MILTON MACIEL
A cruel
obrigação de ser MAGRA – continuação
Final da 2ª. parte:
Ou seja, a coisa
é mais ou menos assim: ou você passa fome de ficar verde, ou você ouve o
pessoal cochichando às suas costas: “Nossa, como ela engordou!”
O que dá uma bruta raiva, que só pode ser aplacada na sorveteria mais próxima,
onde você pode afogar suas mágoas em bolas de abacaxi, menta e pistache.
Verdade. O
problema é que os caras criaram esse padrão DESUMANO de beleza anoréxica e, impondo-a
às mulheres do planeta Terra, garantem o extraordinário faturamento de centenas
de bilhões de dólares anuais das indústrias da moda, alimentícia e do emagrecimento. Se hoje eles mudassem
o cânone e permitissem que você pudesse ter mais 10 quilos e, ainda assim, ser
considerada MAGRA, seria a falência para todos esses prósperos ramos de
negócios.
Se você tivesse
nascido no final da Idade Média e início do Renascimento, você seria uma musa,
uma menina extremamente desejável, se pudesse expor a sua semi-nudez exuberante
de 90 quilos. As magras e normais de hoje seriam internadas obrigatoriamente em
sanatórios para tísicas.
Mas o problema é
que você é uma mulher do século XXI. Conforme sua altura, 60 quilos é mais do
que suficiente para você se sentir a Moby Dick com TPM.
Vamos dar
continuidade a este assunto na 3ª parte desta série, mostrando como o SISTEMA
faz para garantir que você engorde, gastando os tubos em comida. E aí precisa
gastar os tubos, depois, em emagrecimento. Então até breve... Gordinha,
atual ou futura.
3ª. Parte
COMO O ‘SISTEMA’ AGE
Já houve um
tempo em que comida era coisa rara e difícil. Se a gente quisesse comer ou
beber água, tinha que sair da caverna e ir à luta. Mas era luta mesmo! Porque então éramos caçadores-coletores e vivíamos no
Paleolítico. E foi então que inventamos o dito popular: um dia é da caça, o outro, do caçador. Porque éramos caçadores
nominais, mas éramos caça ao mesmo tempo. Saíamos sempre em grupos, portanto
paus, pedras e ossos para pegar o que desse, de uma gambá a um mamute. Só que o
dia-a-dia estava mais para gambá, caça grande era mais difícil. Em compensação,
a potencial caça grande podia facilmente virar caçador, nosso caçador. Nós já comemos
tudo o que se mexeu na face da Terra, do piolho à baleia. Nenhum bicho que
viveu na Terra, depois do advento dos diversos Homos em sucessão, escapou dos nossos dentes e nossos estômagos.
Claro quem numa
sociedade em que, se você tem sede, precisa caminhar até o riacho ou à nascente
(e ficar esperto com os outros bichos no caminho); e, numa sociedade em que, se
você quer comer ovo, vai ter que subir numa enorme árvore e saquear um ninho lá
em cima, devorando-o cru
imediatamente; numa sociedade assim, em que comer significava ir buscar e se mexer, não havia gente gorda. Nenhuma
sociedade paleolítica contemporânea (e ainda existem algumas em pleno século
XXI, gente que nunca passou para a agricultura, permanecendo
caçadores-coletores até hoje) tem uma única pessoa gorda.
Mas nós somos
diferentes de nossos avós do paleolítico. Viramos agricultores, nos
urbanizamos, a comida foi ficando cada vez mais abundante e cada vez mais
barata. Hoje, se você quer beber água, apenas abre uma torneira ou uma garrafa.
Se quer ovo, abre a geladeira, cozinha ou frita e pronto. Mas há uma diferença
ainda maior: muita gente não que mais beber água, abre a geladeira para pegar
Coca Cola ou cerveja. Ao invés do ovo ou carne ou legumes, que ainda tem que
preparar, prefere abrir uma caixa de papelão com uma refeição pronta congelada
e coloca no microondas por 3 ou 5 minutos. Ou liga para a tele-entrega do
restaurante ou pizzaria de sua preferência.
Em resumo, cada
vez mais nossa comida é INDUSTRIALIZADA e nos é ofertada em quantidades e
variedades impressionantes. Tudo baseado em um binômio: SABOR e PREÇO BAIXO. O
sabor é realçado artificialmente e, além disso, toda uma gama de aditivos
alimentares vem se somar à gororoba industrial que estamos ingerindo. Junto,
vêm quantidades astronômicas de sal e de açúcar, adicionados para aumentar os lucros.
Somos seduzidos
pelos inúmeros sabores incríveis que se tornaram disponíveis para nós, ao nosso
alcance mediante um mero cartão de crédito. Pizzas, lasanhas, sanduíches
astronômicos, biscoitos, doces, sorvetes – tudo prontinho, é só abrir a embalagem
e, no máximo, descongelar. Nas cidades grandes, milhares de botecos, bares e
restaurantes oferecem comida tentadora e a preços acessíveis – estratificado esse acessível do acordo com a
“categoria”da lanchonete ou restaurante e, obviamente, o poder aquisitivo do
freguês.
E isso tudo já
mostra que no lado da OFERTA, a coisa é cada vez mais abundante. Há sempre mais
e mais comida à disposição de uma população que tem tido crescente acesso a
essa comida por ter um crescimento em sua renda média. Em outras palavras: ENGORDAR
FICOU BARATO, por mais caros que se tornem os restaurantes e lanchonetes mais
sofisticados de uma São Paulo, por exemplo.
Isso tem a ver
com a OFERTA. O outro lado da velha lei nos leva à busca da PROCURA.
Há procura para tanta comida? Lógico que
há, por isso é que existe tanta oferta. No tempo de caçadores-coletores, nós
comíamos quando tínhamos fome, desde que conseguíssemos achar algum peixe ou
jacaré disposto a se deixar pegar, algum fruto esquisito alcançável no alto de
uma árvore. Mas hoje nós comemos quando temos DESEJO de ter PRAZER. Ou quando
temos COMPULSÃO. A diferença é quilométrica! Há muita comida acessível e esse acesso
é limitado apenas por nosso poder aquisitivo.
Como carboidrato
é barato e proteína é cara, as populações de mais baixa renda entopem-se de
farináceos – pão, massas, biscoito – e engordam. Engordam muito! E apelam para
açúcares baratos também: refrigerantes, sucos artificiais, doces, sorvetes. E
engordam mais ainda!
Já a população
de maior poder aquisitivo entope-se dos mesmos carboidratos e ainda manda ver nas
carnes gordas e peixes em abundância – e engorda. Engorda muito! Apela para
ainda mais açúcares: refrigerante, sucos ‘naturais’, doces, tortas, sorvetes. E
engorda ainda muito mais.
Isso acabou democratizando
a explosão da obesidade em nosso país. Há obesos
nos palacetes e nas favelas. De um modo geral, todos super-alimentados e todos subnutridos.
Uns comem seis pães por dia e pintam com um pouco de feijão o arroz ou macarrão
que levam na marmita. Repetem a dose em casa de noite e, apesar de mais ativos,
acabam ganhando sobrepeso. Outros vão à churrascaria rodízio e estouram as
balanças dos ‘Por-quilos’ várias vezes por semana. Em casa seguem comendo
compulsivamente e, é claro, ganham sobrepeso.
Em resumo,
excetuados os estritamente paupérrimos, TODOS comem demais. Aí a genética é que
fala mais alto. Uma parte da população ainda tem genes que lhe permite comer
demais e não engordar. Mas essas pessoas privilegiadas vão perdendo rapidamente
seu privilégio, pois, de geração em geração, face à exposição incessante à ingesta
diária de um grande excesso de alimento, a resistência aludida vai se perdendo
e transmite-se aos descendentes uma tendência progressiva ao acúmulo de massa
gorda no corpo.
Já as outras
pessoas TODAS, ao comerem demais, engordam progressivamente. Somando-se a isso
a sedentariedade amplamente dominante e tendência natural de acúmulo de peso
com o progredir da idade, marchamos celeremente para nos convertermos em MAIS
UMA nação de gordos e obesos.
AS MULHERES SÃO AS MAIORES VÍTIMAS
Nessa massa cada
vez maior de pessoas com excesso de peso, as MULHERES têm uma situação especial
e muito mais difícil: elas NÃO PODEM engordar! Pois estão submetidas à ditadura
da moda. E a moda, já vimos, é anoréxica. Um sobrepeso de 10% num homem não o
deixa nem um pouco preocupado. Um sobrepeso de 10% numa mulher a deixa
desesperada. É catastrófico para ela. Pois ela estará, o tempo todo, sendo
medida contra as “normais”, as famigeradas magras.
Como já vimos, o
sistema capitaneado pela indústria alimentícia e pelos restaurantes e bares faz
de tudo para que a mulher engorde: brindam-na com uma OFERTA abundante e
acessível, de forma que ela se veja vítima de sua baixa resistência aos
prazeres da mesa e de sua compulsividade psicológica. Ela engorda. E entra em
pânico. A indústria e o comércio engordam. Suas contas bancárias.
Aí a mulher TEM
que emagrecer! Por que as OUTRAS, aquelas desgraçadas, comem como umas dragas e
continuam MAGRAS!... Então vem para o foco principal a INDÚSTRIA DO
EMAGRECIMENTO.
Lá sei foi o
suado dinheirinho da mulher nos excessos de comida, bebida e guloseimas. Agora
lá se vai mais dinheirinho suado nos alimentos ditos “light" e "diet", muito mais
caros, e nos inúmeros profissionais, remédios e dietas milagrosas da indústria
do emagrecimento. Pronto, a nossa gordinha, principiante ou já estabelecida,
acaba de se tornar refém da outra banda do sistema! E que banda!
Vamos dar
continuidade a este tema na Parte IV desta série:
Como o engordar e emagrecer cíclicos
destroçam, além de sua autoestima, sua aparência e sua saúde, as suas
combalidas finanças já tão comprometidas com a indústria da BELEZA: Moda e
Cosméticos.
Céus, COMO É
CARO SER MULHER!
Nenhum comentário:
Postar um comentário