domingo, 16 de novembro de 2014

QUE NOS ACUDA NERUDA  
MILTON MACIEL   

Tudo muda, tudo passa.
Desdita vira ventura,
Ventura vira desgraça;
Do honesto vem a trapaça,
Do bruto vem a ternura;
Do círculo, a quadratura,
Da paz a discórdia grassa.

Tudo passa, tudo muda.
Do estável vem a surpresa
Com que o inesperado exsuda
A dor que o peito desnuda.
Esvai-se qualquer certeza...
Então, talvez, nos acuda
Um poema de Neruda:

“El cinturón ruidoso del mar ciñe la costa.
Surgen frías estrellas, emigran negros pájaros.” 

“Hice retroceder la muralla de sombra,
anduve más allá del deseo y del acto.” 



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