sábado, 28 de fevereiro de 2015

PARTENOGÊNESE   
MILTON MACIEL   

Fecundaram-me, os sonhos, a dor e a solidão.
E na alma acostumada a, medrosa, divagar,
aconteceu uma gênese, uma autoconcepção:
Nasceu uma capacidade inesgotável de amar.

No âmago de minha alma, até então só e confusa,
eu pressentia e cultuava a imagem de uma musa;
E eu já vivia a certeza de um amor que chegaria.

Você apenas chegou e ocupou todos os espaços:
Minha carência absoluta, o vazio entre meus braços
e aquela ânsia de beijos que minha boca consumia.

Partenogênese, meu fado:
Nem foi preciso ter você para que o amor nascesse;
Bastou-me vê-la. E compreendi que ERA VOCÊ! E esse
meu coração rendeu-se... absurdamente APAIXONADO!

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

THAT RARE NUDE ELEGANCE: NOTHING LESS !     
MILTON  MACIEL   (POEMS IN ENGLISH)

No matter what your shoes are,
No matter what your dress is:
You’re naturally elegant – nothing less!
No matter whether you dress,
No matter if you undress:
You’re elegant by yourself – nothing less!
Clothes or shoes can’t give you elegance:
You’re elegant by yourself – nothing less!
You have the rare thing I call nude elegance:
You’re naturally elegant – nothing less!

Your naked body is above any fashion,
Its beauty arousing in me such emotion!
And when you walk… you’re just perfect:
You're naturally elegant - nothing less!
Your walking exerts an incredible effect.
You don’t need expensive attires:
You’re elegant by yourself – nothing less!
Your true elegance is all my soul admires.
You don’t need any fashion for success:
You’re totally adorable – I confess!
Your natural elegance enchants and inspires:
No matter what you wear: you have finesse!
You have that rare nude elegance – NOTHING LESS !

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

A  ANTI-POESIA DO ABSURDO  
MILTON MACIEL

Escrito em 18/3/2013,  para Kawany Victória 
(que os fabricantes de bebida alcoólica mataram, através de um dependente químico ao volante)
E para Jéssica, jovem mãe ilesa, despedaçada.
(Hoje, em 2015, VOCÊ nem lembra ou pensa mais nelas, não é mesmo?)

[Perdão, poetas, se ouso invadir o sagrado espaço das musas com gemidos que não são de amor, mas de indignação. Não, não me tomem por moralista ou religioso. Não sou nem um nem outro. Graças a Deus!]

Fuma.
Bebe.
Se droga.

(Atenção: Ninguém aqui está falando de maconha, cocaína e outros afins.
Essas são drogas leves. Estou me referindo às pesadas, às que matam milhões!)

Fuma.
Bebe.
Se droga.

(Se droga com isso mesmo: fumo e álcool! Essas duas é que são as piores drogas da humanidade! Bebida alcoólica causa mais prejuízo que todas as outras drogas do mundo COMBINADAS! Exceto o tabaco, é claro, que tem seu próprio inferno)

Cigarro
Cerveja
Cachaça
Uísque

(CERVEJA é a PIOR droga alcoólica do Brasil. Responsável pelo maior número de acidentes e mortes no trânsito. Por brigas e agressões sem fim. Por violência doméstica e estupros aos milhares)

Cerveja
Latinha
Garrafa

(Só o maior fabricante de cerveja produz 25 milhões de unidades por dia!
Ele sabe que mata todos os dias. Mas morre de rir. É, ele põe a culpa em VOCÊ!)

“Beba com moderação”,
Diz o fabricante cretino em sua propaganda.
E em sua embalagem (convenientemente, omite ali a caveira e as duas tíbias).

(Como se isso fosse possível! Como se o incauto jovem, vítima preferencial das campanhas milionárias de propaganda, fosse capaz de moderação nessa idade!)

Perdão, Erato!
Se hoje guardo a lira e empunho a espada.
Mas todos os dias os meninos matam e se matam.
Bêbados, entupidos da droga-cerveja

Perdão, Polimnia!
Porque os hinos aqui são funéreos.
Mas os homens matam os homens.
Mas os homens matam suas mulheres.
Mas os homens matam crianças, matam bebês.
Bêbados, entupidos da droga-cerveja, da droga-cachaça, da droga-uísque.

Perdão, Melpômene!
Mas hoje eu choro a Tragédia maior
Da morte de um bebê de três meses!
Esmagado pelo álcool no cérebro de mais um bêbado ao volante.
(Às vésperas do seu batizado! O álcool destroçou uma mãe por dentro, para sempre!)
Nove meses de sacrifício. Três meses de alegria. Ao todo, Um ano de esperança.
Um segundo de crueldade: e o fabricante de bebida ceifou mais uma vida inocente!

Perdão, Calíope!
Se tenho que invadir o espaço sagrado da poesia
Com a Eloqüência antipática dos que gritam contra a morte e o abuso

Perdão, Tália!
Mas hoje estou triste, muito triste! Hoje a própria Comédia chora.
Hoje é de Melpômene o canto trágico que entoa o réquiem a um bebezinho assassinado.

Perdão, Terpsícore!
Mas hoje não podemos dançar, hoje temos que gritar aos quatro cantos do mundo.
Bradar contra os Pablo Escobar do álcool e do fumo, das drogas legalizadas.
Que fazem pose de respeitáveis cidadãos. Enquanto, como o falecido Escobar,
Enriquecem e matam!

Perdão, Clio!
Mas hoje a História tem mais uma lágrima a verter.
Continuaremos contando a saga da estupidez humana. Da sua hipocrisia.
Da sua cobiça. Da falta de escrúpulos dos governantes antiéticos do mundo todo.
Que fazem sociedade com os Pablo Escobar do álcool e do fumo.
E escorcham com juros altíssimos os cidadãos que ajudam a drogar e matar (É o PIB!)

Perdão, Euterpe!
Mas que Música tocaremos hoje?
Ah, Calíope da bela voz!
Fiquemos mudos então. Calemo-nos!

Perdão, Urânia!
Da sagrada ciência-arte da Astrologia,
(Tão vilipendiada pelos charlatães de plantão
E pelos ignorantes obscurantistas dos fundamentalismos religiosos).
Ah, podes tu, bendita Urânia, dar-nos informação em teus indicadores cósmicos
De que está estupidez humana um dia terá fim?

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

RITUAL DE AMOR. E ESPERANÇA!
MILTON MACIEL

Mantenho o nosso ritual, meu amor. Todo os dias, o mesmo ritual!
Venho para o banheiro, preparo a nossa água, nossa espuma...
Na mesma bandeja o mesmo vinho e as duas taças que você adora.
Colho suas flores, preparo o nosso vaso como o mesmo cuidado de sempre.
E trago suas frutinhas também, ela não podem faltar.
Entro na água morna e fico ali um tempo indizível.
Tudo pronto. Não falta nada.

Só falta VOCÊ!

Desde que você foi embora, nossa casa transmutou-se em deserto,
Nosso quarto engolfou-se do vazio insuportável de sua ausência.
Mas não o banheiro! Ele está pleno de sua presença, querida.
É aqui que eu consigo reviver, como que em transe, nossos melhores momentos.
Cada um de nossos maravilhosos momentos de amor e sensualidade.

Aqui eu ouço seu riso espontâneo, vejo seus olhos brilhantes  
deitando olhares amorosos sobre mim. Aqui nasceu nosso ritual!
Aqui eu fui mais feliz do que em qualquer outro lugar desta casa.
Por isso me obstino em repetir diariamente este nosso ritual.
Haja o que houver, sempre reservo estas horas de minha vida para você.
E venho vive-las aqui em nossa banheira. Acendo nossas velas, relaxo...

E começo a sentir você, seu perfume suave,
sua pele macia sob a esponja em minha mãos.
Ah, como eu adorava percorrer seu corpo com elas,
Ouvir você contar sua coisas, cantarolar feliz!...

Que pena, amor, que eu acabei com tudo isso!
Fui imaturo, inconsequente...
Perdi você tão tolamente!

No dia em que você partiu, minha vida partiu junto com você.
Ficou-me esta casa vazia, cheia somente dos ecos de sua lembrança.
Mas vazia, fria mesmo no calor, desértica, murcha, triste...

Exceto nosso banheiro! Aqui não existe vazio, não existe deserto.
Aqui eu SINTO você em cada movimento da água, em cada som,
Em cada bruxulear da vela, em cada reflexo nas taças vazias.
Ah, sim, amor, as taças estão sempre vazias!
Não tenho coragem de entornar nelas o nosso vinho.
Nunca mais vou beber dele enquanto você não voltar.

Ah, você sabe como eu sou um otimista incorrigível:
Então eu monto tudo diariamente e ESPERO VOCÊ VOLTAR!
Sabe, para poder sobreviver, eu tenho que acreditar nisso.
Você é boa demais, você é nobre demais para não me perdoar... um dia.

Então eu espero. E espero. E espero. Dia após dia, após dia, após dia...
Não importa quantos dias... meses... anos... Eu espero!

Mas quando você voltar...
Ah, querida, seu banho, seus sais, suas frutas, seu vinho, suas taças,
suas flores, suas velas, suas toalhas, todos estarão aqui!
E EU estarei aqui. E comigo todo o imenso amor de um homem sofrido.
Arrependido e sofrido, apaixonado e sofrido...
Apaixonado e esperando...
Esperando sua amada,
Esperando sua fada,
Esperando seu Amor.
Volte. Ah, volte, sim...
Por favor!


E L A 
MILTON  MACIEL    

Não consigo esquecer estes olhinhos desde que os vi pela primeira, na foto que é de Vinoth Chandar. Chegou-me através do movimento 50 Million Missing, que busca pressionar os governantes da Índia quanto ao problema crônico da violência contra a mulher  e do generocídio feminino naquele país.

Ela é uma indianazinha. E ela reflete em seu rostinho todo o medo e toda a incerteza que acompanha a condição feminina naquela sociedade machista. Sim, esse problema é extremamente crítico na Índia. Mas eu não quero falar só de Índia agora. Eu quero falar de Mundo, eu quero falar de Brasil.

Eu não sei o nome dessa menininha com medo. Mas vou chamá-la de ELA. E vou usar ELA e seus olhinhos tristes e assustados para falar de TODAS as mulheres deste mundo. Portanto, também das do Brasil. 

Os olhinhos assustados de ELA são os olhos das mulheres que precisam temer por sua dignidade, por sua segurança, por seu direito ao respeito e à liberdade.

É muito triste, muito perigoso e muito desequilibrado um mundo onde metade de seus habitantes tem que ter medo físico da outra metade. Acho isso de um primitivismo a toda prova. Inaceitável.

O gênio de um Matisse, de um Fernando Pessoa, a sensibilidade de uma Isadora Duncan, o poema concreto de uma Estação Espacial orbitando a Terra, de uma Voyager 2 rompendo as barreiras do nosso sistema solar, e então... Então eu vejo os olhinhos de ELA. E tudo aquilo parece refluir para dentro de nossa barbárie coletiva.

Não é possível um mundo em que ELA tem que ter medo no olhar. Os olhinhos de ELA clamam por justiça. Clamam por paz. Clamam por não-violência. O olhar de ELA abrange o mundo inteiro, penetra até à medula cada um de nós. E os olhos de ELA exigem de nós que façamos algo!

Os que achamos que é inaceitável um mundo em que ELA tem que ter medo “dele”, nós os que pensamos assim, temos que fazer algo. Por que ELA não pode fazer sozinha. ELA foi treinada a se acreditar frágil e indefesa, desaprendeu que na natureza são as leoas que caçam e ensinam os filhotes a lutar.

E, em particular os homens que não aceitamos esse estado de coisas, que somos obrigados a reconhecer que o grande predador é o próprio homem, é hora de nos colocarmos corajosamente na linha de frente, hostilizando abertamente os covardes agressores e estupradores, forçando-os a receber justiça, seja de que forma for, até que o dia chegue em que os olhinhos de ELA não mais mostrem medo, mas confiança na vida.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

O OLHAR DA PROFESSORA   
MILTON MACIEL  

(Um preito de gratidão a todas as heroínas e heróis que, através da mais dura realidade diária, imolam suas vidas na ara de sacrifício do ensino público brasileiro básico, construindo, às custas de si mesmos, a sobrevivência e o futuro de um país em que, mesquinhos e ingratos, governadores e prefeitos insistem covardemente  em lhes seguir voltando as costas)

O OLHAR DA PROFESSORA
Tristonho e angustiado, o olhar da professora
Contempla, entre lágrimas, a visão assustadora
Das contas sobre a cama, abertas como um leque.
Ao lado, para honrá-las, o bisonho contra-cheque!
 
As pilhas a subir:
São roupas pra passar,
São louças pra lavar,
Provas pra corrigir!
E filhos a exigir,
Marido a reclamar,
Ninguém para ajudar,
Quem pode resistir?!
 
Alunos revoltosos, preguiçosos, barulhentos,
E, de uns anos para cá, cada vez mais violentos.
A sala de aula pobre, desprovida, abandonada,
E com risco de ser, mais uma vez, interditada.
 
Tristonho e angustiado, o olhar da professora,
Contempla, entre lágrimas, a visão assustadora
Da escola que se afunda, em decadência lenta,
Nas mãos da gestão pública, inepta e/ou fraudulenta.
E pensa no absurdo, o paradoxo tão profundo:
Economia: Sexta. Educação: Terceiro... Mundo!
 
O que fazer, então,
Se essa é sua profissão?
Se pra ganhar a vida
Foi essa a escolhida
Por sua vocação?
E se somente ela,
Em que pese a mazela,
Lhe fala ao coração?
 
Então, mais uma vez, o olhar da professora,
Procura ver além da imagem assustadora.
 
Tem a vida pra levar,
Tem filhos pra criar,
Não pode desistir,
Forçoso é resistir.
Tem que continuar:
Tantos a precisar
Da sua resistência,
Da sua eficiência
Da sua devoção,
Da sua imolação!
 
E, cheio de esperança, o olhar da professora,
Mais uma vez contempla a visão alentadora:
Um futuro diferente, em que outras criaturas
Poderão levar em frente jornadas menos duras:
As novas professoras, de uma nova geração
De crianças, tendo enfim, no Brasil uma Nação.
 
Ela compreende que não sonha, apenas, tal futuro,
Mas que o constrói, a cada dia, com seu trabalho duro.
E que, para educar, ela não mede sacrifício,
Pois essa é a dor e a glória do seu Sagrado Ofício.  (MM)

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

EU, QUASE SOL 
MILTON MACIEL

Um quase-sol semidesmaia no horizonte,
por trás de nuvens ralas, baixas, descabidas.
E um céu cinzento obscurece minha fronte,
levando a doer, ainda mais, minhas feridas.

Em cada nuvem, esboçada pelo vento,
Eu sempre acabo por prever sua figura.
Sou só saudade, sou névoa, ressentimento,
Um triste amante, vencido pela amargura.

No contraponto das esperanças perdidas,
eu desespero, pois pressinto, em plena agrura,
você inconstante, como as nuvens esbatidas.

No meu futuro vejo só agonia pura:
O sobressalto de suas voltas e partidas
e o insano amor que, por você, em mim perdura.


segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

O TEMPO CAMBALEANTE  
MILTON MACIEL

O Tempo é um cavalo baio
de passo leso e cambaio.

Se você está sofrente,
ele passa lentamente.

Se você está contente...
ele passa como um RAIO!

Livros de Milton Maciel 2015

domingo, 15 de fevereiro de 2015

¡TE  PERDI!    
MILTON  MACIEL (Poesías en Español)

Se hizo invierno
De repente
En mi alma.
Y se paró el tiempo.
Y se afondó mi vida…

Machazas  heladas
Han caído sobre
Nuestro amor.
Y en el hielo del ayer…
¡Te perdí!

¡Y me perdí!
No supe vivir
Sin ti.
No lo pude…
¡Me perdí!

He andado en círculos.
Ni sé mas por donde.
En murmullos
Y suspiros.
Y gemidos…
¡Me perdí!

Quantos años?
¡No lo sé!
Se me paró el tiempo,
Se me acabó la vida…
¡Te perdí!

No sé por donde anduve.
Por acá. Y por allá.
Quien sabe?
Yo no sé:
¡Me perdí!

Y el tipo que ahora veo,
Al espejo…
¿Quien será?
No lo sé.
El que yo era…
¡Lo perdí!

La pureza,
La alegría,
La esperanza
Que yo tenia
¿Donde estarán?
Yo no sé.
La vida que yo vivía…
¡La perdí!

Entonces vago solito,
La luz es oscuridad.
Y de todo que yo supe,
No resta nada, al final,
Si no la dura verdad:
¡T  E    P  E  R  D  I !...