sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

MORTE E VIDA SEVERINA
João Cabral de Mello Neto
FUNERAL DE UM LAVRADOR:
 
- Esta cova em que estás,
com palmos medida,
é a conta menor
que tiraste em vida.

- É de bom tamanho,
nem largo nem fundo,
é a parte que te cabe
deste latifúndio.

- Não é cova grande,
é cova medida,
é a terra que querias
ver dividida.

- É uma cova grande
pra teu pouco defunto.
Mas estarás mais ancho
que estavas no mundo

- É uma cova grande
pra teu defunto parco.
Porém mais que no mundo
te sentirás largo

- É uma cova grande
pra tua carne pouca.
Mas a terra dada,
não se abre a boca.


Na peça levada ao ar pela TV Globo em 1981, Tânia Alves é a cantora.

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