PRECE DE NATAL
I
Patrão Velho lá de cima,
Que mandas no firmamento,
Permite que eu te declare
Todo meu encantamento.
Eu, nesta noite, solito,
Sob o teu poncho de estrelas,
Olho encantado pra elas,
Puxa, que céu más bonito!
Eu me sinto mui pequeno,
Parado aqui no sereno,
Vendo essa grandiosidade,
Que é linda barbaridade!
Bueno, o pessoal da cidade
Celebra hoje o Natal.
Aqui a gente é bagual,
Não tem dessas festarias,
Às vez, lá pras rancharias,
Hay quem celebre. No entanto,
Aqui no meio do campo,
Só tenho por companhia
A minha fiel montaria:
Este bicho caborteiro
Meu único companheiro,
Que é meu cavalo tordilho.
Hoje é a festa do teu Filho.
Aceita, pois, meu Patrão,
Que aqui, desta imensidão,
Eu te faça, ainda que mal,
Esta prece de Natal.
Meio xucra, meio estranha
Deste guasca da campanha,
Que aqui, na noite ajoelhado
Sobre este solo sagrado,
Berço heróico dos Farrapos,
Honra quem, envolto em trapos,
Nasceu pobre como eu.
E como um pobre cresceu,
Pra ser exemplo pro povo.
II
Só que hoje hay um tempo novo
E algo novo errado hay,
Pois bem nas fuças do Pai
Exploram o nome do Filho
O povo... é que nem novilho.
Que, na mão do espertalhão,
Dá até o último tostão.
E eu mui espantado fico
Ao ver que o pobre, contrito,
Ajoelha em nome de Jesus
Fazendo o sinal da cruz...
E dá seu dinheiro pro rico!
Até quando, Patrão meu,
Essa tropa de vagabundo,
Esse bando de fariseu,
Vai explorar todo mundo
Em nome do Filho teu?!
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