e o abuso

Perdão, Tália!
Mas hoje estou triste, muito triste! Hoje a própria Comédia chora.
Hoje é de Melpômene o canto trágico que entoa o réquiem a um bebezinho assassinado.

Perdão, Terpsícore!
Mas hoje não podemos dançar, hoje temos que gritar aos quatro cantos do mundo.
Bradar contra os Pablo Escobar do álcool e do fumo, das drogas legalizadas.
Que fazem pose de respeitáveis cidadãos. Enquanto, como o falecido Escobar,
Enriquecem e matam!

Perdão, Clio!
Mas hoje a História tem mais uma lágrima a verter.
Continuaremos contando a saga da estupidez humana. Da sua hipocrisia.
Da sua cobiça. Da falta de escrúpulos dos governantes antiéticos do mundo todo.
Que fazem sociedade com os Pablo Escobar do álcool e do fumo.
E escorcham com juros altíssimos os cidadãos que ajudam a drogar e matar (É o PIB!)

Perdão, Euterpe!
Mas que Música tocaremos hoje?
Ah, Calíope da bela voz!
Fiquemos mudos então. Calemo-nos!

Perdão, Urânia!
Da sagrada ciência-arte da Astrologia,
(Tão vilipendiada pelos charlatães de plantão
E pelos ignorantes obscurantistas dos fundamentalismos religiosos).
Ah, podes tu, bendita Urânia, dar-nos informação em teus indicadores cósmicos
De que está estupidez humana um dia terá fim?

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