sábado, 26 de outubro de 2013

COMO É CARO SER MULHER! - 3a. parte
MILTON MACIEL
A cruel obrigação de ser MAGRA – continuação

Final da 2ª. parte:
Ou seja, a coisa é mais ou menos assim: ou você passa fome de ficar verde, ou você ouve o pessoal cochichando às suas costas: “Nossa, como ela engordou!”  O que dá uma bruta raiva, que só pode ser aplacada na sorveteria mais próxima, onde você pode afogar suas mágoas em bolas de abacaxi, menta e pistache.

Verdade. O problema é que os caras criaram esse padrão DESUMANO de beleza anoréxica e, impondo-a às mulheres do planeta Terra, garantem o extraordinário faturamento de centenas de bilhões de dólares anuais das indústrias da moda, alimentícia e do emagrecimento. Se hoje eles mudassem o cânone e permitissem que você pudesse ter mais 10 quilos e, ainda assim, ser considerada MAGRA, seria a falência para todos esses prósperos ramos de negócios.
 
Se você tivesse nascido no final da Idade Média e início do Renascimento, você seria uma musa, uma menina extremamente desejável, se pudesse expor a sua semi-nudez exuberante de 90 quilos. As magras e normais de hoje seriam internadas obrigatoriamente em sanatórios para tísicas.

Mas o problema é que você é uma mulher do século XXI. Conforme sua altura, 60 quilos é mais do que suficiente para você se sentir a Moby Dick com TPM.

Vamos dar continuidade a este assunto na 3ª parte desta série, mostrando como o SISTEMA faz para garantir que você engorde, gastando os tubos em comida. E aí precisa gastar os tubos, depois, em emagrecimento. Então até breve... Gordinha, atual ou futura.

3ª. Parte

COMO O ‘SISTEMA’ AGE

Já houve um tempo em que comida era coisa rara e difícil. Se a gente quisesse comer ou beber água, tinha que sair da caverna e ir à luta. Mas era luta mesmo! Porque então éramos caçadores-coletores e vivíamos no Paleolítico. E foi então que inventamos o dito popular: um dia é da caça, o outro, do caçador. Porque éramos caçadores nominais, mas éramos caça ao mesmo tempo. Saíamos sempre em grupos, portanto paus, pedras e ossos para pegar o que desse, de uma gambá a um mamute. Só que o dia-a-dia estava mais para gambá, caça grande era mais difícil. Em compensação, a potencial caça grande podia facilmente virar caçador, nosso caçador. Nós já comemos tudo o que se mexeu na face da Terra, do piolho à baleia. Nenhum bicho que viveu na Terra, depois do advento dos diversos Homos em sucessão, escapou dos nossos dentes e nossos estômagos.

Claro quem numa sociedade em que, se você tem sede, precisa caminhar até o riacho ou à nascente (e ficar esperto com os outros bichos no caminho); e, numa sociedade em que, se você quer comer ovo, vai ter que subir numa enorme árvore e saquear um ninho lá em cima, devorando-o cru imediatamente; numa sociedade assim, em que comer significava ir buscar e se mexer, não havia gente gorda. Nenhuma sociedade paleolítica contemporânea (e ainda existem algumas em pleno século XXI, gente que nunca passou para a agricultura, permanecendo caçadores-coletores até hoje) tem uma única pessoa gorda.

Mas nós somos diferentes de nossos avós do paleolítico. Viramos agricultores, nos urbanizamos, a comida foi ficando cada vez mais abundante e cada vez mais barata. Hoje, se você quer beber água, apenas abre uma torneira ou uma garrafa. Se quer ovo, abre a geladeira, cozinha ou frita e pronto. Mas há uma diferença ainda maior: muita gente não que mais beber água, abre a geladeira para pegar Coca Cola ou cerveja. Ao invés do ovo ou carne ou legumes, que ainda tem que preparar, prefere abrir uma caixa de papelão com uma refeição pronta congelada e coloca no microondas por 3 ou 5 minutos. Ou liga para a tele-entrega do restaurante ou pizzaria de sua preferência.

Em resumo, cada vez mais nossa comida é INDUSTRIALIZADA e nos é ofertada em quantidades e variedades impressionantes. Tudo baseado em um binômio: SABOR e PREÇO BAIXO. O sabor é realçado artificialmente e, além disso, toda uma gama de aditivos alimentares vem se somar à gororoba industrial que estamos ingerindo. Junto, vêm quantidades astronômicas de sal e de açúcar, adicionados para aumentar os lucros.

Somos seduzidos pelos inúmeros sabores incríveis que se tornaram disponíveis para nós, ao nosso alcance mediante um mero cartão de crédito. Pizzas, lasanhas, sanduíches astronômicos, biscoitos, doces, sorvetes – tudo prontinho, é só abrir a embalagem e, no máximo, descongelar. Nas cidades grandes, milhares de botecos, bares e restaurantes oferecem comida tentadora e a preços acessíveis –  estratificado esse acessível do acordo com a “categoria”da lanchonete ou restaurante e, obviamente, o poder aquisitivo do freguês.

E isso tudo já mostra que no lado da OFERTA, a coisa é cada vez mais abundante. Há sempre mais e mais comida à disposição de uma população que tem tido crescente acesso a essa comida por ter um crescimento em sua renda média. Em outras palavras: ENGORDAR FICOU BARATO, por mais caros que se tornem os restaurantes e lanchonetes mais sofisticados de uma São Paulo, por exemplo.

Isso tem a ver com a OFERTA. O outro lado da velha lei nos leva à busca da PROCURA.

procura para tanta comida? Lógico que há, por isso é que existe tanta oferta. No tempo de caçadores-coletores, nós comíamos quando tínhamos fome, desde que conseguíssemos achar algum peixe ou jacaré disposto a se deixar pegar, algum fruto esquisito alcançável no alto de uma árvore. Mas hoje nós comemos quando temos DESEJO de ter PRAZER. Ou quando temos COMPULSÃO. A diferença é quilométrica! Há muita comida acessível e esse acesso é limitado apenas por nosso poder aquisitivo.

Como carboidrato é barato e proteína é cara, as populações de mais baixa renda entopem-se de farináceos – pão, massas, biscoito – e engordam. Engordam muito! E apelam para açúcares baratos também: refrigerantes, sucos artificiais, doces, sorvetes. E engordam mais ainda!

Já a população de maior poder aquisitivo entope-se dos mesmos carboidratos e ainda manda ver nas carnes gordas e peixes em abundância – e engorda. Engorda muito! Apela para ainda mais açúcares: refrigerante, sucos ‘naturais’, doces, tortas, sorvetes. E engorda ainda muito mais.

Isso acabou democratizando a explosão da obesidade em nosso país. Há obesos nos palacetes e nas favelas. De um modo geral, todos super-alimentados e todos subnutridos. Uns comem seis pães por dia e pintam com um pouco de feijão o arroz ou macarrão que levam na marmita. Repetem a dose em casa de noite e, apesar de mais ativos, acabam ganhando sobrepeso. Outros vão à churrascaria rodízio e estouram as balanças dos ‘Por-quilos’ várias vezes por semana. Em casa seguem comendo compulsivamente e, é claro, ganham sobrepeso.

Em resumo, excetuados os estritamente paupérrimos, TODOS comem demais. Aí a genética é que fala mais alto. Uma parte da população ainda tem genes que lhe permite comer demais e não engordar. Mas essas pessoas privilegiadas vão perdendo rapidamente seu privilégio, pois, de geração em geração, face à exposição incessante à ingesta diária de um grande excesso de alimento, a resistência aludida vai se perdendo e transmite-se aos descendentes uma tendência progressiva ao acúmulo de massa gorda no corpo.

Já as outras pessoas TODAS, ao comerem demais, engordam progressivamente. Somando-se a isso a sedentariedade amplamente dominante e tendência natural de acúmulo de peso com o progredir da idade, marchamos celeremente para nos convertermos em MAIS UMA nação de gordos e obesos.

AS MULHERES SÃO AS MAIORES VÍTIMAS

Nessa massa cada vez maior de pessoas com excesso de peso, as MULHERES têm uma situação especial e muito mais difícil: elas NÃO PODEM engordar! Pois estão submetidas à ditadura da moda. E a moda, já vimos, é anoréxica. Um sobrepeso de 10% num homem não o deixa nem um pouco preocupado. Um sobrepeso de 10% numa mulher a deixa desesperada. É catastrófico para ela. Pois ela estará, o tempo todo, sendo medida contra as “normais”, as famigeradas magras.

Como já vimos, o sistema capitaneado pela indústria alimentícia e pelos restaurantes e bares faz de tudo para que a mulher engorde: brindam-na com uma OFERTA abundante e acessível, de forma que ela se veja vítima de sua baixa resistência aos prazeres da mesa e de sua compulsividade psicológica. Ela engorda. E entra em pânico. A indústria e o comércio engordam. Suas contas bancárias.

Aí a mulher TEM que emagrecer! Por que as OUTRAS, aquelas desgraçadas, comem como umas dragas e continuam MAGRAS!... Então vem para o foco principal a INDÚSTRIA DO EMAGRECIMENTO.

Lá sei foi o suado dinheirinho da mulher nos excessos de comida, bebida e guloseimas. Agora lá se vai mais dinheirinho suado nos alimentos ditos “light" e "diet", muito mais caros, e nos inúmeros profissionais, remédios e dietas milagrosas da indústria do emagrecimento. Pronto, a nossa gordinha, principiante ou já estabelecida, acaba de se tornar refém da outra banda do sistema! E que banda!

Vamos dar continuidade a este tema na Parte IV desta série:

 Como o engordar e emagrecer cíclicos destroçam, além de sua autoestima, sua aparência e sua saúde, as suas combalidas finanças já tão comprometidas com a indústria da BELEZA: Moda e Cosméticos.

Céus, COMO É CARO SER MULHER!







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