quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

A ARTE E A TÉCNICA DO ROMANCE (LIVRO)
MILTON MACIEL
1 - A FICÇÃO E SEU MERCADO NO BRASIL
2ª. parte: a PUBLICAÇÃO

FIM DA 1ª. PARTE: Mesmo que você venha a produzir apenas duas páginas por dia, no fim de um ano você terá mais de 700 páginas prontas para revisão e editoração. Isso, na prática, pode dar três livros de 240 páginas ou dois livros de 360 páginas, ou 1 livrão de 720 páginas por ano! Não é pouco. Em 10 anos você terá 30 livros padrão, nada mau.
E, convenhamos, escrever só DUAS páginas por dia é meta de preguiçoso contumaz, caramba. Significa trabalhar somente MEIA hora por dia no seu livro. Mas veja, mesmo produzindo assim, como a proverbial tartaruga, você pode chegar ao fim de um ano com até três livros publicados – ou aguardando publicação. Logo, falta de tempo para escrever... Hum, essa não vai colar!
2ª. PARTE - Ah, a PUBLICAÇÃO!
É hora de falarmos então, honestamente também, sobre a tal publicação.
Ora, um artista produz para ter prazer, para dar esse supremo deleite a si mesmo. Mas um artista tem também uma coisa chamada EGO. E o tal ego é aquele que não se contenta somente com o grande prazer de criar. Ele é danado, o baixinho, adora mostrar o que produz, porque está atrás de um outro enorme prazer: o de ser apreciado. Mais: se possível de ser admirado, aplaudido, ser considerado melhor que os outros, endeusado, adorado, imortalizado, eternizado. O dístico do Ego é: “EU sou, no mínimo, o máximo!”
É, o tal baixinho é danado mesmo. Ele não só clama o tempo todo por aceitação e elogios; ele ainda por cima não gosta de ver o sucesso dos outros. O Ego, como bom egoísta que é, é um terrível ciumento. Morre de ciúme profissional dos outros. Especialmente, é claro, dos seus colegas de profissão. Uma coisa que a gente vai comentar bem mais adiante, quando falarmos de organismos de classe dos escritores no mundo todo. É igual aqui no Brasil, nos Estados Unidos, na Europa, no Japão ou em Burkina Faso. Ou entre os cantadores de cordel do Nordeste. É humano, simplesmente.
Em outras palavras: o escritor escreve pela arte, sim. Pero no mucho... Porque ele quer ser é... publicado! E fazer sucesso!
Ah – diz você – mas então nosso problema é duplo: quer dizer que não basta aprender a escrever bem. Ainda é preciso aprender o que fazer para ser publicado e vender bem!
Isso mesmo! Agora você disse tudo.
Escrever E publicar. To write AND to publish. That’s the question. Pode segurar a caveira na mão e dizer isso em voz bem alta, como um moderno Hamlet das letras.
Dizendo de outro modo: Não me agrada nem um pouco ensinar você a escrever, sem ensinar você a publicar. Escrever E publicar, eis a questão.
Sim, porque o seu eguinho, assim como o meu eguinho, não vai se contentar com a criação de sua obra-prima para deixá-la depois, bela e faceira, na memória ROM do seu computador; ou naquele belo manuscrito que jaz, quiçá per omnia secula seculorum, na terceira gaveta da cômoda do sótão da casa de mamãe.
Seu eguinho quer publicação imediata, crítica favorável, sucesso de vendas, fama correspondente e muito dim-dim como resultado final. Nada mais natural: você e eu somos humanos, caramba!
Vamos então a considerações muito concretas sobre o publicar, antes de começar a aprender a escrever (ou reescrever) para tornar mais fácil o publicar.
Sem o conhecimento desta realidade sobre o mercado, você pode se deixar iludir e se tornar vítima de uma paralisia futura em sua produção, por mero desencanto. Compete a mim, que quase fui vítima disso, impedir que você venha a sê-lo.
Para o seu futuro como escritor, o que equivale a ser um bom fingidor e um bom vendedor de livros simultaneamente, podemos dizer:
Escritor, na prática, não será aquele que ESCREVE livros, mas sim aquele VENDE livros. Ou seja, aquele que consegue que seus livros sejam publicados e vendidos amplamente. Nos Estados Unidos nós formamos o hábito de dar a estes o nome de author e ao outro, o genérico, o nome de writer.
Se você não consegue a venda de seus livros, você será escritor na teoria, mas não na prática. E seu material, que pode ser de primeiríssima qualidade, vai ficar esquecido – ou na sua gaveta, ou em dezenas de caixas cheias de livros encalhados na sua garagem, depois que as livrarias os devolverem. De qualquer forma, você não será conhecido como escritor.
Você vai ter que andar com um ou mais livros debaixo do braço para provar que é escritor, mostrando-o às pessoas. Quando você declara, peito empombado, que é escritor, a outra pessoa lhe pergunta logo o seu nome. E quando o ouve, dá aquele sorrisinho amarelo, dizendo falsamente:
– Ah, João dos Prazeres Honestos, sei, sim!
Sabe coisa nenhuma! Uma, porque você não é conhecido. Outra, porque a maioria dos interlocutores não estará segura – a maioria dos interlocutores NÃO LÊ! Não conhece autores pelo nome. Talvez seja melhor você dizer que seu nome é Gonçalves Dias ou Castro Alves, numa dessas a pessoa se lembra de algum “velsinho” do tempo da escola, tipo o “Batatinha quando nasce”, de Gonzalo Diaz de Arrumbe y Cumparsita, e não sabe que eles já morreram:
– Vejam, gente, quem está se hospedando no nosso hotel: o Seu Castro Alves em pessoa, aquele das Espumas Voantes e do Barco Negreiro, quanta honra!
Bem, se não tem Navio vai barco, se não tem Flutuantes, vai voantes mesmo.
Mas você vai persistir, vai aprender a fazer a coisa acontecer, vai publicar e se fazer conhecer e, quando você disser quem é, o cara do hotel exclamará:
– Puxa, o João dos Prazeres Honestos em pessoa! Claro que eu já li, duas vezes por sinal, o seu “Manual da Cafetina Moderna”! É demais, até minha mãe já se convenceu a entrar no ramo.
Bingo, sucesso! O pessoal anda lendo você, João. Agora é só ficar de olho bem aberto para os acertos que a editora tem que fazer com você, OK?
Eu estou, de propósito, pintando o quadro com suas cores reais, a prova de Pollyanas. Estou justamente tratando de lhe mostrar que o problema que existe é bem maior do que você imaginava. O que é ótimo, porque, se você não sabe que tem um problema, vai continuar vítima dele sem procurar solução. Nesse caso sempre sobra o azar ou a indefectível culpa dos outros para livrar sua pessoinha inocente.
Mas você não é um fraco, que vai cair nessa saída maníaca. Você vai aprender como é que funciona o inimigo e se adestrar para jogar dentro das regras do jogo e derrotá-lo. E aí nós outros aqui, seus fãs, vamos dar as boas-vindas a você, o bem sucedido escritor profissional que vende livros, o inconteste autor, o grande João dos Prazeres Honestos.
Agora aproveito para lhe apresentar uma grande verdade do mercado, que aprendi na prática, ao longo de muitos anos de atividade lá fora e aqui:
Livraria não vende livro. Editora não vende livro. Quem vende livro é o autor.
LIVRARIA não vende livro. É o depósito físico ou virtual ao qual o LEITOR se dirige para COMPRAR um certo e determinado livro.
EDITORA não vende livro. Apenas manda fabricá-lo e o faz chegar à livraria.
QUEM VENDE LIVRO É O AUTOR!
Exatamente isso que você leu! Quem vende livro é o AUTOR. Se você não der as caras, não se tornar conhecido, você não vai vender nada e vai sumir do mercado, não vai ser ESCRITOR PROFISSIONAL. A editora vai lhe dar um empurrãozinho, vai investir um pouco em mídia, pagar para a livraria colocar seus livros num lugar de destaque e depois... bye, bye, baby; bye, bye!
Se você não ficar esperto, seu lindo livro que estava nas vitrinese mesas no lançamento, às dezenas e na horizontal, um mês depois já virou uma entre mais de 100 mil lombadas de livros espremidas nas prateleiras na vertical. E você... já era!
Portanto, copie e cole esse texto que destaquei em itálico e negrito. Dê um control C para copiar e um control M, para colar diretamente em SUA MENTE! Nunca mais esqueça isto: QUEM VENDE LIVRO É AUTOR, quando se faz conhecido.
Quando Chico Anísio, Jô Soares ou Chico Buarque lançaram seu primeiros livros, o sucesso e a mega-vendagem já estavam garantidos. Porque eles eram MUITO conhecidos. Entendido?...
NÃO, NÃO HÁ OUTRO CAMINHO! Você vai ter que ir à luta. Mas vai valer a pena, pode ter certeza.
CONTINUA...

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