quarta-feira, 31 de outubro de 2012


SEDE ETERNA    
MILTON MACIEL  

Assedentado de você por todo o sempre,
Em mil suspiros a vagar pelo borriço,
Sigo perdido, pelo ambiente encharcadiço,
Sem ter de mim a mais ínfima consciência.

Por pressentir a minha própria impermanência,
Me arrasto a custo pela transitoriedade.
O que me arrasa é padecer esta saudade,
Que me aprisiona num perpétuo desvario.

Hórrido é o ímpeto de arrojar-me neste rio
E afogar nele meu corpo e minhas mágoas,
Como se fosse possível, em suas águas,
Tornar soluto o meu ser em sua inteireza.

Talvez assim não fosse eu mais só uma Incerteza,
Assedentada de você pra todo o sempre!
GUARANI-KAIOWÁ E O STF  
MILTON MACIEL  

(Correção: Demarcação de terraS indígenas)



GUARANI - KAYOWÁ E REDE GLOBO
MILTON MACIEL 



terça-feira, 30 de outubro de 2012


YO NO CREO  
MILTON  MACIEL  
 
Yo no creo que usted sepa,
De verdad, lo que es amar
A usted le gusta llorar
Y hacerse tonta, nomás.
¡No le creo!  Por detrás
De sus fingidas dolencias,
Y engañosas apariencias,
Percibo cual su jugada.
Pero está usted engañada
Si cree que yo le creo.
Solo creo en lo que veo,
Y lo que veo en usted
Es solo falsa merced
Y actitudes engañosas.
Lo que usted luce de rosas
No son más que mil espinos.
Por eso nuestros caminos
Se apartan hoy para siempre.
No, no creo que usted sepa,
De verdad, lo que es amar.   



TEMPO CAMBALEANTE   
MILTON MACIEL  

O Tempo é um cavalo baio
De passo leso e cambaio.

Se você está sofrente,
Ele passa lentamente.

Mas, se você está contente,...

Ele passa como um raio!!!

segunda-feira, 29 de outubro de 2012


CONSEQUÊNCIAS DA ELEIÇÃO EM SÃO PAULO      
MILTON MACIEL  

Será que Serra é agora que encerra?
Será que Fernando acabará acertando?
Será que Lula aplacará sua gula?
Será que Kassab quer mesmo que acabe?
Será que Alckmin considera isso o fim?
Será que Aécio Neves tem planos mais breves?
Será que Azeredo anda agora com medo?
Será que Barbosa ficará menos prosa?
Será que Rouseff virá a ser a melhor chefe?

Só há uma coisa que isso tudo não alterará:
O extermínio covarde dos Guarani-Kaiowá.

sábado, 27 de outubro de 2012


Ah, o AMOR! 
MILTON  MACIEL

Ah, o Amor!
É à socapa, sorrateiro, latebroso,
Com pés de lã, que invade-nos a vida.
Malgrado o nosso não querer dessa ferida,
Ei-lo de volta, a iludir-nos com seu gozo.

Ah, o Amor!
Recalcitrante o nosso peito, calcinado
Pela fogueira em que ardeu o coração,
Não quer saber de viver nova paixão.
É um peito seco, destruído, derrotado.

Ah, o Amor!
Quão impossível resistir a seus apelos!
Ei-lo que volta, com furor de inundação,
Fertilizando estéril solo em eversão,
O amargo peito reenchendo de desvelos.

Ah, o Amor!
Chegou sutil, sem deixar-se ser notado,
E o incauto peito inflamou em labaredas.
Esperança! Estou de volta a tuas veredas:
Sim! Eu estou, outra vez, APAIXONADO!...

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

quinta-feira, 25 de outubro de 2012


Honi soit qui mal y pense  
MILTON  MACIEL

Sabe, amigo, eu era um executivo de finanças, assessor de diretoria, considerado o mais jovem e mais promissor da multinacional em que trabalhava. Pois veja você, meu caro, como uma brilhante carreira pode ser destruída em coisa de minutos, sem que você tenha a menor culpa de nada. Deixe que eu lhe conte com calma, enquanto a gente pede mais uma rodada de absinto ao garçom.

Pois bem, na noite daquele dia fatídico haveria uma festa na empresa. E, durante essa festa, meu diretor iria fazer o anúncio de qual de seus assessores seria o escolhido para a grande promoção. Seria eu, ele já me havia confidenciado. Tinha total confiança em mim.

Além do mais, minha esposa se fizera amiga da esposa dele. Então, na tarde daquele dia, as duas resolveram ir juntas ao Shopping Morumbi, procurar sei eu que raio de complementos e adereços para usarem à noite.

Eu fui escalado para acompanhá-las, a pedido do meu chefe, que me deu a tarde livre. Ele queria, também, que eu relaxasse e me preparasse para o meu grande triunfo daquela noite. Então fomos para o Shopping, minha esposa e eu, e lá nos encontramos com a esposa do diretor. Mas ela não estava sozinha, Junto com ela, estava sua filha de dezessete anos, belíssima adolescente que, assim que me viu, tratou de deixar bem claro que iria atormentar minha vida.

Como? Já lhe digo, camarada. Vai mais uma? Pra mim também. Como me atormentar? Bem a garota me lançava olhares devoradores, sorrisos marotos, ia para trás das outras duas para fazer gestos com a boca, passando a língua entre os lábios. Eu não sabia o que fazer, comecei a entrar em pânico.

Veja bem: minha mulher tem o ciúme doentio de dez Otelos, o gênio furibundo de Mike Tyson, a menina era menor de idade e, para piorar, era filha do meu chefe. É claro que eu não ia querer nada com ela, por mais tentadora que fosse aquela boca carnuda, aquele rosto perfeito, aquele corpo enlouquecedor. A sacana sabia que era irresistível, estava era tirando uma com a minha cara, foi o que eu logo percebi.

Tentei me manter distante, mas minha mulher exigia minha presença, pois tem a mania de me mostrar cada coisa que escolhe e de pedir sempre a minha opinião. Pois a safada da menina começou a fazer o mesmo. E a coisa ficou preta – literalmente preta, você já vai ver – quando elas foram todas para os provadores de uma loja de roupas.

Pois a garota esperou que as outras duas entrassem em seus respectivos provadores e aí, de uma arara bem próxima, retirou algumas calcinhas, tanguinhas minúsculas e veio me mostrar. Eu tremi na base quando ela me perguntou, na maior cara de pau, com qual delas eu gostaria que ela estivesse no nosso primeiro encontro. Fiquei mudo, estático, de olhos arregalados, sem saber o que falar.

Nesse momento exato, a mãe dela abriu a cortina do provador. A menina, muito esperta e ágil, virou de frente para a mãe, levou a mão com uma tanguinha preta rapidamente para trás do corpo e a arremessou, ainda mais para trás.

Só que nesse ainda mais para trás estava eu, meu chapa. A calcinha veio aterrissar diretamente no meu rosto. Acho que não teria tido maior problema se eu não fosse um indivíduo de reações muito lentas. Mas, infelizmente, eu o sou.

O que tem isso? Ah, camarada, você não sabe o quanto eu desejei sempre ser um indivíduo de respostas rápidas. Pois o raio da calcinha preta deixou tudo escuro na minha frente e eu levei um tempo enorme para entender o que estava acontecendo, demorei para levar as duas mãos à face e começar a afastar aquele estranho objeto que me envolvia o rosto. Lembro de ter levado um tempo a mais, aspirando o cheiro bom de tecido novo, nunca usado, daquela peça de roupa.

Pois foi exatamente nessa hora que minha mulher tinha que abrir a cortina do provador dela. E aí deu de cara comigo, com uma calcinha preta no rosto, segurando-a ali com as duas mãos, com uma gesticulação de quem está aspirando um perfume. Quando minha visão foi restaurada, escapando ao nylon preto, dei de cara com a expressão furibunda da minha esposa.

Ah, companheiro, aquela ali não se controla. Vi que ela ia aprontar o maior escândalo, como de hábito. E aí ia ser o fim para a minha carreira, imagine a esposa do chefe contando tudo para ele. Não tive dúvida, dei meia volta e saí dali quase correndo. Por um espelho de coluna vi que minha mulher tinha ficado parada no mesmo lugar – eu tinha ganhado uma sobrevida. Curta, somente até encontrá-la de novo.

É, você está certo, foi isso mesmo, eu precisava me esconder, não tinha outro jeito. Assim dava tempo para ela, ao menos, perceber que não podia armar um barraco em plena loja, junto à esposa do meu chefe e à sua filhinha.

Filhinha! Pois sim, uma capeta escolada é o que era aquela menina. O fato é que eu consegui me escafeder por entre prateleiras e colunas e – ó, visão salvadora – um bendito conjunto de provadores na ala de roupas masculinas. Pois foi ali mesmo, no primeiro deles, que eu me enrusti, fechando a cortina. Aí abri uma frestinha e fiquei espiando a loja. Minha mulher e a esposa do chefe passaram duas vezes por ali. Na segunda, eu tive certeza que à minha procura.

Pois é, amigo, pois é, você tem razão. Que situação! As duas sumiram do meu campo de visão, mas outra mulher se aproximou do meu esconderijo. Era ela, camarada. Ela!

Ela tinha conseguido me seguir pela loja, veja só. Pois a danada abriu e fechou rapidamente a cortina do provador, jogando-se para dentro dele, com dois sutiãs na mão. E aí, rindo o tempo todo para mim, tirou a blusa, o sutiã que usava e, com aqueles dois monumentos de fora, teve a cara dura de perguntar qual dos dois sutiãs que ela tinha numa das mãos eu ia querer na nossa primeira noite. E fez isso posicionando-se de uma tal forma que não me permitia sair do provador.

E eu, você pergunta? Ah, eu em pânico total, meu amigo. Total! Meus hormônios me faziam querer partir pra cima daquela deusa, meus neurônios me avisando do risco, do ilógico, do absurdo daquela situação. E os neurônios predominaram. Você pode não acreditar, mas eu, em cinco anos de casado, nunca traí minha mulher. E, logicamente, não haveria de ser ali, naquela hora, dentro daquele provador que eu ia começar. Até porque, você sabe, trair e coçar é só começar.

Então, com minha lentidão habitual, fiquei procurando as melhores palavras para convencer aquela maluca a me deixar em paz, botar o sutiã e a blusa e se mandar dali. Pensei em pedir para que me deixasse em paz, que tivesse só um pouquinho de juízo. Mas eu estava tremendo e gaguejava demais. Mesmo assim falei, de forma entrecortada, mas bem alto:

 – Por favor... Me deixa... Deixa... Só um pouquinho...

Falei alto demais, companheiro! Minha mulher e a mulher do chefe vinham passando, minha voz foi reconhecida, a cortina do provador puxada com violência e...

 – Marcelo!!! Desgraçado! Tarado! Ah, eu te mato, infeliz. E começou a bater ali mesmo.

A mulher do chefe nem me olhou, encarava a filha com olhos de reprovação e horror:

– Helena!!! Sua vaquinha, sua ninfo! Só pode ter sido você, não é?

Pois a Heleninha nem se perturbou. Vestiu-se calmamente, calmamente ficou a olhar a cena magnífica da perseguição que minha mulher, enlouquecida, empreendia no meu encalço, jogando tudo o que ela pudesse apanhar pela loja, em cima de mim. Roupas, frascos de perfume, relógios, sapatos, até um manequim. Imagine, meu chapa, imagine só o vexame, o quebra-quebra. E todo mundo, é claro, a dar razão para ela.

Quando enfim eu consegui chegar à porta de saída da loja, a esposa do chefe já estava conseguindo conter a fera furiosa, usando toda a sua força muscular. Mas, é claro, não conseguiu conter a gritaria, o berreiro infernal, a chuva de palavrões mais variegada que aquele Shopping conheceu até hoje.

Bom, foi assim, camarada. A minha carreira acabou naquela tarde. Nada de festa, nada de nomeação para mim. Tudo acabado. Imagine só, eu dando escândalo sexual, atracado com uma menor de idade, que eu tinha acabado de conhecer, ainda por cima filha do meu chefe, no provador de uma loja, conseguindo que ela já tivesse tirado o sutiã e pedindo para ela deixar, deixar só um pouquinho. Cara, eu estava acabado.

A última coisa que eu lembro, daquele inferno de Dante, foi que, quando eu ia transpor a porta de saída, uma gerente velhusca me encarou com nojo e falou:

– Sim senhor! Que vergonha! Como se explica...

Não a deixei concluir. Do fundo da minha desgraça, do alto da minha total inocência, do alvor da minha pureza, emergiu um brado terrível, colérico, que deixou todo mundo imóvel e assustado. Olhei para todos com raiva e desprezo e gritei, muito alto e em bom francês, algo que brotou do fundo do meu cérebro, do meu inconsciente, talvez:

Honi soit qui mal y pense!!!  

E fui embora para nunca mais.

Ah, o que isso significa? Você não entende? Ora, também ninguém naquela loja entendeu. Quer dizer, eu acho que a esposa do meu chefe sabia o que eu estava dizendo, pois eu a vi sacudir a cabeça concordando, enquanto dava um beliscão fenomenal em sua filha, que soltou um berro de dor. Nesse momento minha mulher se aproximou por trás dela e desferiu-lhe um sonoro tapa na cara. E, enquanto as duas embolavam no chão a puxar-se os cabelos e a gastar estoques inteiros de xingamentos, com todo mundo – menos a mãe da garota, que olhava tudo com um sorriso, veja só – tentando a apartar a briga, eu tomei calmamente um elevador, paguei o estacionamento e, pegando meu carro, comecei minha viagem sem rumo para o interior de São Paulo. E hoje estou aqui com você, neste bar da sua cidadezinha.

Ah, sim ia esquecendo. “Honi soit qui mal y pense” quer dizer mais ou menos o seguinte: “Maldito seja quem pensar mal disso!”  Ou: “Vergonha para quem pensar mal disso”.

Afinal, camarada, eu era completamente inocente, eu era a única virgem pura ali. Ou, se eu não era a única, certamente a Heleninha é que não era outra.

Pois veja, amigo, como as aparências podem de fato enganar. Honi soit qui mal y pense!  É assim mesmo, é francês, você pronuncia assim:  oní soá qui mal i panse. Mais um absinto? Certo, a saideira então.  (MM)


quarta-feira, 24 de outubro de 2012

KAIOWÁ-GUARANI E O STF  
MILTON MACIEL


DA INCONSÚTIL TRAMA, ADREDEMENTE URDIDA
MILTON MACIEL
 
Da inconsútil trama, adredemente urdida,
Por uma mente má, ferina e manipuladora,
Fui eu a vítima descuidosa, atônita e perdida,
Aferrado para sempre à sua imagem sedutora.

Como um beócio, eu rastejei por seu caminho,
Sempre a entregar meu tolo amor adventício.
E, desde então, não sou mais ninguém sozinho:
Pois fez-se ela, para mim, mais do que um vício.

Minha dependência é tão cruel, devastadora,
Que me aniquila a vontade desde o início.
(Ela, consciente, me tortura, é meu cilício).

Sua frieza me estraçalha – lategada dolorida.
E eu, ad aeternum, nesta ânsia desmedida,
Sigo um fantoche, em mãos de tal destruidora.

NOSSO BLOG COMEMORA HOJE SEU QUARTO MÊS DE EXISTÊNCIA, COM 4401 ACESSOS. MUITO OBRIGADO, LEITORAS E LEITORES.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

SONETO VII
GREGÓRIO DE MATOS  (1636 - 1695)

Ardor em firme coração nascido!
Pranto por belos olhos derramado!
Incêndio em mares de água disfarçado!
Rio de neve em fogo convertido!

Tu, que em um peito abrasas escondido,  
Tu, que em um rosto corres desatado,
Quando fogo em cristais aprisionado,
Quando cristal em chamas derretido.

Se és fogo como passas brandamente?
Se és neve, como queimas com porfia?
Mas ai! Que andou Amor em ti prudente.

Pois para temperar a tirania,
Como quis, que aqui fosse a neve ardente,
Permitiu, parecesse a chama fria.
APARTAMENTO ERRADO 
MILTON  MACIEL
 
      Aquela profusão de cabelos rutilantes, que na luz escassa do amanhecer pareciam até ruivos... Ruivos?!!!
 Deu um salto na cama. Seus olhos estacaram ante dois olhos muito azuis, muito lindos, muito esbugalhados:
– Heitor!
– Alice!
– Deus do céu, o que você está fazendo aqui na minha cama?
– Como? O que VOCÊ está fazendo no meu quarto e... Ei, cadê a Helena?
– Ué, tá no apartamento de vocês, é claro...
– Quer dizer...
– Quer dizer que você entrou no meu apartamento, andar errado, seu cretino. Chegou de fogo, se enfiou na minha cama no escuro e, enfim... Céus! você... enfim...
– É. Mas que loucura...
– Safado! Me comeu na marra. Seu traidor!
– Você está louca? Você me agarrou, foi passando a mão, foi pegando... Eu só queria dormir, tava de porre, pô. Não tive culpa.
– Como não teve culpa, seu abusado? Eu pensei que era o Arizinho que tinha voltado antes da viagem. E agora, Meu Deus, o que é que eu faço? 
– Ué... não sei. Acho que o melhor é a gente ficar quieto. Ninguém tem que saber.
– Claro! Só faltava você contar pro prédio inteiro que me comeu. O Arizinho te mata. Ai, ele me mata também! Ai, meu Deus, não me abre essa boca, por caridade!
– Eu, abrir a boca? E a Helena? Ela acaba comigo, vai ser o maior inferno. Vê se não vai me dar uma de Madalena arrependida e acabar contando tudo pra ela mais tarde, numa crise de consciência.
– Ai, Heitor. Você acha que eu sou assim tão retardada?
– Não acho nada. Não sei. Mulher é esquisito. Mas pode ficar fria, que eu... Pô, fria você?! Você é mulher mais quente que eu já...
– Olha o que você vai falar, seu tarado!
– Tarado, eu?!... Pô, Alice, já esqueceu tudo o que você fez esta noite, no escuro? Quem tava de porre era eu...
– Já falei que pensei que era o Arizinho. Bem, admito que eu estranhei muito. Pensei que tinha acontecido um milagre, o Arizinho tão forte, tão fogoso, sem arriar todo aquele tempo, gemendo e urrando, um espetáculo. Só podia ser por causa da bebida, pensei. O Arizinho nunca bebe. E ele nunca quis saber de fazer aquelas... Que que eu to falando, meu Deus?...
– Aquelas o que?

– Aquelas... Ah. Você sabe o que eu quero dizer!

– Ah, aquelas... É. Eu até estranhei a maneira que você urrava, parecia outra pessoa.

Era outra pessoa, seu cretino! E eu urrava, é? Urrava?

 – É, eu acho que sim, pelo menos foi como eu ouvi ali de baixo.

– Pois ouviu errado, você estava de porre, seu bebum!

– Não urrou então?

– Não, que eu não sou bicho. Tá certo que me excedi nos gritos, não deu pra controlar, nunca antes alguém tinha feito assim tão bem feito comigo. Ai, ai, esquece, eu não disse isso.

– Disse sim, acaba de dizer. Gostou é?

– Não vou responder. Ei, não puxa o meu lençol!

– Pô, você é ruiva total, toda ruivinha, não é só no cabelo. Que lindinha!

– Pára, seu animal! Já disse que não foi por querer. Me dá esse lençol!

– Tá, toma. Mas que é lindinha demais, isso é.

– Lindinha?...

– Mimosa, delicada, ruivinha. Eu nunca tinha visto assim.

– Lindinha, é?...

– Muito!

– Você acha mesmo?

– Acho. A mais linda que eu já vi.

– Verdade? Jura?...

– Juro. Deixa eu ver de novo? Só um pouquinho. Linda demais...

– Só um pouquinho...  Anh...  e você faz aquilo de novo? Só um pouquinho...

CAI O PANO. FIM DO PRIMEIRO ATO, EM RESPEITO A LEITORES(AS) MORALISTAS, INCLUÍDOS AÍ OS FALSOS MORALISTAS, QUE SÃO SEMPRE A MAIORIA ABSOLUTA E NADA SILENCIOSA. (Tanto uns, quanto outros são, geralmente, OS PIORES!)

sábado, 20 de outubro de 2012


A DAR CAMBOTAS, DENTRO, O CORAÇÃO
MILTON MACIEL

À sua vista, meu pobre coração
Virou cambota no meu peito vário,
Que, de inconstante no seu modo diário,
Travou-se em rocha firme da Paixão.

Esta mudança me fez, desde então,
Em suas mãos menos que um hilota.
Ah, por que tinha que virar cambota,
Dentro do peito, este meu coração!

No emaranhado insano da emoção,
Fiquei variado, tonto, apaixonado.
De hussardo dardo o peito trespassado,
A dar cambotas, dentro, o coração.

Sendo incapaz de lhe dizer um não,
Sigo esta vida de passo cambaio.
Como atingido por malaio raio,
Vira, em cambotas, o meu coração.

No estrupidar da mera sensação
De me arrastar em tolo desvario,
Corro a você, como pr’o mar um rio:
Em cambalhotas o meu coração!

(cambota = cambalhota)

quinta-feira, 18 de outubro de 2012


VAGABUNDOS!!!  

MILTON MACIEL 


DEPUTADOS federais: Os filhos de Puta (deusa romana, já expliquei isso antes) já não valem grande coisa (a imensa maioria simplesmente NÃO VALE NADA), e agora ainda oficializam a “gazeta”. Que escárnio contra o povo trabalhador brasileiro, que se esfalfa a semana toda para sustentar, sangrando em impostos absurdos, esses indecentes!  Não era à toa que Sérgio Porto os chamava de “DEPUFEDES”:


O ESTADO DE SÃO PAULO 17 de outubro de 2012 | 20h 00:

“Câmara aprova projeto que encurta semana de trabalho de deputados

Agora, as sessões ordinárias poderão ser realizadas apenas entre terça e quinta-feira; proposta permite que legislador não trabalhe na segunda e na sexta-feira sem risco de represálias.

 

Na prática, o projeto aprovado oficializa o que já ocorre todas às segundas e sextas-feiras, quando raramente ocorrem sessões ordinárias e as sessões são apenas de debates. Atualmente, os deputados só têm desconto no salário quando faltam a sessões deliberativas, aquelas que têm votação de projeto.”
(Imagem: no dia em que o que ela representa ficar decente, a gente desvira)



quarta-feira, 17 de outubro de 2012

SE BEBER, NÃO DIRIJA SEU CARRO. PEGUE UM ÔNIBUS (humor)   
MILTON  MACIEL

Foi exatamente isso que eu fiz Na noite passada. Saí com uns amigos e andei bebendo demais. Na hora de voltar para casa, reconheci que não estava em condições de dirigir meu carro. Deixei-o lá mesmo. E peguei um ônibus! 

Cheguei são e salvo em casa. O que é de admirar, porque eu nunca tinha dirigido um ônibus antes. E o pior é que eu nem lembro onde foi que eu peguei esse tal ônibus. E nem como consegui colocá-lo em minha garagem. 

terça-feira, 16 de outubro de 2012

MALALA YOUSAFZAI 
MILTON MACIEL

MALALA YOUSAFZAI FIGHTS FOR HER LIFE, FIGHTS FOR ALL WOMEN, FOR ALL HUMANKIND - SHE IS ONLY FOURTEEN AND HAS A BULLET IN HER HEAD.

TALIBAN, THE MOST BESTIAL MEN IN THE FACE OF EARTH, SHOT ALL WOMEN, ALL HUMANKIND, including all civilized muslins, WHEN THEY SHOT A DEFENSELESS 14 Y. O. GIRL WHO FIGHTS FOR THE RIGHTS OF WOMEN FOR EDUCATION.

Today, these same pathological beasts tried to burn three schools for girls in Pakistan.

Now MALALA YOUSAFZAI is in England, fighting for her life. And the beasts say that, if she survives, they will try to kill her again. How strong and "machos" are these coward morons, that they fear so much one only woman child and the only way they see to face her is by eliminating her. (MM)

segunda-feira, 15 de outubro de 2012


O OLHAR DA PROFESSORA  
MILTON MACIEL

(Um preito de gratidão a todas as heroínas e heróis que, através da mais dura realidade diária, imolam suas vidas na ara de sacrifício do ensino público brasileiro, construindo, às custas de si mesmos, a sobrevivência e o futuro de um país que, mesquinho e ingrato, insiste em lhes seguir voltando as costas)
 
Tristonho e angustiado, o olhar da professora
Contempla, entre lágrimas, a visão assustadora
Das contas sobre a cama, abertas como um leque.
Ao lado, para honrá-las, o bisonho contra-cheque!

As pilhas a subir:
São roupas pra passar,
São louças pra lavar,
Provas pra corrigir!
E filhos a exigir,
Marido a reclamar,
Ninguém para ajudar,
Até quando resistir?

Alunos revoltosos, preguiçosos, barulhentos,
E, de uns anos para cá, cada vez mais violentos.
A sala de aula pobre, desprovida, abandonada,
Com risco de ser, mais uma vez, interditada.

Tristonho e angustiado, o olhar da professora,
Contempla, entre lágrimas, a visão assustadora
Da escola que se afunda, em decadência lenta,
Nas mãos da gestão pública, inepta e fraudulenta.
E pensa no absurdo, o paradoxo tão profundo:
Economia: Sexta. Educação: Terceiro... (Mundo).

O que fazer, então,
Se essa é sua profissão?
Se pra ganhar a vida
Foi essa a escolhida
Por sua vocação?
E se somente ela,
Em que pese a mazela,
Lhe fala ao coração?

Então, mais uma vez, o olhar da professora,
Procura ver além da imagem assustadora.

Tem a vida pra levar,
Tem filhos pra criar,
Não pode desistir,
Forçoso é resistir.
Tem que continuar:
Tantos a precisar
Da sua resistência,
Da sua eficiência
Da sua devoção,

E, cheio de esperança, o olhar da professora,
Mais uma vez contempla a visão alentadora:
Um futuro diferente, em que outras criaturas
Poderão levar em frente jornadas menos duras.
Serão as novas professoras de uma nova geração
De crianças, a ter, enfim, no Brasil uma Nação.

Ela compreende que não sonha apenas tal futuro,
Mas que o constrói a cada dia, com seu trabalho duro.
E que, para educar, aceita tudo, não mede sacrifício,
Pois essa é a dor e a glória do seu Sagrado Ofício.  (MM)



ENCONTRO CÓSMICO  
MILTON MACIEL

sábado, 13 de outubro de 2012


AMOR LOCO, LOCO AMOR
MILTON MACIEL  (Categoría: Poemas en español)

Aunque  me digas te quiero
Me es tan difícil creerte!
Siempre que no puedo verte,
Te añoro con desespero.

Tan inmensa es mi pasión
Que yo quiero es sujetarte
En miz brazos y apretarte
Muy junto a mi corazón.

Tan fuerte lo siento aquí,
Que procedo como un loco:
No me controlo ni un poco
Cuando estoy lejos de ti.

Amo como un anormal,
Pero soy un loco manso.
Muero de celos y avanzo,
Pero nunca te haré mal.

Mañana voy al psicólogo,
A que arregle mi cabeza.
Le contaré como empeza
En mi mente este monólogo,

Cuando hablo solo conmigo
Por el miedo de perderte.
Entonces ansío por verte…
Sé: soy mi peor enemigo!


sexta-feira, 12 de outubro de 2012


FOFOCA, MALEDICÊNCIA  (outra versão, completa)
MILTON  MACIEL
 
Outra fofoca chegando a seu ouvido curioso?
Não fique mais nessa roda, caia fora desse papo.
Cale-se, fecha a matraca, segure a língua de trapo!
Não seja outro a engrossar esse círculo vicioso.

Quando a boca venenosa solta a língua viperina,
Olhe a víbora nos olhos e pergunte calmamente:
Você viu? Estava lá? E se acaso alguém mente?
Tem certeza? Testemunhas? Ou só destila toxina?

Tanta gente se compraz em destilar seu veneno!
Inventa, aumenta, apoquenta –  e se realiza com isso.
É gente que, com a verdade, não tem qualquer compromisso,
Que chafurda em falsidades, com conhecimento pleno.

A fofoqueira envenena como um dragão de Komodo:
Sua baba venenosa destrói bem devagarinho.
Sua boca, praguejada, é de serpentes um ninho,
E o seu hálito rescende ao mais mefítico lodo.

Fique longe, não transija, com gente desse jaez.
Cuidado que esse pessoal é infecto-contagioso.
O envolver-se com eles é por demais perigoso,
Pois você pode virar a fofoqueira da vez.

E de sua parte interrompa essa corrente infernal.
No seu ouvido ela morre, por sua boca ela não sai.                                       
Pois, se sair, ela volta e sobre quem que recai?
Sobre você, certamente: de VOCÊ vão falar mal.

Não aceite ser um elo a mais nessa vil corrente.
Em você ela termina, a fofoca não vai em frente!
Pois Alguém já ensinou que, mesmo onde o erro medra,
“Só quem está sem pecado que atire a primeira pedra.”

ENTRE AS FLORES  
MILTON MACIEL


quinta-feira, 11 de outubro de 2012


KRONOS  
MILTON MACIEL

Eu sou o Amigo que te traz a dor
Que escasso faço o teu sonhado instante.
Que a realidade oponho, contrastante,
À imprudência, excesso ou desamor.
E se te firo agora o sentimento,
É que retorno a ti igual lamento
Que de outros arrancaste, confiante.

Eu sou o Amigo que te ensina a ser prudente,
Quando ao teu sonho respondo Frustração.
Mas, ao magoar-te, entrego-te à Razão,
Para que a uses, fazendo-te consciente.
E se te firo agora o sentimento,
É que retorno a ti um outro tempo,
Em que semeavas a dor e a solidão.

Eu sou o amigo que te obriga a ser prudente,
Porque te nego resultado sem esforço.
Mas, ao fazê-lo, retiro do teu dorso
Pesados karmas que criaste, inconsequente.
E se te firo agora o sentimento,
É que retorno a ti o movimento
Que, iniciado, preparou-te pro remorso

Eu sou o Amigo, enfim, do fim do Tempo,
Do Tempo que quiseste pra esta vida.
E se às vezes minha senda é dolorida,
E se às vezes te constranjo ao passo lento,
É que preparo para ti um Novo Tempo:
Em que serás maduro e conseqüente
E então não ferirás mais sentimentos.

KRONOS, o Senhor do Tempo
Kronos (Saturno em latim), o titã Deus do Tempo, o Senhor do Karma
para os antigos astrólogos (Eles não conheciam Plutão!)

Da série POEMAS ASTROLÓGICOS, em homenagem a FERNANDO PESSOA,
que era astrólogo também! Ele tinha um manual técnico e matemático de Astrologia 
pronto para ser impresso,  pouco antes de morrer, escrito sob o heterônimo Raphael Baldaya.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

CÃO AMIGO  
MILTON MACIEL

CADA CICATRIZ SUA É LINDA 
MILTON  MACIEL

Cada cicatriz sua é linda
Mais do que foram os seios,
Pois que são gritos de vida,
São de vitória gorjeios,
Sendo a mais pura medida
De sua coragem infinda.

E qualquer homem que a ame
Pensará do mesmo jeito:
Que importam seios no peito,
Se o que importa é tê-la viva,
Saudável, sem recidiva,
Superada a doença infame.


A esse tórax querido,
Se abraçará, ternamente,
Tendo vivo em sua mente
Tudo o que ela sofreu.
E o medo que ele viveu,
Por quase tê-la perdido.

(E homenageando, nesta heroína, todas as mulheres mastectomizadas):

Esta alma de nobreza,
Exemplo de valentia,
Dá nesta fotografia
Uma lição de beleza.
Sem prótese ou enchimento,
Seu peito liso é um portento!