segunda-feira, 30 de junho de 2014

RESPEITE OS OUTROS, BOBÃO 
MILTON MACIEL

Pare de dizer bobagem contra a Copa.
Pare de dizer bobagem contra o futebol.
Você pode não gostar, mas...
Respeite um país quase inteiro que adora.

E sabe o que mais: vê se não amola!
Você já viu que coisa mais linda e feliz
É uma criança quando tem uma BOLA?

E é essa criança que nos dá razão:
ESPORTE... é uma coisa natural, bobão!


domingo, 29 de junho de 2014

CONSCIÊNCIA CÓSMICA - New Age Music - Filosofia - Literatura
MILTON MACIEL

Consciência cósmica: A total percepção de ser Um com o Todo. De ser essência de luz, energia supra-corpórea, vibração além da forma. Cosmos.
Consciência Cósmica: a certeza de Ser, independente de ter, independente de estar. Eu-Infinito, indissolúvel. Universo. Paz. (MM)

GEORG DEUTER - Earth shadow;



MEIO-CAMPO
MILTON MACIEL

Atenção, criançada da Seleção, escutem bem o que o Tio vai falar pra vocês. Filipinho, Parreirinha e demais menininhos, sentem quietinhos e prestem bem atenção:

Isto aqui, meio amarelado no centro do gramado, é um RETÂNGULO. Isso vocês já sabem o que é, não é? Bem, aqui ele representa o MEIO DE CAMPO ou Meio-campo. É aqui que se ganha o jogo, entenderam, crianças? Se um time perde o meio de campo, geralmente perde a partida.

Não, nós não! Nós não temos meio-campo. Para saberem o que é isso e quem deve ser convocado para jogar aí, dêem um Google em “meio-campo”. Estudem bem. Depois dêem Google em Gerson, Clodoaldo, Rivelino, Falcão, Sócrates, Zico, Cerezo, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho, Kaká e estudem bem o que vão encontrar na Wikipedia.

Certifiquem-se que Luiz Gustavo, Ramires, Paulinho, Fernandinho e outros inhos aprendam bem como esses caras jogavam. Sim, eu sei, eu sei, a comparação é cruel, os caras eram mesmo MUITO MELHORES! Paciência, temos que jogar com o que temos agora... afinal a gente já ganhou com a turma do Dunga; nos pênaltis, mas ganhou (A bênção, meu São Roberto Baggio!).

Não, meninos, chutão pra frente não estabelece ligação entre defesa e ataque. Aí o Fred fica com jeito de pateta e o Jô faz ainda pior.

Se vocês gostam tanto de rifa, rifem a cuia e a bomba do Luiz Felipe. Mas NÃO RIFEM A BOLA!

Se marcarem bem o Neymar, vocês estão acabados. Isso escancara que vocês não são um TIME. Está na hora de alguém mais virar herói. Oscar? Acorda, rapaz! William até pode entrar ocasionalmente, mas só quando a gente precisar errar um pênalti. Fora isso...

Então repitam com o Tio: “Nós não temos meio-campo. Nós não temos meio-campo. Nós não temos meio-campo.” Dez vezes!  E, depois disso, tratem de arranjar um!!! Agora que o Chile foi desclassificado, o bom seria contratar o meio de campo deles, que deu um banho de bola em vocês,  menininhos. Pena que a FIFA não vá permitir isso.

Uma última observação: Deus pode não ser brasileiro, mas chileno, com certeza, ele também não é. Pois se nem com um juiz tri-ladrão os chilenos conseguiram vencer um jogo que dominaram amplamente! Agora, a coisa também não foi tão mal assim, porque, se não fosse o inglês tri-ladrão, o Brasil ganhava o jogo mesmo jogando mal. Afinal, Deus pode não ser brasileiro, mas as traves são!

O Jorge Cajuru deve estar imaginando, na teoria conspiratória idiota dele (não, melhor: dele idiota), que a FIFA subornou o travessão e a trave para evitarem os gols do Chile na partida e nos pênaltis, para fazer o Brasil campeão.

Ah, cuidado: a Colômbia tem meio-de-campo, viu! Pronto, dispensados. Agora vão estudar a liçãozinha de vocês.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

O USO DE DEFENSIVOS EM AGRICULTURA ORGÂNICA
MILTON MACIEL

Em Agricultura Orgânica, o uso de defensivos é mínimo. Isso porque se observa uma série de condições de cultivo e trato que procuram restaurar, o máximo possível, as condições mais naturais para os organismos vegetais e animais tratados.

Os poucos produtos usados são de natureza especial, não são agrotóxicos de síntese. São produtos que não colocam em risco a saúde do aplicador e, muito menos, deixam resíduos tóxicos para o consumidor. Todos eles devem se enquadrar nas rigorosas normas de produção orgânica prescritas pela legislação específica vigente em cada país. E, em qualquer hipótese, devem constar do rol de produtos permitidos pela Federação Internacional de Movimentos de Agricultura Orgânica (IFOAM).

Contudo, o mais importante de todos os defensivos orgânicos é: NÃO PRECISAR DE DEFENSIVOS.

Exatamente isso, por mais estanho que possa parecer àqueles que chegam pela primeira vez ao campo tão moderno desta forma de agricultura, geralmente confundida com a agricultura tradicional dos antigos. Ou seja, em Agricultura Orgânica, cada vez que um inseto consegue virar praga, predominando plenamente sobre seus concorrentes e predadores; ou quando uma bactéria, fungo ou vírus consegue se multiplicar livremente, sem encontrar resistência por parte da planta e concorrência por parte da biocenose, então uma coisa é certa:

O certo é que nós estamos errados!

Sim, a planta está sendo submetida a stress de algum tipo e isso a desequilibra, baixando-lhe a resistência e atraindo um tipo particular de inseto, que passa a nutrir-se preferencialmente dela e a proliferar abundantemente.

Ou seja, a planta estressada – porque submetida a condições de clima, altitude, temperatura, época do ano, incompatíveis com a cultivar escolhida; ou por excesso ou falta de água, por desequilíbrio nutricional (falta de alguns nutrientes, excesso de outros ou desbalanço entre eles) – não encontra condições ótimas de vida e entra em desequilíbrio. Só depois disso é que um inseto vira praga ou um fungo se alastra e provoca doença.

Isso é um princípio basilar em Agricultura Orgânica, correspondendo ao princípio médico da Medicina Preventiva. A agricultura química convencional corresponde à Medicina Curativa convencional. A base dos princípios convencionais vigentes é a mesma e parte da mesma origem pontual: garantir o máximo uso de produtos fabricados pela indústria química – agroquímica num caso, farmacêutica no outro. Tanto faz, já que os donos de ambas são os mesmos.

Continua: A Ética da Morte – Fármacos, agroquímicos, cigarros.



terça-feira, 24 de junho de 2014

HÁ VENENO DEMAIS EM SUA BOCA!
I - O DEPENDENTE QUÍMICO
MILTON MACIEL
E se a agricultura convencional fosse uma pessoa?
Se por um momento nós resolvermos equiparar a agricultura convencional a uma pessoa, fatalmente iremos concluir que estamos perante um Dependente Químico. Que, como todo viciado em drogas, apresenta algumas características comuns inconfundíveis. Essa “pessoa”:
- Não sabe mais existir sem sua dose habitual de drogas químicas, progressivamente crescentes, mutantes e mais caras.
- Ele entra no vício induzido por seus fornecedores que, estranhamente, não são combatidos por agentes oficiais. Ao contrário, recebem apoio para o vício destes oficiais governamentais e de alguns agiotas pesados da praça, autodenominados bancos.
- Essas drogas químicas estragam sua saúde e contaminam sua casa, tornando-a perigosa para os não-dependentes e para os animais. E, evidentemente, para os que compram e consomem produtos do dependente químico.
- Os fabricantes dessas drogas sabem os males que elas causam. Mas, é claro, mentem a respeito disso o tempo inteiro, porque, igual aos fabricantes de outra droga letal, o cigarro, esse fabricantes precisam desesperadamente que um número cada vez maior de produtores se tornem dependentes de seus produtos químicos.
- Essas drogas químicas estão sempre subindo de preço, muito mais do que os ganhos limitados do dependente.
- Para poder comprá-las e dar continuidade a seu vício, o dependente químico precisa sempre de mais e mais dinheiro.
- Por isso mesmo, uma vez que não tem habitualmente atividade sustentável, precisa recorrer sempre e mais aos agiotas.
- Esses agiotas nem sempre liberam todo o dinheiro que o dependente precisa, ou não o fazem quando ele mais precisa. É uma manobra.
- Os agiotas se resguardam com a garantia dos bens do dependente. E são terríveis cobradores de dívidas. Costumam executar o dependente e tomar-lhe os bens pessoais.
- A saúde dessa pessoa dependente é, naturalmente, muito debilitada.
- Ela está em situação cada vez mais difícil no mercado.
- E, como se isso não bastasse, ainda tem que competir com um número cada vez maior de pessoas (produtores) que não são dependentes químicos (os orgânicos).
- Estes outros, os não-dependentes químicos, não desperdiçam seu dinheiro com drogas químicas e o mercado prefere os produtos deles, justamente porque não tem resíduos perigosos das drogas químicas.
- Embora os governos não ajudem essas pessoas sadias, não-dependentes, o número delas não pára de crescer.
- Os governos também não ajudam os dependentes agroquímicos, porque também lucram com sua dependência.
- A perspectiva histórica demonstra que os governos têm prejudicado muito esses pobres dependentes químicos, porque têm sido manipulados pelos grandes fornecedores de drogas químicas, principalmente através de verbas de campanha, subornos e verbas de pesquisa acadêmica, em todo o mundo.
- Os grandes produtores de drogas químicas gastam milhões e milhões de dólares fazendo propaganda enganosa e fazendo lobbies milionários descaradamente, de modo a manter o dependente químico tapeado e capaz de acreditar que esses traficantes estão do lado do bem e que trabalham pelas “ciências da vida”, enquanto semeiam a destruição e a morte.
- Os grandes fabricantes de drogas químicas estão agora procurando tornar o dependente químico também dependente biológico, tratando de vender a ele sementes e pacotes químicos exclusivos de transgênicos, onde, além do gasto maior em produtos químicos, o dependente tem que pagar também por sementes caríssimas e pagar royalties pelo uso de uma tecnologia devastadora.
(Excerto do livro A HORTA ORGÂNICA PROFISSIONAL – Milton Maciel – Solovivo, 2000)

sexta-feira, 20 de junho de 2014

UM CONTO ERÓTICO “EXPLÍCITO” DEMAIS  
MILTON  MACIEL   

Uma relação mui caliente!

Há meses ele estava de olho nela. Na verdade, desde que aquela gata sensacional havia se mudado para o prédio ao lado. Ela era mesmo demais, capaz de deixar qualquer um enlouquecido. A prova é que ele não era o único a suspirar por aquela musa, os outros caras do pedaço também viviam a fim dela. E como condená-los por isso?  

Ele sacou logo de cara que a concorrência ia ser braba! E viu que ia ter que apelar para algum artifício, porque não podia ter garantia alguma que ela fosse dar bola pra ele, que dirá aquilo ele queria que ela desse!

Aliás, a rigor, ela não dava bola era pra ninguém. Uma esnobe, isso sim. E que esnobe!  Se chegava à janela da frente, ignorava solenemente os caras prontos a se curvar até quebrar a espinha por causa dela. Com ele, então, a coisa era pior.

Isso porque um dia, quando ela passeava sozinha pelo jardim da casa dela, ele havia se aproximado um tanto afoito demais. Sim era preciso reconhecer: faltara-lhe classe e compostura. Chegou muito rápido, sem entabular uma boa conversa, um bom papo de aproximação. Foi só se chegando, se chegando. E aí, de repente, vendo aquela carinha mimosa a poucos centímetros dele, vendo aquele corpo enlouquecedor tão ao seu alcance, não se segurou: avançou demais o sinal, fez uma manobra de aproximação brusca e definitiva. O resultado foi que experimentou a mão dela na sua cara, num tapa que lhe pareceu, psicologicamente, uma verdadeira patada, as unhas dela lanhando o seu rosto descarado.

Depois disso é que a situação ficou muito mais feia pra ele. Se antes o esnobava, agora ela simplesmente virava a cara quando ele aparecia. Era evidente que não gostava dele. Também, ele havia sido imprudente demais!

Dessa forma passou-se mais um par de meses. Ele suspirando por ela, ela nem aí para ele. Verdade seja dita, porém: não estava nem aí para os outros caras também, para os seus concorrentes. Por isso quando, numa certa tarde, ela apareceu no pátio de casa com uma atitude totalmente diferente, ele estranhou demais. Ao invés do ar esnobe ou indiferente de sempre, ela desta vez deitou-lhe uma mirada de derreter iceberg e Titanic ao mesmo tempo.

Ela estava deslumbrante, mais fascinante do que nunca. Movia o corpo perfeito como se dançasse uma música sutil e envolvente, que só ela podia ouvir. Num certo momento ela se deitou no gramado, voltou-se para um lado e para outro, num movimento enlouquecedor. Ah, que coisa do outro mundo aquela gata! Era, sem favor nenhum, a mais linda que ele já tinha visto em toda a sua vida de malandro namorador. Deixava todas as outras no chinelo. A cara, os olhos de mel, a boca, o corpo e o... o rabo , com o perdão da má palavra. Ah, mas só falando assim: aquele rabo o deixava enlouquecido.

Como agora, toda aquela provocação estava lhe dando nos bagos. Tendo certeza que ia levar um novo tapa na cara, ele resolveu arriscar tudo. Nunca fora covarde, ia partir pro tudo ou nada. Pensou: ou dá ou desce. Acreditando que ele ia ter que descer, que ela não dava coisa nenhuma.

Mas ficou estupefato ao ver que ela agora não o repelia. Pelo contrário, parecia que o chamava com olhar e a postura do corpo enlouquecedor. Ele perdeu todos os receios e, com isso, perdeu também todos os modos. Aproximou-se tanto a ponto de tocá-la e abraçá-la de leve. Ela não o repeliu. Parecia gostar. Ali pertinho, ele aspirou o suave aroma que vinha daquele corpo escultural. Estava bem diferente hoje daquele do dia em que levara o doloroso tapa. Era doce, suave, instigante. Afrodisíaco, sem dúvida!

Aquilo deu-lhe nos bagos, e ele perdeu todo o controle. Ainda tentou se segurar, cantando para ela, como para se dar tempo e poder ganhar um mínimo de autocontrole. Ela não pareceu surpresa e, contrário a toda expectativa dele, pareceu ter gostado do seu canto e da sua voz, que ele mesmo achava feia e desafinada, tipo taquaral inteiro rachado. Mas, se a gatinha estava a fim, não era ele que ia perder a oportunidade. Encheu os pulmões e desatou na cantoria mais alta e gritada que já tinha feito na vida. Para ele estava horrível, mas para ela parecia a mais delicada serenata, pois ela se aproximou ainda mais e começou a se esfregar nele, delicadamente.

Ele então sentiu toda a força da sua masculinidade intumescer e a enlaçou por trás. Ela aceitou a abordagem e então os dois explodiram numa cena de sexo intenso e explícito ali mesmo, em plena grama do pátio. Ele não parava de cantar, porque parecia que o seu canto tinha o condão de enfeitiçá-la e de excitá-la. Aproveitou-se da aceitação passiva dela e de repente, assim mesmo como estava, às costas dela, com uma brusca manobra muito bem feita, conseguiu penetrá-la com uma só e certeira estocada. Ela pareceu delirar, revirando os olhinhos de mel e soltando uma série de gemidos entrecortados.

Aquela seria a relação sexual mais perfeita de sua vida, teve convicção naquele momento. Mas houve algo que veio atrapalhar a perfeição’total, embora não chegasse a lhe tirar a sensação de euforia e vitória. Na hora H, quando ele se sentia esvair dentro das entranhas dela, sentiu como uma cachoeira de água fria caindo sobre suas costas. E, ao mesmo tempo, escutou uma voz de mulher aos berros:

– Seu Chico, Seu Chico, acode aqui rápido! O seu gato está pegando a minha gatinha, pobrezinha! Já joguei um balde d’água neles e não adiantou. Seu Chico, corre aqui, pula o muro, pelo amor de Deus. Que horror, como é que eu não vi que a Penélope tinha entrado no cio???

Imagem: Dreamstime

quarta-feira, 18 de junho de 2014

SUPREMA EXPRESSÃO DA BELEZA   
MILTON  MACIEL 

Ó divinos criadores, arquitetos celestiais,
Eis o novo desafio, de dimensões colossais:
É mister que, hoje, criemos o canto de uma nação
E, para os seus habitantes, uma forma de expressão.

Seja uma forma falada das mais sutis melodias,
Que possa cantar, a um tempo, os amores e elegias.
Que tenha o sonido cavo do ribombo dos trovões,
Expresse o bramido das ondas, o ronco dos furacões.

Mas que possa, ao mesmo tempo, doces amores cantar,
E espalhe os suaves sussurros dos amantes ao luar.
Que ela traduza, dolente, mil sutis sonoridades,
Que vão do brilho dos céus até a escuridão do Hades.

Que abrigue em seio gentil as rimas mais primorosas
E que descreva, inebriante, cores e aromas de rosas.
Mas também saiba dizer, a mais que suaves dosséis,
O estrupidar violento dos cascos de mil corcéis.

Cante a vida delirante, com seus prazeres sensuais,
Mas grite também lamentos nos momentos mais fatais.
Que externe a alegria que encanta e a mágoa que corrói
E celebre, em triunfantes odes, os seus maiores heróis.

E ao chegarmos, no final, a tal expressão da Beleza,
Chamaremos a esta jóia de LÍNGUA PORTUGUESA.
                                                 (Quadro: O Menestrel, por Franz Hals)

terça-feira, 17 de junho de 2014

E O PEITO EXPLODE, A COMETER POESIA
MILTON MACIEL

No céu a Lua exsuda calmaria.
A morna brisa, os jasmins perfumam.
Ao longe arpejos de uma guitarra...
Uma alma canta, sofrente cigarra,
Pois as saudades de um amor se exumam
E o peito explode, a cometer poesia.

Gementes versos sobem ao infinito,
Lágrimas mornas o papel inundam.
Trêmulas linhas surgem do passado
Compondo canto dolente derreado.
E com os versos que na dor se fundam
Nasce da dor o poema mais bonito.



domingo, 15 de junho de 2014

EVILÁSIO NA PRAIA: O FIO-DENTAL  
MILTON  MACIEL

Evilásio é um caso raro de convencimento. Realmente, ele se acha! No outro dia encontrei seu diário, mal escondido na mochila encardida. Como eu sou um caso raro de enxerimento, avancei logo no dito cujo e passei a ser um caso comum de falta de escrúpulos. Não só li, como fiz uma cópia xerox dos alfarrábios. E agora, pior ainda, faço a indignidade de colocar tudo na Internet. Também, o cara merece. Sabe como é o nome do seu diário? Pois ele o intitulou de “Memórias de um Gênio”. Vou transcrever um trecho aqui para vocês:

“Meu mundo interior é riquíssimo. Tenho certeza que deveria ser tombado como Patrimônio Emocional da Humanidade. Em compensação meu mundo exterior é uma droga. Por causa dos outros, é claro. Eles são primários demais para reconhecerem minha genialidade. E eu, há muito tempo, desisti de fazê-los ver o privilégio que é ter alguém como eu a seu alcance. Desisti, não vale a pena. Então me fechei para o mundo deles. Na verdade, nem noto mais o que se passa lá fora. 

A praia, por exemplo. Todo mundo adora praia. Eu não. Nunca vou à praia. Antigamente, quando era jovem e não percebia ainda toda a minha grandeza, eu até ia à praia; para caçar mulher, evidentemente. Hoje, não. Sou imune a isso. Até fiz um teste dias atrás e fui à praia, para ver minhas reações atuais. 

Olhei algumas bundas, é bem verdade, achei-as sensacionais eu também. Afinal, ainda sou homem e elas, as bundas, são oferecidas como amplo material promocional, passaram a ser a própria essência das praias no Brasil. As meninas vão para mostrar as bundas, os homens vão para curti-las. Azar das desbundadas pela própria natureza, delas não é o reino das praias. 

Para todas as outras, as dotadas e as siliconadas, existe o fio-dental. Um prodígio, um fetiche da cultura machista, foi inventado para esbugalhar os olhos dos homens e obrigá-los a raciocinar com os escassos neurônios dos bagos. Passam os fios-dentais, giram os olhos dos homens para fora das órbitas, giram os olhos de suas mulheres ou namoradas, cenhos cerrados, no inútil afã do patrulhamento. Eles suscitam suspiros e brigas em iguais proporções.

Acho que os baianos de Salvador equacionaram melhor o paradoxo do fio-dental. Sem lhe tirar o poder de fetiche sexual, reduziram-no, por outro lado, a uma faceta mais... olfativa, digamos. Em Salvador, o fio-dental é chamado de “cordão cheiroso”. É, pelo menos para mim, tira um pouco do encanto, caramba.

Ontem fiz uma experiência comigo mesmo. Dobrei bem uma cuequinha fina, simulei um fio-dental, vesti a peça e a enfiei no rego. Tá certo que minha bunda magra, caída e peluda ficou um pavor no espelho, mas não era isso o que me interessava. O que eu queria saber é como uma mulher se sente quando enfia aquela coisa no rabo. 

Foi horrível! Ao menos para o meu. Como elas aguentam é que eu não sei. Acho que se acostumam, são obrigadas, coitadas, desde criancinhas, a enfiar o cordão no reguinho. E passam a sonhar que, ao crescer, terão bundas enormes, glúteos prodigiosos a espalhar-se abundantes dos dois lados do cordão cheiroso. É a moda, que podem elas fazer? Academia, malhação, exercício para os glúteos e, na falta de resultados conclusivos, o milagre do silicone industrial francês. Ah, não, é demais pra minha cabeça! 

É por essas e por outras que prefiro a riqueza do meu mundo interior e ignoro essas coisas incongruentes do mundo externo. Afinal, quem tem o privilégio de conviver 24 horas por dia com um gênio, como eu tenho, para que vai perder tempo com o resto?”

E por aí vai.... Esse Evilásio! É mesmo um fenômeno raro. 
Ele se acha, mesmo!... 

sexta-feira, 13 de junho de 2014

PORQUE VOCÊ DEVE AUTO-PUBLICAR O SEU LIVRO 
MILTON MACIEL 

Hoje em dia está muitíssimo mais fácil ESCREVER um livro. Há bons programas, como o velho novo Word, com bons corretores ortográficos e que já formatam o texto para livro, de forma que você já pode escrever dentro do formato final.

Existem cursos de formação de escritores, que oferecem a presença do coach e do grupo, ambos fatores de estímulo para que você tenha coragem de começar e terminar o seu manuscrito, com competência cada vez maior como autor.

Tudo isso faz com que tenhamos um número enorme de pessoas tentando lançar-se como escritores e escritoras. Contudo, pela própria multiplicação desses novos artífices da palavra, o número proporcionalmente não-crescente de editoras é incapaz de absorver e publicar essa enorme multidão de bons autores. E, para piorar as coisas, quando se trata do mercado de ficção, as editoras de maior porte preferem comprar originais no exterior, quase que só no mercado americano de Best Sellers.

Hoje, no Brasil, a chance de um novo autor ser aceito por uma editora que não lhe cobre para publicar seu livro é de 4% apenas. Ou seja, de cada 100 candidatos, só 4 vão ser aprovados, aceitos, publicados e vão receber cobertura de marketing e mídia.

Para os demais sobram as editoras pequenas, que cobram do autor o equivalente ao gasto com a produção física do livro e, de um modo geral, não têm capacidade de colocá-lo em destaque na mídia, o que o condena a vender muito pouco ou não vender. Uma grande parte dessa editoras só consegue sobreviver captando sempre e sempre novos autores, uma vez que o lucro delas está na venda da produção editorial em si ao autor e não à venda dos livros produzidos através das livrarias. Seu mercado comprador são os autores, não os livreiros.

A terceira via disponível é a da auto-publicação. Nesse caso você mesmo

a) Manda publicar seu livro através de uma gráfica convencional. Essa opção o obrigará a fazer tiragens de pelo menos 500 livros, idealmente 1000 ou mais, com a correspondente imobilização de capital investido.

b) Manda publicar seu livro através do sistema de impressão sob demanda. Nesse caso você não precisa imobilizar dinheiro em tiragens maiores, mas o seu custo unitário vai ser MUITO maior e a venda ficará, na imensa maioria dos casos, nas mãos dessa editora do tipo impressão sob demanda. Geralmente ela tem uma estrutura sofrível de distribuição e capacidade de venda.

c) Produz e publica seu livro VOCÊ MESMO, em quantidades muito pequenas, sem imobilização de capital em produção, custo muito baixo e direcionamento do seu esforço para mídia e vendas. Este é um caso de auto-publicação sob demanda que VOCÊ MESMO administra. Neste formato, você coloca seu livro recém-escrito e revisado imediatamente no mercado, sem depender de aceitação por editora convencional ou de impressão sob demanda.

Não se iluda pensando que o problema neste terceiro caso é a venda do livro. Porque o problema é o mesmo nas três opções. Vou repetir mais uma vez o axioma que aprendi ad nauseam nos cursos que fiz nos Estados Unidos:

1 - Livraria não vende livro – é tão somente o depósito físico ou virtual onde o leitor COMPRA um certo e bem determinado livro, que ele viu promovido em alguma mídia.

2 – Editora não vende livro – apenas o produz, manda a gráfica imprimir e a distribuidora entregar às livrarias.

3 – Quem vende livro é AUTOR! Se você não der as caras nas mídias convencionais e sociais, não tiver uma plataforma, não for ou não souber se fazer CONHECIDO, não há editora ou livraria neste mundo que possa garantir seu sucesso como escritor.

Ora, com uma chance tão baixa (4%) de ser aceito por uma editora brasileira de porte; e com uma obrigação de trabalhar para se fazer conhecido,  para poder vender em qualquer das três possibilidades de edição, então fica óbvio que o negócio é trabalhar para você mesmo:

1 – Aprenda a se tornar conhecido através do seu primeiro livro, produzido por VOCÊ MESMO em tiragens muito pequenas, apenas o suficiente para você ganhar acesso às mídias. Ou se você já publicou livros antes e já amargou o insucesso dos encalhes, aprenda de uma vez por todas que o caminho que você seguiu é o caminho errado.

Há poucos dias um cliente chegou a mim e me disse:

– Tenho um orçamento de oito mil reais para imprimir mil livros. Que lhe parece?

Perguntei-lhe:

–  Já os vendeu?

– Como?! Não claro que não, pois se ainda não mandei imprimir. O que eu devo fazer?

– Gastar muito menos menos do que isso em promoção e assessoria de imprensa. Imprimir você mesmo 50 livros para se apresentar como autor. E aí dando entrevistas, postando diariamente em seu próprio blog, mantendo um presença forte nas mídias sociais, fazendo palestras, dando cursos, você vai começar a vender livros e vai mandar imprimi-los à medida que os for vendendo. E aí vai passar de 1000, de 2000, trabalhando basicamente com o dinheiro do seu leitor e facultando a ele um preço mais baixo que o do mercado convencional. Você vai criar uma grife, estabelecer seu nome como autor, algumas editoras de porte vão se interessar por você e é bem possível que você nem se interesse por elas, pois seu negócio de fabricação e venda direta, mormente por Internet, de livros pode ser muito mais lucrativo. Você vai ser o que eu passei a chamar de um ESCRITOR AUTO-EDITOR.

            (continua)

quarta-feira, 11 de junho de 2014

A INTENTONA DE 35  
MILTON MACIEL

No terceiro copo de chope, eu já sou um cara espontâneo. No quinto, fico sincero pra burro. No sexto, ousado. Assim, depois de uns... (bom, sei lá quantos, não lembro mais, com aquela comida árabe toda, aqueles charutos de repolho) lasquei direto pro Maguito:

– Tô louco pra pegá tua irmã! Muito gostosa!

O Maguito já devia ter passado dos dez, porque ele respondeu na lata:

– Eu também! Mas essa sociedade decadente inventou essa porra de incesto...

– Tô doido pra dá uns amassos nela.

– Taí, tu tem bom gosto! Já que eu não posso, eu te ajudo.

Dei um beijo no Maguito e gritei pro garçom:

– Mais charuto de repolho. E o meu maior amigo aqui não paga nada hoje.

E o Maguito:

– Salta mais chope também. O meu cunhado aqui não quer que eu pague nada hoje.

E aí ele me segredou:

– A Sílvia tá fácil, fácil, na comemoração do coroa. E como lá só tem velho mesmo, se a gente vai, você se dá bem.

– Que papo é esse de comemoração do coroa.

– Ah, é um barato do nosso avô. Hoje é 27 de novembro. E todo 27 de novembro, ele junta um monte de caco velho que nem ele e comemoram o aniversário de uma tal de Intentona.

– Intentona? Mas quem é essa Intentona? É uma velha da patota deles?

– Não pode ser. Porque eles falam que é a Intentona de 35. O velho tem pra mais de 80 anos. Pode ser uma pilantra de 35 anos, que dá mole pros velhos e arranca uma grana deles. Se bem que, no caso do meu avô, quem dá mole é ele mesmo. Dura é que ele não vai dar.

E o Maguito se afogou com o chope, de tanto que riu do velho. Aí eu mandei ver:

– Pô, vamo logo pra essa tal de comemoração, to doidão pra pegá tua irmãzinha.

Paguei e a gente errou a saída, saímos foi no pátio dos fundos do restaurante. Lá tinha uma moto com a chave no contato. A gente montou e saiu a toda. Na porta do restaurante tive a impressão de ver o nosso garçom correndo desesperado. Mas acho que foi coisa do chope.

Porra, o Maguito dirige moto mal pra burro! Ou vai ver que foi o chope! Afinal a gente chegou no tal clube não chegou? Tá certo que antes a gente entrou numas vielas bem pau da Rocinha, uns caras lá mandaram chumbo na gente, o maior barato, a gente caiu na gargalhada, porque os panacas atiravam mal pá caralho,  não acertaram um único teco na gente! Afinal, o tal clube ficava em São Cristóvão, não sei o que o Maguito foi fazer na Rocinha, se a gente saiu do Catete.

Mas o que importa é que nós chegamos lá. Aí o Maguito perguntou onde eu ia estacionar o meu carro. Arrepiei:

– Pô, é mesmo cara, a gente foi no meu carro, de onde saiu essa moto?!

Bom filosofia numa hora dessas não adianta nada, a gente já estava no tal clube, o negócio era entrar logo, porque eu tinha dois problemas agora: Um: eu tava louco pra encontrar a irmã do Maguito e dar uns amassos nela; Dois: aquela idéia de misturar chope com comida de boteco árabe e um monte de charuto de repolho tava me causando uma rebordosa no baixo ventre. Avisei o Maguito:

– Vai desentocando a gata pra mim, eu tenho que achar um banheiro antes, emergência!

Mas nessa hora a Silvinha apareceu, toda bronzeadinha, com um vestidinho branco que acabava meio palmo abaixo da calcinha (era branca também!). Aí eu pirei. Dane-se o banheiro, pra que um homem tem força de vontade?

A Silvinha agarrou o Maguito pelo braço e disse:

– Você atrasado como sempre! E ainda traz um amigo junto. Oi, Heleno! Olha, entrem de fininho, o negócio do velho já começou tem um tempão, eu agüentei o que deu, tive que ficar até o fim do discurso do vovô. Você sabe como é horrível, todo ano a mesma coisa, A tal da Intentona de 35. Agora fiz sinal pro coroa que tinha que ir no banheiro. Mas vocês entrem de fininho, por favor. Se o velho saca que vocês não estavam na hora do discurso dele, vai ser o diabo! Olha, tem uma porta lateral pequena, com uma cortina, entrem meio abaixados por ali, sai no meio do auditório. Mas não façam barulho, pelo amor de Deus!

Eu estava hipnotizado pela boquinha da Silvia. As coxas bronzeadinhas... aaah. Pô, não saquei onde era a tal porta lateral. O Maguito muito menos. Mas ele me deu um empurrão e disse:

– Vamos, vamos, onde tiver uma cortina a gente entra.

A gente deu umas três voltas e nada de cortina. Lá dentro já estavam lascando um velho hino, pelo som devia vir de um daqueles discos de 78 rotações que o velho tinha, era uma chiadeira só. Por fim encontramos uma cortina, até que grande pra burro e nos enfiamos meio abaixados. Saímos no meio do palco!

A velharada toda se agitou. Era um monte de coroas com fardas militares antigas. Pensei: Ih, fedeu! Mas o coroa do Maguito até que foi legal:

– Isso são horas de chegar, meninos?!  Mas nós não podemos reclamar, afinal é lindo ver que a juventude de hoje ainda sabe respeitar e prestigiar os verdadeiros heróis como meu pai, o terceiro-sargento Argimiro Saldanha.

– Viva Argimiro Saldanha! – gritaram todos os velhos.

Perguntei baixinho pro Maguito:

– Quem foi esse cara?

– O pai do meu avô. Minha mãe disse que o velho era doidão. Quando era apresentado para as pessoas, dizia que era um herói, que tinha levado tiro durante um tal de levante. Foi um tiro na bunda. E aí, pra provar, ele arriava as calças e a cueca e mostrava a cicatriz na bunda mole e murcha. O vovô tem o maior orgulho desse seu pai herói.

– Pô, velho muito doidão... Devia cheirar umas carreiras pesadas, não?...

– Sei lá. Mas olha: o coroa está chamando a gente pro meio do palco. Vamos lá.

No centro do palco havia uma coisa coberta com a bandeira do Brasil. O velho falou:

– Este ano vamos deixar que os jovens tenham o privilégio de abrir nosso relicário. Por favor, rapazes, vocês que representam o futuro heróico desta pátria amada:

E, com um só puxão, arrancou a bandeira de cima do... do CAIXÃO DE DEFUNTO!

Puta cagaço, quase me borro! Não, é verdade, a essa altura a coisa tava braba lá por baixo, minha barriga fazia barulho de cano d’água e eu comecei a suar frio. Um caixão de defunto!

O velho pegou minha mão, botou numa parte da tampa e disse:

– Você, meu jovem, vai ter a honra de abrir nosso esquife de 2013. Vamos homenagear nosso soldado desconhecido.

Na verdade ele é que abriu aquela tampa. Dentro tinha um cara morto, com farda do exército, um monte de coisa parecendo sangue na tal farda. Minha revolução intestina piorou muito. Mas o Maguito me deu um puxão e cochichou no meu ouvido:

– Se acalma, cagão! Eles fazem isso todo ano, é um MANEQUIM!

Olhei bem e senti que o sangue me voltava às faces. Mas algo continuava indócil mais embaixo. Caramba, eu tinha que correr para um banheiro já!

Com o tal esquife aberto, o velho comandou:

– Agora o momento culminante de nossa festividade. Todos em pé no auditório, vamos nos preparar para fazer um minuto de silêncio em homenagem a todos os valentes militares mortos pela Intentona Comunista de 35.

Eu fiquei impressionado e cochichei pro Maguito:

– Pô, essa Intentona era comunista é? E ela matou uns soldados?

– Comunistona. Irada! Matou  uma porrada de milico, cara. Daqui um pouco eles vão ler a lista, mais de 20, todo ano eles lêem.

– Intentona! Que nome. Acho que deve ser apelido. E eu pensando que era amiga do teu coroa, que ele andava de cacho com ela...

– Não, eles falam mal dela pra burro. Era inimiga deles. Acho que chamam de intentona por que devia ser uma baita gordona. Só não lembro como é que ela matou tanto homem sozinha.

– Ora, mano, só pode ter sido uma bomba! Vai ver ela era gente do Bin Laden.

Um olhar severo do avô nos impôs silêncio. E o velho me colocou um calhamaço de folhas na mão:

– Esta ano, nosso jovem visitante aqui vai receber a grande honra de ler a nossa lista de heróis mortos pela Intentona de 35¸ esse bárbaro atentado contra o quartel, levado a efeito pelos comunistas aqui no Rio de Janeiro, naquela trágica noite de 27 de Novembro de 1935. E agora, por favor, todos quietos, chegou nossa hora mais solene: um minuto de silêncio em homenagem aos nossos heróis mortos pela Intentona Comunista de 1935!...

E o silêncio começou. Eu estava pasmo. A tal Intentona não era uma mulher gordona terrorista, era um atentado de uns malucos contra um quartel. Tinham matado uns carinhas e...E tinha sido em mil NOVECENTOS e trinta e cinco! Caramba, mas que idade tinham aqueles matusalens ali, então?!

O pior é que, assim que acabasse o tal minuto de silêncio, eu ia ter que ler um monte de nomes com biografias. E eu estava tremendo. Cara, a coisa na minha barriga estava demais! A pressão aumentando, aumentando, aumentando. Até que de repente, no meio do maior silêncio daquelas dezenas de pessoas, a pressão encontrou o caminho da liberdade. É, foi por lá mesmo, que outro caminho existe?  Eu arregalei os olhos, me apertei todo, mas não deu pra segurar. De repente, saiu um barulhão de canhonaço das minhas entranhas, em revolta contra charutos de repolho e comida árabe com chope:

– Brrrruuummmmmmm!... – em pleno minuto de silêncio.

O Maguito caiu na maior gargalhada, se dobrava de tanto rir. A Silvinha, que tinha voltado e estava bem na fila da frente do auditório, fez a mesma coisa. Os velhos do auditório até que tentaram segurar a gargalhada, era falta de respeito com o manequim no caixão, mas... Também não deu, a gargalhada foi geral. E crescente, cada vez mais alta.

O avô do Maguito ficou vermelho, furioso, apoplético! Parecia que ia ter uma coisa. Nunca um desrespeito tão grande tinha acontecido numa cerimônia solene como essa, em seus mais de 85 anos. O velho passou a mão numa espada velha, dentro da bainha, e veio pra cima de mim, ia me desancar com bainha e tudo.

Mas mal deu dois passos e teve que recuar apavorado. O CHEIRO, camarada! O cheiro ali no meio daquele palco tava um horror. Eu também tava apavorado. Mas muito mais apavorado fiquei quando o tal manequim deu um pulo de dentro do caixão e deitou a correr para o auditório.  A coisa tava braba demais, nem manequim agüentava! Mas aí, quando o manequim sentou e começou a se abanar, conversando com os velhos da frente, é que eu vi que aquilo não era manequim coisa nenhuma, era um daqueles caras mesmo, se fingindo de morto.

A essa altura o Maguito tomou coragem, entrou na nuvem do cogumelo atômico de repolho e me agarrou pelo braço:

– Vamos se mandar, cara, que a coisa vai feder é pro teu lado já, já. A velharada vai te esfolar vivo assim que a tua proteção abaixar. Não precisei outro incentivo, saímos os dois correndo pra frente, ali em algum lugar a gente tinha deixado uma moto. Moto? Onde? E alguém lembrava? Pobre do garçom! O jeito foi sair correndo dali também, que as primeiras cabeças brancas começavam a apontar na porta do clube. Pegamos o primeiro ônibus que passava e nos mandamos. A Salvação!

Bem, só em parte. Depois de uns dois quilômetros eu tive outro acesso de liberdade em estado gasoso e os caras nos botaram pra fora do ônibus a tapa. Desceram junto todos eles, com cara de desespero. Escondidos, a gente viu que, depois de uns dez minutos o motorista, heroicamente, entrou e fez sinal pro pessoal: barra limpa!  Entraram todos e foram embora, maldizendo este seu pobre narrador aqui.

A Silvinha? Tá de gozação comigo cara? Até hoje, toda vez que eu não consigo me esconder dela, ela me olha e cai na maior gargalhada. E logo comenta com quem estiver perto dela. Maior vexame cara! Quem manda ser um ignorante em História  do Brasil?